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sexta-feira, 30 de abril de 2010

Matando o Licenciamento Ambiental


em O Globo (quem diria..., neste blog)

artigo do leitor Salvador Correia de Sá e Benevides – engenheiro florestal

Incomoda-me a persistência das acusações que a sociedade vem fazendo, através de seus políticos, empresários e formadores de opinião, contra o licenciamento ambiental e mesmo a toda política ambiental, como de atravancar o progresso do país e de nos submetermos a interesses estrangeiros.

Para inicio de conversa, a política ambiental vai mal sim. Afinal de contas, assim como a educação, a segurança e a saúde, ela é produto da postura da própria sociedade, e são exatamente os acusadores os principais responsáveis por fazer da política ambiental mais um caso "para inglês ver", gente que tem todas as condições para fazer as coisas certas, mas não faz.

A defesa do uso racional dos recursos naturais e humanos e o desejo de preservar a biodiversidade e cenários que nos encantam são velhas demandas brasileiras. A mais ilustre voz foi José Bonifácio, que muitos brasileiros nem sabem quem foi. Ainda hoje, são escassos os meios para se projetar e executar a política ambiental. Resultado disso é, por exemplo, a transferência ao empreendedor do ônus de se estudar a área visada e elaborar relatórios de impacto ambiental, obviamente medíocres e tendenciosos.

O licenciamento ambiental vai mal porque ainda hoje falta conhecimento da realidade ambiental brasileira, faltam pesquisas, divulgação, organização de trabalhos, de dados etc. Vai mal porque falta pessoal capacitado, enquanto sobra improviso e má gestão do recurso humano. Vai mal porque o Estado brasileiro persiste no excesso burocrático como arma inútil contra abusos e para proteger incompetentes com poder de decisão. Vai mal porque os próprios requerentes de licenças trabalham mal, deixam passar prazos, fazem projetos ruins etc. Vai mal porque quem manda nos órgãos públicos são os políticos, representantes de uma sociedade alienada e oportunista, e que estão sempre dispostos a subverter a máquina pública em favor de seus amigos.

O político é, normalmente, o cara que se especializou em explorar demandas de pessoas e empresas, usando disso como escada para o poder. Normalmente, não entende do funcionamento da máquina pública, muito menos da missão do órgão ou setor dado a ele como parte da jogatina do poder, mas sabe pintar de verde o urubu para vendê-lo como papagaio a essa sociedade já definida. Uma vez lá dentro, ele precisa de funcionários interessados em satisfazer sua vontade (e em protegê-lo) em troca de cargos, facilidades e outros privilégios - é assim que, normalmente, nascem os funcionários de carreira, que ascendem justamente por cumprir essa missão, geralmente infame, porque envolve pressões contra funcionários sérios, acobertamento de corrupção e outros desvios, chute nas prioridades reais para favorecer projetos eleitoreiros e, enfim, a transformação do licenciamento em mero exercício burocrático.

Esse malfeitor eleito precisa de uma curriola de funcionários para embasar seus atos. Sem eles, ele não é nada, nada faz. E é no seu gabinete, sigiloso, que ele tratará dos casos específicos, dos requerimentos de licença valiosos, nesta hora entrando às vezes a criação de dificuldades para vender facilidades. E aí está o ápice da perversão: quanto mais sério o julgamento técnico contrário ao projeto, mais alta será a propina cobrada pelo supremo senhor para que este encontre um caminho liberador...

Contra a situação ruim do licenciamento e sem denunciar os motivos e os responsáveis, os acusadores pedem agilização. Chega de burocracia e de radicalismo! O político atende simplesmente dando corda para os radicais se enrolarem (e, se possível, se enforcarem) e pedindo empenho aos carreiristas para que sustentem o atropelamento das leis e da moral públicas. A seriedade vai para o espaço porque, como sempre, não há tempo para ficar-se discutindo falta de pessoal, de pesquisas, de equipamentos etc. A agilização do licenciamento é um termo bonito para esculhambação criminosa.

