* Este blog luta por uma sociedade mais igualitária e justa, pela democratização da informação, pela transparência no exercício do poder público e na defesa de questões sociais e ambientais.
* Aqui temos tolerância com a crítica, mas com o que não temos tolerância é com a mentira.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Moody's e os trouxas... que nunca se acabam






por Mauro Santayanna, no JB






A agência de classificação de “risco" Moody´s acaba de rebaixar a nota de crédito da Petrobras de Baa2 para Ba2, fazendo com que ela passe de "grau de investimento" para "grau especulativo".

Com sede nos Estados Unidos, o país mais endividado do mundo, de quem o Brasil é, atualmente, o quarto maior credor individual externo, a Moody´s é daquelas estruturas criadas para vender ao público a ilusão de que a Europa e os EUA ainda são o centro do mundo, e o capitalismo um modelo perfeito para o desenvolvimento econômico e social da espécie (Homo sapiens sapiens), que distribui, do centro para a "periferia", formada por estados ineptos e atrasados, recomendações e "notas" essenciais para a solução de seus problemas e a caminhada humana rumo ao futuro.

O que faz a Petrobras?...

Produz conhecimento, combustíveis, plásticos, produtos químicos, e, indiretamente, gigantescos navios de carga, plataformas de petróleo, robôs e equipamentos submarinos, gasodutos e refinarias...

De que vive a Moody´s?...

Basicamente, de “trouxas” e de conversa fiada, assim como suas congêneres ocidentais, que produzem, a exemplo dela, monumentais burradas, quando seus "criteriosos" conselhos seriam mais necessários.

Conversa fiada que primou pela ausência, por exemplo, quando, às vésperas da Crise do Subprime, que quase quebrou o mundo em 2008, devido à fragilidade, imprevisão e irresponsabilidade especulativa do mercado financeiro dos EUA, a Moody,s, e outras agências de classificação de "risco" ocidentais, longe de alertar para o que estava acontecendo, atribuíram "grau de investimento", um dos mais altos que existem, ao Lehman Brothers, pouco antes que esse banco pedisse concordata.

Conversa fiada que também primou pela incompetência e imprevisibilidade, quando, às vésperas da falência da Islândia - no bojo da profunda crise europeia, que, como se vê pela Grécia, parece não ter fim - alguns bancos islandeses chegaram a receber da Moody´s o Triple A, o mais alto patamar de avaliação, também poucos dias antes de quebrar.

Afinal, as agências de classificação europeias e norte-americanas, agem, antes de tudo, com solidariedade de “classe”. Quando se trata de empresas e nações “ocidentais”, e teoricamente desenvolvidas - apesar de apresentarem indicadores macro-econômicos piores do que muitos países do antigo Terceiro Mundo - as agências “erram” em suas previsões e só vêem a catástrofe quando as circunstâncias, se impõem, inapelavelmente, seguindo depois o seu caminho na maior cara dura, como se nada tivesse acontecido.

Quando se trata, no entanto, de países e empresas de nações emergentes, com indicadores econômicos como um crescimento de 400% do PIB, em dólares, em cerca de 12 anos, reservas monetárias de centenas de bilhões de dólares, e uma dívida pública líquida de menos de 35%, como o Brasil, o relho desce sem dó, principalmente quando se trata de um esforço coordenado, com outros tipos de abutres, como o Wall Street Journal, e o Financial Times, para desqualificar a nação que estiver ocupando o lugar da "bola da vez".

Não é por outra razão que vários países e instituições multilaterais, como o BRICS, já discutem a criação de suas próprias agências de classificação de risco.

Não apenas porque estão cansados de ser constantemente caluniados, sabotados e chantageados por "analistas" de aluguel - como, aliás, também ocorre dentro de certos países, como o Brasil - mas também porque não se pode, absolutamente, confiar em suas informações.

Se houvesse uma agência de classificação de risco para as agências de “classificação” de risco ocidentais, razoavelmente isenta - caso isso fosse possível no ambiente de podridão especulativa e manipuladora dos "mercados" - a nota da Moody´s, e de outras agências semelhantes deveria se situar, se isso fosse permitido pelas Leis da Termodinâmica, abaixo do zero absoluto.

Em um mundo normal, nenhum investidor acreditaria mais na Moody´s, ou investiria um centem suas ações, para deixar de apostar e aplicar seu dinheiro em uma empresa da economia real, que, com quase três milhões de barris por dia, é a maior produtora de petróleo do mundo, entre as petrolíferas de capital aberto, produz bilhões de metros cúbicos de gás e de etanol por ano, é a mais premiada empresa do planeta - receberá no mês que vem mais um "oscar" do Petróleo da OTC - Offshore Technologies Conferences - em tecnologia de exploração em águas profundas, emprega quase 90.000 pessoas em 17 países, e lucrou mais de 10 bilhões de dólares em 2013, por causa da opinião de um bando de espertalhões influenciados e teleguiados por interesses que vão dos governos dos países em que estão sediados aos de "investidores" e especuladores que têm muito a ganhar sempre que a velha manada de analfabetos políticos acredita em suas "previsões".

Neste mundo absurdo que vivemos, que não é o da China, por exemplo, que - do alto da segunda economia do mundo e de mais de 4 trilhões de dólares em ouro e reservas monetárias - está se lixando olimpicamente para as agências de "classificação" ocidentais, o rebaixamento da "nota" da Petrobras pela Moody´s, absolutamente aleatória do ponto de vista das condições de produção e mercado da empresa, adquire, infelizmente, a dimensão de um oráculo, e ocupa as primeiras páginas dos jornais.

E o pior é que, entre nós, de forma ridícula e patética, ainda tem gente que, por júbilo ou ignorância, festeja e comemora mais esse conto do vigário - destinado a enfraquecer a maior empresa do país - que não passa de um absurdo e premeditado esbulho.

Caminhoneiros - o golpe está em curso





por Carlos Castilho, no Observatório da Imprensa

O governo de Salvador Allende começou a cair, em 1973, quando os caminhoneiros chilenos iniciaram uma greve reivindicatória que acabou se transformando num movimento político que colocou a classe média do país contra o primeiro presidente socialista eleito nas urnas.

Quem cobriu aquele protesto, ocorrido há 41 anos, inevitavelmente associa a greve chilena com a brasileira atual e sente um frio na espinha porque os desdobramentos apontam na direção de uma crise institucional de consequências imprevisíveis. Allende sabia que seu destino já estava traçado muito antes de um golpe militar do qual a maioria dos chilenos se arrepende até hoje.

A greve dos caminhoneiros paralisou o abastecimento da população e o funcionamento da indústria, estrangulando a jugular da economia do país. A imprensa chilena da época, radicalizada política e ideologicamente, cobriu apenas o factual do protesto, deixando de lado as causas e principalmente as consequências do movimento. A desconstrução do governo Allende deu origem a um golpe militar que se transformou num capítulo trágico na história do país.

Tanto em 1973, no Chile, como agora no Brasil o protesto dos caminhoneiros não tem uma estrutura sindical e nem um comando central visíveis (1). Ele assume a forma de uma guerrilha rodoviária onde há apenas indícios de um comando centralizado porque há coordenação dos bloqueios de estradas. Se tudo ficasse apenas nas mãos dos motoristas, o movimento não mostraria tanta eficiência.

Os principais jornais brasileiros até agora não foram mais fundo nas origens e estrutura do protesto, o que revela uma decisão editorial e política que tem inevitáveis desdobramentos. O principal deles é ampliação do clima de incerteza na população e nos segmentos empresariais. Uma incerteza que vem crescendo desde as eleições do ano passado e que pode chegar a um ponto crítico se a greve dos caminhoneiros provocar a falta de alimentos, combustíveis e produtos essenciais (como remédios, por exemplo) nas principais capitais brasileiras.

Isso aconteceu no Chile em 1973 e levou, na época, a população do país a um estado de perplexidade quase catatônica que neutralizou preventivamente qualquer tipo de resistência a uma ruptura institucional. Este tipo de alerta não está sendo veiculado pela imprensa, o que deixa o público sem uma noção exata dos riscos a que ele poderá estar sujeito. Um dos papéis-chave da imprensa em situações de pré-crise é fornecer à população elementos para que ela avalie como lidar com o um possível desabastecimento alimentar, com a paralisação dos transportes públicos e privados, e o aumento da insegurança pessoal.

O que estamos assistindo agora aqui no Brasil é um paulatino agravamento das tensões que geram irritação progressiva e perda de controle emocional e político. Protestos podem rapidamente degenerar em pancadaria, depredações e vítimas pessoais por conta do clima de polarização e radicalização de posicionamentos político-ideológicos.

Ao não tratar estes temas como uma preocupação pública, a imprensa está brincando com fogo. A omissão informativa pode ser coerente com a oposição ao governo Dilma Rousseff, mas qualquer analista político ou sociológico sabe que o risco de descontrole cresce na medida em que a governabilidade é transformada em arma na luta pelo poder.



NOTAS DOS ÍNDIOS DESTE TOLDO

(1) Um cidadão de nome Ivar Luiz Schmidt, de Mossoró RN se declara "lider" nacional dos caminhoneiros paredistas como liderança de um “comando nacional do transporte”,  uma agremiação que não existia até 25 dias atrás.  Em algum lugar da internet consta que é nascido em SC, mas não foi possível confirmar isso. Informa que possui "um caminhão e meio", um seu e outro em sociedade com um irmão. 

Resta saber de onde surgiu esse personagem e quem o financia, pois consta que tem grande mobilidade para viajar pelo Brasil e está imediatamente em Brasilia para participar das reuniões ministeriais em que se discutiu o impasse, em algumas das quais foi barrado.

A pagina no Facebook do tal “comando nacional do transporte” foi criada em 03/02/2015. Passou a ter postagens dia 08/02 e a movimentar informações com aporte de internautas dia 15/02.

A grande e velha mídia golpista tupiniquim (Globo, UOL e Veja) já dá grande visibilidade ao homem,  que se materializou do nada, mas que parece que também  já tem vários grupos jornalísticos internacionais – Reuters, AFI, etc. – muito dispostos à ouví-lo. 

Cheira a ser um preposto bagrinho do Tucanistão, quiça da CIA, que depois de ter sua missão cumprida será cuspido como um bagaço de cana mascado, como Don Quincas Brabosão, do STF ou aquela Vanina Veneno, que ganhou 18 minutos no Fantástico da Globo-vina e por fim se viu que era um embuste, pois mais tarde até o juiz Moro, condutor do caso Lava Jato, a dispensou como testemunha, de tanta abobrinha que falou quando inquirida.


