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domingo, 21 de junho de 2015

Banânia - uma nau de insensatos (e burros!...)



Por Márcio Sotelo Felippe, no Justificando

O vídeo ai de cima correu pelas redes sociais. Os manifestantes passam em frente à casa modesta que ostenta uma faixa de apoio à luta dos professores. Naquele momento estão esparsos, de modo que o vídeo capta a reação, um a um, dos bem nutridos vestindo camisas amarelas da CBF diante da faixa. Xingam, gritam, esbravejam e pouco falta para um pogrom para destruir a casa.

Contra que ou contra quem? Em uma sociedade absurdamente desigual, eles mostram o seu ódio, não contra os de cima, não, por exemplo, contra os especuladores da dívida pública que se apropriam de boa parte da renda nacional parasitariamente. O alvo do ódio, dos esgares de ressentimento, do choro e ranger de dentes é quem está embaixo na escala social ou econômica. Uma faixa de apoio à categoria dos educadores, essencial a qualquer sociedade, que até as pedras das ruas sabem que são maltratados e mal pagos, desencadeia uma pueril associação de ideias que expressa a pobreza do imaginário dessa gente: a esquerda é inimiga e a esquerda está no poder porque os debaixo votam na esquerda. Eles são superiores a essa gente que mora em casas simples, com uma fachada escrito em cima que é um lar, e devem suportar a presidenta que os inferiores elegem.

São os mesmos que nas redes sociais deixam frases como “tem que começar a exterminar essa raça”; “a solução é começar a matar”; “eu quero a cabeça dele. Pago em dólar”; “dá nojo olhar para esse safado. Morre camundongo da caatinga”; “porco sujo que deve ser largado no mato para ser comido vivo pelas onças”; “culpa foi não ter matado a Dilma”; “ a culpa é dos militares. Deveriam ter acabado com toda essa raça de bandidos na ditadura militar”.

Por que esse gente está tão furiosa? O fenômeno é mundial e aqui tem especificidades e cores próprias.

Thomas Pikety, autor de O Capital no século XXI, apontou em entrevista recente a perda patrimonial da classe média como foco de tensões sociais que pode explicar o crescimento da direita e do egoísmo social. Na década de 70, diz ele, esse grupo possuía até 30% do patrimônio total. Hoje está mais próximo de 25%, ao mesmo tempo em que aumenta a concentração de renda nas mãos dos 10% mais ricos. É o que, diz Pikety, pode levar a classe média para a extrema-direita: “quando não conseguimos resolver os problemas sociais de forma tranquila, a tentação é colocar a culpa no outro: trabalhadores, imigrantes, gregos preguiçosos, etc.”.

A análise de André Singer em Os sentidos do lulismo também nos fornece pistas, na mesma direção, para explicar esse cenário. O lulismo favoreceu, em uma ponta, o extrato mais baixo da escala social, o subproletariado, aumentando o seu poder de consumo; em outra ponta, permitiu ou consentiu com a acumulação pelo grande capital. Isto está de algum modo em harmonia com o que diz Pikety. Vemos que no lulismo a classe média não foi convidada para a festa. Ameaçada de perder seus privilégios sociais, extorquida pelos planos de saúde, mordida pelo leão dos tributos que leva mais de 1/3 de seus ganhos – considerando a taxação de sua renda e taxação pelo que consome – pagando escolas com preços abusivos para seus filhos, ela reage instintiva e brutalmente.

Então, não percebe que está sangrando porque não há investimento do Estado e não há investimento do Estado porque 45% do orçamento da União é apropriado pelos de cima por meio do mecanismo da dívida pública.

E nesse momento entrega-se aos instintos mais selvagens e corre para o fascismo. É o que vemos no vídeo: o seu “inimigo” social não é o tubarão que se apropria de recursos gerados por toda a sociedade, mas aquele que mora na casa humilde e coloca na fachada uma faixa de apoio aos mal pagos professores; o “inimigo” é o miserável que é miserável porque é incompetente, não tem mérito e recebe dinheiro do Estado; o inimigo é o haitiano que vem roubar empregos dos brasileiros.

A nau dos insensatos é uma alegoria renascentista que representa a existência humana como um barco que conduz tolos que não sabem de onde vem, para onde vão e não conseguem dar um mínimo de racionalidade a suas vidas. O quadro de Bosch que tem esse nome mostra em primeiro plano duas figuras apalermadas tentando abocanhar um alimento sem perceber que ele vai ser subtraído por ladrões. A alegoria é perfeita para essa estulta classe média que não sabe por onde e por quem está sendo lesada.