A Justiça assiste a tudo isso como sempre assistiu a tudo, os meios de comunicação permanecem na sua habitual superficialidade conveniente e os parlamentos continuam como balcão de negócios. E todos, no final das contas, mostram-se muito preocupados com o aquecimento global...

Comentário botocudo:

Concordo na maioria dos pontos com o autor, por isso defendo hoje a municipalização do licenciamento, mesmo que se incorra em certos perigos de também se ficar na dependência de benevolência política à maneira dos probelmas descritos no artigo, ficam mais fáceis de contornar se forem a nível local.

A guerra Apple/Jobs x Adobe/Flash


Por Robson França, no blog do Nassif


O Flash é o “Sarney” da vez. Todo mundo sempre soube dos problemas dele:

- pesado e consumidor compulsivo de recursos;

- complicado para desenvolvedores (embora tenha melhorado bastante nas últimas versões);

- funciona por meio de um plugin que dá pau na maioria dos navegadores e configurações de hardware;

- se mal empregado pode deixar um site poluído e enfadonho.


Quando vi a carta do Steve Jobs, pensei comigo mesmo: “descobriu a América; só agora ele percebeu isso?”. Pior ainda: agora todo mundo critica o Flash porque o “Santo Jobs” falou.

A maioria dos desenvolvedores e “designers” web sabem de todos os problemas do Flash, mas continuam usando-o. Masoquismo? Não, o buraco é mais embaixo:


1) Jobs cita os “padrões” web como se o uso de padrões abertos fosse norma na Apple desde sempre. Antes do uso de processadores Intel na plataforma Apple, tudo seguia apenas os padrões Apple: conectores, periféricos e até mesmo protocolos de rede! Com a maior integração com os PC’s baseados em Intel e Windows, a Apple teve que ceder aos poucos até chegar a um certo grau de compatibilidade com dispositivos não-Apple. Mesmo assim, ela faz questão de vender adaptadores dos padrões do mundo exterior com os produtos dela;

2) Ainda em relação aos padrões web, tem algo de estranho aí. HTML5 vai ser consolidado (como o HTML 4 é atualmente) apenas entre 2012 e 2022. Coisas simples como a tag video ainda estão criando muita polêmica. Alguns navegadores (Safari, Chrome) estão utilizando “codecs” proprietários, limitando o uso de vídeos para algumas plataformas. Por sua vez, o Firefox está adotando o padrão aberto Ogg Theora para vídeos. E nem entrei em outros “padrões” que ninguém suporta plenamente, como SVG, CSS3 e ECMAScript. Ademais, para o desenvolvedor Flash migrar para essa nova realidade ele precisaria trabalhar com, pelo menos, 4 tecnologias diferentes (HTML5 + SVG + CSS3 + Javascript) que não estão totalmente consolidadas. Um web designer iria “pastar” muito para criar algo minimamente decente usando essas tecnologias, com o risco de funcionar em poucos ambientes. Não que o Flash seja uma panacéia, mas nesse quesito ele é bem mais interessante do que todas essas tecnologias juntas, pelo menos por enquanto;

3) Algumas das aplicações mais rentáveis dos últimos anos rodando na Web foram feitas em Flash: FarmVille e Mafia Wars, dentre tantos outros que rodam em sites de relacionamento como Facebook e Orkut, faturaram centenas de milhões de dólares. Jobs (e a Apple de um modo geral) não gostam quando alguém usa um produto deles para ter acesso a esses serviços e, oh o horror!, gastar seu rico dinheirinho nesses serviços, que não dão um centavo à empresa de Cupertino;

4) “É a exclusividade, estúpido!”, parafraseando Bill Clinton: a Apple quer que você desenvolva nas plataformas deles usando apenas as ferramentas fornecidas por eles, forçando o desenvolvedor a criar uma versão praticamente exclusiva de determinados aplicativos para a plataforma Apple. Isso é bom para Apple à curto prazo, pois as aplicações tendem a aproveitar melhor os recursos do ambiente Apple. Por outro lado, sob o ponto de vista de mercado à médio e longo prazo, isso pode ser muito ruim. Basta ver a enormidade de “aplicações” de flatulências disponíveis na Apple App Store.