 


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O "novo" esquema da corrupção: O Merendão



por Diógenes Brandão, no As Falas da Pólis

Imagine que você tenha sido reeleita diretora de uma escola e depois de algum tempo, ao determinar a fiscalização e controle mais rígido dos recursos financeiros e de sua gestão, é informada de que alguns funcionários desviam merenda escolar do depósito, há mais de 20 anos e que os mesmos foram contratados por um ex-diretor, que mesmo sabendo, nada fez para impedir a corrupção na escola. 

Por ter autorizado a investigação, você passa a ser acusada de ser a mandante do esquema de desvios, feitos pelos funcionários corruptos que você demitiu assim que foi comprovada a participação deles e de fornecedores no que ficou conhecido como  Merendão e ordena que apure tudo, doa a quem doer.

Com receio de ser responsabilizado por conivência e omissão, o ex-diretor que soube e nada fez para coibir os desvios, usa a amizade que tem com amigo$ da impren$a e lhe acusa dia e noite de ser a única e principal responsável pela máfia descoberta em sua gestão.

Como se não bastasse, há empresários de outras cidades interessados em privatizar sua escola, pois descobriram que ela está construída em cima de uma mina de ouro e por isso, fizeram um acordo financeiro com os donos das rádios, jornais e emissoras de televisão da cidade, criando um escândalo midiático, afim de convencer a população e toda a opinião pública, de que a melhor opção para dar fim à corrupção na escola, é vendê-la.

Desta forma, parte dos cidadãos mais desprovidos de inteligência e memória são convencidos pelos veículos de imprensa a se juntarem aos amigos do ex-diretor para reclamarem, nas ruas e nas redes sociais, de tudo que não foi feito durante toda a existência da escola, que completou 500 anos outro dia. Como estão interessados em assumir novamente o seu lugar na coordenação da escola, mas não aceitam esperar mais 4 anos para concorrem novamente às eleições, rompem com o processo democrático e preparam atos de protestos em vários pontos da cidade, mas que são esvaziados, pois o povão não acredita e nem os seguem e por isso não conseguem dar o golpe pretendido.

Enquanto isso, os funcionários corruptos que foram presos ficam sabendo de que se "delatarem" outros funcionários da escola, podem sair da cadeia e ficarem livres, bastando pagar uma multa e prestar serviços comunitários.

Com tudo isso acontecendo, a grande escola continua resistindo bravamente, com o apoio dos seus funcionários éticos, seus alunos esforçados e a maioria da comunidade, que finalmente percebeu que os interesses do mercado financeiro e da turma do ex-diretor não são a melhor alternativa para a escola, que finalmente cresce, trata bem seus funcionários e alunos, e está finalmente sendo passada a limpo, pois não aceita mais que a sujeira seja varrida para debaixo dos tapetes, nas várias salas de aula desta imensa instituição chamada Escola Brasil.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

O Caos nas contas públicas do Paraná



por Victor Hugo Agudo Romão, no blog do Nassif

Analisar as contas públicas do Estado do Paraná é uma experiência assustadora para qualquer economista. Não pela complexidade dos dados, mas pela rápida e profunda deterioração que ameaça o futuro de todos os paranaenses.

Em dezembro de 2010, último mês do governo de Orlando Pessuti, que chegara ao posto após ser vice de Requião, o Estado do Paraná divulgou o Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO) com um superávit primário para aquele ano de R$ 810,6 milhões. Mesmo não sendo o ideal, uma vez que a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) estabelecia uma meta de R$ 1,22 bilhão para aquele ano, a situação fiscal estava muito distante do caos que viria apenas alguns anos depois.

Após uma campanha que vendeu um céu de brigadeiro na gestão estadual, o Governador Beto Richa (PSDB-PR) divulgou um déficit primário astronômico de R$ 4,6 bilhões para 2014. Nem é preciso dizer que a LDO não foi cumprida, posto que determinava uma meta de R$ 2,23 bilhões de superávit primário.

Não é preciso ser economista para perceber que o rombo de R$ 4,6 bilhões nas contas públicas do Paraná é insustentável e uma ameaça real de falência do Estado. E o pior é que nós, paranaenses, de nascimento ou adoção, não sabemos para onde estes R$ 5,4 bilhões de um superávit que se transformou em déficit foi parar. Basta um olhar sobre a educação e a saúde do Estado para percebemos que a gastança foi injustificada.

Diante do abismo, Beto Richa ao invés de cortar desperdícios que são inúmeros em todo o Estado, cortou investimento e atacou o plano de carreira de servidores públicos, especialmente dos professores, o que na prática é reduzir investimentos em capital humano. Ao destruir o plano de carreira do magistério, o governador inviabiliza que os professores mais experientes permaneçam na carreia e contribuam para a educação do Paraná. Desta forma, a reação do governador à crise que ele mesmo provocou, ameaça também o futuro do Paraná.




Alguns comentários dos leitores do Nassif (todos do Paraná):


Gustavo S. - ... o governo do PlayBeto Rixa governa pra ninguém. Nem as "elites" se beneficiam do governo dele, uma incompetência em estado bruto. Ele segue sucateando e desmontando o Estado, mas não por "ideologia" e sim por pura incompetência. Talvez por, justamente, governar pra ninguém que as "elites" podem se voltar contra ele para, pela 1ª vez na história, sacramentar um processo de impeachment contra o Executivo Estadual. Motivos (crimes) não faltam...

Carlos Noel Mazia - Não consigo enxergar luz no fim do túnel. O governador tem a favor de si o judiciário, muito conservador e benefiado com o auxílio moradia. Tem também a lhe dar sustentação política, uma bancada de comprados e um primeiro escalão que age como verdadeiros mercenários. Colocou na secretaria da fazenda aquele individuo envolvido com a máfia dos fiscais na prefeitura de São Paulo, que depois foi exportado para a prefeitura de Salvador. Nós, servidores públicos do Estado do Paraná e o povo estamos simplesmente ralados.

Homero Pavan Filho - Requião entrou com ação contra piso de professor. O senador Roberto Requião (PMDB) tenta conquistar os professores grevistas no Paraná, mas a categoria não esquece que em 2008, ele e outros quatro governadores entraram no STF com uma ação contra a lei que criou o piso nacional dos professores. À época, Requião argumentou que a lei iria causar despesas exageradas e sem amparo orçamentário nos estados – ou seja, não haveria dinheiro para cobrir os gastos adicionais que adviriam das mudanças.

A ação de Requião também questionou o dispositivo da lei que prevê que o professor dedique um terço da carga horária de trabalho em atividades fora da sala de aula, a hora-atividade. “Nenhum governo estadual tem orçamento para isso”, disse Requião. O STF negou o pedido de Requião e outros quatro governadores e deferiu pela constitucionalidade da lei.

Em 2013, novamente, outros seis governadores entraram com nova ação no STF e questionaram o reajuste do piso nacional - de R$ 1.187,00 para R$ 1.451,00. Entram com ação os governadores de Goiás, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Piauí e Roraima. Convidado para assinar a ação, o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB) disse não.

Jofraf - Pois é, o Requião entrou no STF que, as vezes é imparcial, e certamente não houve consequência alguma no piso salarial dos profeddores do Paraná, Houve? Agora, o Tucano, entra com um projeto de lei mexendo em todos os direitos dos FP do Paraná e se aprovado, em uma assembléia que come na mão do governador, quem terá que entrar na justiça, praticamente sem chance de ganhar, são os sindicatos das categorias dos FPs do Paraná!!! Qual é píor?

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

HSBC e os safados dos 4 cantos do planeta - Mas os nossos safados?... são melhores, são blindados!...

Esse homem está rindo da cara de todos os otários do mundo




pescado no Rede Brasil Atual




O HSBC é um exemplo privilegiado de como corporações que estão no limite da criminalidade impõem na economia internacional seus interesses. O professor de filosofia da Universidade de São Paulo (USP) Vladimir Safatle indica a instituição financeira como exemplo de promiscuidade entre mercado financeiro, política e mídia, com raízes no crime, em entrevista à Rádio Brasil Atual nesta sexta-feira (20/02). “Desde sua criação, o banco tem as piores credenciais possíveis. Essa instituição bancária foi criada em 1860, depois da última guerra do Ópio entre Inglaterra e China, quando os ingleses forçaram a abertura dos portos chineses para que o tráfico da droga continuasse”, relata.

“Os chineses resolveram impedir o comércio de ópio porque a população já estava entrando em um processo de ser dizimada pela droga. Então, o banco foi criado exatamente para financiar o tráfico de drogas, entre outras coisas. E ele cresceu, a partir dos anos 70, comprando bancos dos Estados Unidos e da Europa, muitos dos quais tinham carteiras extremamente problemáticas. Foi o caso do banco do finado Edmond Safra, que tinha entre seus clientes traficantes de diamantes e negócios com a máfia russa. O Safra foi assassinado em uma situação, no mínimo, bastante misteriosa. Seu banco iria ser comprado pelo American Express e o negócio foi desfeito por causa de problemas internos", relata.

Esse foi o processo de crescimento do banco, segundo o professor. "Comprou o Bamerindus aqui, um banco que estava com problemas enormes. E não só isso, quer dizer, ele é reincidente, faz anos que o banco tem sido julgado por várias instâncias mundiais, exatamente por esses seus negócios com tráfico, negócios ilícitos. Foi declarado culpado nos Estados Unidos por um caso que envolvia tráfico com colombianos e mexicanos. Só que pagou uma mixaria de um milhão e novecentos mil dólares de multa.”

O que ocorre com o HSBC não é novo, é uma prática comum, para Safatle: “E não é para estigmatizar o banco, mas para esclarecer o que é o sistema financeiro internacional. São corporações que estão acima dos governos. Não só não se quebra como não se regulamenta um banco como o HSBC, porque ele está tão acima dos governos que o seu diretor à época desses chamados Swiss Leaks era pastor anglicano e hoje é ministro do David Cameron, no governo britânico."

O professor ressalta que se percebe uma relação incestuosa entre o sistema financeiro e a classe política. "É o diretor do banco que vira ministro de um gabinete da Inglaterra, que, com certeza, não vai desenvolver políticas que sejam estranhas ou contra os interesses do sistema financeiro que ele representa muito bem. A imprensa começou a questionar o ministro e ele não dá resposta alguma, porque ele sabe que está numa situação de ser completamente intocado, não há nada que possa acontecer com essas pessoas", lamenta.


Para o filósofo, todo mundo fica completamente exacerbado por problemas como tráfico de drogas, de armas, guerras. "Se não existissem esses bancos, que têm como uma suas finalidades lavar esse dinheiro, com certeza o problema não seria dessa magnitude em hipótese alguma. Só há crime nessa magnitude porque há um sistema financeiro que é completamente conivente, cresceu dentro desse meio.”

