* Este blog luta por uma sociedade mais igualitária e justa, pela democratização da informação, pela transparência no exercício do poder público e na defesa de questões sociais e ambientais.
* Aqui temos tolerância com a crítica, mas com o que não temos tolerância é com a mentira.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

As águas da Cachoeira eram bentas - Quanta injustiça, quanta provação…



por Comendador Phyntias, no blog do Professor Hariovaldo


Após a peremptória afirmativa do senador Demóstenes Cachoeira Torres (DEMo – GO) de que “redescobriu Deus em minha vida” em seu depoimento à Comissão de Ética do Senado, fontes ligadas ao Estado do Vaticano informaram que o Papa Clemente deve determinar nos próximos dias, a canonização imediata do representante de Goiás no Senado brasileiro, como prova  de que o mais novo "doutor" da Igreja, cuja santidade ficou amplamente conhecida e foi fundamentada apenas nos relatos de tal milagre, como se viu e se ouviu.

O parlamentar do centro-oeste cuja atuação junto à organização de jogos do empresário do setor, Carlinhos Cachoeira, veio a público nas últimas semanas levando-o ao que ele mesmo considerou “o maior calvário da minha vida”, se cobriu de santidade levando este bom homem goiano a passar por inomináveis sofrimentos que só se admite para parlamentares do PT e adjacências. Logo ele, o santo que sempre se postou das mais aguerridas e veementes vozes contra a corrupção dos homens e representou a todos nós, homens de bens de forma justa, frutuosa e benéfica para resguardar nossos ganhos, nossos bens e nossas fontes de renda.

Nos diz o portal Numinosum Teologia que, “nos primeiros séculos, quando o cristianismo sofria com as perseguições, bastava a certeza do martírio para dar início à veneração do mártir. Geralmente essa veneração era dirigida aos eremitas, cenobitas (monges que viviam no isolamento – também eram conhecidos como anacoretas), bispos e doutores e por isso se fez necessária a intervenção da autoridade eclesiástica. São Demóstenes sempre foi tratado pelos homens bons como “doutor” e isso lhe dá mais uma credencial à santificação.

Em razão disso, a canonização direta do senador Cachoeira, perdão -, Demóstenes Dantas Cachoeira Torres deverá ser levado ao Tribunal dos Santos para a necessária canonização, pulando etapas de sua consideração por venerável ou beato. Isso se torna possível, uma vez que em  1983, no pontificado do Papa João Paulo II, se tornou mais fácil o caminho de beatificação e canonização.

Agora, o Papa Clemente, como chefe supremo da Igreja,  fazendo uso do direito da infalibilidade pontifícia, deverá elevar o mártir das cachoeiras e dos jogos goianos aos altares na categoria de “santo” em cerimônia na própria basílica de São Pedro no Vaticano. Assim, São Demóstenes das Cachoeiras terá seu nome anotado pelos apontadores da Praça de São Pedro em Goiânia e também no catálogo do livro dos Santos. Dizem as fontes após sua sagração será ele escolhido por patrono das roletas de Las Vegas e da Indústria Farmacêutica.


O Romano Pontífice também destina a festa litúrgica do Santo das Cachoeira e das máquinas caça-níqueis para o dia em que publicamente o santo parlamentar goiano se despiu publicamente expondo todo o seu sofrimento e todas as suas dores clamando inocência e invocando o santo nome de Deus Pai ao seu favor.


Deo Gratia!!! Amém!

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Mais uma artimanha da mídia golpista: criar uma crise institucional


De Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República
A Presidência da República informa que são no todo falsas as informações contidas na reportagem que, em uma de suas edições, apareceu com o título "Para Dilma, há risco de crise institucional", publicada hoje no diário O Estado de S. Paulo.  Em especial, a audiência de ontem da presidenta Dilma Rousseff com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ayres Britto, tratou do convite ao presidente do STF para participar da Rio+20 e de assuntos administrativos dos dois poderes. Reiteramos que o conjunto da matéria e, em especial, os comentários atribuídos à presidenta da República citados na reportagem são inteiramente falsos.
Contrariando a prática do bom jornalismo, o Estadão não procurou a Secretaria de Imprensa da Presidência para confirmar as informações inverídicas publicadas na edição de hoje. Procurada a respeito da audiência, a Secretaria de Imprensa da Presidência informou ao jornal Estado de S. Paulo e à toda a imprensa que, no encontro, foram tratados temas administrativos e o convite à Rio+20.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Ex-Índio