Concluíndo: Jobs descobriu a América. Flash tem muitos problemas e é realmente obsoleto em alguns pontos. Entretanto, é uma ferramenta ainda muito utilizada e, por mais que Jobs odeia admitir isso, dá muito dinheiro para aqueles que souberem usar bem a ferramenta.

Encontrado robô soviético perdido na Lua há 40 anos


Os robôs soviéticos Lunokhod 1 e 2 mediam 2,3 metros de comprimento por 1,5 metro de altura. Os dois levavam uma carga extremamente preciosa para os cientistas: um refletor de laser que é um elemento essencial para pesquisas sobre a Teoria da Relatividade de Einstein.[Imagem: UCSD]

do Site Inovação Tecnológica

Lunokhod e seu refletor

Uma equipe de físicos e astrônomos localizou o robô soviético Lunokhod 1, enviado para a Lua na missão Luna 17, da extinta União Soviética, há mais de 40 anos.

Várias equipes de cientistas ao redor do mundo rastrearam o robô inúmeras vezes, interessados em uma carga extremamente preciosa que ele levava a bordo, um refletor de laser que é um elemento essencial para pesquisas sobre a Teoria da Relatividade de Einstein.

A sonda Luna 17 pousou na Lua no dia 17 de Novembro de 1970, liberando o Lunokhod 1, que fez suas pesquisas até o dia 14 de Setembro de 1971, quando os cientistas soviéticos perderam contato com ele.

Perdido na Lua

Nenhuma das equipes teve sucesso em localizar o robô e seu refletor, e a maioria dos cientistas havia desistido de encontrar o Lunokhod 1. Menos a equipe do Dr. Tom Murphy, da Universidade da Califórnia, em San Diego.

Suas expectativas aumentaram quando a sonda LRO, da NASA, começou a enviar imagens de alta resolução da Lua, que permitiram visualizar os restos da missão Apollo.

O Lunokhod 1 foi localizado em uma das imagens como um pequeno ponto iluminado, a quilômetros de distância de onde os cientistas procuravam, com base em cálculos que levavam em conta o local de pouso da Luna 17 e os registros dos últimos sinais de rádio enviados pelo robô.

"Acontece que estávamos procurando cerca de uma milha da posição real do robô," disse Murphy. "Nós conseguíamos varrer apenas uma região do tamanho de um campo de futebol de cada vez. As imagens recentes da LRO, juntamente com a altimetria laser da superfície, nos deram coordenadas com precisão de 100 metros. Então tivemos que esperar apenas até termos o telescópio em boas condições de observação."

Os cientistas procuram por desvios na teoria da relatividade geral de Einstein medindo o formato da órbita lunar com uma precisão de um milímetro.

Isto é feito medindo o tempo que leva para que a luz de um laser disparado da superfície da Terra reflita-se em refletores ópticos deixados na Lua pelos astronautas da missão Apollo.

A temporização precisa da reflexão do laser permite o cálculo da distância e o desenho da órbita da Lua com grande precisão. "Nós utilizamos os três refletores instalados na Lua pelas missões Apollo 11, 14 e 15," explica Murphy, "e, ocasionalmente, o refletor a bordo do robô soviético Lunokhod 2, embora ele não funcione bem o suficiente quando está iluminado pela luz solar."