Ele destaca que não é só a tráfico de drogas que o HSBC está ligado, mas que há também fraudes de evasão fiscal, no momento em que a economia mundial e os estados estão em crise, tentando segurar o que restou de bem-estar social. “Os países da União Europeia socorreram bancos falidos. Então, quando os bancos cometem crimes, o que se espera é que os responsáveis sejam punidos, presos, mas não é isso o que ocorre”, observa.

Safatle lamenta que a imprensa brasileira não noticie os fatos, ao contrário da europeia. “É inaceitável o tipo de silêncio tácito que está ocorrendo, salvo raríssimas exceções muito pontuais. Na imprensa francesa ou britânica, mesmo nos Estados Unidos, foi dito que vão utilizar esses dados para tentar reaver o dinheiro." Nesses casos, a imprensa apresentou os nomes: "O Le Monde, que mobilizou um pouco tudo isso, chegou a brigar com seus acionistas porque um deles fez uma declaração dizendo que achava um absurdo que o jornal expusesse esses nomes. Ou seja, a imprensa fez o seu papel. No caso brasileiro é inacreditável".

O Brasil é, a princípio, o nono país em número de contas nessa filial genebrina do HSBC. São 8.667 contas, das quais 55% são contas de nacionais, ou seja, são mais de 4 mil pessoas. "A pergunta que eu gostaria de fazer é quem são essas pessoas. O sujeito não abre uma conta em um banco suíço com esse histórico à toa. Quem são as pessoas que fizeram evasão fiscal, fraude fiscal e coisas dessa natureza?”, questiona.

Alguns nomes de brasileiros que possuem contas no HSBC com depósitos sem origem comprovada na agência em Genebra foram conhecidos por intermédio de sites angolanos. “Aí apareceu o nome do rei do ônibus do Rio de Janeiro, o nome da família Steinbruch, que é do grupo Vicunha. Essas pessoas cometeram crimes, quais foram os crimes? É muito estranho que não só a imprensa, mas, ao que parece, a própria Receita Federal adiou a análise de coisas desse tipo."

Para Safatle, isso demonstra um dado muito evidente: "A elite rentista brasileira é completamente blindada, sabe que é e tem uma relação incestuosa entre poder político e estrutura de comunicação, que faz com que em última instância seja um grupo só, de uma forma ou de outra, que sabe que pode fazer o que quiser, porque sabe que não existe nenhuma possibilidade de a Justiça pegar, a não ser existam embates internos, em brigas internas, aí sim vão pegar um ou outro".

O professor da USP se pergunta como ampliar essa discussão oculta na imprensa tradicional. “Os nomes que vazam dessa lista de brasileiros com contas no HSBC em Genebra são de envolvidos na Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Quer dizer, os nomes são divulgados dependendo do interesse do meio de comunicação. Só são esses os nomes dos 4 mil correntistas, só são esses dez ou 15 que tiveram problemas? Isso é uma brincadeira.”

A extrema gravidade da história exige que se faça algo. “Se tem algo que destrói a moralidade é a parcialidade, é você começar a perceber que há um uso estratégico do discurso sobre a moralidade, porque é um uso que serve simplesmente para você voltar suas atividades contra seus inimigos. Nesse momento, a moralidade perde completamente seu valor. Eu diria que na política brasileira isso acontece a torto e a direito, é um traço característico da política brasileira."

Safatle lembra: "A moralidade exige a simetria completa dos julgamentos. É julgar todos da mesma forma, independente do que vá acontecer. Isso falta dentro da política brasileira. É por isso que não se consegue fazer com que essas indignações se transformem em saltos qualitativos da política. E aí vira simplesmente um jogo em que se tenta colocar um ou outro contra a parede.”

Safatle identifica que há um processo de desgaste constante do governo pela mídia e, por isso, os nomes envolvidos em negócios ilícitos no HSBC são seletivos. “Se a gente quisesse mesmo fazer uma limpeza geral no que diz respeito ao caso Petrobras, por exemplo, todos denunciantes falaram: 'Olha, desde 1997 eu recebo propina'. Ou seja, tem um dado estrutural, não existe um caso de governo ou de partido, é um caso de estrutura, em que vai todo mundo. E nessa situação o mínimo que se espera é que se mostre claramente a extensão do processo e a necessidade geral de punição. Mas isso nunca ocorre, isso desgasta toda a força da indignação moral”, lamenta. “Todo mundo que conhece um pouco da sociedade brasileira sabe que lá você vai encontrar alguns dos nossos empresários mais conhecidos, alguns dos políticos mais conhecidos.”

Quanto ao silêncio que a Rede Globo dedica ao caso do HSBC, Safatle comenta: “Isso é uma piada, é completamente inacreditável. Eu gostaria que eles explicassem muito claramente qual é a noção deles de notícia, porque é surreal. Você pode pegar as páginas do The Guardian, jornal britânico, ou do francês Le Monde, e a televisão de maior audiência não dá nada? O que é isso? Eles transformam o jornalismo em uma grande brincadeira.

Para a secretária-geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Maria da Silva, é uma "vergonha" que esse caso só apareça em alguns sites e blogs e seja ignorado pelos grandes meios de comunicação, que não têm interesse em divulgar os nomes de brasileiros que estão nessa lista com depósitos sem origem comprovada no HSBC em Genebra. “Um dos clientes que já apareceu na lista foi o Clarín, da Argentina. Não vamos ficar surpresos se os meios de comunicação aqui do Brasil também aparecerem na lista, ou se os donos desses meios estiverem guardando dinheiro lá fora para não pagar impostos. Talvez por isso essa lista não seja divulgada. Começaram a soltar os nomes seletivamente, e por isso surgem os nomes relacionados com a Lava Jato. Mas tinha que soltar o nome de todo mundo”, diz.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

A crise da água - imbecilidades e mal entendidos


por Richard Jakubaszko, em seu blog


NOTA PRELIMINAR: este blog concorda em grande parte com o autor e publica seu ponto de vista aqui a guisa de contribuir com o debate, mas existem alguns pontos obscuros nas afirmativas contidas no texto que carecem de discussões adicionais. Ver as notas numeradas para os pontos que remetem a isso. [entre colchetes, adições nossas]

Com frequência que chega a saturar, há um insistente aforismo: “a água doce é um bem escasso; pior ainda, está se esgotando”.

[Afirmação mestra que deve nortear todo o contexto para este artigo] >>> O crescimento explosivo das cidades, somado ao descaso dos poderes públicos e à falta de consciência da população em geral, e a falta de [dinheiro para] (1) investimentos, faz com que boa parte dos rios urbanos do Brasil e de muitas cidades no exterior mais pareça uma extensão de lixeiras e esgotos. A falta de tratamento de esgoto e o descarte de poluentes residenciais e industriais são [os verdadeiros e] grandes vilões para essa autêntica catástrofe. (2)

Adicionalmente, vindo não se sabe de onde, aparecem argumentos de que o planeta tem água, sim, mas é água salgada dos oceanos, e o que vai faltar é água doce, água para beber. Por vezes chega-se ao paroxismo de anunciar que a Amazônia caminha à desertificação (3).

A premissa dessa questão é o paradigma de que vai faltar água potável (água doce) para abastecer os 7,3 bilhões de pessoas que temos no planeta, pois apenas 3% da água existente no planeta é doce, e 97% é salgada.

1º erro: água vai acabar?!?!... Não existe nada na natureza, nem na química ou na física que faça a água sumir, à exceção da eletrólise, que é processo laboratorial, para pequenas quantidades, e custa muito caro. A mesma quantidade de água que existe hoje, existia há 3 milhões de anos. E será assim no futuro. A água se recicla permanentemente, sempre nos 3 estágios que conhecemos: líquido, sólido ou gasoso. Aliás, o planeta deveria chamar-se “Água”, pois de terra há somente 29% na superfície da nossa casa.

2º erro: as calculadoras dos ambientalistas ensandecidos partem da premissa de uma estatística já antiga feita em países com pouquíssima água (como Israel e Espanha). Nesses países, o problema da água é crítico: lá, “descobriram” que 70% da água consumida eram usadas na irrigação, 20% pelas indústrias e 10% por consumo humano. Entenderam e decidiram que isso levaria ao caos do planeta. Dever-se-ia economizar água na agricultura, e, portanto, os "perdulários" dos produtores rurais teriam de ser contidos a qualquer custo.

3º erro: a “pegada hídrica” não tem aceitação internacional em nenhuma universidade, pois utiliza métodos estapafúrdios e emocionais, sem base na boa ciência. O referido indicador nem é polêmico, ele simplesmente não é aceito como ciência. Desta forma, as ONGs divulgam um factoide monstrengo, e a mídia digere e divulga acriticamente todas as besteiras inconvenientes.

Desta forma, chegamos aos “controles e à gestão da água”, eis que para irrigar a lavoura o agricultor brasileiro deve ter “estudos de impacto ambiental”. Numa boa, os ambientalistas e especialistas de água, surgidos do nada, passaram a faturar uma grana extra em consultoria. Não se financia um pivô de irrigação sem que haja um “estudo de impacto ambiental”. Fazer uma barragem ou poço artesiano é "crime ambiental". As firulas do raciocínio ambientalista são hilárias, e tenta-se dar embasamento de “estudo científico”. [Puro corporativismo de CREA's e Conselhos de Biologia's da vida pra dar sustentação aos seus acólitos] (4)

Achar que água é vital a gente concorda com os ambientalistas. O que se deve ter em mente, é que o consumo de água, seja agrícola ou industrial, não “gasta” água, apenas interfere em seu processo. Quando usada na agricultura, na forma de irrigação, ou também por chuvas, como é calculada na métrica neurótica dos ambientalistas, a água não vai para o “quinto dos infernos”. Essa água revitaliza o solo, dá sustentabilidade à produção de alimentos, evapora-se ou é filtrada em suas impurezas, e vai para o lençol freático. Dali retorna para os rios, ou vai, temporariamente, para os aquíferos, e depois chega aos mares. Nos oceanos há evaporação, que forma as nuvens, e estas, depois de milhares de quilômetros percorridos, se transformam em chuvas. É o destino de toda água no planeta, inexorável. A ciência chama isso de Ciclo Hidrológico, e é uma das primeiras coisas que uma criança aprende no ensino fundamental.

Importante é que, seja para irrigação ou qualquer outro destino, quando a humanidade urbana ou rural usa água dos rios, usa tão somente, quando muito, apenas 1% do volume total de água do rio. Ou seja, no cálculo citado, os ambientalistas criticam o uso de 70% de água da parte de apenas 1% do que foi retirada do rio, pois 99% da água tem o mar como destino...