A alegoria expressa alguns séculos antes a ideia iluminista de que o mal social decorre da desrazão, do não pensar. No opúsculo O que é o Esclarecimento, (Aufklärung) Kant dizia que o Iluminismo era a saída do homem da menoridade que consiste em não fazer uso do próprio entendimento e deixar-se tutelar. Se lembrarmos que o nazismo galvanizou parte da sociedade alemã afirmando que havia uma conspiração internacional entre as altas finanças controladas pelos judeus e o bolchevismo para dominar o mundo temos a exata dimensão do sentido da afirmação de Kant e do quão longe estamos, mais de dois séculos depois, do ideal iluminista de uma sociedade que se organiza e se conduz por juízos racionais.

Ausência de juízos racionais e fascismo estão sempre associados. Um não vive sem o outro. Não à toa um general franquista, às vésperas da guerra civil espanhola, tentou impedir, em uma cerimônia pública, que o filósofo Unamuno falasse bradando “abaixo a inteligência, viva a morte”.

Abaixo a inteligência, viva a morte é o que move fautores de políticas regressivas, autoritárias, de respostas instintivas, desprovidas de mínima racionalidade. Quando uma parte da sociedade se move para a direita, as consequências sociais são amplas. Não se limitam a aspectos econômicos. Elas se espraiam pelo direito, pela cultura, pelos costumes, pelo clima geral de intolerância que vai tomando a sociedade como uma onda. A insana proposta de redução da maioridade penal é uma boa amostra disto.

Quando bem nutridos manifestantes ensaiam um pogrom contra uma casa humilde vemos que o caldo de cultura do fascismo está pronto e que arriscamos singrar mares embarcados na nau dos insensatos.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

A gangue dos Chapeleiros Malucos - você ainda vai morrer por causa deles



por Joe Clifford, no World News Daily 

tradução para o vernáculo tupinambá por Beto Pires Silveira, pescada no ótimo blog do Castor Filho



A menos que os norte americanos comecem a prestar atenção à própria política externa e às decisões insanas que estão sendo tomadas, serão todos aniquilados. Em primeiro lugar, um pequeno estudo da situação totalmente irracional à qual as decisões dos chefões acabaram por nos levar e depois uma visão de como nossa vida está sendo colocada em risco por idiotas e dementes.

Uma pequena síntese das atuais posições dos Estados Unidos no Oriente Médio é muito simples de entender e seguir, facilmente compreensível. Tente. Estamos aliados com nosso inimigo declarado [NOTA DOS ÍNDIOS DESTE BLOGO: o autor é norte americano, portanto se refere aos EUA na 2ª pessoa, como "nós"], o Irã, contra o Estado Islâmico, o qual cresceu através do caos que nós mesmos criamos com a invasão anterior do Iraque, que, todos sabem, foi baseada em mentiras. Estamos também tentando derrubar o Presidente Assad na Síria, onde lutamos ombro a ombro com grupos de jihadistas financiados pela Arábia Saudita, à qual apoiamos contra os Houtis no Iêmen. A comunidade Houti é a mais ferrenha inimiga da Al Qaeda – que preparou e executou o incidente de 9/11 – enquanto isso, nosso melhor amigo, Israel, está aos beijos e abraços com a Al Qaeda na Síria, e nosso outro melhor amigo, a Turquia, está ajudando o Estado Islâmico. Está seguindo? Não parece o “samba do crioulo doido”?

Nos dias atuais podemos ver que o Iraque se tornou um desastre perfeito, por causa de vinte e cinco anos da política brutal de sanções absurdas impostas pelos Estados Unidos. A guerra seguiu as sanções através de uma invasão do território do Iraque e bombardeio contínuo até hoje. O país desceu até os portões do inferno só porque os Estados Unidos decidiram que o que o Iraque necessitava era de mais armas. Estamos, portanto, mandando mais armas para o Iraque, as quais serão usadas contra as armas que já tínhamos enviado para lá. Bem inteligente, é ou não é?

