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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O sinal da paranóia no capitalismo


por André Araújo, no blog do Nassif

Entre 1945 e 1970, a organização das grandes empresas se dava em torno do setor de atividades, que exigia executivos experientes no setor. O conhecimento do RAMO DE NEGÓCIO era considerado essencial para se dirigir uma empresa. Nas montadoras existiam os que começaram como simples engenheiros de produto e chegavam à presidência com 40 anos de experiência no ramo. Nomes célebres como Lee Iacocca, com décadas na Ford e que depois salvou a Chrysler eram a regra do sistema capitalista.

No fim dos anos 60 começa uma nova era, os chamados "conglomerados", grupos que, através de fusões e aquisições, juntavam empresas de setores sem relação um com outro. Nasce aí um novo tipo de empresa nos EUA, como a LTV, siderurgia e aviões, United Technologies, elevadores e turbinas de aviação, Rockwell, eletrônica e utensílios domésticos, Raytheon, radares, mísseis e TVs, a própria General Electric, que de eletricidade se volta para química, plásticos, motores de aviação, financeira. Mas o grande inventor dessa onda foi Harold Geneen, um contador nascido na Inglaterra e que fez fama e fortuna nos EUA quando assumiu a presidência da International Telephone and Telegraph Corporation, a célebre ITT. Entre 1961 e 1970, a ITT comprou 350 empresas dos ramos mais disparatados, como locação de automóveis (Avis), hoteis (Sheraton), seguros (Hartford) bombas (Gould), de um faturamento de $700 milhões de dólares chegou em 9 anos a $17 bilhões, tornou-se uma empresa emblemática com envolvimento político nas quedas de Jango e Allende.

Geneen não fez só a ITT crescer. Ele foi o guru intelectual de uma filosofia empresarial que pregava que um bom executivo poderia dirigir empresa em qualquer setor, não precisava ser especialista em nada a não ser em finanças, replicando o que ele era de profissão, um contador-auditor que virou presidente de um vasto conglomerado multi-ramo.

Esse doutrina Geneen virou uma espécie de crença universal e fez nascer o EXECUTIVO FINANCEIRO que dirige empresas de ramos que não conhece por experiência, ele só conhece finanças e números. Grandes exemplos não faltam, toda uma geração de executivos que pulam de empresa em empresa com currículo de financeiro na mão, especialista em cortar custos a qualquer custo como quem espreme um limão, não importa qual o setor.

Isso pode funcionar a curto prazo, mas é um câncer para o capitalismo. Esse tipo de executivo é perigoso para a economia, não tem função social, pode liquidar a longo prazo com o próprio capitalismo. O caso SAMARCO é um exemplo típico. Para espremer custos e gerar lucros no trimestre e garantir o bônus de fim de ano, se espreme a despesa e cuidados com certas áreas que "parece que dá para cortar", o geniozinho deixa de reforçar a barragem e provoca na sequência um prejuízo 200, 2000 vezes maior do que gastaria. Esse tipo de executivo se replica em tudo e só o Estado, com agências reguladoras fortes, pode barrá-lo de cometer desastres na tarefa de "cortar custos correndo riscos".

O exemplo máximo e mais deletério é o do grupo GP-Lehman-Ambev-Inbev com suas fusões infinitas de cervejarias, criando um monstrengo cujo mecanismo central é comprar para cortar custos e com isso pagar a compra. Que sentido tem para o mundo um grupo sozinho controlar 300 marcas de cerveja em cinco continentes?... Gera exatamente o que?... qual o benefício social a não ser para eles?... O capitalismo só sobreviveu porque ao criar prosperidade e riqueza beneficia a todos, essa é a justificativa social e política do modelo capitalista desde Adam Smith, o capitalismo não pode ser só bom para os donos.

O capitalismo do tipo exclusivamente financeiro produz concentração de renda e nada beneficia a população em geral. O fenômeno está sendo percebido mundialmente por pensadores como Piketty, Stiglitz e o resultado político dessa malignidade do capitalismo financeiro pós 1970 está se expressando em situações políticas em grandes países onde uma população desencantada com a concentração de renda vê em candidatos fora do circuito financeiro-político, como Trump, que é rico mas não faz parte do sistema corporativo, ele é empresário individual, e novos partidos pela Europa, subprodutos desse mal estar anti-capitalista que esmaga as pequenas empresas e concentra toda a economia em mãos de meia dúzia de grupos, no processo reduzindo salários e eliminando empregos.

Além do aspecto social, esse modelo é intrinsecamente disfuncional, elimina a concorrência e ameaça o Estado. A concentração que se permitiu no sistema bancário brasileiro é absurda e levou a cartelização do sistema que pode cobrar as mais altas taxas de juros do planeta e é uma das causas da recessão brasileira. O modelo gerou um exército de empregos marginais de milhões de pessoas ganhando baixos salários, quando antes da expansão desse modelo a distribuição dos salários médios era muito mais equitativa nas empresas e bancos, o sistema era mais harmônico.

Geneen criou um monstro e seu modelo, em algum momento, será contestado por explosões sociais a nível mundial.

A doutrina do executivo financeiro contaminou as "escolas de administração de empresas" que estão totalmente voltadas à formação de executivos financeirizados sem ligação com produto ou ramo, só com balanços, o que em nível macro torna o conjunto das empresas menos eficientes para o sistema econômico como um todo, embora possam ser eficientes para os bônus dos executivos. Essa disfunção esteve por trás da crise financeira de 2008 e está atualmente produzindo um mal estar mundial nas economias dos países ricos e emergentes, ninguém está satisfeito com a economia porque ela não está mais atendendo às necessidades e expectativas das populações.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Comercial da Samarco - aprendam cocôzinhos!...


por Wilson Roberto Vieira Ferreira, no Cinegnose

Uma desastrada estratégia de gestão de crise? Ou um exemplo daquilo que o pai das Relações Públicas, Edward Bernays, chamava de “técnica indireta”? O fato é que o comercial da Samarco "É sempre bom olhar para todos os lados" veiculado em horário nobre na TV (que a revista “Meio & Mensagem” chama elogiosamente de “prestação de contas” das medidas de controle de danos ambientais) revoltou muitos internautas. Mas como diria Nick Naylor (o relações públicas do Tabaco no filme “Obrigado Por Fumar”) “Eu não quero convencer você, mas eles!”, diz apontando para as pessoas anônimas que caminhavam ao redor – a Opinião Pública. O comercial da Samarco é uma aula sobre todas as táticas de propaganda que envolvem as chamadas "técnicas indiretas": naturalizações, descontextualizações, inversões de hierarquia e, no final, a cereja do bolo: a canastrice da linguagem audiovisual.


Sobrinho de Freud e considerado o pioneiro das técnicas de relações públicas, Edward Bernays no seu livro Crystallizing Public Opinion (1923) nos oferece um exemplo que abriria a nova era das chamadas “técnicas indiretas” de manipulação da opinião pública: Os proprietários de um decadente hotel consultam um conselho de relações públicas. Eles perguntam como melhorar o prestígio do hotel e incrementar os seus negócios.

Em tempos menos sofisticados, a resposta poderia ser contratar um novo chefe de cozinha, melhorar o encanamento, pintar os quartos, ou instalar um lustre cristalino no saguão de entrada. Mas a técnica dos relações públicas é mais indireta. Eles propõem a celebração do trigésimo aniversário do hotel. Um comitê é formado, incluindo proeminentes banqueiros, a matrona líder da alta sociedade, um advogado famoso, um pastor influente e um ‘evento’ é planejado (digo, um banquete) para chamar a atenção dos distintos serviços oferecidos pelo hotel à comunidade.

A celebração é realizada, são tiradas fotos, a ocasião é amplamente informada e o objetivo é alcançado.

Bernays criou esse paradigma que é seguido até hoje, como podemos ver no inacreditável comercial em TV aberta onde a empresa mineradora Samarco (empresa controlada pela brasileira Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton) mostra as ações que visam minimizar os danos causados pelo rompimento da barragem de Mariana/MG que provocou o maior desastre ambiental brasileiro.


A mentalidade invertida

O comercial estreou no horário mais caro da TV brasileira, no intervalo do Fantástico da TV Globo, e vem sendo apresentado também nos intervalos de telejornais do horário nobre – surpreendente para uma empresa que teve bens bloqueados pela Justiça e adia pagamentos de indenizações alegando que o seguro da empresa não é o suficiente para arcar os custos.

Para além do evidente exemplo do chamado conflito de interesse (Samarco patrocina telejornais que supostamente deveriam ser imparciais sobre notícias que responsabilizam a empresa), o comercial da Samarco é mais um irônico exemplo dessa eufemística “estratégia indireta” que anima as táticas de engenharia de opinião pública.

Por exemplo, a revista Meio & Mensagem chama o comercial de “prestação de contas da Samarco”, num sintoma da mentalidade invertida das estratégias indiretas de RP: se as medidas de controle de danos são reais deveriam ser noticiados como informações nas pautas de telejornais, e não como storytellings nos intervalos comerciais pagos.

A imagem precede a informação, o simulacro se antecipa à realidade numa surpreende inversão platônica em pleno horário nobre.


Inversão da hierarquia da empresa

Nesse mundo invertido do gerenciamento de crise nas Relações Públicas é surpreendente como também é invertida a hierarquia organizacional da empresa – se a crise foi provocada pelos CEOs, diretores, presidentes etc. a partir de decisões alimentadas por dados de planilhas Excel em reuniões fechadas, nada mais lógico do que esconde-los.