Repito: de toda a água de um rio, a humanidade usa no máximo 1%, ou seja, o "restante", os 99% não usados vai para o mar... Portanto, é imbecilidade discutir ou afirmar que 70% de um "universo" de 1% é gasto perdulário, especialmente se a gente lembrar que é para produzir alimentos. Afora isso, tem outro fator muito importante: com a irrigação a lavoura fica mais produtiva, e é mais uma maneira de impedir que se procurem novas áreas para se fazer mais agricultura. (5)


NOTAS

(1) O problema maior nem é a falta de recursos para se atacar os graves problemas de saneamento, mas falta de politicas públicas consistentes e consciência positiva do grande capital, que claro, prioriza seus lucros em detrimento da socialização da qualidade de vida. Socializa só as consequências deletérias de suas atividades cumulativas. 

(2) Afirmação contida neste parágrafo deve nortear todo o contexto para este artigo, como já anotado preliminarmente.

(3) Não sabemos se a amazônia se encaminha para um processo de desertificação, mas o desmatamento desenfreado deve preocupar a nação brasileira gravemente. Os mecanismos que regem os "rios voadores" relacionados à amazônia tem influencia fundamental na pluviosidade do sul, sudeste e centro-oeste do país e ainda não são bem conhecidos. A garantia de preservação deste mecanismmo natural é vital. Certamente isso depende da preservação também das floresta, que se substituída por pastagem e "agrobiz do sôja" não podemos esperar que isso se mantenha inalterado.

(4) O corporativismo para garantir o faturamento de apaniguados dessas associações de profissionais não contribuem para a resolução macro dos problemas cada vez mais críticos que a sociedade enfrenta.

(5) O autor simplifica a análise em defesa da agricultura na abordagem apenas "quantitativa" do uso da água pela agricultura, mas o descaso da negligência "qualitativa", pelo uso indiscriminado de pesticidas que acabam depois retornando aos cursos d'água mereceria consideração e uma análise mais aprofundada. 


domingo, 15 de fevereiro de 2015

HSBC e os diamantes africanos

 

Por Joan Tilouine, no Le Monde Afrique – tradução deste blogo botoco

Em Bria, cidade região leste da República Centro-Africana, um funcionário de um escritório de compra de diamantes de uma empresa chamada "Badica"  descreve um cenário de terra arrasada. Os exploradores das minas e os compradores estrangeiros a trabalham em marcha lenta na área devastada pela guerra, onde as pedras, descobertas desde 1914 são o recurso principal e estão no centro das questões de poder.

Oficialmente em maio de 2013, dois meses após a derrubada do presidente François Bozizé por rebeldes muçulmanos do grupo Seleka, a Republica Centro-Africana perdeu a certificação KPCS - Kimberley Process Certification Scheme - um protocolo de certificação de origem de diamantes brutos para evitar a comercialização de pedras originárias de zonas de conflitos. Como o Conselho de Segurança da ONU estabeleceu um embargo à exportação de "diamantes de sangue" da República Centro-Africana, nenhuma pedra pode ser exportada legalmente. Isso tem consequências sobre a situação econômica do país, prejudicada pelo conflito político-militar, mas promove uma continua atividade ilegal, a dos contrabandistas de diamantes.



Abdoulkarim Dan-Azoumi e seus esqueletos no armário

Com sede na capital Bangui, Badica é uma empresa liderada localmente por Mahamat Nour, um dos irmãos de um bem sucedido empresário e selfmade man Abdulkarim Dan Azoumi, seu verdadeiro controlador. Nascido na cidade de Bouar, iniciou suas atividades de contrabando com venda de cigarros antes de envolver toda sua família no negócio de diamantes, formando um grupo em torno da empresa Badica, da qual faz parte também a companhia aérea "Minair".

Atualmente com 76 anos, Dan-Abdulkarim Azoumi deixou a República Centro-Africana recentemente. De acordo com sua família, ele se estabeleceu há aproximadamente um ano (em meados de 2013) em Antuérpia, na Bélgica, a capital mundial de diamantes. Ali abriu uma subsidiária, de nome "Kardiam".

 

Mas às margens do rio Ubangui, que faz divisa entre a Republica Centro-Africana e a Republica do Congo, Abdulkarim Dan-Azoumi continua preso ao passado. Na Europa as instalações da sua empresa Kardiam em Antuérpia foram invadidas pela interpol em junho de 2014, ocasião em que foi preso, em função de um relatório da ONU divulgado em novembro, em que era acusado de ter ajudado a financiar o grupo extremista Seleka. Tanto em Antuérpia como em Bangui, Abdulkarim Dan-Azoumi está em apuros. Mas suas movimentações financeiras tomaram um rumo diferente, mais exótico, saíram de Genebra e migraram para o Panamá.

Gestores de ativos do HSBC não se importam com transparência, corrupção ou tráfego em curso no mercado anárquico de diamantes na Africa Central. Na verdade fazem qualquer coisa para cortejar os barões de diamantes da Antuérpia ou do centro africano a internar suas receitas de diamantes nos cofres suíços e abastecê-los de conselhos de mutretas fiscais.



O dinheiro vai para paraísos fiscais

De acordo com os documentos consultados pelo Le Monde Afrique, o primeiro acerto entre Dan-Abdulkarim Azoumi e um gestor de ativos do HSBC suíço aconteceu em setembro de 2005. Em um salão do Hotel Radisson Blu, na Park Lane, em Antuérpia, os dois homens se conheceram. O representante do banco manteve um encontro inicial com Abdulkarim Dan-Azoumi e depois se reuniu diversas vezes com delegações de dirigentes da empresa e membros do governo da Republica Centro Africana, incluindo um ministro. O mercador de diamantes está pronto para o jogo.

Muçulmano, casado com quatro mulheres, dezoito filhos, mas atualmente sustenta que só mantem duas esposas, Abdulkarim Dan-Azoumi revela que Badica também tem atividades ligadas ao comércio com a China, importando confecções populares que distribui em vários países africanos, o que também consta em seu cadastro de dados nos arquivos do banco suíço. Abdulkarim Dan-Azoumi também deu informações sobre as restrições fiscais que pesam sobre um de seus filhos, que atua na importação de telefones celulares para a África comprados em Israel e no Canadá. Uma das referencias em seu prontuário no banco é o comerciante de diamantes israelense que opera em Genebra, Michel Farah. Este ultimo, entrementes domiciliado em Dubai, é gestor da empresa Swiss Diam.

Mas a conta recentemente aberta na Suíça por Dan-Azoumi Abdulkarim e também a de seu parceiro comerciante de diamante Mahamat Oumarou, este controlador da empresa "Sul Azur" tornou-se um pesadelo para o HSBC. "É uma conta cujos ativos não tem certificados de origem" revela um dos gestores de carteiras do HSBC, que ameaça fechar as contas cuja origem considera "questionável" (por pressão internacional). O que fazem então?... em Dezembro de 2005 sugerem "o benefício de uma empresa offshore." Ai promovem a transferência da agencia suíça de quase meio milhão de dólares para "Kampala Holdings SA", uma empresa de fachada criada ad-hoc no Panamá por Abdulkarim Dan-Azoumi. Assim o HSBC transfere fluxos financeiros de sua atividade de diamantes entre a Africa Central e Antuérpia e as passa para países da América Central, onde a regulação é muito branda - não há sequer um registro oficial de empresas offshore que operam por aquelas bandas. Bangui e Bruxelas parece que não ficaram satisfeitas com esse movimento.

Existe um outro protagonista importante no mundo dos diamantes centro africanos que constam no prontuário do HSBC consultado pelo Le Monde Afrique: A Société Centrafricaine du Diamant - "Sodiam". Esta empresa é a mais antiga no mercado de diamantes da Republica Centro Africana, em cuja conta suíça foi depositado 1,6 milhões de dólares em 2007. Esta sociedade é controlada por Raffi Arslanian, um comerciante de diamantes belga de ascendência armênia. Dirige a empresa com seu irmão mais velho Haik, que abriu seu primeiro escritório em Bangui, em 1969. Como CEO do grupo Arslanian Bros., fez fortuna com pedras em Angola, Serra Leoa, Congo e República Centro-Africana, sendo que os dois aparecem como titulares da conta bancária na Suíça em nome da Sodiam.

A Arslanian Bros. não respondeu aos questionamentos da reportagem. Autoridades de Bangui timidamente afirmam ter apreendido um carregamento ilegal em novembro de 2014 em que constavam 152 quilates em diamantes ilegais transportado por um piloto da Sodiam e grandes somas de dinheiro a bordo de um avião na pista do aeroporto da capital. De acordo com o International Crisis Group a exportação ilegal de diamantes da Republica Centro-Africana é feita via Camarões ou por Darfur, no sul do Sudão. "As duas empresas, Sodiam e Badica, sempre tiveram uma relação estreita com Bozizé, o presidente deposto. A Sodiam, ao mesmo tempo que cultivava relação com o poder estabelecido, também apoiava veladamente grupos rebeldes armados no nordeste do país” disse uma fonte conhecedora de detalhes internos. “A chegada ao poder do Seleka foi uma maneira para eles de superar as limitações do regime Bozizé e facilitar os seus negócios. "



Presença ilegal na Bélgica

Ao contrário da Badica, a Sodiam não se deu por achada com relatório da ONU, e mantem até hoje a compra de pedras brutas que continua a estocar (e eventualmente contrabandear). Isso acabou por causar a indignação de Abdulkarim Dan-Azoumi que denuncia concorrência desleal: "tivemos a desvantagem, má sorte por assim dizer, de ser muçulmanos e este relatório não é justo", se lamenta um elemento do seu grupo que aparentemente desconhece as tramoias dos circuitos financeiros da Badica.

A atividade suspeita dos enviados especiais do HSBC no mundo de diamantes de Antuérpia levou a uma investigação pelas autoridades belgas. "O banco não tinha licença para sua presença na Bélgica", diz um agente belga que trabalhou no caso de investigação no Hotel Carlton e no Radisson Blu, de Park Lane. Inquirido pela polícia judicial belga, o diretor jurídico do HSBC Private Bank, David Garrido, declarou em 29 de setembro de 2014 que não vê necessidade de informação sobre criação de empresas offshore sem nenhuma atividade real, como "Kampala Holdings SA" de Dan-Abdulkarim Azoumi e respondeu sem rodeios: "...isso não é ilegal e eu digo que é uma questão de direito civil adquirido".

De acordo com outro funcionário do banco, o objetivo era manter o cliente e os ativos. Entretanto o departamento interno do HSBS denominado MEDIS (Mediterrâneo, Europa e Israel) , que cuidava das contas dos mercadores de diamantes da Antuérpia, África e Israel, foi subitamente desativado no verão de 2013, depois de relatos de irregularidades feitos pela imprensa espanhola. Todos envolvidos no mercado de diamantes receberam instruções para fechar suas contas nas agencia suíça ou transferir seus fundos para outras unidades do grupo, tais como HSBC Tel Aviv, por exemplo, ou para empresas offshore pra mascarar suas movimentações.