Pensa que está ruim? Então comece a pensar nos nossos “inimigos nº 1” adicionais e nos povos que colocamos hodiernamente em nossas listas de extermínio. Para complementar a luta que travamos contra a Al Qaeda e o Estado Islâmico enquanto tentamos derrubar Assad na Síria, ao mesmo tempo estamos de olho no Hamas e no Hezbollah, ambos inimigos de Israel, mas que representam mais um parzinho de guerras para nós. Ah! Não podemos esquecer dos 13 (treze!) anos da Guerra ainda em andamento no Afeganistão que começou supostamente para capturar os apoiadores de Bin Laden, e se tornou uma espécie de cruzada para derrotar o Talibã, grande grupo que por sua vez tenta destronar o governo fantoche instalado pelos Estados Unidos no Afeganistão.

Nesse meio tempo, enquanto continuamos a bombardear o Iraque, o Estado Islâmico está presente em virtualmente todo o Oriente Médio, Assad ainda está governando a Síria e o Talibã está resistindo muito bem no Afeganistão. Mas os idiotas que decidem dizem que temos que lutar também contra o Boko Haram na Nigéria e contra os Houtis no Iêmen, sob ataque de mais um de nossos melhores amigos, a Arábia Saudita, mesmo sabendo que os Houtis são inimigos figadais da Al Qaeda. Assim, ao ajudar a Arábia Saudita contra os Houtis, estamos na verdade ajudando a Al Qaeda no Iêmen. Está entendendo até aqui??

Para acompanhar tudo isso, fizemos um acordo na última semana, através do qual daremos a Israel dois bilhões de dólares adicionais em armas, que serão usadas, penso eu, ou contra palestinos em uma guerra qualquer no futuro ou contra o Irã. Aliás, Israel não faz outra coisa a não ser pedir aos EUA que ataquem o Irã.

Atualmente, estamos apoiando o mais novo ditador sangrento do Egito com 1,3 bilhões (ou mais) de dólares em armamento. Ora, antes, apoiamos o ditador Mubarak por 30 anos... Ele finalmente caiu, na sequência de uma eleição democrática na qual o Sr. Morsi foi eleito. Mas não ficou assim. Em seguida, Morsi foi também derrubado por outro ditador, ao qual agora estamos apoiando. O atual ditador acaba de sentenciar o antigo líder democraticamente eleito, Sr. Morsi, à morte. Mas esse ditador é gente nossa, então fornecemos a ele armas e suprimentos militares para que se mantenha no poder, e olhamos para o lado quando um líder democraticamente eleito é sentenciado à morte. Entendeu?

Toda essa morte e destruição foi desencadeada após o incidente de 9/11. Os noecons nos MENTIRAM friamente e o público foi fisgado pelas MENTIRAS e pelo apoio que a IMPRENSA deu à malversação dos fatos como um peixe pelo anzol. A IMPRENSA, como sempre, nada mais fez que papaguear as MENTIRAS inventadas por Washington sobre armas de destruição em massa que nunca existiram no Iraque. O Iraque também foi falsamente acusado em relação aos fatos de 9/11. Essas MENTIRAS causaram a morte de milhões de pessoas. Sim, MILHÕES DE PESSOAS, mortas pelos ataques dos Estados Unidos desde 9/11.

Muito bem, as coisas estão meio confusas até agora, então vou fornecer uma informação crucial que ajudará a esclarecer a situação. Quantas nações os Estados Unidos bombardearam desde 9/11? Vou dar uma pista, já que é muito fácil perder a conta... Quatorze (14)!

Bem. Todas essas podem ser consideradas guerras menores, relativamente falando, mas no atual estágio, Alice e sua gangue dos chapeleiros loucos estão arquitetando duas guerras gigantescas.

As decisões dos loucos estão colocando tanto China quanto Rússia em uma camisa de onze varas da qual não existe escapatória. Tanto Rússia quanto China estão sendo provocadas pelos Estados Unidos dentro de seu próprio quintal.

A OTAN acaba de completar recentemente seus “jogos de guerra” ao lado da fronteira russa. Que tal isso como provocação? Ou estupidez? Pois a provocação contra a Rússia segue, porque nós a estamos acusando de “interferência” em relação a seu vizinho do lado, a Ucrânia; mas fomos nós, através da membro da Gangue, Victoria Nuland, que orquestramos a derrubada de um líder democraticamente eleito na Ucrânia só porque era pró Rússia. Foi quando a “senhora” Nuland disse com todas as letras: “foda-se a União Europeia”, quando esta não agiu tão rápido quanto ela queria no apoio rasteiro ao golpe de estado.