Inverta tudo. Ao invés de gente engravatada, mostre em um comercial os funcionários consternados, comovidos, alguns com sentimento de culpa (“mal conseguia trabalhar direito”, fala um funcionário no vídeo), penalizados, preocupados com gatinhos (um patético signo de uma suposta preocupação ambiental da empresa) e se apresentando de braços abertos – e outros, no linguajar corporativo, dizendo que estão “vestindo a camisa”.

Incautos funcionários são colocados como escudos numa filosofia de “é sempre bom olhar para todos os lados”. Em um momento desse inacreditável comercial, um funcionário fala desconsolado em “minimizar os danos que a gente causou!”.

“A gente” é uma mágica expressão de RP que num só golpe esconde hierarquias corporativas, centros superiores de decisão de gestores e CEOs, colocando o rabo de foguete no nível do “chão de fábrica” dos catatônicos funcionários com suas testas franzidas e olhares suplicantes por desculpas.

Como se a Samarco se desculpasse tomando como refém seus próprios funcionários ao afirmar que a empresa gera seis empregos diretos, sugerindo que retalhar a empresa prejudicará a vida dos seus abnegados funcionários.

Assim como Bernays achava que mais importante para incrementar os negócios do hotel eram fotos nos jornais do que contratar um bom chefe de cozinha, também para a gestão de crise da Samarco é melhor mostrar histórias “humanas” de seus funcionários em vídeos publicitários do que implementar medidas reais de impacto que se transformem naturalmente em notícias.


Naturalização e descontextualização

Essa estratégia indireta de RP também produz dois efeitos propagandísticos: naturalizar e descontextualizar crises. Funcionários dizem no comercial que “de repente” acordaram com uma “missão de acolher as pessoas”. Mas como “de repente”, cara pálida! Em poucos segundos a “prestação de contas” da Samarco quer apagar as notícias de que tudo foi uma tragédia anunciada por técnicos especialistas na área de mineração e situar a catástrofe no campo dos terremotos, furacões ou quedas de meteoros.

Diante dos misteriosos desígnios da Natureza e de Deus restaria somente a resposta humana da solidariedade e compaixão – esse é o objetivo ideológico profundo de todo bom storytelling: simplificar acontecimentos social e politicamente complexos em narrativas pessoais melodramáticas e canastronas. Tudo vira uma questão de esforço individual, e não mais de vontade política coletiva.


A canastrice como força de propaganda

Um som de piano ao fundo com notas cromáticas que vai em crescendo, acrescentando o som das cordas e o crash de um prato de bateria quando funcionários falam em “desejando estar juntas” e “vestir a camisa”.

Nada mais over, melodramático e canastrão do que essa combinação de uma trilha musical ao estilo do pianista kitsch Richard Clayderman como moldura de relatos de pessoas “emocionadas” com enquadramentos de câmeras meticulosamente assimétricos para passar uma atmosfera de declarações espontâneas.

Estamos na linguagem da canastrice: a fotografia em tons pastéis (figurinos e os sets em tons claros), com uma paleta de cores e tonalidade que criam uma atmosfera que lembra comerciais de produtos matinais e de iogurtes probióticos. Tudo tão previsível que se torna caricato, exageradamente previsível e saturado. Canastrão, portanto.

Em postagem anterior discutíamos esse elemento da canastrice na propaganda contemporânea: por que ninguém percebe a evidente natureza ficcional do vídeo, feito com recursos estéticos manjadíssimos do pior do cinema e TV? A opinião pública não percebe a natureza “fake” ou “forçada” destes pseudoeventos porque própria estrutura de percepção do real já foi alterada anteriormente por décadas de cultura pop: tomar o real não a partir dele mesmo, mas a partir dos seus simulacros – sobre a canastrice dos dispositivos da propaganda clique aqui.

Paradoxalmente o exagerado eufemismo das estratégias indiretas de RP é encoberto pela canastrice da linguagem da propaganda. Nossa percepção está tão saturada pela linguagem publicitária e pelos filmes hollywoodianos que quando vemos uma “prestação de contas” da Samarco em nessa linguagem over e saturada não nos damos mais conta da natureza fake, forçada e das expressões eufemistas – “a gente”, “de repente”, “tínhamos uma forma diferente de trabalhar” etc.









quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A entrega do petra oleum tupiniquim, uma política de D. José I - Almirante do Tietê



 

Pedro Celestino do Clube de Engenharia, na Carta Maior (artigo de agosto de 2015, mas sempre atual)


 

Cabe registrar a disposição do nobre senador José Serra de, finalmente, oferecer à opinião pública as razões que o fizeram apresentar o PL 131, que retira a obrigatoriedade de a Petrobras ser a operadora única dos campos do pré-sal. O debate de idéias em termos elevados é intrínseco à democracia. É pena, entretanto, que tal disposição só tenha se manifestado após 46 senadores terem rejeitado o pedido de urgência para a tramitação do seu projeto; caso o houvessem aprovado, a deliberação sobre assunto de vital interesse para o país seria tomada sem discussão. É que o senador considera o petróleo uma “commodity”, e não um insumo estratégico para o Brasil. Não vê, ou não quer ver, que o controle do petróleo é, e continuará a ser nas próximas décadas, o pano de fundo dos principais conflitos geopolíticos mundiais.

Considere-se, por exemplo, o cenário antevisto pela AIE – Agência Internacional de Energia, que prevê que:

a) a produção mundial de petróleo continuará a crescer, passando dos atuais 85 milhões de barris/dia para quase 100 milhões de barris/dia em 2035;

b) os campos produtores atuais atingiram seu pico de produção (65 milhões de barris/dia) em 2007/2008, entrando em declínio desde a partir daí;

c) em 2035 cerca de 38 milhões de barris/dia serão produzidos por campos já descobertos, (mas não em produção) por campos novos a serem descobertos.

Resultado deste cenário: a ampliação do estoque de reservas para futura produção de petróleo continuará a ser o principal objetivo das petrolíferas privadas mundiais (Shell, Exxon, Chevron, BP e Total). E quando se fala de petróleo, área em que os projetos são de longa maturação, pois envolvem largo espectro de riscos e incertezas, assenhorear-se de áreas já descobertas, em que tais imprevisibilidades sejam minimizadas, torna-se objetivo prioritário dessas empresas. Não foi outro o motivo que levou recentemente a Shell a comprar a BG. Segundo o seu presidente a Shell, ao adquirir a BG, aumentará nos próximos 5 anos a produção de petróleo no Brasil, dos atuais 100 mil barris/dia para 500 mil barris/dia. Com isso, 20% da sua produção mundial sairá do Brasil.

No planeta, nos últimos 30 anos, a maior descoberta de petróleo foi a do pré-sal brasileiro, com reservatórios a exibir níveis de produtividade incomuns (poços que produzem mais de 20 mil barris/dia), com baixo custo de extração (US$ 9,00/barril, segundo a Petrobrás). Esta é a razão do desesperado interesse das petrolíferas privadas mundiais no nosso pré-sal.

Qualquer empresa petrolífera preocupa-se simultaneamente com o aumento da produção e o aumento das reservas. Se é a produção que sustenta financeiramente a empresa, são as reservas que propiciam o lastro econômico que, por sua vez, promove a sustentabilidade do seu futuro. A produção dos campos produtores decai em média 10% ao ano e as reservas se esgotam rapidamente, por isso a atividade de exploração e produção (E&P) é tão frenética na busca de novas reservas.

No Brasil, após a quebra do monopólio estatal do petróleo em 1997, a estratégia das petrolíferas privadas mundiais foi a de aguardar os resultados dos esforços exploratórios – como se sabe, carregados de riscos e incertezas – da Petrobrás, para aí sim, sem risco exploratório algum, adquirir as áreas promissoras, em leilões promovidos pela ANP, agência cada vez mais capturada por interesses privados. Basta dizer que sua diretora-geral defende a revisão da Lei da Partilha. Não por acaso, a ANP é tão cara ao senador Serra, desde o tempo de David Zylberstajn, o competente genro de FHC.

O modelo de partilha foi adotado para assegurar ao país ganhos maiores, em áreas de risco exploratório muito baixo, como é o caso do pré-sal. Ao propor que a Petrobrás deixe de ser a operadora única do pré-sal, o senador Serra presta um serviço às petrolíferas privadas mundiais. É da entrega do nosso petróleo, é disto que se trata, o que não é novidade. Basta recordar o que ocorreu após a quebra do monopólio da Petrobrás. Para atrair as empresas estrangeiras, determinou-se irresponsavelmente à Petrobrás reduzir a aquisição de blocos para explorar, descobrir e produzir petróleo nas rodadas I, II, III e IV (esta em 2002). Se essa diretriz não fosse revertida a partir de 2003 com a retomada da aquisição de blocos nas rodadas seguintes, a partir de 2008 a Petrobrás não teria mais onde explorar em território brasileiro, comprometendo o seu futuro como empresa petrolífera.

O aumento constante das reservas e da produção a partir de 2003 decorreu da forte retomada dos investimentos em E&P e da decisão de abandonar a política de concentração dos investimentos na Bacia de Campos, com grande produção, mas com declínio de produção já à vista (sucediam-se os poços exploratórios secos perfurados). Essa inflexão permitiu que as sondas fossem espalhadas pelas bacias do Espírito Santo, Santos e Sergipe, que propiciaram, a partir de 2003, as grandes descobertas e o crescimento efetivo das reservas e da produção, processo que culminou com a descoberta do pré-sal em 2006. É bom lembrar que essas bacias tinham sido praticamente abandonadas nos anos anteriores, para permitir a entrada das empresas estrangeiras. Se a Petrobrás continuasse concentrada na Bacia de Campos – a empresa abandonara investimentos em áreas novas – aí sim, teria sido transformada em uma empresa petrolífera sem qualquer sustentabilidade financeira, a curto prazo, e econômica, a longo prazo.