O objetivo é implodir a Petrobras





por Luiz Eduardo Brandão, no blog do Nassif









Do lado de lá do Atlântico, alguns séculos atrás...

1. A França vivia sob o regime da monarquia absoluta, no qual o rei podia tudo, sem nenhum freio. A ideia da razão de Estado surgiu entre as cabeças pensantes políticas da época como um freio a esse poder absoluto: o monarca absoluto podia tudo, menos ir contra a razão de Estado. Demonstrado pelos conselheiros do rei e pessoas influentes da corte que tal medida desejada pelo monarca ia contra ela, a razão de Estado, o rei a retirava. Ou por aceitar a argumentação, ou talvez por temer um venenozinho no vinho, uma punhalada nas costas...

2. Voltando para o lado de cá, parte de baixo do hemisfério: a razão de Estado, que podíamos traduzir como os interesses nacionais históricos e imediatos, comanda que sejamos uma nação independente, com um papel de destaque a exercer no tal de "concerto das nações". Quem vai contra isso, é um entreguista, ou como se dizia nos 60, um serviçal de interesses exótico-alienígenas. E isso, essa independência política, requer, entre outras coisas, independência energética -- que é o que norteou a criação da Petrobrás, 62 anos atrás, e deve nortear o que concerne à sua existência e atuação. 

O bombardeio da mídia, valendo-se da munição vazada para ela por operadores da Lava Jato, não visa apenas nem fundamentalmente o PT. Isto é, apenas, um objetivo intermediário. O objetivo final é acabar com a Petrobrás e pôr nossas riquezas energéticas -- logo nossa independência energética, logo nossa independência tout court -- em mãos alheias. 

Isto tem de estar claro, e neste momento de verdadeira guerra política, acima de outros problemas, a serem resolvidos depois. Entendam: se acabam com a Petrobrás, com a engenharia brasileira, adeus pré-sal, adeus independência energética, adeus independência política. Sua criação foi uma batalha contra as mesmas forças que ora se esgoelam com essa historieta de corrupção. 

E chega dessa ideia atrasada, infundida na cabeça do povo pelas forças reacionárias e, estas sim, arquicorruptas em todos os sentidos (sobretudo éticos) do nosso país, de que a corrupção é uma praga a ser resolvida com a cadeia para os corruptos -- sempre os do lado político contrário ao partido oligárquico. Corrupção se combate é com medidas políticas, jurídicas e inclusive administrativas, como parece estarem sendo tomadas na Petrobrás. Os que arvoram a bandeira da anticorrupção costumam ser os maiores beneficiários e promotores própria, da corrupção. O combate a ela é, ou devia ser, uma coisa corriqueira, reparando interminavelmente as brechas, os bugs pelos quais ela consegue se infiltrar.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O PT preparou seu próprio angu, agora vai ter que "colherar" de garfo!...



excerto de um texto do Azenha em seu Viomundo (com adaptações da casa)

... Aliás, a credibilidade do PT está no fim com os eleitores também pelo fato de o partido ter convivido muito bem, sempre, com a herança maldita dos antecessores:

1 - A origem da máfia dos sanguessugas — que vendia ambulâncias superfaturadas — foi o ministério da Saúde sob José Serra, mas ela prosseguiu depois que Lula assumiu o poder.

2 - O mesmo aconteceu com a máfia dos vampiros — que negociava hemoderivados.

3 - O PT de Lula, em nome de um acordo em Minas, manteve no poder em Furnas o diretor Dimas Toledo, justamente o homem da Lista de Furnas, o esquema de financiamento de campanha de tucanos e aliados através dos fornecedores da estatal.

4 - Marcos Valério serviu ao esquema de caixa 2 do PSDB e aliados antes de repetir a jogada com o PT e aliados.

Quando o PT no poder teve a oportunidade de provocar rupturas com o passado, não o fez.

5 - CPI do Banestado? Terminou em acordão.

6 - CPI da Privataria? Nem então, nem depois do livro de Amaury Ribeiro Jr.!...

7 - Quando um delegado da Polícia Federal teve a coragem de encanar o banqueiro, o governo se voltou… contra o delegado. O chefe da Polícia Federal foi mandado para o exílio. O banqueiro hoje financia um site de apoio ao governo Dilma!... (247)

8 - Quando um repórter da Veja foi flagrado em aliança jornalística com o bicheiro, o PT olhou, olhou e fez que não viu.

9 - Por isso, não foi surpresa quando o vice de um governador tucano — Afif Domingos — se tornou ministro de uma presidente petista.

Ninguém enrubesce com a perspectiva de ver Marta Suplicy, petista histórica, concorrendo à Prefeitura de São Paulo pelo PSB com o apoio de Geraldo Alckmin.

É nesta geleia geral que Curitiba assume relevância ainda maior. Não a Curitiba do Moro, mas a que impediu a austeridade de Beto Richa.

É junho de 2013, de novo.

Mas a mídia não entendeu isso. Ela está ocupada na campanha que parece não ter fim: criminalizar apenas um dos irmãos (gêmeos) — eles estão ficando cada vez mais parecidos.

Não mencionem “PSDB” que ela enterra nas páginas internas. Na Globo, como famosamente saia no Jornal Nacional já na campanha de 2006, é “o governo anterior”.

Para esconder o grande desastre em andamento no Brasil, o apagão da água em São Paulo — este sim, não é um depoimento sem provas –, disfarça criando a perspectiva de um racionamento de energia que ainda nem é considerado.

Piada pronta - Paraná - deputados no camburão da polícia


por Altamiro Borges, em seu blog


O Paraná está vivendo dias de convulsão social. O governador Beto Richa (PSDB) tentou impor um “pacotaço de maldades” contra o funcionalismo público e detonou uma onda de revolta no Estado. Várias categorias paralisaram suas atividades. Os grevistas ocuparam a Assembleia Legislativa. Nesta quinta-feira (12), os deputados que tentaram aprovar o projeto, “às escondidas”, foram transportados em camburões da polícia. Apesar do clima de tensão, a sociedade brasileira simplesmente desconhece estes fatos. A mídia privada, sempre tão seletiva na sua cobertura jornalística, faz de tudo para invisibilizar a greve e para proteger o governante tucano. Os protestos não são manchete nos jornalões nacionais e nem destaque na TV Globo. Os blogueiros paranaenses, sempre tão perseguidos pelo censor Beto Richa, são os únicos que furam o bloqueio informativo.

O blog de Esmael Morais, por exemplo, transmite ao vivo as assembleias e protestos das categorias em greve. Ele também acompanhou a ocupação da Assembleia Legislativa e postou o vídeo sobre a fuga dos deputados. Conforme informou nesta quinta-feira, a combativa greve do funcionalismo pode até “afrouxar a tanga” do grão-tucano. “Depois de bombas, tiros com balas de borracha, cães contra professoras e o furo de bloqueio policial por uma massa ensandecida, o governador Beto Richa (PSDB) retirou o ‘pacotaço de maldades’ da pauta da Assembleia Legislativa do Paraná. Os deputados governistas chegaram de camburão da PM e entraram em um anexo do legislativo pelas portas dos fundos. Diante da tomada total do espaço pelos manifestantes, os parlamentares encerram a ‘sessão secreta’ e se retiraram do local também dentro do rabecão policial”.

[...]


As postagens dos blogueiros e a nota dos parlamentares confirmam o caos vivido pelo rico Estado do Paraná. Elas também explicam a radicalidade da greve e dos protestos das várias categorias do funcionalismo público. Apesar disto, a mídia privada – nos dois sentidos da palavra – não dá qualquer repercussão à grave situação. Ela faz de tudo para proteger os tucanos – seja censurando menções ao ex-presidente FHC na midiática operação Lava-Jato da Polícia Federal, ou escondendo a gravíssima crise da falta de água em São Paulo para garantir a reeleição de Geraldo Alckmin, ou tentando invisibilizar a poderosa greve contra o tucanato no Paraná. A seletividade e parcialidade da mídia nativa é algo repugnante...

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O que acontece no Paraná?!... que a grande mídia venal NÃO mostrou



por Diógenes Brandão, no blog As falas da Pólis 


No Paraná, terra do juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas ações penais decorrentes da Operação Lava Jato, que investiga os esquemas que há décadas desviam dinheiro em negociações entre a Petrobras e agentes públicos, lobistas e grandes empreiteiras, os servidores estaduais dizem que seus direitos estão ameaçados, mas o governo alega que não são direitos e sim privilégios adquiridos.

Sem admitir o rombo nas contas públicas, fruto de uma gestão repleta de denúncias de corrupção e mau uso do dinheiro público, o governador Beto Richa (PSDB) conseguiu os votos da maioria dos deputados estaduais para implementar uma série de medidas e cortes orçamentários e nesta quarta-feira (11) um grupo de advogados e professores de Direito Constitucional e Administrativo impetraram um mandado de segurança no Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) contra o regime de Comissão Geral para votação daquilo que os trabalhadores apelidaram de “pacote de maldades” do governo Richa.

Nada disso é noticiado pela imprensa brasileira, parceira do atual governador que conseguiu ser reeleito e agora resolveu fazer o contrário do que prometeu em campanha e ameaça cortar direitos trabalhistas e conquistas do funcionalismo público, o qual resolveu reagir e está à beira de uma greve geral.

Por isso, servidores públicos, professores, trabalhadores e estudantes ocupam desde a manhã da terça-feira, o prédio da Assembleia Legislativa, na tentativa de barrar o "pacote de maldades" e pressionam os deputados para que estes não lhes traiam como já fez o governador, o qual é do PSDB e talvez por isso não vemos nenhum apresentador da Globo, ou jornalista dos demais jornalões e sites de revistas mostrando os protestos que vários trabalhadores fazem, como forma de evitar a fúria do governo sobre os seus salários e fundo previdenciário.

Em uma matéria super-amiga, publicada na tarde desta quarta, a Folha abordou o caso assim:


"O pacote que quer aliviar o caixa do Estado, que inclui a mudança da previdência dos servidores públicos, a redução do anuênio e mudanças no plano de carreira dos professores, será votado apenas na sessão desta quinta (12). Reeleito no ano passado, o tucano tem enfrentado uma crise financeira há pelo menos dois anos, que já forçou o Estado a suspender obras, atrasar pagamentos e parcelar salários de servidores".


Perceberam a mãozinha amiga da jornalista e do editor chefe do jornal para com o governador parceiro, ao dizer que este "foi forçado" a suspender obras, atrasar pagamentos e parcelar salários de servidores?...