Centro da Lua

Mas há grandes vantagens em contar com um quinto refletor, e é por isso que a busca pelo Lunokhod 1 ocupou tantos cientistas ao longo dos últimos 40 anos. São necessários três refletores para determinar a orientação da lua. Um quarto acrescenta informações sobre a distorção imposta pelas marés, e um quinto daria informações precisas sobre o ponto no espaço equivalente ao centro da Lua.

"O Lunokhod 1, devido à sua localização, alavancaria a compreensão do núcleo líquido da Lua, e nos daria uma estimativa precisa da posição do centro da Lua, que é de suma importância para mapear sua órbita e testar a teoria da gravidade de Einstein," explica Murphy.

As primeiras observações permitiram determinar a posição do refletor com precisão de um centímetro. Os cientistas esperam melhorar essas medições ao longo dos próximos meses, para dar a precisão necessária aos estudos da teoria da relatividade.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

O Irã, o Brasil e “a bomba”


30/4/2010, Pepe Escobar, “The Roving Eye”, Asia Times Online


tradução de Caia Fittipaldi

O ministro das Relações Exteriores do Brasil Celso Amorim foi tão polido quando preciso e claro, em conferência conjunta de imprensa, ao lado de seu contraparte Manouchehr Mottaki em Teerã nessa 5ª.-feira. Amorim disse que “o Brasil está interessado em participar de uma solução apropriada para a questão nuclear iraniana.”

“Apropriada” é palavra em código para “dialogada” – não uma quarta rodada de sanções lançada pelo Conselho de Segurança da ONU, muito menos a opção militar, que o governo Barack Obama insiste, com estridência, em manter à mesa. Assim, ao posicionar-se como um mediador em busca de solução pacífica, o governo brasileiro põe-se em rota de colisão “soft” com o governo Obama.

O presidente Luiz Inacio Lula da Silva do Brasil estará em visita a Teerã, mês que vem. Aos olhos dos falcões do “pleno espectro de dominação” nos EUA, é anátema. Tanto quanto para a ‘mídia’ ocidental de direita, veículos brasileiros inclusos, que não se cansam de martelar Lula, non-stop, por sua iniciativa de política exterior.

Pouca diferença faz que, mais uma vez, Amorim tenha repetido, com destaque, que absolutamente não há consenso na chamada “comunidade internacional” quanto a isolar Teerã. “Comunidade”, mais uma vez nesse caso significa Washington e uns poucos países europeus. O Sul global vota pelo diálogo. O Movimento dos Não-alinhados [ing. Non-Aligned Movement (NAM)] é unanimemente contrário a mais sanções. O Grupo dos 172 (todos os países exceto o Grupo dos 20) é também contra mais sanções.

O Brasil e a Turquia, ambos contrários a novas sanções, ocupam atualmente lugares não-permanentes no Conselho de Segurança da ONU. A posição de ambos é idêntica, em essência, à de China e Rússia – que são membros permanentes do Conselho de Segurança. A tática russa de nada deixar transpirar, e a da China, que concordou com “discutir” pacotes de sanções, têm sido distorcidas e mal interpretadas pela mídia corporativa e vendidas como se esses países estivessem aceitando as exigências de Washington.

Não aceitaram. No encontro dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) em Brasília, há menos de duas semanas, esses países mais uma vez definiram que a ‘solução’ de novas sanções não é solução, e repetiram que toda a questão deve ser decidida pela Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA).

Em Teerã, Mottaki e Amorim também discutiram a proposta iraniana de troca de combustível nucelar, como “medida para construir confiança” que beneficiaria o Irã, em relação a Washington e capitais europeias. O Brasil ofereceu-se para enriquecer urânio para o Irã.

O problema é que a nova rodada de sanções está sendo discutida em New York exclusivamente entre os cinco membros permanentes mais a Alemanha – e só depois dessa fase a discussão será aberta aos membros não permanentes, como Brasil, Turquia e Líbano, que mês que vem assumirá o assento rotativo do Conselho de Segurança.