O aumento da produção foi extraordinário a partir de 2003. Extraordinária também foi a elevação das reservas. Apesar dos desmandos, a Petrobras passou a ser a melhor, a mais eficaz e, economicamente, a mais sustentável a longo prazo das grandes empresas petrolíferas mundiais. Definitivamente não está, como diz o senador Serra, “quase arruinada”.

O senador Serra critica o endividamento da Petrobrás, segundo ele quase 6 vezes maior que o endividamento médio das petrolíferas. Para não questionar números, pois caberia argüir a que universo de empresas corresponderia a média por ele citada, basta dizer que há petrolíferas de inúmeros tipos, tamanhos/dimensões e missões/objetivos empresariais. As estatais do Oriente Médio, por exemplo, têm endividamento baixíssimo, pois produzem em campos terrestres, de geologia bem conhecida; já as petrolíferas privadas mundiais têm reservas e produção cadentes há anos, o que em contrapartida lhes permitiu acumular recursos financeiros para adquirir reservas mundo a fora, o que lhes seria permitido aqui, caso o projeto do senador Serra fosse aprovado. Nenhuma delas é como a Petrobrás, detentora de reservas totais de petróleo crescentes, que beiram os 30 bilhões de barris, que conta com um corpo técnico reconhecido como entre os melhores e mais bem capacitados – senão o melhor – dentre todas as petrolíferas, que detém tecnologia integral para não só produzir suas reservas de petróleo, como para avançar continuamente no domínio tecnológico, e que apresenta a mais segura e eficaz competência operacional do mundo para produzir em águas ultra profundas, como as do pré-sal, com total segurança paras as pessoas e para o meio ambiente. O mau uso da estatística pelo senador Serra traz à lembrança o falecido Roberto Campos, que acertadamente dizia que a estatística mostra o supérfluo e esconde o essencial.

O senador Serra, para justificar a entrega do petróleo do pré-sal às petrolíferas privadas mundiais, alega que, entre a quebra do monopólio estatal em 1997 e 2010, sob o regime de concessão, a produção de petróleo da Petrobrás passou de 800 mil barris/dia para 2 milhões de barris/dia, enquanto que, sob o regime de partilha, teve um “aumento pífio de 18%”. Aqui está a justificativa, ainda velada, para o abandono do regime de partilha, iniciado pelo seu projeto. O argumento do senador não se sustenta: o aumento da produção de petróleo da Petrobras até 2010 decorreu, essencialmente, da produção de descobertas anteriores à quebra do monopólio, pois a produção das descobertas posteriores só começou a se fazer sentir a partir de 2005-2006; nada, porém, se compara à extraordinária curva de crescimento da produção de petróleo no pré-sal, que aumenta mês a mês desde 2013, quando lá se iniciou a produção, à taxa de 5% a.m., chegando hoje à casa dos 800 mil barris/dia. Esta é a razão da tentativa, patrocinada pelo senador Serra, de entregar o nosso petróleo às petrolíferas privadas mundiais.

O senador Serra critica a Petrobrás pelo “controle oportunista de preços” e pelos “projetos aloprados de refinarias”, que teriam quase arruinado a empresa.

Quanto ao “controle oportunista de preços”, labora em erro o senador Serra. Administrar o preço na porta da refinaria é do interesse do cidadão brasileiro – em última análise, o acionista controlador da Petrobrás – e cumpre função social de extrema importância, a do controle do custo de vida. Os acionistas estrangeiros, introduzidos na Petrobrás após a quebra do monopólio, é que não concordam com isso, exigem o alinhamento dos preços dos produtos da Petrobrás aos preços internacionais. A quem serve o senador Serra ao defender essa opinião? Certamente, não aos interesses nacionais. Quanto aos “projetos aloprados de refinarias”, tanto o COMPERJ no Rio de Janeiro, como a RENEST em Pernambuco são tecnicamente justificados, pois agregam valor ao petróleo aqui produzido, e tornam o país auto-suficiente neste insumo. Na verdade, a posição do senador é coerente com a do governo FHC, do qual foi uma das principais lideranças: buscou-se, então, desinvestir em refino (alienou-se %u253 da REFAP à YPF e preparou-se a venda da REDUC, suspensa em 2003), para tornar o país dependente da importação de derivados. As beneficiárias da canibalização da Petrobrás seriam, é claro, as petrolíferas privadas mundiais.

Finalmente, o senador Serra comenta algumas decisões da atual diretoria da Petrobrás, em princípio alinhadas às suas ideias. Propõe-se a venda de ativos de produção, solução simplista que suprimirá da Petrobrás justamente a origem dos recursos que, no futuro, garantirão o rolamento das suas dívidas e a sustentabilidade a longo prazo da saúde financeira da empresa. As medidas anunciadas são, na verdade, uma solução obtusa, que beira o suicídio empresarial, em favor de interesses das petrolíferas privadas mundiais, tão caras ao senador Serra.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Mossack Fonseca - o bêabá da picaretagem global

 

por Ken Silverstein, no Vice 
com bonitas ilustrações estilo antigo de Ole Tillmann -
Tradução: Marina Schnoor

O propósito de uma empresa de fachada é que o dinheiro colocado nela não possa ser rastreado até o dono. Digamos, por exemplo, que você seja um ditador que quer financiar o terrorismo, aceitar suborno ou roubar o tesouro de sua nação. Uma empresa de fachada é uma entidade falsa que te permite guardar e movimentar dinheiro sob um nome corporativo sem que a lei internacional ou as autoridades tributárias saibam que ela é sua. Assim que o dinheiro estiver disfarçado como ativos de um empreendimento – tipicamente feito por um advogado de confiança ou de compadrio num paraíso fiscal sigiloso –, você vai poder gastá-lo ou usá-lo para propósitos nefastos. É essa a definição de lavagem de dinheiro: pegar dinheiro sujo e torná-lo limpo. E empresas de fachada tornam isso possível. Elas são como "o carro de fuga de assaltantes de bancos", diz o ex-investigador de assuntos alfandegários dos EUA Keith Prager.

Às vezes, no entanto, investigadores internacionais conseguem rastrear o dinheiro. Como no caso de Rami Makhlouf, o mais rico e poderoso empresário da Síria. Muitos acreditam que Makhlouf é um "bagman" (uma pessoa que coleta e gerencia dinheiro sujo) do presidente Bashar Al-Assad, que, durante os últimos três anos, ajudou a causar a morte de mais de 200 mil sírios na guerra civil do país.

Além de Assad, poucas pessoas são mais odiadas na Síria do que Makhlouf. Ele é primo do presidente e irmão do chefe da inteligência síria. Usando essas conexões, esse empresário construiu uma rede de negócios que se espalha por telecomunicações, empresas de energia e bancos: aos 40 anos, já tinha acumulado uma fortuna estimada em bilhões de dólares. Quando o levante contra o regime começou em 2011, manifestantes incendiaram uma filial de sua empresa de telefonia móvel aos gritos de "Makhlouf é um ladrão!".

Em 2006, a revista britânica New Statesmen disse que "nenhuma companhia estrangeira consegue fazer negócio na Síria sem a aprovação e envolvimento de Makhlouf". Um documento sigiloso da Embaixada Americana em Damasco, divulgada pelo WikiLeaks, o descrevia como "o garoto da capa da corrupção na Síria". No mesmo ano, o Departamento do Tesouro americano proibiu que companhias dos EUA fizessem negócios com Makhlouf, dizendo que ele tinha "construído seu império comercial explorando suas relações com membros do regime sírio" e "usado oficiais da inteligência para intimidar os concorrentes".

Quando a guerra civil na Síria começou em 2011 e as forças de segurança do Estado começaram a apagar os oponentes de Assad, os EUA e a União Europeia colocaram Makhlouf na lista dos comparsas do regime cujos ativos internacionais deveriam ser rastreados e congelados, porque, segundo o Departamento do Tesouro, ele tinha ficado rico subornando e "incentivando a corrupção pública de oficiais do regime sírio".

Se ele fosse um assaltante de banco, seu carro de fuga seria uma empresa chamada Drex Technologies S.A. Em julho de 2012, o Departamento do Tesouro identificou a Drex (uma entidade fictícia com endereço nas Ilhas Virgens Britânicas) como um veículo corporativo controlado secretamente por Makhlouf e usado "para facilitar e gerenciar suas participações financeiras internacionais". Em outras palavras, digamos que ele tivesse abocanhado alguns milhões de dólares de um acordo empresarial secreto com um oficial corrupto sírio. Ele não colocaria esse dinheiro num banco, onde a quantia poderia ser ligada a ele; em vez disso, canalizaria isso através da Drex para que o dinheiro não pudesse ser rastreado.

No final de outubro, obtive vários documentos sobre a Drex do escritório de registro de negócios das Ilhas Virgens Britânicas. Os registros revelam muito pouco – o nome de Makhlouf, por exemplo, não aparece em parte alguma. Foi só quando a guerra civil síria desencadeou uma investigação internacional para tentar rastrear e congelar os ativos do empresário e de outros bandidos de Assad que o Departamento do Tesouro dos EUA descobriu que ele controlava a companhia e era seu dono, diretor e acionista. Mas quando o departamento fez isso, já era tarde: a empresa tinha desaparecido dos registros corporativos das Ilhas Virgens Britânicas. Em outras palavras, a Drex Technologies S.A. era um veículo para esconder atividades financeiras escusas de Makhlouf; antes de ser descoberto, o empresário sírio teve muito tempo para mudar suas operações e ativos para outro paraíso fiscal.

"No mundo, há várias firmas competidoras, e muitas delas registram empresas de fachada tão sujas quando a Drex."