por José Ribamar Bessa Freire, em seu blog Taqui Pra Tí

"Índio quer tecnologia" - berra O Globo, em chamada de primeira página (25/05). Lá está a foto de um guerreiro Kamayurá, que usa um iPhone para fotografar o terreno da Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, onde será construída a aldeia Kari-Oca que vai sediar eventos paralelos da Conferência Rio + 20. Ele viajou de barco e de ônibus, durante três dias, com mais vinte índios do Alto Xingu, de quatro nações diferentes. Chegaram na última quinta-feira, para construir a aldeia Kari-Oca. 
Na aldeia que eles vão construir formada por cinco ocas - uma delas será uma oca eletrônicahight tech - mais de 400 índios que vivem no Brasil, discutirão com índios dos Estados Unidos, Bolívia, Peru, Canadá, Nicarágua e representantes de outros países temas como código florestal, demarcação de terras, reservas minerais, crédito de carbono, clima, usinas hidrelétricas, saberes tradicionais, direitos culturais e linguísticos. No final, produzirão um documento que será entregue à ONU no dia 17 de junho.
Embora a notícia contenha informações jornalísticas, O Globo insiste em folclorizar a figura do índio. Em pleno século XXI, o jornal estranha que índios usem iPhone, como se isso fosse algo inusitado. Desta forma, congela as culturas indígenas e reforça o preconceito que enfiaram na cabeça da maioria dos brasileiros de que essas culturas não podem mudar e se mudam deixam de ser "autênticas".
A imagem do índio "autêntico" reforçada pela escola e pela mídia é a do índio nu ou de tanga, no meio da floresta, de arco e flecha, tal como foi visto por Pedro Alvares Cabral e descrito por Pero Vaz de Caminha, em 1.500. Essa imagem ficou congelada por mais de cinco séculos. Qualquer mudança nela provoca estranhamento.
Quando o índio não se enquadra nesta representação que dele se faz, surge logo reação como a esboçada pela pecuarista Katia Abreu, senadora pelo Tocantins (PSD, ex-DEM): "Não são mais índios". Ela, que batizou seus três filhos com os nomes de Irajá, Iratã e Iana, acha que o "índio de verdade" é o "índio de papel", da carta do Caminha, que viveu no passado, e não o "índio de carne e osso" que convive conosco, que está hoje no meio de nós.
Na realidade, trata-se de uma manobra interesseira. Destitui-se o índio de sua identidade com o objetivo de liberar as terras indígenas para o agronegócio. Já que a Constituição de 1988 garante aos índios o usufruto de suas terras - que são consideradas juridicamente propriedades da União - a forma de se apoderar delas é justamente negando-se a identidade indígena aos que hoje as ocupam. Se são ex-índios, então não têm direito à terra.
Criou-se, através dessa manobra, uma nova categoria até então desconhecida pela etnologia: a dos "ex-índios". Uma categoria tão absurda como se os índios tivessem congelado a imagem do português do século XVI, e considerassem o escritor José Saramago ou o jogador Cristiano Ronaldo como "ex-portugueses", porque eles não se vestem da mesma forma que Cabral, não falam e nem escrevem como Caminha.
O cotidiano de qualquer cidadão no planeta está marcado por elementos tecnológicos emprestados de outras culturas. A calça jeans ou o paletó e gravata que vestimos não foram inventados por brasileiro. A mesa e a cadeira na qual sentamos são móveis projetados na Mesopotâmia, no século VII a. C., daí passaram pelo Mediterrâneo onde sofreram modificações antes de chegarem a Portugal, que os trouxe para o Brasil.
A máquina fotográfica, a impressora, o computador, o telefone, a televisão, a energia elétrica, a água encanada, a construção de prédios com cimento e tijolo, toda a parafernália que faz parte do cotidiano de um jornal brasileiro como O Globo - nada disso tem suas raízes em solo brasileiro. No entanto, a identidade brasileira não é negada por causa disso. Assim, não se concede às culturas indígenas aquilo que se reivindica para si próprio: o direito de transitar por outras culturas e trocar com elas.
Foi o escritor mexicano Octávio Paz que escreveu com muita propriedade que "as civilizações não são fortalezas, mas encruzilhadas". Ninguém vive isolado, fechado entre muros. Historicamente, os povos em contato se influenciam mutuamente no campo da arte, da técnica, da ciência, da língua. Tudo aquilo que alguém produz de belo e de inteligente em uma cultura merece ser usufruído em qualquer parte do planeta.
Setores da mídia ainda acham que "índio quer apito". Daí o assombro do Globo, com o uso do iPhone pelos Kamayurá, equivalente ao dos americanos e japoneses se anunciassem como algo inusitado o uso que fazemos do computador ou da televisão: "Brasileiro quer tecnologia".
O jornal carioca, de circulação nacional, perdeu uma oportunidade singular de entrevistar integrantes do grupo do Alto Xingu, como Araku Aweti, 52 anos, ou Paulo Alrria Kamayurá, 42 anos, sobre as técnicas de construção das ocas. Eles são verdadeiros arquitetos e poderiam demonstrar que "índio tem tecnologia". O antropólogo Darell Posey, que trabalhou com os Kayapó, escreveu:
Se o conhecimento do índio for levado a sério pela ciência moderna e incorporado aos programas de pesquisa e desenvolvimento, os índios serão valorizados pelo que são: povos engenhosos, inteligentes e práticos, que sobreviveram com sucesso por milhares de anos na Amazônia. Essa posição cria uma “ponte ideológica” entre culturas, que poderia permitir a participação dos povos indígenas, com o respeito e a estima que merecem, na construção de um Brasil moderno”.
Esses são os índios do século XXI. A mídia olha para eles, mas parece que não os vê.

domingo, 27 de maio de 2012

Coisas da nossa maloca





por Luis Nassif, em seu blog


À medida em que as peças do quebra-cabeça Cachoeira vão se juntando, vislumbra-se um quadro inédito na história do país. Tão inédito que ainda não caiu a ficha de parte relevante da opinião pública e, especialmente, do Judiciário. O desenho que se monta é uma conspiração contra o Estado brasileiro (não contra o governo Lula, especificamente), através de três vértices principais.
1. Havia o chefe de quadrilha Carlinhos Cachoeira.

2. Sua principal arma era a capacidade de plantar matérias e escândalos, falsos ou verdadeiros, na revista Veja – o outro elo da corrente.

3. Durante algum tempo, graças ao Ministro Gilmar Mendes, seu principal operador – o araponga Jairo Martins – monitorou o sistema de telefonia do Supremo. E Cachoeira dispunha da revista Veja para escandalizar qualquer conversa, fuzilar qualquer reputação.

Essa é a conclusão objetiva dos fatos revelados até agora.
O que não se sabe é a extensão das gravações. Veja demonstrou em várias matérias – especialmente no caso Opportunity – seu poder de atacar magistrados que votavam contra as causas bancadas pela revista.
A falta de discernimento das denúncias, o fato da revista escandalizar qualquer conversa, a perspectiva de virar capa em uma nova denúncia da revista, seria capaz de intimidar o magistrado mais sólido.
A dúvida que fica: qual a extensão das conversas do STF monitoradas e gravadas por Jairo? Que Ministros podem ter sido submetidos a ameaças de denúncia e/ou constrangimento?
Gilmar colocou a mais alta Corte do país ao alcance de um bicheiro.
........................................
As seguintes suspeitas rondam o Ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), especialmente após sua última parceria com a revista Veja. E não tem como seus pares ignorarem:
  1. Há indícios de alguma forma de envolvimento com a quadrilha de Carlinhos Cachoeira e Demóstenes Torres. Há suspeitas de uma viagem paga a Berlim e voos fretados no Brasil. Seja o que for, se os fatos existiram ou não, se imprudência, desvio ético ou corrupção, a corte precisa apurar. Não pode ignorar suspeitas graves. Há a necessidade premente de se saber a extensão de suas ligações com Demóstenes, Cachoeira e Veja.
  2. Há pelo menos um ato da maior gravidade, que necessita ser esclarecido: a contratação do principal operador de Cachoeira – o araponga Jairo -, para trabalhar na segurança do STF. Há indícios de jogadas combinadas entre Veja, Cachoeira e Gilmar. Foi a matéria “A República do Grampo”, mais os factoides sobre o grampo no Supremo que provavelmente forneceram o álibi para que Gilmar contratasse Jairo. A República do Grampo era controlada por Carlinhos Cachoeira e, graças a Gilmar, o Supremo pode ter ficado à mercê da organização criminosa. O episódio da falsa escuta no Supremo envolveu a instituição em uma armação que até hoje não foi esclarecida.
  3. Há indícios veementes de que o encontro com Lula foi solicitado pelo próprio Gilmar. E desconfiança que se destinava a obter o apoio de Lula contras as investigações da CPMI de Cachoeira. Qual a moeda de troca?
  4. A matéria da dupla Veja-Gilmar manipula declarações de vários ministros da corte, tendo como endosso Gilmar Mendes.
Gilmar precisa ser chamado a se explicar. O Supremo não pode ficar inerte ante o risco de um mega-escândalo que poderá afetar sua imagem. E robustecer teorias conspiratórias – como a de que vários ministros estariam reféns de Gilmar.

sábado, 26 de maio de 2012

Porque hoje é sábado... Formula 1 de lá atrás



A 1ª prova do campeonato mundial de automobilismo, o que mais tarde iria se tornar a Formula-1. Foi no dia 13 de maio de 1950, em Silverstone, um aeródromo da 2ª Guerra que foi adaptado para provas automobilísticas.