Já hoje, a Folha resolveu em outra matéria, esconder o caos generalizado que tomou conta da frente e do interior da Assembleia Legislativa do Estado, dizendo que são apenas "centenas" de pessoas que estão acampadas e só deu a palavra pro Secretário da Fazenda, apelidado pela oposição de "Maurinho Malvadeza" que diz que é necessário um ajuste fiscal imediato e severo.


Veja o vídeo da heróica ocupação da Assembléia Legislativa pelos servidores públicos do Paraná, já que na Globo e na velha mídia você é simplesmente impedido de saber como funciona os governos do PSDB, os sócios da mídia Brasileira.

Se fosse menos parcial, a Folha e o resto da imprensa nacional informaria ao restante do país o que realmente acontece no Paraná, dando direito de expressão à outra parte envolvida nesta crise instituicional: Os servidores.

"Boa parte dos funcionários públicos do Estado estão acampados na Assembleia Legislativa e não temos dia e nem hora para sair daqui", informa Hermes Leão, presidente da Associação dos Professores do Paraná.

Segundo o professor, a adesão à pauta dos funcionários públicos tem aumentado a cada momento. “É uma luta de toda sociedade, inclusive dos promotores de justiça e dos juízes”, lembrou Hermes, ao salientar que a magistratura também seria afetada com a extinção do fundo previdenciário e denuncia que o governador Beto Richa pretende meter a mão em R$ 8 bilhões da poupança previdenciária do funcionalismo público.

Mesmo correndo o risco um conflito com uma desocupção por parte da PM, conforme já foi solicitada pelo presidente da casa, os servidores não arredam o pé do local e prometem só voltaram para o trabalho depois que os deputados desistam de apoiar o governo de lhes tirar rendimentos e respeitar a aposentadoria dos mesmos.

Em defesa aos servidores públicos do Estado, o presidente da OAB-PR, Juliano Breda, divulgou na terça-feira (10) manifestação da entidade contra a tramitação sumária (tratoraço) do “pacotaço de maldades” do governador Beto Richa (PSDB) na Assembleia Legislativa do Paraná.

O desequilíbrio das finanças do Estado não pode ser equacionado com uma oneração excessiva à população e aos funcionários públicos”, diz um trecho da nota, que ainda roga para que os deputados estaduais “rejeitem o projeto de lei em exame”.

Enquanto o governador prepara-se para usar a polícia para evacuar as dependências da ALER isso, um blog paranaense informa que a vice-governadora do PROS, passa o carnaval na tranquilidade da Itália, junto com sua filha que é deputada estadual pelo PP.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

O Estado do Paraná está quebrado e paralizado geral - e a Globo não falou nada





por Enio Verri, em seu blog 

É importante que o Brasil conheça o (mau) exemplo do Paraná. O estado é a quinta economia brasileira. O orçamento de 2015 supera R$ 44 bilhões. Entre as 27 unidades da federação, foi a que registrou o maior aumento da receita corrente líquida (RCL) entre 2010 e 2014, saltando de R$ 16 bilhões para R$ 26 bilhões, uma evolução de 56%.

A explosão na receita, no entanto, não foi suficiente para evitar que o Paraná chegasse ao início de 2015 afundado na pior crise financeira de sua história, com dívida acumulada com servidores e fornecedores, segundo analistas, de aproximadamente R$ 4 bilhões.

O diagnóstico do fracasso do governo Beto Richa (PSDB) veio do economista Mauro Ricardo Costa, escalado ele próprio, em dezembro, pelo governador para assumir a Secretaria do Estado da Fazenda e começar a tirar o Paraná do fundo do poço.

“[O governo] errou no momento em que gastou mais do que devia. Se você faz um orçamento acima das possibilidades de receita, você quebra o estado. E, se faz isso com frequência, agrava-se mais ainda a situação, o estado vai acumulando dívidas ano a ano.”

Richa não só gastou mais do que arrecadou. Gastou muito mais, e gastou muito mal. O desequilíbrio no caixa lentamente congelou o estado nos últimos anos e tornou-se insustentável nas últimas semanas.

Falta dinheiro para tudo. Desde a compra da merenda dos estudantes da rede pública quanto para abastecer e fazer a manutenção nas viaturas da polícia. Centenas de obras estão paralisadas por falta de pagamento às construtoras.

Costa foi ainda mais claro sobre a desastrosa gestão do chefe do Executivo paranaense: “É fácil quebrar um governo; difícil é arrumar”, decretou.

Para “arrumar” o governo que o PSDB quebrou, o tucano Costa recomendou remédios amargos. Em dezembro, aumentou o IPVA e tributos da gasolina; acabou com a isenção do ICMS sobre uma centena de produtos e aumentou o ICMS sobre outros, entre materiais escolares e eletroeletrônicos.

Na semana passada o governo enviou à Assembleia Legislativa um novo “pacote de maldades” que, entre outras medidas, corta direitos e benefícios do funcionalismo, especialmente dos professores. O governo também põe a mão em R$ 8 bilhões da Paranaprevidência – poupança do funcionalismo economizados ao longo dos últimos 15 anos.

Revoltados com as medidas, servidores estaduais anunciaram greve geral a partir desta semana. Escolas amanheceram fechadas na segunda-feira (9). 950 mil estudantes, de 2,1 mil colégios, estão sem aulas.

Trabalhadores das universidades estaduais de Londrina e Maringá também já pararam. Ao mesmo tempo, agentes penitenciários e trabalhadores da saúde se organizaram para aderir a paralisação nas próximas horas.

O PSDB quebrou o Paraná, que se prepara para uma greve geral do funcionalismo. Tido pelos caciques tucanos como uma das principais apostas do partido, Beto Richa tem no currículo um governo marcado pela incompetência gerencial, e agora, também pela greve geral.

Minerodutos - a nova pressão predatória sobre os recursos hídricos


por Luiz Paulo Guimarães de Siqueira, no Viomundo

Minas Gerais enfrenta talvez a pior crise hídrica de sua história. Em pleno janeiro, período normalmente chuvoso e com abundância de água, o estado registra que cerca de 140 municípios já adotaram medidas de restrição e limitação no fornecimento de água.

Sem dúvida, esta situação não surge fortuitamente, mas sim, reflexo de uma longa trajetória de ausência de planejamento público por parte do Estado e, também, fruto de gestões marcadas por deixar Minas, literalmente, em choque.

A grave situação de falta d’água está mais intensa na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Se, por um lado, se constitui como a região de maior adensamento populacional, por outro, a RMBH juntamente com o Colar Metropolitano se configuram como a região de maior intensidade das atividades minerárias no estado.

De acordo com o 2º Relatório de Gestão e Situação dos Recursos Hídricos de Minas Gerais, publicado pelo IGAM em janeiro de 2015, a mineração foi o quinto setor que mais obteve outorgas para uso de água em 2013. Mas, somente analisar o número de usos outorgados podem nos levar a uma interpretação equivocada sobre quem são os atores que mais consomem água em MG. Pois não podemos deixar de levar em conta que há uma significativa diferença entre o volume de água outorgado para atender o consumo humano, por exemplo, do que o volume utilizado para atender a exploração mineral.

Neste contexto, chama a atenção a petulância das grandes corporações da mineração de optarem pela utilização de minerodutos para exportar nossos minérios. Para quem não conhece, minerodutos são grandes tubulações que transportam minério diluído em volumosas quantidades de água, formando uma polpa de minério, semelhante à borra de café, sabe?

Como o minério precisa ser diluído e bombeado por água, os minerodutos precisam manter a pressão para conduzir o minério. E é por isso, que para além do alto consumo de água para a formação da polpa do minério, os minerodutos inerentemente causam diversos impactos ambientais. Pois para manter a pressão do bombeamento, os dutos têm de desviar dos morros, percorrendo dessa maneira os vales, que são as regiões onde estão concentrados os cursos d’água, brejos, nascentes, as melhores áreas de plantio e moradia.

Em Minas, há hoje diversos minerodutos de pequeno porte, como o caso do projeto da MMX em São Joaquim de Bicas, que provocou grandes transtornos na região, destruindo nascentes e prejudicando produtores rurais e o abastecimento de água. Mas há, também, minerodutos de grande porte, que levam os minérios da mina até o litoral, onde são exportados através dos portos. No caso dos grandes minerodutos, o estado conta atualmente com 8 projetos, 4 já em operação e mais 4 que pleiteiam as licenças ambientais. Sobre estes, vamos tentar entender como funcionam e o quanto de água estão tirando dos mineiros.

A Vale/Samarco possuem 3 minerodutos ligando a Mina Alegria, em Mariana, até o porto de Ubú, no Espirito Santo. Depois de anos destruindo os mananciais de Mariana e Ouro Preto, essas mineradoras não tiveram alternativa a não ser captar água instalando uma adutora para utilizar 82% do potencial hídrico do Rio Conceição no distrito de Brumal, em Santa Bárbara.

Moradores da região alegam que na época de estiagem o rio termina, literalmente, no ponto de captação para o duto. São utilizados para a funcionamento dos 3 minerodutos cerca de 4.400m³/hora. Não se pode esquecer que em 2010, um dos minerodutos da Samarco/Vale rompeu no município de Espera Feliz, causando um grande desastre ambiental jorrando lamas de minérios, inviabilizando o abastecimento público da cidade e ocasionando a mortandade de toda biodiversidade afetada.



A multinacional Anglo American se orgulha em dizer que é dona do maior mineroduto do mundo. Com cerca de 525 km, o projeto Minas-Rio parte de Conceição do Mato Dentro até o Porto de Açu em São João da Barra (RJ). A mineradora capta 2.500m³/hora da região e desde sua chegada tem causado grandes transtornos e prejuízos às comunidades no entorno. Tem o orgulho de dizer que o processo de licenciamento ambiental do projeto possui 364 condicionantes e que, diga-se de passagem, sem quase nenhum cumprimento.

Ao iniciar a operação do mineroduto em 2014, foram visíveis as consequências no ambiente, com drásticos assoreamentos dos córregos, mortandade de peixes, de gado e a inviabilização do uso social da água na região.

A Ferrous Resources, empresa de capital estritamente estrangeiro, pleiteia a instalação de um mineroduto partindo de Congonhas até um porto em Presidente Kennedy (ES). Inicialmente, seu projeto era de partir de Brumadinho, através da exploração da Serra da Moeda, também conhecida como Monumento Natural Mãe D’água, mas graças à forte resistência das comunidades quilombolas e do Abraço da Serra da Moeda a mineradora foi obrigada a ajustar seu projeto.