Mas quem torna essas entidades possíveis? Para conduzir negócios, empresas de fachada como a Drex precisam de um agente registrado – às vezes, de um advogado que preencha os documentos exigidos e cujo escritório sirva de endereço de fachada. O processo cria uma camada entre a empresa de fachada e seu dono, especialmente se a companhia fictícia estiver num paraíso fiscal, onde informações sobre os donos ficam atrás de um muro impermeável de leis e regulamentos. No caso de Makhlouf – e, segundo descobri, no caso de vários outros negócios escusos –, a organização que ajudou a incorporar essa companhia de fachada e a protegeu do escrutínio internacional foi uma firma de Direito chamada Mossack Fonseca, que serviu como agente de registro da Drex de 4 de julho de 2000 até o final de 2011.

A organização foi fundada no Panamá em 1977 pelo alemão Jurgen Mossack e por um panamenho chamado Ramón Fonseca, vice-presidente do atual partido no comando do país; mais tarde, acrescentou-se um terceiro diretor, o advogado suíço Christoph Zollinger. Desde os anos 70, a firma expandiu suas operações e agora trabalha com escritórios afiliados em 44 países, incluindo Bahamas, Chipre, Hong Kong, Suíça, Brasil, Jersey, Luxemburgo, Ilhas Virgens Britânicas e – talvez o que seja mais problemático – os seguintes Estados dos EUA: Wyoming, Flórida e Nevada.

A Mossack Fonseca, claro, não é a única a estabelecer empresas de fachada usadas pelos bandidos do mundo. Pelo globo, existem várias firmas competidoras, muitas delas registrando empresas de fachada tão escusas quanto a Drex. Por exemplo, no caso de Viktor Bout, que, nos anos 90, vendia armas para o Talibã através de uma empresa de fachada registrada em Delaware. Mais recentemente, em 2010, um homem chamado Khalid Ouazzani se declarou culpado de usar uma empresa de Kansas City, Missouri; chamada Truman Used Auto Parts, ela movimentava dinheiro para a Al-Qaeda.

Notícias dispersas e investigações internacionais apontam a Mossack Fonseca como uma das criadoras de empresas de fachada de maior alcance no mundo, mas, até agora, ela tinha usado vários truques legais e de contabilidade para que a Mossack e seus clientes voassem abaixo do radar.

(A firma contesta essa afirmação e garantiu num e-mail que "não há tribunal ou registro do governo que tenha identificado a Mossack Fonseca como criadora de empresas 'de fachada'. Qualquer coisa que ligue nosso grupo a 'atividades criminosa' é infundada e, por isso, nunca fomos realmente notificados da existência de nenhum procedimento legal... até agora".)

Mas um ano inteiro de investigações revelou que a Mossack Fonseca – descrita pela Economist como um líder impressionantemente "discreto" da indústria de finanças de fachada – tem servido como agente de registro para companhias ligadas a uma variedade de mafiosos e ladrões notórios cuja associação, além de Makhlouf, já se estendeu a Muammar Gaddafi e Robert Mugabe, bem como a um bilionário israelense que tem saqueado um dos países mais pobres da África e um oligarca chamado Lázaro Báez, que, de acordo com registro dos tribunais dos EUA e relatórios de um procurador federal da Argentina, teria lavado dezenas de milhões de dólares através de uma rede de empresas de fachada, algumas das quais a Mossack Fonseca ajudou a registrar em Las Vegas.

Documentos e entrevistas que conduzi também mostraram que a Mossack Fonseca fica feliz em ajudar seus clientes a montar essas empresas, que são o vinho vintage do negócio da lavagem de dinheiro: odiadas pelas agências da lei e amadas por vigaristas, porque "envelhecem" por anos antes de serem vendidas, elas parecem ser corporações estabelecidas com registros sólidos – e tem ramos também em Las Vegas. Um gerente internacional de ativos me disse que Mossack Fonseca ofereceu a venda de uma empresa de fachada de 50 anos a ele por US$ 100 mil.

Se empresas de fachada são os carros de fuga de assaltantes de banco, então, a Mossack Fonseca provavelmente é a concessionária de carros mais suja do mundo.
 
 
 
No Panamá

Em março passado, viajei para o Panamá, o lar da Mossack Fonseca. Victor, um jornalista local, me mostrou a cidade; os campos de golfe de luxo e as mansões na Zona do Canal; os prédios sombrios de apartamentos na favela El Chorrillo e os arranha-céus do distrito empresarial central. Na época da minha visita, o Panamá estava se preparando para as eleições nacionais, e cartazes de políticos cobriam todo poste telefônico e muro da cidade. "Este cara é um cuzão", Victor me explicou enquanto dirigia, apontando para um outdoor de um candidato da Assembleia Nacional que, segundo ele, estava ligado ao tráfico de drogas local. "Bom, são todos cuzões. Mas esse é um verdadeiro cuzão."

O Panamá vem sendo governado por cuzões há mais de um século. Em 1903, a administração Theodore Roosevelt criou o país depois de pressionar a Colômbia para entregar o que era, então, a província do Panamá. Roosevelt agiu sob ordens de vários grupos bancários, entre eles a J. P. Morgan & Co., apontada como o "agente fiscal" oficial do país, pois estava encarregada de administrar os US$ 10 milhões de auxílio que os EUA injetaram na nação.

Os bancos americanos ajudaram a transformar o Panamá num centro financeiro: assim, o país emergiu como um paraíso fiscal e de lavagem de dinheiro nos anos 70 depois de o governo aprovar algumas das leis de sigilo financeiro mais restritas do mundo. Provavelmente foi isso que encorajou a Mossack Fonseca a se estabelecer ali em 1977. As leis de sigilo financeiro não só prometem confidencialidade aos investidores estrangeiros – elas proíbem os bancos de liberar qualquer informação sobre os clientes, a não ser a mando de um tribunal em casos que envolvam terrorismo, tráfico de drogas e outras ofensas sérias (evasão fiscal foi especialmente excluída dessa categoria). Essas leis atraíram toda uma linhagem de vigaristas e ditadores, que usaram o Panamá para esconder seus fundos roubados, incluindo Ferdinand Marcos, "Baby Doc" Duvalier e Augusto Pinochet.

Quando Manuel Noriega, comandante das Forças de Defesa do Panamá, tomou o poder em 1983, ele essencialmente nacionalizou o negócio de lavagem de dinheiro, fazendo uma parceria com o cartel de Medellín e dando carta branca ao grupo para atuar no país. Noriega apoiava a política externa americana na região – e, por anos, esteve na lista de pagamento da CIA –, mas os EUA perderam a paciência quando ele se opôs aos esforços americanos para derrubar o governo sandinista da vizinha Nicarágua. Essa foi uma das razões para a invasão do Panamá em 1989, o que fez Noriega ser deposto e o poder devolvido às antigas elites bancárias, os herdeiros do legado J.P. Morgan.

O novo governo do presidente Guillermo Endara, um advogado corporativo empossado numa base militar americana algumas horas depois de a invasão começar, em 20 de dezembro de 1989, oferecia um rosto mais gentil que o regime de Noriega. Mas, desde então, ele e seus sucessores democraticamente eleitos fizeram muito pouco para abordar os problemas mais óbvios do país: a corrupção e a pobreza. Um relatório recente do governo americano diz que o Panamá é "atormentado" por fraudes e evasão de impostos internacional, o que gera "grandes fontes de fundos ilícitos".

"Em qualquer firma de advocacia da cidade, da menor à maior, você pode abrir uma empresa de fachada sem ter de responder perguntas."

Hoje, as leis de finanças do Panamá continuam extremamente relaxadas. Empresas estrangeiras podem trazer somas ilimitadas para o país sem pagar impostos. Um relatório do Fundo Monetário Internacional do começo do ano afirma que, dos 40 passos recomendados para combater lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo, o Panamá implementou completamente apenas um. Em setembro, o New York Times informou que comparsas do presidente russo Vladimir Putin tinham canalizado dinheiro através de estruturas de fachada registradas no Panamá.

"Quando se trata de lavagem de dinheiro, oferecemos serviço completo: lavagem, enxágue e secagem", disse Miguel Antonio Bernal, um importante advogado e analista político local. "Você pode ir a qualquer firma de advocacia da cidade, da menor à maior, e abrir uma empresa sem ter de responder perguntas."

Na Cidade do Panamá, eu estava confortavelmente instalado numa suíte no 16º andar do hotel Waldorf Astoria, uma torre espelhada com vista panorâmica para a Baía do Panamá. Eu tinha agendado minha chegada para coincidir com uma conferência de dois dias no hotel, um evento com 70 consultores financeiros internacionais dos uber-ricos – indivíduos high-net-worth, na linguagem financeira industrial –, e descobri que um dos palestrantes era Ramses Owens, um advogado e especialista financeiro que já trabalhou para a Mossack Fonseca.

No meu segundo dia no país, acordei, ergui a cabeça do travesseiro de plumas da minha cama king size, me levantei, me vesti e tomei o elevador até o local da conferência: o Salão Diamante do hotel.

Apesar de o evento ser fechado, dei um jeito de me infiltrar e conseguir uma lista dos participantes e cópias das palestras e apresentações. Sentados em mesas com jarras de água gelada e vasos com flores, os participantes eram, na grande maioria, homens de meia-idade, de cabelo grisalho e pança, vestidos em ternos escuros que seriam insuportáveis no calor das ruas da Cidade do Panamá, mas perfeitos para o Salão Diamante, agradavelmente resfriado pelo ar-condicionado ligado no máximo.