Imagens de época (hoje se diz “vintage”) bem legais, mas o vídeo só está disponível com narração em inglês, mas é facilmente compreensível para quem tem um Yásigi básico. A família real inglesa prestigiou o evento, o rei Jorge VI, sua esposa a rainha e sua filha mais nova, a princesa Margareth (irmã da futura rainha Elizabeth II)  meio gatinha ainda, pois estava no frescor de seus 19 aninhos na época (é a de traje cor areia).

A prova foi vencida pelo italiano Giusieppe Farina, da Alfa Romeo. Interessante ver pilotos funcionado como mecânicos e traçando estratégias de corrida com suas esposas ou companheiras, entre outras coisas bem inocentes assim. Os carros já estavam alinhados mas alguns pilotos ainda não haviam aparecido, mas o narrador tranqüiliza: “...devem estar por perto”.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Tirar os picaretas do protagonismo que se inseriram aqui na nossa aldeia Tupinambá


Essa entrevista tem 52 minutos, mas vale muito a pena. Ciro Gomes com sua língua ferina de sempre detona os descalabros que já conhecemos, mas tece considerações muito pertinentes a respeito do Brasil de hoje e do que podemos almejar para o futuro.

Sobre o panfleto colorido semanal diz que “A Veja é a ‘folha da canalhocracia’, que representa a plutocracia, e que é ‘o baronato pregando a moralidade pela imoralidade’", entre outras coisas.... Ele detona o José Dirceu também. 

Depois: “É necessário que os homens de bem deste pais se encontrem ao redor de uma idéia para tirar os picaretas do protagonismo que se inseriram nos ultimos anos...” 


A Europa caminha para o chaos





por Costas Lapavitsas, no Financial Times (os artigos do FT são acessíveis só para quem se cadastrar no site) -   tradução Viomundo


A política grega está se dividindo em dois campos para disputar a próxima eleição, um liderado pelo direitista Nova Democracia, o outro pelo esquerdista Syriza. Ambos insistem que a Grécia deve continuar na zona do euro, mas o Nova Democracia aceita o plano europeu de resgate que o Syriza rejeita. Ainda assim, a dura realidade está se impondo. Se a Grécia continuar na zona do euro, vai morrer uma morte lenta. Se sair, vai enfrentar uma crise, mas terá a oportunidade de se recuperar e de remodelar a sociedade.

A crise da zona do euro tem pouco a haver com a incompetência fiscal na Grécia ou em outro lugar. Sua verdadeira causa é a perda cumulativa de competitividade nos países periféricos, com o custo da unidade de trabalho subindo relativamente aos países do coração do euro. Grandes déficits resultaram na periferia, espelhados em grandes superávits no centro. A dívida se acumulou quando os déficits foram financiados por empréstimos no exterior e os bancos domésticos expandiram o crédito internamente. Existe um fio ininterrupto ligando a vasta dívida da periferia ao custo da unidade de trabalho, congelado na Alemanha.

A austeridade e reformas estruturais tinham como alvo resolver o problema, esmagando os salários para reduzir os custos da unidade de trabalho na periferia. Mesmo desconsiderando as consequências sociais, não dará resultado enquanto o custo da unidade de trabalho na Alemanha continuar como está. Os países periféricos teriam de diminuir salários indefinidamente para tentar se aproximar do grau de competitividade da Alemanha. A consequência mais provável seria distúrbio social e o eventual colapso da zona do euro.

Nem mesmo transferências fiscais seriam uma solução verdadeira, ainda que desejável a curto prazo. Elas aliviariam as pressões agudas dos déficits da periferia, mas não suas causas subjacentes. Na verdade, transferências poderiam piorar as coisas ao incentivar uma cultura de dependência, tornando nações inteiras distritos de países superavitários.

Uma solução verdadeira envolveria, primeiro, o aumento sustentável da produtividade em países periférios e, em segundo lugar, aumentos significativos de salários para os trabalhadores alemães. Mas isso exigiria uma Plano Marshall para a Europa e uma grande mudança no equilíbrio de poder interno da Alemanha. Vamos dizer educadamente que as chances disso acontecer são poucas.

Se a Grécia perseverar com as atuais políticas dentro da zona do euro, sua economia vai encolher e estagnar. O país vai se tornar um canto empobrecido, envelhecido e profundamente desigual da Europa, uma neocolonia em tudo, menos no nome.

A sociedade grega não vai aceitar este destino e provavelmente vai forçar uma moratória da dívida pública, em primeiro lugar. Não há outra forma de tornar a dívida gerenciável dentro de um futuro previsível. Os planos de resgate pioraram as coisas: a dívida grega aumentou, sua composição foi alterada de privada para oficial e a lei que governa a dívida deixou de ser a grega para se tornar a britânica. A moratória se tornou  muito mais difícil mas, ao fim e ao cabo, a Grécia terá pouca escolha.

A moratória deverá ser acompanhada pela saída da zona do euro, livrando a Grécia da armadilha da união monetária. A saída vai inevitavelmente causar uma tempestade, que será maior por causa das políticas tolas adotadas nos dois últimos anos. A austeridade aleijou a economia. A saída do euro restauraria a competitividade, permitindo a produtores gregos a recaptura do mercado doméstico, assim como o aumento das exportações. A restauração da competitividade reduziria a taxa de desemprego, depois do choque inicial. Acima de tudo, a saída permitiria o fim da austeridade, dando à Grécia espaço para reestruturar sua economia.

O custo será severo, embora não se aproxime das estimativas grosseiras feitas pelos departamentos de pesquisa dos bancos. Haveria circulação paralela do novo drachma, do euro e talvez de outras formas de dinheiro; uma onda de litígios legais teria início depois da redenominação dos contratos; o balanço dos bancos se tornaria insuportável, com bens e obrigações denominados em euro sujeitos à jurisdição não-grega; haverá falta de petróleo, remédios e de alguns alimentos importados; e as falências de empresas aumentariam.

Nenhum destes custos transitórios justifica a morte lenta de uma permanência na zona do euro. Enfrentá-los envolveria forte intervenção estatal, incluindo a nacionalização dos bancos, controles de capital e uma série de medidas administrativas para enfrentar o desabastecimento de curto prazo. A Grécia poderia começar então o lento processo de recuperação. O país tem uma força de trabalho altamente treinada, coesa e hábil e várias vantagens naturais. A perspectiva de crescimento é forte, desde que o poder seja retirado das classes corruptas e venais que tem governado o país por décadas.

Qual será o gatilho da moratória e da saída do euro é impossível predizer, mas talvez seja uma corrida aos bancos em meio a tensões políticas. Uma vez que a Grécia tome este caminho, será uma questão de tempo até que outros países periféricos façam o mesmo. A Alemanha teria, então, de enfrentar as consequências desastrosas da união monetária, criada de maneira inadequada e governada pior ainda. Este é, naturalmente, um problema que não cabe ao povo grego resolver.