A Ferrous, que em seu projeto alega a intenção de possuir dois dutos, vai captar 3.400m³/hora do Rio Paraopeba, manancial fundamental para o abastecimento da RMBH. Em seu processo de negociação com as famílias atingidas a mineradora possui um legado de sistemáticas violações de direitos humanos, sendo alvo, por exemplo, de representações do Ministério Público Federal.

Além disso, o mineroduto ameaça a segurança hídrica de milhares de comunidades rurais e cidades inteiras como é o caso de Viçosa e Conselheiro Lafaiete. As prefeituras de Paula Cândido e Viçosa, assim como as Câmaras Municipais, estão empenhadas para impedir o retrocesso que representa a passagem do mineroduto na região, ajuizando inclusive ações judiciais contra a mineradora.

A Manabi, que pretende instalar uma mega-mina em Morro do Pilar, também pleiteia a instalação de um mineroduto para transportar o minério de ferro. Marcado por grandes tensões, o processo de licenciamento ambiental do empreendimento tem sido feito na marra, causando muita polêmica. Entre os vários motivos destacam-se a iminência de destruição de fragmentos de mata atlântica primária, a negligência da existência de comunidades tradicionais e destruição de trechos do patrimônio histórico e cultural da Estrada Real. A Manabi pretende captar cerca de 2.850m³/hora, degradando ainda mais a bacia do Rio Santo Antônio já tão afetada por grandes empreendimentos.

Em 2014, a Prefeitura de Açucena revogou as autorizações concedidas à mineradora após a compreensão que somente destruições o empreendimento deixaria à cidade.

O povo do semiárido mineiro parecia a salvo destes tipos de empreendimentos, pois a região apresenta sérias dificuldades de acesso à água e se já não bastasse a árdua luta dos geraizeiros e comunidades tradicionais contra as eucalipteiras que, sem nenhum pudor, tratam de grilar grandes terras no Vale do Jequitinhonha e Norte de Minas. Mas as mineradoras não ligam muito para a dificuldade de abastecimento do povo não.

A Sul Americana Metais (SAM), do grupo Votorantim, pretende explorar 25 milhões de toneladas de minério de ferro por ano no município de Grão Mogol. E por incrível que pareça, a ousadia da mineradora não tem limites, pretende escoar o minério através de um mineroduto. Serão captados da região 6.200m³/hora para viabilizar o empreendimento.

Lamentavelmente, o IBAMA é condescendente com esse crime e tem conduzido de forma arbitrária o licenciamento, chegando a marcar audiências para fevereiro de 2015, em um gesto de que planeja licenciar o mineroduto às pressas. O Ministério Púbico Estadual e laudos de pesquisadores da UFMG e UNIMONTES denunciam o não reconhecimento de comunidades tradicionais no processo e a inviabilidade de se instalar um empreendimento desta natureza em um local onde, simplesmente, não há água. Se somarmos os volumes de água utilizados por estes projetos chegaremos ao escandaloso valor de 19,350m³/hora.

De acordo com o diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, do Ministério das Cidades, o consumo médio per capita de água, em Minas Gerais, é de 159 litros por dia. Ou seja, o valor consumido por estes projetos minerários equivale ao abastecimento de cerca de 2.900.000 mineiros ou, o suficiente para atender a demanda de quase 50% da RMBH.

Quando se pergunta às mineradoras do porque de se optar pelo transporte via minerodutos, a resposta, obviamente, é meramente e exclusivamente econômica. Segundo dados das próprias empresas, o custo operacional para se transportar minério de ferro via ferrovia é, em média, de 18,00 US$/ton, já por minerodutos, a média é de 2,00 US$/ton. Ou seja, a implantação de minerodutos nada mais é que uma estratégia de maximizar o lucro dos acionistas destas grandes corporações. Quem ficar sem água no caminho que se vire…

Os minerodutos possuem algo em comum. Além de todos os projetos possuírem inquéritos instaurados no Ministério Público, ambos estão sendo licenciados pelo IBAMA, mas contaram e ainda tem contado até o momento com o apoio do Governo do Estado. Uma das características do choque de gestão foi utilizar todo o aparato da máquina pública para beneficiar, à revelia da legislação ambiental, os empreendimentos minerários privados.

Os Governos do PSDB (Aécio Neves 2003 – 2010 e Antônio Anastasia 2011 – 2014) assinaram decretos que declaram de utilidade pública as implantações dos minerodutos para fins de desapropriação e, ainda, colocam a serviço das mineradoras a empresa estatal CODEMIG para realizar o serviço sujo. Os decretos, assim como a emissão das outorgas para uso de água emitido pelo IGAM, foram assinados antes mesmo da concretização dos processos de licenciamento ambiental, ou seja, sem saber se há a viabilidade ambiental e técnica dos empreendimentos, o Estado tratou de reconhecê-los como fatos consumados.

Ao longo de dois anos, a Comissão Extraordinária das Águas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizou um importante e valioso trabalho sobre a questão hídrica no estado. Em seu relatório e a partir das audiências públicas realizadas, ficou nítida a compreensão e o posicionamento categórico da Comissão em relação aos minerodutos, pois estes representam graves retrocessos na politica estadual de recursos hídricos e devem ser contundentemente impedidos. Com a demarcação das áreas denominadas “faixa de servidão para mineroduto”, milhares de pessoas estão com sua soberania ameaçada e seus projetos de vida em risco. Em todas as regiões do estado onde estas mineradoras projetam a implantação destes empreendimentos têm encontrado forte contestação e resistência popular. O que é natural, visto que as comunidades não são envolvidas nos processos de escolha e não possuem o menor controle sob suas riquezas minerais.

O atual modelo de mineração adotado pelo Estado Brasileiro não tem nada a oferecer ao Brasil, a não ser um rastro de miséria e destruição social e ambiental ao povo brasileiro. Governador Fernando Pimentel, o senhor foi eleito sob o lema “ouvir para governar”, e muitos dos que estão sofrendo com as mazelas da mineração em Minas creditaram e acreditaram neste lema ajudando a eleger este novo Governo.

O povo mineiro já fez a sua opção, não quer assistir às suas águas, casas, nascentes, plantações, culturas, memórias, suor, comunidades e minérios entrando pelo cano; queremos sim, o quanto antes, nos livrarmos destes projetos que nada tem a nos oferecer e empenharmos conjuntamente para garantir a segurança hídrica do estado e isto, significa, definitivamente, enterrarmos de vez esta infeliz ideia de mineroduto.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Petróleo - perspectivas futuras



por Luciano Losekann e Edmar de Almeida, no  blog Infopetro

Em 12 de novembro do ano passado, com o apoio do IBP, foi realizado no Rio de Janeiro o seminário “The Changing Global Energy Landscape: Impacts for Brazil”. Fruto da parceria entre o Grupo de Economia da Energia e a Columbia University, o seminário contou com a participação de dois especialistas americanos importantes: Robert McNally e Jason Bordoff. Os dois são fundadores do Center on Global Energy Policy, sendo que o primeiro foi assessor de energia do presidente George Bush e o segundo, atual diretor do Centro, foi assessor do presidente Barack Obama.

O seminário ocorreu em um momento bastante oportuno. O panorama global dos mercados de petróleo e gás natural se alterou fortemente nos últimos meses. Após um período anormal de calmaria nos preços entre 2011 e 2014, os preços do petróleo caíram fortemente e o futuro aponta para maior volatilidade dos preços. A revolução do shale gas agora terá impactos além das fronteiras dos Estados Unidos, tanto diretamente, via as exportações americanas de GNL, quanto indiretamente, mediante a difusão junto a outros países da tecnologia de produção de óleo e gás não convencionais. O novo panorama tem fortes implicações para o Brasil, que necessita realizar pesados investimentos para desempenhar papel mais relevante na indústria de petróleo.


Mudança no Panorama dos Preços do Petróleo

A palestra de Robert McNally, “Estabilidade e Volatilidade do Mercado internacional de petróleo – Passado, Presente e Futuro”, buscou identificar os determinantes da volatilidade dos preços do petróleo e prever a tendência futura para o mercado. No histórico da indústria de petróleo, podem ser observados períodos de elevada volatilidade e de estabilidade. A volatilidade está associada às forças de mercado, num contexto de baixas elasticidades de oferta e demanda.

Como os custos mais representativos são fixos, a oferta responde pouco a variações de preço. Pelo lado da demanda, o consumidor não encontra substituto de escala global para gasolina e também responde pouco a variações de preço no curto prazo. Assim, sem a atuação de coordenação para a estabilização, pequenas oscilações de oferta e demanda têm grande impactos nos preços.

A história moderna da indústria de petróleo se inicia na Pensilvânia em 1859. No início, quando os mercados ainda não estavam desenvolvidos e as tecnologias não tinham se estabelecido, a volatilidade era elevada. Rockfeller percebeu que movimentos tão amplos de preços (Bust and Boom) não eram favoráveis ao desenvolvimento do mercado. A Standard Oil por intermédio de práticas de monopsônio e monopólio passou a controlar a oferta para estabilizar o preço.

Com a contestação das grandes empresas e o surgimento da defesa da concorrência nos EUA, a Standard Oil foi cindida e perdeu o poder de controlar os preços. Assim, os preços voltaram ser instáveis nos anos 1920s. Os países dominantes perceberam necessidade de controlar oferta. Ocorreu, então, a primeira versão da OPEP, a partir do final do final da década de 1920. A Texas Railroad Commission desempenhou o papel de controlar a oferta, mantendo capacidade ociosa de produção. O controle de capacidade ociosa foi a forma encontrada de estabilizar os preços, já que essa capacidade pode ser colocada rapidamente em produção. Nessa longa fase de estabilidade de preços, ocorreram várias interrupções de oferta no Oriente Médio, como em 1967, mas, mediante o controle da capacidade ociosa, foram contornadas sem grandes impactos sobre os preços.

Essa capacidade de controle se esgotou na década de 1970. Em 1972, a Texas Railroad Commission decidiu colocar a capacidade em plena produção para atender a demanda que era crescente nos EUA. Assim, perdeu a capacidade de controlar os preços e os países produtores se aproveitaram. Após os choques, a OPEP passou a desempenhar o papel de reter capacidade de produção. Com a Arábia Saudita tendo maior relevância no controle da capacidade ociosa (Swing role).

Nos anos 1980s, a capacidade ociosa em mãos da Arábia Saudita era muito elevada. Isso gerou custos e, a partir de certo momento, os sauditas decidiram diminuir sua capacidade ociosa. Com o aumento de produção, os preços colapsaram.