Essas pessoas eram advogados fiscais corporativos, contadores, banqueiros e administradores de fundos, todos encarando um pequeno palco com um pódio para os palestrantes e uma tela mostrando apresentações em PowerPoint. Cerca de metade dos participantes eram panamenhos; um quarto deles, dos EUA, Europa e América do Sul; o outro quarto, de paraísos fiscais tradicionais, como as ilhas Turcas e Caicos, Bahamas, Santa Lúcia e Belize. "Gente realmente má", me contou Jack Blum, ex-investigador do Senado americano e advogado de Washington especializado em lavagem de dinheiro, antes da minha viagem. "E eles querem aprender a ser ainda piores."

"Eu vi você aí bancando o Cavaleiro Solitário", me falou Edward Brendan Lynch, um corado consultor financeiro, que atua nas Bahamas, durante o coffee break. Eu estava sentado no bar espionando os participantes, e ele esperava seu uísque on the rocks. "De onde você é?"

Quando disse que era de Washington, Lynch, que parecia o Thurston Howell III do A Ilha dos Birutas, me disse que tinha visitado a cidade muitos anos atrás. "Vi as cerejeiras florirem", ele relembrou. "Almocei no Jockey Club. Um lugar agradabilíssimo."

"Estima-se que americanos detenham mais de US$ 1 trilhão em paraísos fiscais, com perdas anuais de US$ 100 bilhões apenas em imposto de renda."


De volta ao Salão Diamante, Ramses Owens subiu ao pódio. Vestido imaculadamente e com o cabelo repartido de maneira perfeita, ele encarnava a banalidade do mal financeiro moderno. Anunciado no programa da conferência como um mestre do "planejamento de impostos", ele brincou com o público dizendo que preferia descrever seu trabalho como "otimização de ativos".

Quando trabalhou na Mossack Fonseca, Owens direcionava seu conhecimento para as vantagens competitivas de incorporar empresas da ilha Niue, no Sul do Pacífico. Em 1996, a firma ganhou direitos exclusivos para a criação de empresas na ilha; em quatro ano, 6 mil delas já estava registradas lá, algumas supostamente controladas por sindicatos do crime do Leste Europeu e cartéis de drogas internacionais, de acordo com investigadores. A descoberta disso levou a sanções internacionais em 2001 que forçaram a ilha a fechar seu negócio de registro de empresas cinco anos mais tarde. Aí, a Mossack Fonseca transformou limões em limonada para seus clientes, transferindo as contas de Niue para outros paraísos fiscais, incluindo Samoa e – conforme revelado por documentos que a Mossack Fonseca foi obrigada a entregar – o Estado americano de Nevada. (Não há provas de que as empresas transferidas estavam envolvidas em atividades criminosas apesar das identidades dos donos continuarem desconhecidas.)

A repressão em Niue foi parte de um grande esforço internacional conduzido pelos EUA, Inglaterra e outras nações ocidentais. Originalmente desencadeada por preocupações com o terrorismo e o crime organizado, a iniciativa se intensificou recentemente devido a uma hemorragia de déficit que tem aumentado graças à evasão fiscal generalizada. Estima-se que americanos detenham mais de US$ 1 trilhão em paraísos fiscais, com perdas anuais de US$ 100 bilhões apenas em imposto de renda. Em 2010, o governo aprovou o Foreign Account Tax Compliance Act  - FATCA depois de multar a gigante suíça UBS em US$ 780 milhões por ajudar milhares de americanos a esconder seus ativos (em um caso, um banqueiro da UBS contrabandeou diamantes de um cliente pela fronteira num tubo de pasta de dente). O FATCA, que está sendo implementada em etapas e cuja ativação completa tem sido retardada devido à oposição feroz da indústria financeira, já exige que bancos estrangeiros notifiquem a Receita Federal americana sobre contas abertas por contribuintes americanos.

Naturalmente, esse FATCA era uma preocupação para as pessoas presentes no Salão Diamante – entre elas, Marie Fucci, consultora de clientes americanos e europeus que denunciou a nova lei como um "apartheid" financeiro –, mas Owens procurou acalmar esses temores. Enquanto clicava no PowerPoint para mostrar slides com imagens de cofres de bancos, pilhas de notas de US$ 100 e outras fotos de estoque de pornô financeiro, ele destacou maneiras de evitar regulamentações internacionais onerosas e irritantes. O FATCA, ele assegurou confiante, não ia derrubar o sistema dos paraísos fiscais, menos ainda no Panamá, onde advogados, consultores e outros facilitadores têm poderosos aliados políticos (como o ministro das finanças do país na época, que também palestrou no evento). Owens estimou que nove em dez entidades financeiras registradas no país eram de propriedade estrangeira e disse que fundações privadas panamenhas – uma criação local que, no mundo dos paraísos fiscais, é tão amada quanto a tradicional conta na Suíça – ainda conseguiriam reter dinheiro anonimamente, mesmo quando o FATCA estivesse totalmente implementado. O público balançou as cabeças em aprovação.
 
Na manhã seguinte ao discurso de Owens, fui até o escritório da Mossack Fonseca. Eu não esperava encontrar ninguém da firma, já que tinha feito vários pedidos de entrevista educada mas firmemente negados. "Decidimos não participar dessa entrevista", me explicou a porta-voz Lexa de Wittgreen num e-mail curto, provando que a Mossack Fonseca consegue ser diligente – pelo menos com jornalistas.

Eu estava usando um mapa do hotel e logo me perdi no distrito comercial movimentado da Cidade do Panamá, que lembra uma Hong Kong tropical em miniatura. Olhando em volta a fim de me orientar, vi um jovem de calça escura e camisa de risca de giz verde sair de um prédio comercial (o Edifício Omega) e entrar numa picape Mitsubishi Sportero (L200 no Brasil) preta.

"Não é longe", ele me contou, num inglês perfeito, quando perguntei se ele sabia onde ficava o prédio da Mossack Fonseca. "Você tem uma reunião marcada com eles? Porque faço um trabalho similar ao deles e posso te ajudar." Ele tirou um cartão de visitas do bolso e me entregou com um sorriso de orelha a orelha.

Por coincidência, ele era Alejandro Watson Jr., da Owens & Watson, empresa na qual Ramses Owens é sócio. "Eu trabalho ali", ele frisou, apontando para um escritório no segundo andar do prédio. "Estou atrasado para uma reunião, mas posso falar com você mais tarde hoje ou te levar agora e apresentar um dos meus colegas."

Antes da minha viagem, fiquei imaginando se conseguiria contatar uma firma de direito local para testar a facilidade de abrir uma empresa de fachada. Essa era uma boa oportunidade para colocar isso em prática.

"Vim dos EUA para ver uma propriedade aqui", menti enquanto nos misturávamos ao tráfego. "Preciso abrir uma empresa para fazer a compra. Que tipo de informação você precisa?"

"Só preciso do seu passaporte, carteira de motorista, algo que tenha seu endereço e uma carta de qualquer banco", destacou Watson. "Não pedimos informações do seu negócio. Só queremos te ajudar a fechar o acordo para que você continue trabalhando com a gente."

"Meu nome precisa aparecer no documento?", perguntei.

Achei que minha franqueza desencadearia pelo menos uma leve desconfiança – afinal de contas, foi essa mesma promessa de anonimato que atraiu todos os clientes desonestos para Niue quando o atual patrão de Watson trabalhava para a Mossack Fonseca. Mas ele continuou com a mesma empolgação. "Você tem o problema da FATCA", Watson pontuou com um sorriso. "Podemos contornar isso. Recomendo que você abra um fundo, porque isso pode ser de propriedade de qualquer outra pessoa."

Perguntei se eu poderia abrir uma conta bancária para minha empresa de fachada para ter acesso ao dinheiro. Afinal de contas, qual a vantagem de escondê-lo num paraíso fiscal se você não puder gastá-lo?

"Claro", devolveu Watson, entusiasmado. Ele puxou uma brochura de uma pasta colocada entre os assentos do carro. "Temos uma rede global de bancos", contou, apontando uma página que listava algumas dezenas de instituições financeiras com que sua firma trabalhava.

A rede incluía bancos pequenos em países e repúblicas como Panamá, Ilhas Caimã, Mônaco e Andorra até nomes como HSBC, além dos traficantes de diamantes da UBS. Um relatório de um comitê do Senado americano descreve essa última instituição como um grande condutor para "chefões do tráfico e nações párias"; no ano passado, o banco assinou um acordo de US$ 1,92 bilhão com o Departamento de Justiça depois de admitir ter lavado milhões de dólares através de empresas de fachada para cartéis colombianos e mexicanos. Havia até um componente americano na rede da Owens & Watson: o Helm Bank, em Miami. Em 2012, reguladores americanos deram uma ordem de consentimento ao Helm por várias violações do Bank Secrecy Act e das leis contra lavagem de dinheiro.

Era uma lista que inspirava confiança – pelo menos, se eu fosse um vigarista querendo esconder meu dinheiro da Receita Federal ou das agências da lei.

O processo levava apenas alguns dias e, segundo Watson, os custos seriam desprezíveis: cerca de US$ 1.200 para incorporar minha empresa de fachada, US$ 300 para cobrir os impostos do governo e algumas centenas a mais para que a Owens & Watson fornecesse os diretores, se necessário. Se eu quisesse comprar uma empresa de fachada do tipo envelhecida, isso custaria um pouco mais.

"E meu nome não vai aparecer em nenhum lugar, certo?", perguntei, decidindo que devia pressionar o máximo possível.

"Não, não, não", exclamou Watson. "Isso não é problema."
 


Logo depois da minha conversa com Watson, me vi em frente ao escritório da Mossack Fonseca. Ele ocupa três dos quatro andares de um prédio envidraçado, com uma clínica dentária no térreo. Eu esperava conseguir entrar no prédio, mas abandonei a ideia quando vi um segurança na entrada barrando visitantes.