*Costas Lapavitsas é professor de economia na SOAS [Escola de estudos africanos e orientais da Universidade de Londres]

Mercado imobiliário

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O Código Florestal e a arapuca técnica




mais um excelente artigo de Mauro Santayana, no JBonline premium (só para assinantes)

A Presidente da República, segundo as informações da imprensa, deverá vetar, em parte, o novo Código Florestal, aprovado pelo Congresso Nacional. Deixando de lado as questões técnicas, que reclamam a opinião dos especialistas, a decisão se relaciona a uma das mais cruciais questões de nossa tempo: até quando poderemos sobreviver com o atual modelo de sociedade industrial, baseado no consumo exacerbado de energia e de outros recursos naturais?

Dentro de duas semanas fará 40 anos que se reuniu (de 5 a 16 de junho de 1972) , em Estocolmo, a Primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Homem e o Meio Ambiente. Acompanhei, para este Jornal do Brasil, os trabalhos da reunião, recordo que a principal questão continua em aberto, até os nossos dias, e é de natureza política. Alguns especialistas concluíram que era necessário interromper o crescimento industrial, a fim de preservar o ambiente natural e, assim, manter a vida na Terra.

A tese dos países industriais, retomando as conclusões do Clube de Roma, era a do crescimento zero, a partir de então. Ora, se esse projeto fosse adotado pelo mundo, os paises ricos continuariam ricos, e os paises pobres se manteriam na miséria.
A melhor intervenção – confirmada em uma entrevista coletiva a que pude assistir – foi a da Senhora Indira Gandhi, primeira-ministra da Índia. Ela disse, com lucidez e coragem, que se o mundo queria sobreviver, não seria mantendo em situação infra-humana as populações dos paises subdesenvolvidos, mas, sim,  reduzindo o consumo de energia (nele incluídas as calorias dos alimentos) dos povos ricos.

Como demonstrou, com informações estatísticas, os norte-americanos consumiam, per capita, quase duzentas vezes mais do que os africanos, dezenas de vezes mais do que os indianos e tantas vezes mais do que os habitantes de regiões mais atrasadas da América Latina.

O impasse levou a Conferência de Estocolmo ao malogro, mas provocou novos debates, sobre que providências políticas poderiam ser tomadas, a fim de desatar esse nó górdio. As nações menos desenvolvidas não concordavam, e continuam não concordando, com toda a razão, a sacrificar os seus povos, privando-os do desenvolvimento e de padrões de consumo e de saúde obtidos pela tecnologia, em favor da sobrevivência privilegiada dos ricos.

Os ricos, com seu poder econômico e militar, não admitem reduzir o padrão de bem-estar, baseado no consumo exagerado de energia. Uma saída desonrada foi a do neoliberalismo, com a chamada globalização da economia. O objetivo foi o de construir uma “governança mundial”, não fundada na discussão e decisão de todos os povos, mediante as Nações Unidas, mas, sim, no poderio militar e econômico dos maiores paises do mundo, cujos governos são controlados pelas grandes corporações industriais e financeiras internacionais. Como efeito colateral do neoliberalismo e do governo mundial, bilhões de pessoas permaneceram excluídas da sociedade econômica, e centenas de milhões de outras a elas se somaram, expulsas da vida que conhecemos.

Alguns cientistas argumentam que, para estender a todos os homens os padrões de conforto e consumo dos países ricos, dentro de poucos anos serão necessários os recursos de dois planetas e meio. Sendo assim, e a menos que a ciência nos ofereça saídas inimagináveis, como usinas de montagem atômica de metais, gases e outras matérias, no volume exigido pelo aumento da população, a vida se extinguirá. Provavelmente na luta brutal pela conquista e exploração dos últimos recursos naturais da Terra, entre eles a água limpa, se algum meteoro não nos conceder  rápida eutanásia universal. A outra solução está na busca de outros padrões de vida, baseados na austeridade e na solidariedade, de maneira a substituir o volume das coisas consumidas pela melhor qualidade da existência.

Já no início dos anos 40, o pensador alemão Friedrich Georg Junger, então companheiro de Marcuse e outros pensadores da Escola de Frankfurt, publicou um dos mais instigantes ensaios do século, Die Perfektion der Technik, para desmontar o mito da tecnologia. Junger demonstra que, no fundo, a técnica se baseia no movimento circular que se limita em si mesmo, apesar da aparência do avanço. A partir do relógio,  instrumento tecnológico por excelência, para medir e controlar o tempo, Junger mostra que toda a produção técnica está fechada em círculos, em ciclos repetitivos (as engrenagens, os discos, os motores, as turbinas). E conclui, depois de exaustivo excurso, que a técnica não significa mais produção e, sim, mais consumo; não alivia o trabalho humano, embora possa reduzir o esforço físico, mas, sim o exacerba; não traz mais liberdade e, sim, mais submissão aos opressores capitalistas.

Conter a destruição do meio-ambiente em nosso país é necessário, daí a administração pelo Estado do avanço da agricultura sobre a cobertura florestal. Mas é preciso, da mesma forma, reduzir a histeria – com o perdão das mulheres – dos ecologistas, grande parte deles, conscientes ou não, agentes dos interesses externos. Os ricos pretendem, por outros meios, conseguir o que desejavam, no Clube de Roma, em Estocolmo e nos demais encontros internacionais (como o que  ocorrerá no Rio, também dentro de alguns dias): conservar o seu bem-estar à custa de nossa renúncia ao desenvolvimento, e, ao mesmo tempo, apossar-se do que preservamos de recursos naturais – entre eles nossos minérios raros, nosso petróleo e nossa biodiversidade.

Uma coisa é certa: a ciência e a tecnologia – quando privadas de ética e da filosofia prática, isto é, daquilo a que chamamos política – não serão capazes de resolver a questão. O problema é político, e só o poder político poderá resolvê-lo.

No exercício da política, que lhe cabe, a presidente deverá conter a ânsia destruidora do projeto, dentro de sua possibilidade de ação disciplinadora. Outras medidas são esperadas, na exploração racional de nossa natureza, mas pelas nossas próprias razões – não pelo interesse dos outros.

terça-feira, 22 de maio de 2012

A arenga das sacolas retornáveis



por Ramalho, no blog do Nassif


A arenga das sacolas retornáveis, um dos frequentes pequenos flagelos que envenenam a vida dos brasileiros, é exemplo emblemático da arrogância de uma classe média ignorante e autoritária que, por se presumir detentora da “verdade”, acha-se no direito de impor tal "verdade" ao muitas vezes desavisado cidadão comum. Querem, como dizem, "mudar o hábito” das pessoas para ajustá-las à "verdade" deles (algo semelhante ao que fez a Zélia Cardoso quando confiscou na mão grande a poupança de todo mundo).

Agora, os “iluminados” decidiram entre eles que os supermercados ficam proibidos de distribuir gratuitamente sacolinhas plásticas aos consumidores, embora possam vendê-las! Contaram, para perpetração do despautério, com a colaboração de políticos paulistas num conluio deletério de ignorantes que acham que conhecem o tema poluição (qualquer criança sabe que distribuição gratuita de sacolinha não causa poluição) com políticos oportunistas que buscam holofotes.

