Texto de Marco Weissheimer, aqui
Não foi por falta de aviso. Quando os críticos da liberação desenfreada dos transgênicos alertaram que os produtores seriam escravizados pela Monsanto, foram estigmatizados – inclusive na mídia nativa – como “atrasados” e “inimigos da ciência”.
Matéria de Mauro Zanatta, no Valor Econômico, relata que os produtores de soja ameaçam recorrer ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) contra o que consideram ser práticas de manipulação e imposição de regras pela Monsanto no mercado nacional de soja transgênica. Mais do que isso: os produtores estão articulando uma “frente de resistência global” contra a Monsanto em conjunto com produtores de soja da Argentina e dos Estados Unidos. Eles acusam a empresa de cobrança abusiva de royalties sobre as sementes de soja por meio da adoção de um adicional sobre a produtividade das lavouras.
“Se você produzir acima da média de 55 sacas por hectare, tem que pagar um adicional de 2%. Se misturar com convencional, também paga. Eles querem fazer papel de governo. Vamos ao Cade conversar sobre isso”, disse ao Valor Econômico o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Glauber Silveira da Silva. A disputa entre produtores de soja e a Monsanto se agravou em 2009, quando a empresa elevou os preços cobrados pela tecnologia, passando de R$ 0,35 para R$ 0,44 por quilo de semente. Além disso, se for flagrado com transgênico em sua carga, o produtor tem que pagar uma multa por “uso não autorizado” de 2% sobre todo o valor da produção.
Os produtores também acusam a Monsanto de agir de forma ilegal ao impor restrições sobre a produção de soja convencional. “A Monsanto está fazendo o mercado. Ela obriga os sementeiros a produzir um mínimo de 85% de transgênicos e quem quer produzir convencional tem dificuldade para achar semente. Daqui a pouco, não teremos mais essa opção”, disse ainda Silveira, que cultiva 6 mil hectares de soja, girassol e eucalipto em Campos de Júlio (MT).
A Aprosoja Brasil também está questionando a validade da patente da tecnologia transgênica Roundup Ready no Brasil. “Quando acaba a patente deles?”, pergunta o presidente da entidade.
Comentário botocudo
Ainda haverá muito choro e ranger de dentes!
Atualização
Monsanto tenta fazer acordo para cobrar royalties
Valor Econômico - 16/06/2010 |
A Monsanto e outras empresas de biotecnologia tentam negociar com os agricultores argentinos um acordo para implementar um sistema de cobrança de royalties inspirado na experiência brasileira. "No Brasil, a cadeia produtiva respeita a patente e executamos a cobrança com sucesso. Por isso, continuamos o programa de melhoramento e investimento em tecnologia de soja no país, mas não na Argentina", diz Rodrigo Almeida, diretor de assuntos corporativos da Monsanto no Brasil. Atualmente, segundo a multinacional, de 72% a 74% do cultivo da oleaginosa no Brasil usa a semente RR (na Argentina são praticamente 100%). A cobrança, apoiada por tradings e associações do agronegócio, funciona da seguinte forma: o produtor que compra sementes certificadas já paga royalties embutidos e recebe um crédito para entregar uma certa quantidade de grãos no armazém, apresentando notas fiscais que comprovam sua origem legal. Em Mato Grosso, por exemplo, a compra de um quilo de sementes permite a entrega de 74 quilos de soja. O que excede esse montante paga 2% de royalties. Se o produtor não declara a soja RR e é provada a sua presença, o valor sobe a 3%. Na Argentina, a Monsanto lançou essa variedade de soja transgênica em 1996. Mas interrompeu suas vendas em 2004, após vários processos contra os produtores - só uma minoria usava sementes certificadas e pagava royalties. A Monsanto desistiu de comprar briga. Diz apenas que o maior prejuízo é ficar sem uma nova tecnologia. O diretor do departamento de economia da Sociedade Rural Argentina, Ernesto Ambrosetti, concorda. A entidade, junto com as demais associações que representam os produtores, faz parte das negociações com a Monsanto e outros fornecedores. Para ele, é "prioritário" avançar rapidamente nas negociações para "evitar perdas de competitividade na Argentina", já que seus concorrentes no mercado internacional terão acesso à Bt RR2. Se forem contrabandeadas, as sementes vendidas no Brasil dificilmente poderão ser adaptadas nas províncias de Buenos Aires, Santa Fé e Córdoba, que têm clima diferente. Mas províncias do nordeste e noroeste - como Tucumán, Chaco, Salta, Formosa e Santiago del Estero - têm condições relativamente parecidas. Almeida evita comentar sobre um cenário de contrabando da "soja Ronaldinho". "Não trabalhamos com especulação. Continuamos negociando, de forma muito aberta, com a cadeia produtiva da soja na Argentina. Estamos otimistas de que as discussões serão bem-sucedidas." O pedido de aprovação da Bt RR2 foi feito à CTNBio em junho do ano passado. A análise está sendo feita e deverá ter um parecer nos próximos meses, mas não a tempo de oferecer a semente para o plantio da safra 2010/11. "O prazo de aprovação tem sido de um ano e meio", afirma o diretor da Monsanto.
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