Achei que pelo menos conseguiria fotografar o edifício, cujo exterior envidraçado refletia a monumental Revolution Tower, um prédio comercial horrível em forma de saca-rolhas. Mas parece que os seguranças da Mossack Fonseca guardam o prédio com o mesmo zelo com que a firma protege a identidade de seus clientes. "Ele está tirando uma foto!", gritou uma mulher, que voltava para o prédio com uma sacola de restaurante, quando me viu erguer meu celular. Ela gritou de novo e apontou para mim. "Ele está tirando uma foto!"
 
 
Em Vegas

Depois disso, decidi tentar minha sorte em Las Vegas. A Mossack Fonseca descreve Nevada como "uma das melhores jurisdições" dos EUA para montar uma empresa graças a "versatilidade, baixos custos e serviço rápido" do Estado. O país é um ótimo lugar para a Mossack Fonseca fazer negócio, já que esse é o segundo lugar mais fácil do mundo para se montar uma empresa de fachada – atrás apenas do Quênia –, de acordo com um grupo chamado Global Financial Integrity. E vigaristas adoram registrar empresas aqui, porque ter uma empresa americana fornece um brilho falso de respeitabilidade, o que ajuda a desviar a atenção de suas ações criminosas, segundo me disse Heather Lowe, a diretora de assuntos governamentais do grupo.

Desde que a Mossack Fonseca começou a oferecer serviços no Estado mais de dez anos atrás, ela tem usado uma firma local chamada MF Corporate Services para registrar mais de mil empresas em Nevada, a maioria gerenciada de paraísos fiscais como Genebra, Bangkok e as Ilhas Virgens Britânicas, de acordo com os documentos da Secretaria do Estado. Segundo a lei de Nevada, os únicos nomes que devem aparecer nos registros públicos de uma empresa são de um agente residente e de um "gerente", e nenhum deles precisa ser um ser humano. O agente residente é tipicamente a companhia que registra a empresa de fachada, e o gerente pode ser outra companhia anônima. Isso torna quase impossível descobrir quem realmente controla uma empresa de fachada em Nevada, a menos que agências da lei e tribunais exijam a divulgação de informações. Tecnicamente, a MF Corporate Services é independente da Mossack Fonseca. Mas, na prática, registros de incorporação e outros documentos confidenciais mostram suas funções como uma filial local da Mossack Fonseca, com os principais empregados respondendo diretamente às ordens vindas da Cidade do Panamá. Essa separação falsa é uma tática empregada por muitos incorporadores de empresas de fachada, porque permite que a empresa-mãe negue qualquer conexão com seu escritório local se a merda chegar ao ventilador, falando de um ponto de vista legal. É mais ou menos como o Walmart deve operar em Bangladesh, se distanciando das fábricas clandestinas por uma longa e complexa cadeia de abastecimento. (Como o Walmart, a Mossack Fonseca nunca foi diretamente processada por ações de suas afiliadas.) "Essas são organizações verticalmente integradas de cima para baixo até o minuto em que um policial ou investigador aparece", explica Jack Blum, especialista em lavagem de dinheiro. "Aí, elas se desintegram numa série de entidades não conectadas e todo mundo jura que não sabe nada sobre o sistema. É como um castelo de cartas que está montado, mas que desmorona de repente quando alguém começa a investigar."

De fato, é exatamente assim que a Mossack Fonseca tem respondido quando questionada sobre as atividades escusas ligadas a ela em Las Vegas. Mesmo sendo impossível saber precisamente quem está por trás da maioria das empresas de fachada que a firma vem ajudando a criar ali, uma investigação em andamento na Argentina e um caso da Corte Distrital de Nevada envolvendo o oligarca Lázaro Báez oferecem uma ideia. A investigação e registros judiciais alegam que Báez é o dono secreto de mais de 100 empresas de fachada que a Mossack Fonseca ajudou a estabelecer em Nevada. Todas são gerenciadas pela Aldyne Ltd., uma companhia anônima que a Mossack Fonseca registrou nas Ilhas Seychelles, segundo os procuradores. (A Mossack Fonseca não foi acusada até agora nem na Argentina nem em Nevada, mas um de seus agentes em Las Vegas foi destituído no caso legal e o tribunal distrital pediu que a firma entregasse registros relacionados às empresas de Báez, uma ordem que ela se negou a obedecer completamente.)

Ex-bancário, Báez construiu um vasto império através de contratos ganhos por seus amigos Cristina e Néstor Kirchner, a atual e o ex-presidente da Argentina, além de outros aliados políticos, de acordo com reportagens e investigações internacionais. Báez ficou tão sentido com a morte de seu patrono Néstor, em 2010, que ergueu um mausoléu de três andares para seu corpo. Procuradores alegam que as empresas de fachada de Nevada são parte de uma rede que Báez usa para mover mais de US$ 65 milhões em fundos desviados de projetos de infraestrutura pública.

As empresas ligadas a Báez em Nevada foram registradas pela MF Corporate Services, cuja gerente, Patricia Amunategui, seguindo ordens do quartel-general da Mossack Fonseca, também atua como secretária da Aldyne Ltd., de acordo com uma fonte próxima da questão. Quando questionada sobre as atividades ilegais de empresas clientes no passado, a resposta da Mossack Fonseca foi me lembrar por e-mail que "agentes registrados não são, de forma alguma, responsáveis pelas transações ou qualquer outro negócio das companhias que incorporam". De sua parte, Amunategui (uma chilena que anteriormente trabalhava como garçonete num cassino e que, pelo que vi em sua página no Facebook, gosta de ioga, espiritualismo, caminhadas, o Dalai Lama, o Tea Party e o ex-ditador chileno Augusto Pinochet) afirma que a MF Corporate Services "não tem, nem nunca teve, nenhum relacionamento com Lázaro Báez". Ela também assevera não ter nenhum vínculo empregatício com a Mossack Fonseca, mesmo tendo dado um testemunho para um catálogo da Universidade de Las Vegas, logo depois de se formar, dizendo que "conseguiu um ótimo emprego como vice-presidente da Mossack Fonseca, uma firma de direito internacional". (Ela alega que foi citada incorretamente.) Amunategui era a pessoa que eu mais queria encontrar quando fui a Las Vegas no começo de novembro.

"Seu carro está na vaga B-15", me disse a funcionária da Avis no Aeroporto Internacional McCarran. "B de bordel."

O rosto dela não continha nenhuma expressão; então, fiquei na dúvida se deveria me sentir insultado ou meramente divertido. Mas eu tinha viajado um dia inteiro, desde Washington, em dois longos voos na classe econômica, então, não estava dando a mínima para nada naquele ponto. Era bom ter finalmente pousado em Las Vegas, mesmo num aeroporto batizado em homenagem a Pat McCarran, o político antissemita e amante de cassinos que supostamente teria inspirado o senador corrupto de Nevada de O Poderoso Chefão II.

"Nevada se tornou o quartel-general de vários esquemas Ponzi, de evasão fiscal e de criminosos corporativos e estelionatários da internet."
Em 2001, os legisladores consideraram aprovar uma lei que ia encorajar empresas a se incorporar no Estado, as protegendo de leis de divulgação e responsabilidade. "Estamos segurando um cartaz que diz: 'Bem-vindos, canalhas e golpistas'", disse a então senadora Dona Titus durante o debate da lei, que, segundo os apoiadores, traria uma receita muito necessária ao Estado.

Titus, que hoje atua na Câmara dos Representantes dos EUA, acabou bizarramente votando "Sim" e viu sua profecia se realizar completamente. Alguns anos depois, Nevada se tornou o quartel-general de vários esquemas Ponzi, de evasão fiscal e de criminosos corporativos e estelionatários da internet. Entre eles, Donald McGhan, que, em 2009, recebeu uma sentença de dez anos por fraudar investidores em quase US$ 100 milhões através de um golpe imobiliário com a empresa Southwest Exchange; e o empreiteiro de defesa Mitchel Wade, que usou uma empresa de fachada registrada em Nevada para canalizar suborno para o então congressista Randy Cunningham. (Os dois foram pegos durante um almoço em que Cunningham diagramou, em seu próprio material de escritório do Congresso, uma lista fatal de subornos que ele tinha recebido de Wade e os contratos federais correspondentes.)

O site da Secretaria do Estado oferece várias razões para incorporar sua empresa em Nevada, alardeando a inexistência de imposto de renda e uma quase impossibilidade de se perfurar o "véu corporativo". Essas coisas ajudaram a atrair cerca de 300 mil empresas ativas para o Estado, uma para cada nove residentes, gerando uma receita de US$ 133 milhões só em 2012. E como boa parte dessa atividade é ilegal, o secretário-adjunto do Estado, Scott Anderson, diz que seu gabinete tomou vários passos para acabar com os abusos, incluindo uma lei que proíbe a criação de uma empresa para cometer um crime. "Mas, claro, se alguém está fazendo algo ilegal", admitiu Anderson, "a pessoa provavelmente não vai divulgar isso".

No primeiro dia da minha viagem, entrevistei Cort Christie, chefe do Nevada Corporate Headquarters, uma das incorporadoras mais prolíficas do Estado. Sua companhia fica num prédio enorme e estéril numa área chamada Spring Valley. Christie é ex-membro da diretoria da poderosa e politicamente bem conectada Nevada Registered Agent Association - NRAA (a MF Corporate Services é um dos membros), que "está trabalhando para assegurar o futuro do Estado como um centro de incorporações nos EUA", de acordo com o site do grupo. Ele alertou que, se "o ambiente atual de benefícios fiscais se perder, a reputação do Estado... também se perderá. Quando a confiança do público é danificada, ela não pode ser reparada facilmente".