São Paulo, infelizmente, é hoje polo reacionário no Brasil – basta considerar os políticos que ostenta e eventos como o de Pinheirinhos –, e, por isto, não surpreende que iniciativas que impõem restrições aos cidadãos comuns surjam quase sempre nesse estado. O que surpreende é a passividade dos paulistas em geral que, ao invés de se insurgirem contra os abusos, os apoiam, talvez por acreditarem no discurso pretensamente científico da classe média estudada (aliás, mal formada), e que se põe como bedel do povo. É lamentável que o povo paulista se deprecie desta forma.

Hélio Mattar, do Instituto Arakatu (que nome mais estrambólico!), é defensor da proibição da distribuição gratuita das sacolinhas, mas não tem qualquer objeção a que sejam vendidas pelos supermercados. Foi o que disse em recente programa veiculado pela Globo News, "Cidades e Soluções". Argumentou em favor do absurdo que assim “levanta-se a discussão”! Ah, e diz que os supermercados, com a economia que farão deixando de distribuir sacolinhas gratuitamente, diminuirão, voluntariamente, os preços dos demais produtos! Epa! Já ouvi isto quando esta mesma turma acabou com a CPMF. É inacreditável, mas o sujeito disse isto, e ainda acha que, assim, conseguirá simpatizantes para sua cruzada estulta.

Hélio Mattar é o ignorante voluntarista que pensa que sua verdade é a "Verdade". É sujeito avesso à democracia que quer “ensinar” ao povo, lançando mão de soluções psicodélicas como esta das sacolinhas: dar não pode, vender pode. Sua arrogância não lhe deixa ver o ridículo de suas teses absurdas e vazias. Gente como ele, no afã de parecer importante, aporrinha as pessoas como fazem os mosquitos. É preciso acabar com os criadouros onde essa gente prolifera, e tal se faz com choque de democracia.

Não há meia democracia. A história da sacolinha, um atentado à democracia, é mais um passo na dessensibilização da população em relação a ações autoritárias, e precisa ser combatida energicamente. São atentados como este que vão preparando terreno para subsequentes agressões gratuitas ao povo, supressão de direitos individuais e políticos, e golpes de Estado. O povo paulistano precisa reagir, pois, no momento, é o agredido.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Agora, todos são suspeitos…


por John Pilger, no Newstatesman, e na revista Fórum

Todos vocês são potenciais terroristas agora. Não interessa que se você viva na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos, na Austrália ou no Oriente Médio. Na verdade, a cidadania foi abolida. Ligue o seu computador e o centro de operações de segurança nacional do Departamento de Estado pode verificar se você está teclando não só “al-Qaeda”, mas também “exercício”, “furo”, “onda”, “iniciativa” ou “organização”, todas elas palavras proscritas. O anúncio pelo governo britânico de que pretende espiar todos os emails e chamadas telefônicas é coisa velha. O satélite aspirador conhecido por Echelon tem estado a fazer isso há anos. O que há de novo é estado de guerra permanente desencadeado pelos EUA e o estado policial que está consumindo a democracia ocidental.

Através do espelho
Na Grã-Bretanha, há tribunais secretos tratando de “suspeitos terroristas”, sob instruções da CIA. O habeas corpusestá moribundo. O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos decidiu que cinco homens, incluindo três cidadãos britânicos, podem ser extraditados para os EUA, embora apenas um deles tenha sido acusado de um crime. Todos estão presos há anos ao abrigo do tratado de extradição 2003 EUA/RU, assinado um mês após a criminosa invasão do Iraque.
O Tribunal Europeu condenou este tratado como passível de conduzir a “castigos estranhos e cruéis”. A um dos homens, Babar Ahmad, foram concedidas a título de compensação £63 mil por 73 ofensas registadas sofridas sob custódia da Polícia Metropolitana. Uma das mais notórias foi abuso sexual, típica do fascismo. Outro dos homens é um esquizofrénico que teve colapso mental total e se encontra no hospital Broadmoor. Outro é um que corre risco de suicídio. Vão para a “Terra da Liberdade”, junto com o jovem Richard O’Dwyer, que enfrenta dez anos algemado e de fato-macaco laranja (farda prisional americana – N.T.) porque alegadamente infringiu o copyright americano na internet.
Da forma como a lei está sendo politizada e americanizada, estas coisas estranhas não são raras. Na elaboração da acusação contra um estudante universitário de Londres de nome Mohammed Gul, por disseminar “terrorismo” na internet, os júris do Tribunal de Recurso estabeleceram que “atos… contra as forças armadas de um Estado em qualquer parte do mundo que procurem influenciar o governo e forem feitos com objetivos políticos” são agora crimes. É de chamar ao banco dos réus Thomas Paine, Aung San Suu Kyi e Nelson Mandela.
O prognóstico é claro: a doença a que Norman Mailer chamou “pré-fascista” fez metástases. O procurador-geral dos EUA Eric Holder defende o “direito” do seu governo assassinar cidadãos americanos. Ao protegido Israel, permite-se que aponte as armas nucleares ao Irã, que não as tem. Neste mundo de espelhos, a mentira é generalizada. O massacre de 17 civis afegãos a 11 de março, incluindo pelo menos nove crianças e quatro mulheres, é atribuído a um soldado americano “canalha”. A “autenticidade” deste ponto de vista é garantida pelo presidente Obama, que “viu um vídeo” e o considera “prova concludente”. Uma investigação parlamentar afegã independente conseguiu testemunhas oculares que deram provas evidentes de pelo menos 20 soldados, auxiliados por um helicóptero, terem arrasado as suas aldeias, matando e violando: ainda que acessoriamente mais mortífero, um normal “raide noturno” das forças especiais US.
Pegue-se a tecnologia de matar dos videogames – uma contribuição americana para a modernidade – e o comportamento é o mesmo. Mergulhadas nos valores da banda desenhada, fraca ou brutalmente treinadas, frequentemente racistas, obesas e chefiadas por uma classe de oficiais corrupta, as forças americanas transferem o homicídio doméstico para locais longínquos cujas desgraçadas lutas são incapazes de compreender. Uma nação que foi fundada com base no genocídio de uma população nativa dificilmente abandona o hábito. O Vietnã era “terra de índios” e os seus “ardis” e “chinesices” eram para serem “rebentados”.
O rebentar de centenas, sobretudo mulheres e crianças, na aldeia vietnamita de My Lai, em 1968, foi também um incidente “canalha” e, com alguma irreverência, uma “tragédia americana” (título de capa da Newsweek). Apenas um dos 26 acusados foi condenado e mesmo esse foi deixado ir por Richard Nixon. My Lai está na província de Quang Ngai onde, conforme soube como repórter, se calcula que 50 mil pessoas tenham sido mortas por tropas americanas sobretudo nas chamadas “zonas de fogo livre”. Trata-se do modelo da guerra moderna. Tal como o Iraque e a Líbia, o Afeganistão é um parque temático para os beneficiários da nova guerra permanente da América: a Otan, as empresas de armamento e de alta tecnologia, os media e a indústria da “segurança” cuja contaminação lucrativa contagia a vida corrente. A conquista ou “pacificação” de território não interessa. O que interessa é a nossa pacificação, cultivar a nossa indiferença.
Verdadeiros camaradas
A queda no totalitarismo tem marcos. Num dia destes, o Supremo Tribunal em Londres decidirá se o editor da WikiLeaks, Julian Assange, será extraditado para a Suécia. Caso este recurso final falhe, o facilitador do conhecimento da verdade a uma escala épica, sem acusação de qualquer crime, vai ter de enfrentar reclusão em isolamento e um interrogatório sobre alegações sexuais ridículas. Graças a um acordo secreto entre os EUA e a Suécia, pode ser “entregue” ao gulag americano em qualquer altura.
No seu próprio país, a Austrália, a primeiro-ministra Julia Gillard conspirou com aqueles de Washington a quem chama os seus “verdadeiros camaradas” para garantir que o seu concidadão seja vestido de fato-macaco laranja se se der o caso de voltar para casa. Em fevereiro, o seu governo escreveu uma “emenda WikiLeaks” ao tratado de extradição entre a Austrália e os EUA que torna mais fácil aos seus “camaradas” deitarem-lhe a mão. Deu-lhes inclusivamente o poder de aprovação sobre investigações de Liberdade de Informação, de forma a que o mundo exterior possa ser enganado, como é costume.
O que fazer?
Tradução: Jorge Vasconcelos