Enquanto isso, estamos mandando tropas para todos os Estados Balcânicos, mesmo ao lado da Rússia, e estamos também forçando para colocar bases de mísseis no entorno da Rússia, mas são os russos, temos dito, que estão insanamente provocando e totalmente em pecado por sua “interferência” no seu vizinho do lado. Você consegue entender?

Temos tropas a 8000 quilômetros de casa, no quintal da Rússia e a estamos cercando de mísseis. Você deve lembrar ou pelo menos deve ter lido sobre a Crise dos Mísseis de Cuba, um evento que quase levou a uma guerra nuclear total, quando a Rússia tentou instalar mísseis a 160 quilômetros da Florida. Sei...

Agora, Alice e sua Gangue dos Chapeleiros Loucos dizem que a China está “interferindo” e incomodando a gente, assim estamos provocando a China. Você pode perguntar: e como eles estão “interferindo”? No “Mar do Sul da China”! Veja só, no “Mar do Sul DA CHINA”! Pois então, na última semana mandamos aviões de espionagem para um lugar que a China considera como seu território, ilhas no Mar do Sul da China. Ali, tais aviões foram repetidamente instados pela China a sair, ou então... Quase se foi às vias de fato.

A China classificou a invasão dos Estados Unidos como “provocativa” e chamou Washington às falas para que se torne um pouco mais “racional”. Infelizmente, os tomadores de decisões nos Estados Unidos não são racionais. São doidos, e enquanto promovem guerras ao redor do mundo inteiro, estão agora colocando a Rússia e a China em um beco sem saída. Todos sabemos o que acontece quando se encurrala alguém.

Milhões podem perecer a menos que você se interesse pelo que estão fazendo esses imbecis, esses dementes safados. Trata-se da sua própria vida. Preste atenção. A coisa está saindo totalmente do controle.

Não é por menos que uma pesquisa levada a efeito em 65 países apontou os Estados Unidos como a maior ameaça atual à paz mundial.



 . 

A Marcha para Jesus e a faxina ética evangélica



por Fábio de Oliveira Ribeiro, no blog do Nassif



Ontem os evangélicos fizeram sua tradicional Marcha para Jesus. Para os fiéis o evento é apenas religioso. Para os pastores apenas uma oportunidade para demonstrar sua força política. Por isto, este ano eles pregaram uma “faxina ética” no país.


Não sou evangélico e, ao que me conste, nenhum evangélico tem direito de faxinar minha casa, minha vida ou minha consciência. Além disto, se esta minoria tentar faxinar o meu país serei obrigado a resistir. Defenderei com todas minhas forças, com minha vida se necessário for, as garantias políticas que me são atribuídas pela CF/88, dentre as quais a liberdade de consciência e, principalmente, a impossibilidade de ser obrigado a contribuir para sustentar pastores falastrões que compram mansões, carrões, barcos e jatinhos com o dinheiro dos fiéis.

A intolerância dos evangélicos é irritante. Eles querem fazer uma “faxina ética” no Brasil. A mim me parece que eles só tem legitimidade para fazer faxina nos templos deles. Na verdade se eles fizessem isto o Brasil certamente seria um lugar mais civilizado, pois homens como Eduardo Cunha não teriam chegado onde ele chegou e o pastor Malafaia não ficaria espalhando ódio como se o ódio tivesse sido ensinado por Jesus.

Não consigo ver este tipo de notícia sem esboçar alguma reação. Em razão disto resolvi publicar algumas provocações no Twitter que reproduzo aqui:

Marcha para Jesus exige faxina ética no país. Se politizarem demais sua intolerante religião os evangélicos serão tratados como terroristas?

Marcha para Jesus exige faxina ética no país. Evangélicos são contra o a favor do financiamento privado dos partidos políticos?

Marcha para Jesus exige faxina ética no país. Evangélicos pretendem parar de comprar carros, casas, jatos e barcos com dinheiro dos fiéis?

Marcha para Jesus exige faxina ética no país. Evangélicos deixarão de usar empresas de fachada para lavar ou desviar o dinheiro do dízimo?

Marcha para Jesus exige faxina ética no país. Os evangélicos pagarão a São Paulo o imposto que sonegaram ao construir o Tempo de Salomão?

Marcha para Jesus exige faxina ética no país. Evangélicos esfregarão o @PastorMalafaia para ele aceitar denúncias contra pastores ladrões?