Ano passado, a NRAA fez lobby contra uma proposta da Secretaria de Nevada que teria reforçado leis que desencorajam o sigilo corporativo. A lei, que, segundo Christie, "teria diminuído a aparência de que qualquer um pode chegar aqui e se esconder", foi esmagadoramente rejeitada.

Na manhã de 4 de novembro, desci a S. Casino Center Boulevard, no centro de Las Vegas, passando pelo Golden Nugget, o El Cortez (o cassino original da máfia) e pela maior concentração de restaurantes oferecendo costeletas prime por US$ 9,99. Aí peguei a Interstate 15 na direção sul até Henderson, um subúrbio onde shoppings gigantes dão lugar a um borrão infinito de casas de estuque branco. A MF Corporate Services se situa no Parc Place Complex, lar de muitos prédios térreos idênticos cobertos por telhas vermelhas. Havia poucos carros no estacionamento, e não vi ninguém do lado de fora. Um letreiro de metal vermelho e branco, onde se lia MF Corporate Services, plantado entre pedras e cactos, balançava com a brisa morna.

Até onde entendi pelos registros públicos e documentos legais, a MF Corporate Services tem o único propósito de criar empresas de fachada no Estado para clientes da Mossack Fonseca – e a sede distante não ajudava a dispersar essa impressão. Amunategui comanda as operações cotidianas: documentos da companhia que encontrei em registros de tribunal mostram que ela trabalha diretamente com os empregados da Mossack Fonseca no Panamá, gente como Leticia Montoya, a guardiã de registros de dezenas de empresas de fachada ligadas a Lázaro Báez.

Montoya tem uma carreira e tanto, tendo anteriormente registrado ou servido como diretora nominal para pelo menos seis companhias anônimas envolvidas em grandes escândalos de corrupção internacional. Entre eles, o caso de uma empresa de fachada panamenha chamada Nicstate, que tinha como um dos donos o presidente na Nicarágua, Arnoldo Alemán. Ele usou a Nicstate e outros veículos para desviar aproximadamente US$ 100 milhões em fundos do país para o próprio bolso. Montoya também ajudou a montar a Mirror Development Inc., usada pela Siemens da Alemanha para canalizar subornos para oficiais do governo argentino, que ajudou a empresa alemã a vencer um contrato de US$ 1 bilhão para produzir os cartões de identidade do país. Esse era apenas um componente do esquema global da Siemens, que usou o mesmo esquema para pagar oficiais do governo em Bangladesh, Venezuela e Iraque, sendo um dos beneficiados Saddam Hussein.

Achei que minha melhor chance de conversar com Amunategui seria aparecendo inesperadamente. Quando bati na porta de vidro da MF Corporate Services, um homem segurando uma prancheta, sentado numa cadeira azul posicionada aleatoriamente no hall do escritório, acenou para mim. Um saco de lixo branco cheio de documentos picados estava do lado da porta e um mapa-múndi enquadrado estava pendurado na parede. Acima dele, quatro relógios mostravam as horas em Las Vegas, Hong Kong, Suíça e Panamá.

O homem da cadeira azul – que era apenas um chaveiro – ligou para Amunategui quando pedi para falar com ela, e ela saiu de uma das salas no fundo do prédio. Ela tinha um rosto sardento e usava o cabelo castanho preso num coque. Ela franziu a testa suavemente e se recusou a falar quando eu disse que era um jornalista interessado no trabalho da MF Corporate Services para Báez. "Me dê seu nome, depois vejo se nosso advogado pode falar com você", ela respondeu.

"O advogado da Mossack Fonseca?", perguntei.

"Não, o advogado da minha companhia", ela devolveu, se referindo à MF Corporate Services. "São duas empresas separadas."

Fiquei parado lá, tentando desesperadamente continuar a conversa. Tinha tanta coisa que eu ainda queria saber, e Amunategui era o mais perto que eu tinha chegado de falar diretamente com alguém realmente afiliado à Mossack Fonseca.

Eu queria perguntar para ela sobre pessoas específicas ligadas à Mossack Fonseca – empresas de fachada incorporadas do governo americano, registros judiciais, investigadores internacionais e meu ano de pesquisa: Billy Rautenbach, um suposto bagman de Robert Mogabe, o comandante de longa data do Zimbábue; Yulia Tymoshenko, ex-primeira-ministra ucraniana e uma oligarca apelidada de "princesa do gás"; Beny Steinmetz, um bilionário israelense que teria usado uma empresa de fachada, incorporada pela Mossack Fonseca nas Ilhas Virgens Britânicas, para pagar suborno à esposa do ditador homicida da Guiné, onde Steinmetz conseguiu uma grande concessão de mineração. Eu até queria falar com ela sobre as páginas da Mossack Fonseca no Facebook e no Twitter, que postam fotos dos beneficiários sorridentes das contribuições de caridade da firma e platitudes de figuras como Thomas Edison e Dr. Seuss ("Hoje, você é você! Isso é mais verdade que a verdade!").

Mas Amunategui não disse mais nenhuma palavra depois de anotar minhas informações pessoais. Prometeu que passaria tudo para o advogado dela. Ela nem se importou em me escoltar até a porta: simplesmente entrou em seu escritório, sentou a uma mesa coberta de folders e pacotes da FedEx e pegou o telefone. Eu conseguia ouvi-la falando no corredor e, apesar de não conseguir entender o que ela estava dizendo, percebi que falava de maneira agitada, provavelmente com o tal advogado da firma (de quem nunca tive notícias). A recusa de Amunategui em responder minhas perguntas foi frustrante, mas não uma surpresa. Quando você trabalha para a Mossack Fonseca, há muitos segredos sujos para guardar; então, ficar de bico fechado é a parte mais essencial do seu emprego.







sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

O Lex Lutor do ABC - um gênio do crime




por Pablo Villaça, em seu mural no Feicebúq

Depois de ser investigado continuamente por quase 40 anos - uma investigação sempre estampada nas capas de jornais e revistas interessados, como de hábito, em defender os interesses das corporações que os bancam -, este Blofeld do sindicalismo conseguiu, graças ao seu brilhantismo maquiavélico, evitar que qualquer prova acerca de suas décadas e décadas de malfeitos fosse descoberta. Nem o próprio Hèrcule Poirot conseguiria detê-lo, tamanho seu cuidado na concepção de seus milhares de esquemas.

Mas tudo chega ao fim. E Lula, enriquecido além do possível depois de tanto roubar, finalmente tropeçou ao desistir de comprar um apartamento (que tolamente havia declarado previamente à Receita), ao visitar o sítio de amigos (estupidamente às claras, sem esconder de ninguém) e, principalmente, ao permitir que sua esposa comprasse um barquinho de pesca de menos de 5 mil reais (e pateticamente com nota fiscal no próprio nome).

Por sorte, os Woodward-Bernsteins que compõem a equipe da Foxlha conseguiram descobrir esta compra (sorrateiramente feita com emissão de nota fiscal no nome verdadeiro de dona Marisa) e - ainda mais chocante - comprovaram que o caminhoneiro que entregou o barquinho tinha nada menos do que 25 anos de profissão (como destacaram na chocante matéria que renderá a eles o Pulitzer por terem derrubado o ex-presidente). É um alívio saber que nossa imprensa sabe priorizar o que merece destaque: a revista Veja, que um dia será eternizada em sua própria versão de Spotlight (título provisório: Boimatlight), fez uma matéria fabulosa cuja manchete resume, por si so, o imenso apuro jornalístico do veículo: "Publicitária presa disse ter ouvido ‘zum-zum-zum’ sobre tríplex de Lula no Guarujá".



Ah, o "zum-zum-zum", esta prova que consta de todos os Códigos Penais como a mais inquestionável das evidências.

O ZumZumZumGate, como será conhecido pelas gerações futuras, acertadamente ganhou as páginas do jornalismo brasileiro no lugar de helicópteros com 500 kg de cocaína, de certos aviões dos Estados de SP e MG que foram usados para voos particulares de amigos e da esposa de certos governadores, de testemunhos repetidos sobre o mineiro "chato das propinas" e, claro, de contratos sem licitação feitos pela gestão de Alckmin para comprar 200 milhões anuais de merenda escolar.

Nossos barões da mídia sabem que tucanos são pré-anistiados e, portanto, não fazem o leitor perder tempo lendo notícias que não levarão a nada. São gentis assim.

Por outro lado, quando o roteirista dos clássicos modernos O Candidato Perfeito e Até que a Sorte os Separe 3 declara que o governo federal "cerceia críticas", ninguém aponta a aparente contradição: seus filmes tiveram captação de recursos aprovada pela Ancine. E ainda bem que não fazem isso, pois poderiam acabar levando o leitor a acreditar que o governo NÃO está implantando uma ditadura comunista no país. Sim, ela está sendo implantada há 14 anos, mas isto é apenas prova da incompetência de seus líderes.

Como apreciador do bom jornalismo, fico encantado ao perceber como a imprensa brasileira foi de “Lula era o cabeça do esquema na Petrobras” a “mulher de Lula comprou barquinho de pesca”. E fico esperando, ansioso, pelas manchetes que virão a seguir:

"Lula teria matado ao menos 200 minhocas ao longo dos anos; barquinho de pesca foi utilizado para atirar cadáveres na água."

"PF intima peixe para depor: “Lula matou e comeu minha família”; esposa teria ajudado a cozinhar os corpos."