Pão Molhado na CPI



deliciosa cronica de José Ribamar Bessa Freire, em seu blog Taqui Pra Ti 

Depois de um jantar opíparo de pirarucu-de-casaca regado à pimenta murupi, fiquei jiboiando diante da televisão. No noticiário, já de madrugada, vi que a CPI do Cachoeira engavetou os requerimentos para ouvir três governadores, cinco deputados e o dono da Delta, Fernando Cavendish, negando também pedidos de quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico deles.

A CPI não chamou qualquer tubarão para depor, nem ouviu ainda o vilão, senador Demóstenes Torres, que em algum momento chegou até a ser cogitado pelo DEM (vixe, vixe!...) para ser candidato a presidente da República. O próprio Carlinhos Cachoeira, chefe da quadrilha, conseguiu se safar provisoriamente, graças à chicana protelatória de seu advogado, Márcio Thomaz Bastos, o criminalista mais caro do país. A CPI até agora só convocou peixe pequeno, arraia miúda. Os grandes foram blindados.

Fui dormir, inconformado com a notícia indigesta, que me fez ter um pesadelo. Sonhei que, entre os bagrinhos convocados, havia um cidadão amazonense, de nome Rodrigo Freire Souza, assistente social, funcionário da Prefeitura do Careiro (AM), 28 anos, do signo de Libra, casado, com um filho. Sonhei - essas coisas doidas de sonho - que para atender a convocação, ele saiu de casa e foi nadando, de bubuia, no meio do lixo que boiou com a cheia do Rio Negro, em toneladas, espalhando fedor e doença. Chegou em Brasília, todo molhado, inchado como um pão na água.

Não podia pagar advogado, mas deu um depoimento-bomba com revelações que deixaram os parlamentares atordoados. Embora a sessão tenha sido secreta, a sociedade brasileira ficou sabendo de tudo, porque o sonho foi filmado por câmera especial Full HD, dotada de poderoso zoom óptico, que capta imagens até do sussuruim - um piolho minúsculo que dá na cabeça do mucuim - e que foi adaptada para filmar pensamento. Vejam acima foto do depoente indo a Brasilia, deixando mulher e filho ao fundo.

Durante o sonho, o sonhador, no caso este locutor que vos fala, se comprometeu a publicar tudo no Diário do Amazonas que é, agora, o que passo a fazer:



No templo entre doutores

Quais foram as revelações-bomba? Calma, que o Brasil é nosso, avexado(a) leitor(a). Preciso informar, antes, que a CPI quebrou o sigilo bancário e telefônico de Rodrigo Souza, fazendo descobertas sen-sa-cio-nais. O depoente é titular de uma conta única, onde seu salário de R$2.615,27 é depositado mensalmente pela Prefeitura. Ele vive no vermelho e está esperando a abertura de uma agência no Careiro para renegociar sua dívida atual de R$138,26.

Um dos membros da CPI, o impoluto senador Collor de Melo, fuçou as ligações telefônicas e descobriu outra informação de transcendental importância para moralizar o país. É que o depoente, em sua adolescência, namorou escondido a irmã do Ângelo, seu melhor amigo. Gravaram um telefonema dele para a Kelly - esse é o nome dela - marcando um encontro no shopping. Collor queria saber se o depoente havia pago com fundos públicos do Tesouro Nacional o sorvete de cupuaçu que a Kelly consumiu, alegando que se tratava de um dado importante para investigar a organização criminosa do Cachoeira.

- Não desviemos o foco - protestou o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), com muita firmeza, apesar daquela vozinha de taquara rachada e da falta de um "o" do borogodó no final do nome trocado por um reles "e". Randolfe cobrou com o "e" do bereguedé:

- Que o depoente nos conte o que sabe sobre as ligações de Carlinhes Cachoeira com Alfrede Nascimente, ex-ministro do Transporte e com o prefeito de Manaus, Amazonine Mendes. Queremos saber tudo sobre os contratos bichados das obras rodoviárias e do lixo de Manaus.

Foi aí que Rodrigo desandou a falar, mas - essas coisas doidas de sonho - quem dava o depoimento, de repente, como num passe de mágica, não era mais o adulto, era a criança, de 12 anos, que tinha a cara do filho Rodriguinho. O menino fez perguntas incômodas:

-  Por que a CPI ouve ratinhos magros e dispensa gatos gordos como os governadores Marconi Perillo (PSDB-GO), Agnelo Queiroz (PT-DF) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ), articulados à Delta, o braço financeiro do contraventor Cachoeira? Houve acordo partidário entre PSDB, PT, PMDB e DEM: "não convoca o meu, que não convoco o teu"? Como é que Cachoeira nomeava secretários de governo?



O verbo e o vento

O depoimento prosseguiu. O impoluto senador Collor, com o dedo em riste - essas coisas doidas de sonho - fez uma exigência que, embora insólita, foi aplaudida por todos os membros da CPI. Só eu, que estava sonhando, achava absurdo, mas todo mundo encarou como normal. Usando uma palavra vulgar, ele desafiou:

- Exijo que o depoente conjugue, no presente do indicativo, o verbo peidar.

Foi! Foi isso mesmo! Um silêncio profundo tomou conta da sala da CPI. Todo mundo conteve a respiração, numa espécie de "habeas flatus" preventivo. Os parlamentares e a imprensa aguardavam aquilo que seria a revelação-bomba. A expectativa era enorme. O depoente, então, pigarreia, olha os parlamentares, faz um gesto abarcando todos os integrantes da CPI, aponta pra eles e responde:

- Vós peidais!

O impoluto senador Collor insiste:

- Só isso? Repilo! O depoente está escondendo informação. Onde estão as outras pessoas? Conjugue o verbo em todas as pessoas ou poderá sair daqui preso!!!