O xis da questão

Cada ator tem suas próprias razões para opor-se às sanções. Moscou – que já fornece ao Irã tecnologia de reatores nucleares, além de armas –, sabe que, mais cedo ou mais tarde Washington terá de aceitar o óbvio; que o Irão, produtor chave de energia, é uma potência regional natural. Para Pequim, o Irã é assunto de segurança nacional energética; mais sanções põem sob risco a estabilidade regional e caem na categoria de delírios-desejos da secretária de Estado Hillary Clinton.

Nova Delhi dificilmente não terá visto, até agora, que, no Afeganistão, Washington embarcou em aliança sem volta com Islamabad; a Índia, portanto, precisa de um Irã estável como contrapoder, para enfrentar a influência do Paquistão no Afeganistão, onde o Paquistão pode, outra vez, reengajar os Talibã. Brasília quer expandir os negócios com Teerã; e Lula, por sua vez, não abre mão da ideia de que mais sanções só farão abrir caminho para mais guerra, não para evitar guerras.

Os diplomatas, na mais recente reunião dos BRICs, tocaram no xis da questão. Os líderes dos BRICs – o poder atual, novo, multipolar que seriamente se tem dedicado em manter sob xeque as ambições de hegemonia dos EUA – avaliaram atenta e cuidadosamente todos os sinais complexos, desde a carta “secreta” do supremo do Pentágono Robert Gates a Obama, em janeiro passado, na qual revisa as opções militares “que continuam à mesa” contra o Irã, até o discurso do almirante Mike Mullen, da Junta de Comando do Estado-maior, na Columbia University, que disse que o ataque sempre seria sua “última escolha”. Avaliaram o nível de ansiedade de Washington. E concluíram que os EUA não atacarão o Irã.

Talvez estejam errados. Por trás de espessa cortina de espelhos e fumaça na mídia corporativa, há furiosa luta de gatos em curso em Washington, entre os ativistas do “espectro de plena dominação” – desde is militares ao pessoal do Instituto “American Enterprise”. Mas só discutem uma coisa: quando atacarão o Irã, ou mais cedo, ou mais tarde.

Entre os falcões está decidido que Washington jamais permitirá ao Irã “adquirir capacidade nuclear”. É o mesmo que falar de guerra preventiva. O “crime” do Irã, até aqui, teria sido já ter um programa de energia nuclear aprovado pelo Tratado de Não-proliferação e inspecionado como se ante o juiz do Juízo Final.

Nesse cenário de ansiedade altíssima, não importa que o Líder Supremo do Irã aiatolá Ali Khamenei tenha recentemente pregado o total desarmamento global e repetido sua fatwa, contra, até, o uso de armas de destruição em massa. São haram (proibidas) nos termos da lei islâmica.

O Pentágono, via Gates, insiste na ofensiva – ameaçando o Irã com uma explícita “todas as alternativas continuam à mesa”, quer dizer, bomba atômica incluída; e Obama, em obra prima de duplifalar orwelliano, acrescentou que os EUA “manteremos nosso [poder nuclear] de contenção”, como “incentivo” para Irã e Coreia do Norte. Incentivo ao suicídioseppuku, quem sabe?

Assim sendo, o que acontecerá?

Mês que vem, em New York, haverá nova revisão do Tratado de Não-proliferação. O governo Obama já começou a pressionar o Brasil para que aceite um protocolo adicional. O Brasil recusou.

Na essência, o Tratado de Não-proliferação é extremamente assimétrico. Nações que pertençam ao clube da bomba atômica recebem tratamento VIP, em relação aos demais. O protocolo adicional aumenta ainda mais essa discriminação – e dificulta até a pesquisa para finalidades pacíficas, nas nações não-nucleares.