"Esposa de Lula comprou vara de pescar; vendedor com 32 anos de profissão relembra: “Ela ainda pediu desconto”." E aguardo, ansioso, pelo discurso que será feito pelo repórter da Foxlha ao receber seu segundo Pulitzer por sua matéria investigativa que provará que Lula mentiu ao afirmar ter pescado peixe de 18 kg.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Saquear a si mesmo: eis a que se reduziu o ocidente







por Paul Craig Roberts, Institut for Political Economy ( tradução btpsilveira )




Os países do Terceiro Mundo foram e ainda estão sendo saqueados através de incentivos para a implantação de planos de desenvolvimento, eletricidade ou outra coisa qualquer. Os governos ingênuos e confiantes desses países acreditam quando lhes dizem que eles podem tornar seus países ricos, através de empréstimos estrangeiros a serem aplicados em um plano já concebido de desenvolvimento, o qual resultaria em tal aumento de impostos e taxas que seriam mais que suficientes para o serviço da dívida com o estrangeiro.

Este cenário de ilusão raramente acontece na prática, se é que acontece mesmo. O que acaba ocorrendo é que o plano resulta em um país endividado até o limite a além de sua capacidade de pagamento ou de seus ganhos no estrangeiro. Quando o país se torna incapaz de honrar seus compromissos com a dívida externa, os credores mandam o FMI para informar ao governo endividado que o FMI protegerá o crédito do país, emprestando-lhe ainda mais dinheiro para pagar aos bancos credores. No entanto, existem condições. O FMI impõe medidas de austeridade para que o governo possa então pagar ao FMI. Essas medidas são a redução dos serviços públicos prestados pelo setor governamental, a redução das pensões e aposentadorias pagas pelo governo e a venda de recursos nacionais a estrangeiros. O dinheiro conseguido pela redução das pensões e benefícios, corte de serviços públicos e venda de ativos nacionais a estrangeiros é então entregue ao FMI como pagamento.

Foi desta maneira que o ocidente saqueou os países do Terceiro Mundo, e isso já é história. Caso algum presidente de país qualquer se mostre relutante em aceitar acordo desse tipo, então receberá grandes quantias como propina, como aconteceu com os governos gregos para que permitissem ao ocidente saquear o país que fingiam representar.

Agora que esse método de saquear já se esgotou, o ocidente passou a comprar terras agricultáveis e forçar aos países do Terceiro Mundo uma política de abandonar a própria autossuficiência agrícola através do cultivo intensivo de um ou dois tipos de culturas para fins de lucros com a exportação. Claro que essa política agrícola torna o povo do país dependente de importação de produtos alimentícios do ocidente. Tipicamente, os lucros da exportação de produtos agrícolas acabam indo para as mãos dos governos corruptos ou comerciantes estrangeiros que pagam pouco pelos produtos exportados, mas pesam na mão quando se trata de importações de comida. Assim, a autossuficiência se transforma em ainda mais endividamento.

Com todo o Terceiro Mundo explorado até o limite do possível, o ocidente está agora a saquear a si mesmo. A Irlanda já foi saqueada, e o saque em andamento da Grécia e de Portugal é tão severo que tem forçado inúmeras jovens desses países à prostituição, mas isso não faz cócegas na consciência ocidental.
Anteriormente, quando um país soberano se encontrava em uma situação na qual o seu débito era maior que a sua capacidade de pagamento, os credores faziam uma redução no débito até um montante com o qual o país poderia lidar. No século 21, conforme relato em meu livro “The Failure of Laissez Faire Capitalism", essa regra tradicionalmente seguida foi abandonada.

A nova regra estipula que o povo daquele país, mesmo quando o débito foi originado através das propinas aceitas por seus governantes para que endividasse o país para estrangeiros, tem que ter suas pensões, aposentadorias, empregos e serviços da área social cortados ou reduzidos e bens nacionais preciosos como sistemas municipais de fornecimento de água, portos, as loterias nacionais, as terras protegidas por decretos (parques nacionais ou de defeso por motivo de proteção ao meio ambiente – NT) como por exemplo as Ilhas Gregas, vendidos para estrangeiros, que adquirem o direito de elevar o preço da água, negar ao governo do país grego os recursos das loterias federais, e vender o patrimônio protegido da Grécia para especulação imobiliária pelos estrangeiros.

Subentende-se que o que aconteceu com a Grécia e com Portugal acontecerá com a Itália e a Espanha. Os povos destes países estão impotentes, porque seus governantes não os representam. Além de estarem recebendo propinas os membros dos governos estão catatônicos com uma espécie de lavagem cerebral no sentido de que estes países tem que continuar a fazer parte da União Europeia. De outro modo, seriam ultrapassados pela história. Os povos destes países, oprimidos e explorados, também sofrem com a lavagem cerebral. Por exemplo, na Grécia o governo eleito para impedir o saque contra o país se tornou incapaz de fazê-lo porque o povo grego, após a lavagem cerebral, entende que o país tem que permanecer na União Europeia, custe o que custar.

A combinação de propaganda enganosa, poderio financeiro, estupidez e corrupção significa que não há esperança para os povos europeus.


A mesma coisa vale para os Estados Unidos, Canadá, Austrália e o Reino Unido. Nos Estados Unidos, dezenas de milhões de cidadãos aceitaram passivamente a falta de qualquer tipo de juros para as suas poupanças por sete anos. Em vez de protestar e questionar severamente, aceitaram sem tugir nem mugir a propaganda obscenamente mentirosa de que sua existência depende do sucesso de um punhado de mega bancos artificialmente criados e que seriam “grandes demais para falir”. Milhões de (norte)americanos estão convencidos de que é melhor para eles ver minguar suas poupanças que deixar um banco corrupto falir.

Para manter o povo ocidental confuso acerca da real ameaça que estão encarando, é dito que há terroristas atrás de cada árvore, cada passaporte, debaixo de todas as camas, e que todos serão mortos a menos que o poder supremo do governo jamais seja questionado. Isso funciona tão perfeitamente, que um ataque de falsa bandeira após outro serve para impedir que o povo tenha conhecimento de que tudo não passa de farsas grosseiras que só servem para continuar a acumular mais e mais riqueza em poucas mãos.

Não contentes com sua supremacia sobre os “povos democráticos” o insaciável um por cento (1%) vem agora com suas parcerias TransAtlantico (TTIP) e TransPacifico (TPP). Alega-se que seriam apenas “tratados de livre comércio” que trariam benefícios para todos. Na verdade, trata-se de acordos secretos, cuidadosamente dissimulados que darão aos comerciantes corporativos privados internacionais o controle da soberania dos governos.

Por exemplo: revelou-se que sob a parceria TTIP o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido poderia ser processado em tribunais privados sob a égide da parceria como sendo um impedimento para o Serviço Privado de Saúde e condenado a pagar indenizações por “danos” causados às empresas privadas e mesmo forçado a ser desmantelado.

O governo corrupto de David Cameron, um vassalo servil de Washington, impediu o acesso aos documentos legais que mostrariam sem sombras de dúvidas o impacto brutal que o TTIP teria sobre o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido: ver aqui (em inglês). Para qualquer cidadão de qualquer país ocidental que seja estúpido o suficiente, ou tenha sofrido uma lavagem cerebral eficiente o bastante para não entender isso, qualquer coisa que seu governo fará terá a intenção de mudar todos os aspectos da sua vida no interesse de companhias privadas.


Na Inglaterra o sistema dos correios foi vendido por um preço nominal para o interesse privado que tem boas ligações políticas. Nos Estados Unidos os Republicanos e talvez os Democratas pretendem privatizar o sistema de saúde Medicare e a Previdência Social, da mesma forma que privatizaram vários aspectos dos sistemas do Exército e Penitenciário. Funções públicas estão no radar para se transformar em lucros de especuladores.

Uma das razões para a escalada do custo do orçamento militar dos Estados Unidos é sua privatização. A privatização do sistema penitenciário dos Estados Unidos resultou em grande número de pessoas inocentes sendo condenadas à prisão, onde são forçados a trabalhar para a Appel Computer, IT Services, empresas de confecções que trabalham para o exército dos Estados Unidos além de um grande número de empresários privados. Os prisioneiros que ali trabalham recebem um salário de fome de 69 centavos de dólar por hora, menor até que o salário dos chineses.

Esta é a América do Norte atualmente. Polícia corrupta. Promotores corruptos. Juízes corruptos. Mas os lucros dos capitalistas vão bem, obrigado, mesmo quando vêm do trabalho de prisioneiros. Economistas do mercado livre elogiam e tecem loas às prisões privadas, alegando que são mais eficientes. E na verdade são eficiente, mas apenas para prover de lucros exorbitantes os capitalistas, à custa do trabalho escravo dos prisioneiros.

Agora, apresento uma reportagem na qual o Primeiro Ministro do Reino Unido, Cameron, nega acesso a informações sobre os efeitos que o TTIP acarretará para o Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra: aqui, em inglês. O jornal britânico GUARDIAN, que às vezes tem que se prostituir para poder sobreviver e manter um mínimo de independência, descreve a raiva do povo inglês sente por causa do segredo mantido pelo governo da Inglaterra sobre assunto tão crucial para o bem estar do povo inglês. Porém, mesmo assim os britânicos continuar a votar nos partidos políticos que traem o povo inglês.

Por toda a Europa os governos corruptos controlados por Washington tentam desviar a atenção do povo do fato de que os governos estão completamente vendidos e subjugados, através da manutenção do foco nos refugiados, cuja presença é uma consequência do fato de que os governos europeus representam os interesses de Washington e não de suas próprias populações.

Alguma coisa terrível aconteceu com a inteligência e consciência dos povos ocidentais, que não parecem capazes de compreender as maquinações de “seus” governos. Governos responsáveis no mundo ocidental é uma coisa que pertence à história. Nada além de ruína e colapso espera a civilização ocidental.