A regra geral é que 5% de capacidade ociosa são suficientes para estabilizar os preços. Isso ocorreu nos anos 1990. Nos anos 2000, o crescimento da demanda mundial de derivados foi reduzindo a capacidade ociosa. O ano de 2009 foi uma exceção, em função da crise econômica, mas, rapidamente, a capacidade ociosa voltou a ficar inferior a 5%. Assim, volatilidade dos preços tende a aumentar. Apesar dos preços elevados, a oferta mundial de petróleo não responde como ocorreu na década de 1970, quando ocasionou o contrachoque na década seguinte.

As expectativas de oferta da IEA foram repetidamente frustradas em 2003, 2004 e 2005. Posteriormente, o boom do Shale nos EUA apareceu como uma surpresa, o crescimento da produção dos EUA superou as expectativas. No entanto, o óleo Norte Americano ainda representa uma parcela pequena da oferta global e não é suficiente para compensar a frustração de oferta de outros players. Ao contrário do que se pode pensar, o crescimento da produção dos EUA não é suficiente para explicar a queda recente dos preços.

Uma questão debatida no seminário foi “por que os preços do petróleo ficaram elevados e estáveis nos últimos três anos e agora caem?”. Esse movimento foi determinado pela percepção quanto ao comportamento da Arábia Saudita e da OPEP. Apesar da sobre-oferta decorrente do comportamento frustrante da economia, os preços elevados se sustentaram com a expectativa que a OPEP, em particular a Arábia Saudita, iria cortar a produção. No entanto, os sauditas anunciaram que não estão dispostos a desempenhar esse papel; o que não era esperado. A partir desse momento, os preços caíram de forma mais expressiva.

A expectativa é que para manter os preços estáveis é necessário que a OPEP corte 2 MMbbl/dia no início de 2015. O prognóstico da BP, por exemplo, é que em algum momento a OPEP terá que cortar, mas o palestrante não acredita nessa possibilidade. A percepção da Arábia Saudita é que esse corte deve ser proveniente da oferta americana de Shale Oil.

Pelo lado americano, a oferta de shale oil e shale gas é mais flexível, podendo responder a variações de preço em prazo mais curto. Em campos de shale, é necessário investir continuamente em fracking para manter a produção. Com o preço mais baixo, a atratividade de investimentos em novos poços cai e a produção tende a responder de forma mais rápida. Assim, o Shale oil poderia colocar teto e piso para o preço do petróleo.

No entanto, a Arábia Saudita é otimista quanto ao volume de produção americana que deverá ser retirado do mercado. O preço atual, de US$85/barril, é suficiente para parar investimentos apenas nos campos menos eficientes. Seria necessário cortar 1,5 MMbb/dia no próximo ano. No entanto, estudos indicam que os EUA só reduziriam a produção em 0,5 MMbb/dia se o preço do petróleo chegasse a US$50/barril. Hoje a mensagem dos produtores dos Estados Unidos é a continuação da perfuração e da produção.

Ou seja, os preços no curto e médio prazo devem permanecer baixos. Em prazo mais longo, a conclusão de Robert McNally é indefinida no que diz respeito a se o preço será mais baixo ou mais alto, porém no que concerne à volatilidade não há dúvida: será elevada. Ou seja, o preço dependerá do comportamento da oferta e da demanda e deve experimentar elevações e reduções em função de alterações nos fundamentos de mercado.

Pelo lado da demanda, o baixo desempenho da economia global foi um determinante da situação atual. Para o futuro, as previsões dominantes tendem a subestimar o consumo. As hipóteses consideradas não devem se confirmar. Os combustíveis alternativos no transporte não têm as mesmas qualidades dos derivados de petróleo, limitando sua ampliação na matriz. O crescimento do PIB será intensivo em energia. O processo de ganhos de eficiência experimentado no passado pelos países da OCDE não deve se repetir na mesma intensidade em países emergentes. Assim, o crescimento futuro do PIB vai exigir mais óleo do que é considerado por analistas.

A questão ambiental não deve ser uma restrição tão relevante. Não se vê ações relevantes que possam propiciar atingir cenários de menores emissões de CO2, como o cenário 450 da IEA. O que se vê são países reduzindo o esforço de mitigação como resposta à crise econômica. Na visão de Robert McNally, os sinais que podem induzir a redução do uso de combustíveis fósseis só tendem a surgir quando motivados pela questão fiscal. Para sustentar os gastos crescentes com seguridade social com o envelhecimento da população, a taxação sobre combustíveis fósseis poderá ter esse resultado.


Mudança no Panorama Mundial do Gás Natural

A palestra de Jason Bordoff, intitulada “Evolving Global Natural Gas Market”, abordou o mercado mundial de Gás Natural Liquefeito. O principal foco foi a avaliação do impacto das exportações de GNL dos EUA nos preços globais do gás natural.

Historicamente, o gás natural foi tratado como um produto pouco atrativo pelas operadoras, que focavam petróleo. Essa situação vem mudando nos últimos anos com a ampliação do gás natural no consumo. Assim, a participação do gás natural no portfólio das operadoras passou a crescer. Esse processo caracterizou a chamada era do gás.

O primeiro drive da Era do Gás foi o rápido crescimento da oferta. O crescimento da oferta entre 2000 e 2013 foi bastante superior a do petróleo. Sendo que a maior parte do crescimento foi proveniente de países da OCDE, como EUA e Austrália.

Com o aumento da oferta dos EUA o preço despencou no país. Como nos demais mercados globais, Europa e Ásia, o preço do gás natural aumentou, os EUA passaram a experimentar uma vantagem competitiva nas indústrias que utilizam o combustível. Esse foi um determinante para a recuperação econômica dos EUA após a crise financeira.

Mesmo com a redução do preço do gás natural e do petróleo, mais recente, a produção ainda cresce. A redução do preço do petróleo tem grande impacto sobre a atratividade, já que os líquidos são um fator de viabilidade dos projetos. O número de poços perfurados se reduziu, mas isso foi compensado pela maior produtividade dos poços.

O aumento da oferta de gás natural recente impactou na ampliação do comércio internacional através de GNL, já que os gasodutos não experimentam expansão. Esse movimento deve se intensificar nos próximos anos, com a liderança da Austrália e dos EUA.

Outra característica da Era do Gás é a chamada competição gás-gás. A dinâmica de precificação deixa de ser atrelada ao preço do petróleo para ganhar determinantes próprios, definidos pelas condições de oferta e demanda com maior relevância dos mercados spot. Isso já é realidade na Europa, mas ainda não se concretizou na Ásia.

A perspectiva é que a Ásia continuará liderando o crescimento da demanda. Nos EUA, o gás natural ampliou sua participação na matriz de geração elétrica. A recuperação recente do preço spot do gás natural causou uma inflexão, mas as restrições ao uso de carvão pelo EPA podem favorecer o gás novamente.

O shale gas que revolucionou o mercado de gás natural nos EUA é observado em outros países. No entanto, é uma interrogação se essa dinâmica irá funcionar em outras partes do mundo. Isso envolve aspectos geológicos, institucionais e de infraestrutura. Os campos não apresentam as mesmas características de produtividade e conteúdo dos EUA. A institucionalidade americana ofereceu a flexibilidade necessária para que a produção crescesse rapidamente. E, talvez o aspecto mais importante, a disponibilidade de infraestrutura nos EUA (gasodutos e logística) permite que o gás natural de shale, com maior custo unitário que o convencional, experimente lucratividade mesmo com preços mais baixo. A IEA é otimista sobre oferta fora dos EUA. Esse otimismo funcionou para os EUA, mas é incerto se funcionara em outros lugares do mundo. As preocupações ambientais são chaves. Mesmo os EUA têm várias localidades que baniram o shale.

A Europa e a Ásia continuarão muito dependentes de importações. A evolução futura da demanda irá depender de políticas ambientais, principalmente através da substituição do carvão. O consumo de gás cresce tanto em caso de cenários mais ou menos otimistas para o meio ambiente.

A entrada dos EUA irá diminuir o preço do GNL no mundo. Mas, esse processo vai demorar. O primeiro projeto de exportação de GNL entra no ano que vem. Mas a entrada da maior parte ocorre em 2018 e 2019. Com a possibilidade de contar com outras fontes de suprimento, a Europa pode diminuir gastos com o gás importado da Rússia, mas a redução não deve ser relevante.

Até aqui, o custo de projetos GNL se elevou muito. Os projetos da Austrália, que experimentam custos muitos superiores aos orçados, puxaram os custos para cima. Com a entrada dos EUA e redução dos preços, alguns desses projetos vão enfrentar dificuldades.


Impactos Potenciais para o Brasil

A mudança do panorama internacional do petróleo e do Gás terá impactos muito relevantes para a indústria Brasileira de petróleo e de gás. A redução dos preços do petróleo, no curto prazo, e a maior volatilidade dos preços no médio e longo-prazos representam um grande desafio para os investimentos em petróleo no Brasil. O país precisa investir cerca de US$ 50 bilhões ao ano e o custo do petróleo nacional não é baixo. Esse desafio recai em grande parte sobre a Petrobras, que é a única operadora do pré-sal. Assim, é fundamental uma atenção redobrada sobre o fluxo de caixa da Petrobras para evitar uma deterioração rápida da capacidade de investimento da empresa.

O novo panorama mundial do petróleo e do gás requer uma nova discussão sobre a atratividade dos investimentos em E&P no Brasil. Vários países da América Latina, como México e a Argentina, vêm adotando medidas para atrair investimentos estrangeiros para a E&P. Esta postura mais pragmática dos países vizinhos implica maior competição pelos investimentos privados em E&P. Neste sentido, é oportuna uma discussão sobre as questões regulatórias que podem afetar a competitividade do E&P no Brasil como a política de conteúdo local, a política de preços dos derivados no país, a tributação sobre os investimentos e as rodadas de licitação.

Com relação ao gás natural, a situação brasileira é de elevada incerteza. Pelo lado da oferta, as expectativas de oferta de gás natural no pré-sal são menos favoráveis ao que se antecipava. Em 2019, o contrato de importação da Bolívia se encerra. A renovação do contrato depende das reservas bolivianas, cujas expectativas também não são favoráveis. Pelo lado da demanda, é evidente a necessidade de ampliar a geração termelétrica e a questão é a competição com o carvão. O menor preço de importação de GNL poderia dar mais competitividade para as térmicas a gás no leilão. No entanto, conforme a análise de Jason Bordoff, o preço do GNL não deve cair tanto para possibilitar a competitividade de térmicas na base de geração. Os preços atuais de US$ 17 a 19/MMBTU podem baixar para US$ 14/MMBTU, mas não para US$ 10/MMBTU.

Neste contexto, é fundamental uma discussão profunda da estratégia de oferta de gás natural para o setor termelétrico e para os outros segmentos da demanda. A incerteza quanto à oferta futura pode comprometer investimentos na indústria e na geração termelétrica, com impactos negativos para o desenvolvimento futuro do mercado de gás no país.