O Brasil que – diferença crucial nesse contexto – ostenta tradição pacifista – defende o direito de qualquer país soberano adquirir “capacidade de tecnologia nuclear”. Foi onde o Irã subiu ao barco, conforme todas as evidências disponíveis. Assim sendo, o Brasil está em evidente rota de colisão com Washington, no que tenha a ver com o Tratado revisto de Não-proliferação. Para Brasília, seria submeter-se à interferência estrangeira.

Quanto às sanções, Washington precisa cair na real. Acreditar que os BRICs ou países da Ásia ou Europa deixarão de comprar gás e petróleo do Irã; que não venderão gasolina ao Irã, e que os bancos iranianos não encontrarão meios de continuar a operar na economia global (eles têm parceiros, por exemplo, nos Emirados Árabes Unidos e na Venezuela) é viver no País das Maravilhas.

As majors chinesas do petróleo já vendem gasolina diretamente ao Irã. Em 2012, o Irã terá dobrado a produção de gasolina, depois de expandir 10 refinarias, e está investindo cerca de 40 bilhões na construção de sete novas refinarias. O Irá continuará no negócio dos produtos do petróleo – principalmente com as “stans” da Ásia Central. O que mostra, por exemplo, que pode importar gasolina contornando o sistema bancário internacional.

E, sobretudo, há o mercado negro. Jordânia e Turquia contrabandeiam rios de petróleo para fora do Iraque ‘sancionado’ durante os anos 90s. Com novas sanções sobre o Irã, será a vez de uma nova geração de iraquianos ganharem a sorte grande. Quanto à ditadura militar do mulariato em Teerã, os mulás adorarão consumir seus lucros de energia para reforçar seu escudo protetor.

Os líderes dos BRICs – Lula entre eles – podem, sim, ter visto a estrada por trás da cortina de espelhos e fumaça. Bomba? Mas que bomba? Todos sabem que o Irã não pode fabricar uma bomba, por exemplo, em Natanz, não, com certeza, enquanto as instalações forem inspecionadas até o esqueleto descarnado pela IAEA. Suponha-se que o Irã supere a Coreia do Norte, engane todos os inspetores, dê um chapéu no Tratado de Não-proliferação e decida fabricar uma bomba em local secreto. Precisariam de quantidades enormes de água e energia – e os satélites lá estão, para ver qualquer movimentação desse tipo.

Os líderes dos BRICs já concluíram, isso sim, que Washington nada pode fazer quanto a o Irã adquirir “capacidade nuclear”, além de invadir o país, em edição conjunta remix das operações Tempestade no Deserto + Choque e Pavor, e provocar um banho de sangue para troca de regime.

Nem rodadas e mais rodadas de sanções conseguirão excluir essas opções. Bombas “de precisão” israelenses, dos EUA ou híbridas, poderão, no máximo, atrasar um pouco o processo iraniano – e, isso, sem considerar as muitas possibilidades de retaliação. Tudo isso considerado, só há uma solução viável.

Washington tem de sentar-se à mesa com Teerã com o tal “punho aberto” realmente aberto e examinar todas as opções diplomáticas, à busca de um pacote abrangente de segurança para o Oriente Médio – pacote o qual, é claro, terá de incluir a total desnuclearização; quer dizer, fim, também, para as bombas atômicas “secretas” de Israel.

Difícil, só, saber se o governo Obama – acossado pelos falcões da guerra por todos os lados – sobreviverá a esse desafio.


Pescado no sempre ótimo blog do Azenha

Vamos ver se a imprensa (golpista?) nacional vai repercutir isso?


Lula encabeça lista da revista Time como o líder mais influente do mundo

link

Atualização 29/04 - 23:10

... enquanto LULA sai na TIME, o Serrinha fica na VEJA... que aliás copia a TIME.


Vou colocar algumas reações enfurecidas da Midia Babona:



Oposição critica escolha de Lula pela revista “Time”
FOLHA
MARIA CLARA CABRAL
da Sucursal de Brasília


Líderes da oposição criticaram a escolha da revista “Time”, que elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um dos 25 líderes mais influentes do mundo em 2010. Integrantes do PSDB e DEM afirmaram ainda nesta quinta-feira que o feito não deve ter nenhum reflexo na campanha presidencial de outubro.