Rodrigo Souza, que nas reuniões familiares costuma conjugar o verbo na primeira pessoa do singular, deu uma senhora aula de português. Explicou que o verbo em questão era um verbo defecativo, como o verbo ventar, que verbos defecativos não apresentam todas as formas verbais, deixando de ser conjugado em determinadas pessoas, tempos ou modos. Exemplificou com o verbo latir. Ninguém fala: eu lato. Não existe isso. No caso do verbo em questão, se conjuga só na segunda pessoa do plural, admitindo-se, em situações excepcionais, a segunda pessoa do singular:

 - Tu peidas - ele disse apontando Collor.

Eis que de repente - essas coisas doidas de sonho -  a avó do Rodrigo, dona Elisa, adentra o recinto e incentiva o neto-criança a continuar doutrinando os parlamentares:

- Parece Jesus, no templo, entre os doutores - ela disse, embevecida com tanta sabedoria. Foi quando a Preta, mãe do Rodrigo, depois de enviar um torpedo vaccarezza para o filho - "você é nosso e nós somos teu" - perguntou, angustiada:

- Onde estavas, que eu e o Geraldão te procuramos há três dias?
Rodrigo respondeu imitando a fala das pessoas no Evangelho de Lucas:
   
- Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devia estar na casa do meu Povo?

No final do sonho, Rodrigo, que é noveleiro, sugeriu que a CPI convocasse Débora Falabela, a Rita/Nina de "Avenida Brasil". Ela, que viveu no lixão, que está lavando dinheiro e que vive escutando detrás das portas as falcatruas planejadas pelos outros, pode falar sobre as relações de Carlinhos Cachoeira com políticos, empresários, governadores, judiciário e imprensa.

Juro que o que contei aqui é a expressão da verdade, somente da verdade, nada mais que a verdade. Minha imaginação tem limites. Eu não seria capaz de inventar uma histórias dessas, envolvendo Rodrigo, meu sobrinho querido, conhecido como  Pão Molhado, embora seja preciso dizer que o bicho não presta, só vive tirando sarro dos outros. Quero ver minha mãe mortinha no inferno, se estiver mentindo. Sonhei mesmo - essas coisas doidas que só aparecem em sonho. Sábia é dona Elisa que sempre recomendou evitar comidas pesadas à noite. Acordei angustiado. Não sei como interpretar o sonho. Quem souber, por favor, cartas à redação.

P.S. Hoje inicia a venda de pré-lançamento do livro "Essa Manaus que se vai" em www.institutocensus.com.br/ed

Métodos da Veja - a criminosa Veja








por Carlos Lopes, no impagável e divertido jornal Hora do Povo:





A quem aproveita o crime? A campanha contra o então ministro dos Transportes, senador Alfredo Nascimento, perpetrada pela “Veja” em julho do ano passado, beneficiou a empreiteira Delta e seu associado Carlos Cachoeira.

A Delta queria se livrar da fiscalização do Ministério dos Transportes, que já tomara várias medidas para sanar irregularidades:,

1) O Ministério, através do DNIT, abrira um processo administrativo contra a Delta, porque esta, sem autorização, subcontratara outra empresa na recuperação da BR-116, no Ceará.

2) A Delta fora obrigada a repavimentar um trecho da BR-163, em Mato Grosso, porque, em sua obra original, a espessura do concreto era menor que a prevista no contrato.

3) A Delta, contra o edital, atrasara o início das obras na BR-101, no Rio de Janeiro, sem apresentar justificativa.

4) A Delta, líder de um dos consórcios que vencera a licitação, queria aumentar o preço nas obras na BR-060, em Goiás, o que era negado pelo Ministério.

“Veja” sabia, desde maio de 2011 – portanto, dois meses antes de começar sua campanha – da associação entre Cachoeira e a Delta, porque o contraventor a revelou ao redator-chefe de “Veja”, Policarpo Jr. (o “Poli”, “PJ” ou “JR”, como a quadrilha o chamava). Cachoeira marcou um encontro de Policarpo Jr. com Cláudio Abreu, diretor da Delta, e depois disso começou a campanha contra Nascimento e a cúpula do Ministério dos Transportes.

Em uma das gravações feitas pela Polícia Federal, Cachoeira diz: “Eu sou a Delta”. O assunto é algo sem importância – um patrocínio futebolístico –, mas ele não estava muito distante da realidade.

Nas gravações que conseguimos ouvir, ou ler a transcrição, a Delta é mencionada 387 vezes. Mas ainda faltam mais 32 volumes do inquérito e a maior parte das gravações anexadas (a Operação Vegas gravou 60 mil horas de conversas do bando; a Operação Monte Carlo, 250 mil horas). Cachoeira era tão íntimo da Delta, comparecendo quase diariamente aos seus escritórios, que os delegados da PF anotaram: “Será que Carlinhos teria sala dentro da Delta?” (cf. pág. 73, apenso 02, volume 1, Op. Monte Carlo, Auto Circunstanciado De Encontros Fortuitos, DPF/SRDF).

No dia 10 de maio, Cachoeira comunicou ao diretor da Delta, Cláudio Abreu, sua conversa com Policarpo Jr., da “Veja”. O assunto era a edição da revista, três dias antes, em que o ex-ministro José Dirceu era acusado de ser o responsável pela expansão dos negócios da Delta. Policarpo queria que Cachoeira arrumasse ou fabricasse provas para o que a “Veja”, no dia 07, publicara sem nenhuma prova. Mas Cachoeira estava associado à Delta. A transcrição abaixo é uma síntese:

Abreu: (…) cê falou pro Policarpo?

Cachoeira: (…) Rapaz, falei: “vocês erraram, Zé Dirceu não tava”. [Policarpo responde:] “Tem sim e eu tô atrás de uma coisa só, ô Carlin, é... teve uma reunião em Itajubá do Fernando [Cavendish, dono da Delta]com o Zé Dirceu e o Arruda, os três juntos,viu? Itajubá. Foi aí que fechou para Delta entrar em Brasília. Foi pedido. O Zé Dirceu pediu para o Arruda para o Fernando entrar em Brasília”.

(…)

Cachoeira: (…) [Policarpo] perguntou se tinha fita, a história que tá lá na Veja, sabe até o local que foi (…) gravado dando dinheiro vivo. Eu falei: “Ô Policarpo, você acredita mesmo nisso?” Ele: “acredito”. Então, “pelos meus filhos eu to falando pro cê, não existiu essa reunião, esqueça, esqueça”.

(…)

Cachoeira: Eu falei [para Policarpo]: “inclusive vou te apresentar depois, Policarpo, o Cláudio eu sou amigo”. Eu falei que era amigo do cê de infância. “Então, ele trabalha na sua empresa”, falou assim, “vai me contar que você tem ligação com ele”. Sabia de tudo. “Eu não vou esconder nada de você não, Policarpo, o Cláudio é meu irmão, rapaz”. (…). Aí ele virou e falou assim: “(...) Cê me garante?” Eu: “garanto, rapaz”. Você confia nele? “Confio”.

São trechos bastante claros. Cachoeira fala de sua ligação com a Delta, através de Abreu, Policarpo, que “sabia de tudo”, retruca: “vai me contar que você tem ligação com ele”. Cachoeira responde: “Eu não vou esconder nada de você não, Policarpo, o Cláudio é meu irmão, rapaz”.