Marcha para Jesus exige faxina ética no país. Os evangélicos começarão a limpeza jogando o presidente da @CamaraDeputados na lata do lixo?

Marcha para Jesus exige faxina ética no país. Os evangélicos lavarão respeitosamente os terreiros de umbanda que violentamente atacaram?

Marcha para Jesus exige faxina ética no país. Os evangélicos restaurarão amorosamente as estátuas católicas que acintosamente destruíram?

quinta-feira, 4 de junho de 2015

De como se pretende enterrar este Bananal de infelicidade sem fim



por Ion de Andrade, no blog do Nassif


A compra da Delta de Eduardo Cavendish pela Essentium espanhola por 450 milhões de reais encerra, no plano das consequências que gerou, uma primeira grande fase da Operação Lava Jato e permite enxergar o cenário do que produziu em sua totalidade.

Não vamos tecer, neste artigo, comentários sobre as intenções do Dr. Moro e do Ministério Público que atuam em equipe, mas dos resultados e significados, não no combate à corrupção, que já premiou o referido magistrado como personalidade do ano pela Rede Globo, mas nos resultados referentes à geopolítica atual considerando o Petróleo como bem estratégico, a mudança do eixo de poder mundial com os BRICS e os desdobramentos para o futuro do Brasil que são extraordinários e estão em risco.

Metodologicamente tentaremos enxergar nos resultados produzidos pela Operação Lava Jato, decorrentes dos seus controvertidos métodos que emprestaram significado político à Operação, a oportunidade para a atuação de forças contrárias ao Brasil a que denominaremos de Direita.

Senão, vejamos:

Durante um certo tempo muitos de nós acreditávamos que a Operação Lava Jato pretendia a derrubada do governo Dilma.

Após todos esses meses podemos concluir que a intenção que enxergávamos nunca foi essa. A Direita visou produzir como efeito colateral da Operação a desmoralização do governo. Buscou retirar-lhe a altivez e a desenvoltura, com o fito de torná-lo tímido e incapaz de levar adiante a sua missão estratégica, que diz respeito não somente ao Brasil mas também à construção da unidade latino-americana e a de sustentação de uma nova ordem internacional. Desnecessitando do golpe paraguaio produziu uma muito mais vantajosa mexicanização do governo. O governo sucumbiu tornando-se fraco e sem tônus.

A tentativa de golpe paraguaio poderia ter produzido efeito oposto fazendo emergir um governo mais forte e depurado, a derrubada do governo poderia dar lugar a um protagonismo militar que tampouco interessaria a essa direita ligada aos gringos. Seria uma preocupação nova no velho quintal... O medo do golpe, sim, foi usado, como mais um fator para instabilizar a política com o fantasma da derrocada da democracia.

Assim em primeiro lugar a Direita produziu um governo passivo perante a cena estratégica interna e externa, castrado quimicamente. Não o golpe paraguaio, mas a mexicanização do governo.

O outro alvo da direita tocou especificamente à questão estratégica do Petróleo. O objetivo aí só foi atingido parcialmente. O propósito era desmoralizar a Petrobrás ao ponto de torná-la alvo fácil ao desmembramento e à privatização, que chegaram a ser propostos, e de, numa mesma tacada, levar à falência as empresas nacionais pesadas detentoras de tecnologia, organização e experiência internacional, elementos cruciais para o exercício pleno da soberania de qualquer país.

A compra da Delta pela Essentium faz parte do lado negro desse cenário de desdentar o Brasil para os enfrentamentos estratégicos.

Se vierem os acordos de leniência e se as demais empresas resistirem os resultados terão sido minimizados. A Petrobrás ao que parece conseguiu emergir desse mar de sangue.

Então em segundo lugar, além de um governo fraco a Direita visou também produzir um país fraco, débil, incapaz economicamente de ficar de pé e despido de autonomia no setor do Petróleo, que começa a construir um Brasil novo.

O terceiro elemento tocou ao uso político pela Direita das prisões sistemáticas de empresários e políticos de forma explícita e sob humilhação pública, com ênfase para grandes empresários nacionais e personalidades nacionais do PT. Vejam bem, o que representam esses dois polos aparentemente distantes?