Há mais uma coisa interessante nesse telefonema: as referências a Luiz Antonio Pagot, então diretor-geral do DNIT, principal órgão do Ministério dos Transportes:

Abreu: (…) Quem chamou?

Cachoeira: Policarpo, pô. (…) você lembra que eu te fiz umas perguntas do Pagot? Enfiei tudo no rabo do Pagot, aquela hora o Policarpo tava na minha frente. (…) o que eu plantei do Pagot aquela hora. Ele anotou tudo, viu. Uma beleza agora, Pagot tá fudido com ele.

Portanto, Policarpo sabia da associação entre a Delta e Cachoeira, sabia da hostilidade destes em relação à cúpula do Ministério dos Transportes e sabia que estava tratando com um contraventor. Era muito fácil, inclusive, saber o motivo dessa hostilidade. Essa conversa foi no dia 10 de maio, dois meses antes de começar a campanha contra o Ministério dos Transportes. Numa conversa posterior, no dia 11 de julho, o notório Dadá diz a Cachoeira: “Tem mais de um ano que o tal do Pagot tá no grampo”. O objetivo, claramente, era derrubar a cúpula dos Transportes para favorecer a Delta.

Foi exatamente o que “Veja” fez: no dia 2 de julho, ela colocou em sua versão online uma suposta denúncia de que no Ministério cobrava-se uma propina das empreiteiras de 4% do valor das obras e 5% das empresas de consultoria. Na edição impressa de 6 de julho, falava-se num suposto “mensalão do PR”, que seria recolhido pelo deputado Valdemar Costa Neto.

Estranhamente, não havia denunciantes – tudo é atribuído a “parlamentares, assessores presidenciais, policiais e empresários, consultores e empreiteiros”, sem um nome, um único nome, sequer. Por exemplo: “'um parlamentar da direção do PR me disse que ele [Luiz Tito Barbosa, assessor do ministro] agora é o caixa oficial. Não é mais para pagar nada diretamente a deputados ou senadores. Os envelopes seguem direto para ele', diz um empreiteiro”.

Que parlamentar? Que empreiteiro?

Outro trecho: “'O Mauro [Barbosa, secretário-executivo do Ministério] é o dono da chave do cofre, e o Luiz Tito o cara da mala', explicou um empresário”.

Que empresário?...    Ninguém!...

Além disso, nem Nascimento nem Pagot eram ligados ao deputado Valdemar Costa Neto. Do último nem mesmo pode-se dizer que suas relações com Costa Neto fossem amistosas.

Em suma, “Veja” fabricou uma denúncia sem denunciantes – sabendo que a saída de Nascimento do Ministério iria beneficiar a Delta, que estava sob investigação, e também de sua parceria com Cachoeira – até porque ela somente confeccionou essa difamação depois que Cachoeira apresentou Policarpo Jr. a Cláudio Abreu.

domingo, 20 de maio de 2012

Sustentabilidade ou Greenwashing?...


por Ricardo, leitor e comentarista no blog do Nassif


O projeto da Ekó House é abrigado pela USP, mas conta também com a participação  da Unicamp, da UFRJ (Federal do RJ), UFSC (Federal de Santa Catarina) e da UFRN (Federal do RN).
Esta casa "autossuficiente", de 47 m², custará a bagatela de R$ 1.500.000,00 financiados na sua maior parte pela Eletrobrás. Módicos R$ 32.000,00/m².  
"Todo o projeto, bem como a construção, está estimado em R$ 1,5 milhão, tendo como principal financiadora a Eletrobras."
O mais curioso é que temos que temos como co-patrocinadores do projeto a Saint-Gobain, Philips, Schneider Eletric e outros gigantes do setor industrial. Supõe-se que este patrocínio tenha reduzido os custos de pesquisa e construção da casa autossuficiente.
Não tenho nada contra projetos de pesquisa que estudem formas alternativas de construção, mais corretas do ponto de vista ambiental. Muito pelo contrário. O problema, é a forma como é vendido o projeto, seu caráter exclusivamente elitista, sua maquiagem étnica:
Apelidada de Ekó House, a construção é inspirada na pluralidade brasileira. Por isso, traz em seu nome a mescla entre uma palavra originada do tupi-guarani – Ekó, que significa “modo de viver”, e House, do inglês, casa.

Projetos como este, ligados mais a um conceito de Greenwashing do que a uma real preocupação com a sustentabilidade, só servem para fornecer munição e justificativa a continuidade da exploração irresponsável de recursos e ridicularização de pesquisas sérias e responsáveis na área ambiental. Mais grave ainda é que nenhuma instância das competentes universidades envolvidas no projeto atente para este fato.

Finalizo  com minha preocupação acerca do rumo tomado nesta insistente discussão  sobre Sustentabilidade, termo infeliz, cuidadosamente escolhido para tirar do foco uma discussão séria sobre o Consumo e uma distribuição justa da riqueza (de recursos e da tecnologia).
Aos pobres, resta permanecerem anacronicamente pobres e antiecológicos...  


Postado em 08/05/2012 às 17h02
A construção é inspirada na pluralidade brasileira. | Imagem: Divulgação
  
Estudantes da Universidade de São Paulo (USP) e de outras três universidades brasileiras se juntaram para construir uma casa sustentável, que utiliza somente a energia produzida por ela mesma. O projeto também irá representar o Brasil em uma competição internacional.
Apelidada de Ekó House, a construção é inspirada na pluralidade brasileira. Por isso, traz em seu nome a mescla entre uma palavra originada do tupi-guarani – Ekó, que significa “modo de viver”, e House, do inglês, casa.
Para chegar ao modelo final os estudantes analisaram diversos fatores, incluindo as condições climáticas e a melhor maneira de aproveitar os recursos naturais para benefício da habitação. Por isso, a residência contará com uma varanda grande, que servirá como espaço para a socialização e ainda auxiliará o controle da temperatura média e da iluminação interna.
Para fornecer a energia necessária para o funcionamento da Ekó House serão usados painéis fotovoltaicos. Eles irão tornar a casa autossuficiente energeticamente e ainda reduzirão os impactos ambientais gerados pela produção elétrica.
Outro ponto que foi bastante considerado em todo o projeto é a questão dos resíduos. Portanto, serão instalados sistemas que auxiliam o gerenciamento dos detritos. O banheiro seco é um dos exemplos. A tecnologia é responsável pela compostagem eficiente dos resquícios.
A água residual também terá tratamento específico. Segundo o site do projeto, os efluentes provenientes do chuveiro, lavatório e da máquina de lavar roupas serão tratados através de um sistema natural, com filtros feitos de macrófitas, parecidos com jardins. Assim, a água poderá ser utilizada novamente, reduzindo significativamente os gastos.
Todo o projeto, bem como a construção, está estimado em R$ 1,5 milhão, tendo como principal financiadora a Eletrobras. A previsão é de que ela seja finalizada antes de junho deste ano, já que permanecerá em exposição na USP até que seja encaminhada a Madri para a competição internacional.