Vou explicar: O maior receio dos nossos irmãos do norte e da Direita que os representa aqui é que o Brasil se converta numa nova China. E o que é a China? Um país onde as grandes empresas prosperam e crescem por meio de vultosas e gigantescas encomendas estatais. O PAC é o primeiro ensaio desse modelo. Coincidentemente as empresas da Lava Jato são precisamente aquelas que poderiam permitir ao Brasil, de forma autônoma, alcançar dinâmica produtiva similar à da China. Mas o Brasil não é a China. Se esse modelo vitorioso pudesse ser implantado no Brasil isto estaria ocorrendo numa democracia de modelo ocidental. Estaríamos unindo o melhor do modelo asiático no plano econômico com o melhor do ocidente no plano político, orientando-nos aliás rumo a um Estado Social.

O terceiro elemento, portanto, é o de impedir ao Brasil o futuro extraordinário que ainda está em nossas mãos e que teria, caso se implantasse, gigantesco poder de influência no hemisfério ocidental e capacidade imensa de converter o nosso frágil Estado Social noutro muito mais pujante e comparável aos das mais avançadas democracia sociais da Europa em relativamente curto espaço de tempo.

Finalmente o quarto elemento é a emergência dos BRICS que mudam a geografia política e econômica do planeta.

O Banco dos BRICS é ameaça real às instituições de Bretton Woods, com ele inicia-se um novo ciclo econômico de caráter mundial e, pela primeira vez, para além da influência ocidental.

Enxergamos agora o que os nossos inimigos querem para nós: um governo fraco, um país anêmico e desdentado, uma economia caótica e desordenada onde o Estado e o grande empresariado não dialogam e não conseguem desenvolver sinergia para o desenvolvimento exponencial que pressentimos como possível e finalmente a quebra dos BRICS pela perda do Brasil.

É bom termos muita clareza disso tudo. É mostrando isso aos brasileiros que os entreguistas serão derrotados nas eleições que se aproximam.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

O Haiti é... lá!... Aqui é... cá!...



por Túlio Milman, no Zero Hora (ai, ai, ai...) e reproduzido no IHU (de onde pesquei)



É estarrecedor. Netos e bisnetos de imigrantes torcendo o nariz para a imigração haitiana. Ainda mais no Brasil. Ainda mais no Rio Grande do Sul. Durante a semana, ao apoiar o acolhimento aos caribenhos, ouvi de tudo. “Ignorante, mal-informado, mal-intencionado.” Senti vergonha de ler o que li e de ouvir o que ouvi. Não por mim. Estou acostumado às críticas. Senti vergonha pelo passado. Talvez porque conheça bem duas histórias.

A primeira é do Haiti contemporâneo. Estive lá duas vezes na condição de jornalista. Em 1995, pensei: “Impossível piorar”. Quando voltei, em 2009, vi que eu estava errado assim que desembarquei em Porto Príncipe.

A segunda história que conheço bem é a da minha família – a mesma das famílias de milhões de gaúchos. Imigrantes miseráveis, sem dinheiro e cheios de esperança que cruzaram o mar e o mundo em busca de uma nova vida. Aqui chegaram, aqui foram acolhidos, aqui viraram iguais aos outros e iguais entre si.

Os tempos eram outros, argumentam. Sim, eram outros. Mas os dramas e a essência das pessoas são os mesmos. É o ângulo pelo qual enxergo a questão. O direito à liberdade é o mesmo. O sonho é o mesmo.

Quando os europeus chegaram, faltava mão de obra. Hoje, sobra. Mesmo assim, é impossível que um país tão grande não consiga organizar esse novo fluxo imigratório.

Criar incentivos para a colonização de áreas menos habitadas, estimular o preenchimento de vagas em locais onde elas estão disponíveis.

Há uma outra questão camuflada nesse debate. Camuflada, mas fundamental. O racismo. Se os novos imigrantes que chegam ao Brasil e ao Rio Grande fossem loiros de olhos claros, a celeuma seria bem menor. Mas são negros, são pobres, são sós. Têm nomes estranhos e falam uma língua estranha, o creole.

Outro dia, fui abastecer meu carro em um posto de Porto Alegre. A frentista era haitiana. Orgulhosa por estar trabalhando. Vi o brilho no olho dela. Me lembrei dos meus avós. E saí me perguntando como seres humanos podem esquecer tão rapidamente das suas próprias trajetórias.

O Haiti não é aqui.

Aqui é o Brasil.

Não temos o direito de negar a essa gente as oportunidades que nossas famílias tiveram em um passado não tão distante. Nem que tenhamos que nos sacrificar um pouco mais para isso.