Para o deputado Paulo Bornhausen (SC), líder do DEM na Câmara, ou a revista “ficou louca ou ganhou um patrocínio de uma estatal brasileira”. “Ele não fez nada para merecer, deve ter servido como um prêmio de consolação por sua saída, ou será usado para sua candidatura para um cargo na ONU”, disse.


O líder do PSDB, deputado João Almeida (BA), concorda que Lula não merecia ser escolhido. “Ele apenas capitalizou os feitos que o Brasil vem conquistando faz tempo.” O tucano disse ainda que o prêmio da “Time” não deve se reverter em votos para a candidata Dilma Rousseff (PT). “O eleitor não é bobo, sabe que ela não é o Lula. Ela agora está se apresentando inteira e mostrando o desastre que é. Isso não vai mudar”, afirmou.



NOTA BOTOCUDA 1 : Premio de consolação??? ... Pro Obama e pros outros também???... Esses DEMoníacos são uma piada pronta. Esse Bornhausenzinho é hors concours!


Jornal da Band - edição de hoje, às 19:35 hs


Chamada – “Revista americana elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um dos 25 líderes mais influentes do mundo”.


NOTA BOTOCUDA 2 : A Band não mencionou o nome da revista TIME nenhuma vez e limitou-se a fazer pouco caso, menciando sempre como "um dos 25" líderes. Deu destaque ao texto do cineasta Michael Moore, mencionando que é um grande critico aos politicos. Será que enganam os otários de seus espectadores?




Pérola do UOL: Time” nega que tenha escolhido Lula o líder mais influente do mundo.


NOTA BOTOCUDA 3: Ou seja, uma notícia que deveria ser saudada como positiva está sendo repercutida negativamente. Fecham a nota com chave de ouro: “Após os questionamentos do UOL, o site da "Time" retirou os números na lista de líderes mais influentes do mundo”. O UOL prestou um grande serviço ao Brasil.

A oposição está enlouquecendo! Para completar o ridículo, só falta inventarem um prêmio, uma distinção ao Serra, como aconteceu outrora.



Jornal Nacional – Globosta


A noticia do dia foi “O sumiço de um bebê no ventre da mãe”. No meio da edição deram a noticia do reconhecimento da revista americana ao presidente Lula, em menos de um minuto, sem nenhuma chamada, nem no inicio do jornal nem no final do bloco anterior.


NOTA BOTOCUDA 4: Mesmo assim a reportagem da Globo foi melhorzinha que a da Band. Explicaram melhor do que se trata, mencionaram a revista TIME diversas vezes e citaram que é a 2ª vez que Lula figura nessa lista, que já havia sido incluído em 2004.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Marina, a neocon verde

Leio que Marina Silva declarou, nos EUA, que "o Irã tem desrespeitado direitos humanos" e criticou a política externa do Brasil, que tem procurado estabelecer diálogo com o regime dos aiatolás.

Tudo isso é “TÃO” emocionante. Marina agora quer o apoio da direita americana. Ela tem razão sobre o Irã, e ao mesmo tempo está profundamente equivocada. Em primeiro lugar porque participa deliberadamente da satanização midiática de um país, cumprindo os interesses da indústria bélica. Em segundo porque eu pensei que os problemas internacionais do Irã tinham a ver com seu desejo de adquirir a tecnologia nuclear, e não com sua política de direitos humanos.

Metade dos países africanos desrespeitam os direitos humanos de forma muito mais grave que o Irã. Aqui em Honduras, já temos seis jornalistas assassinados em poucos meses. Aliás, no Brasil mesmo, a legião de crianças usuárias de crack cresce diariamente. A violência nas cidades atinge níveis espantosos. Falta muito para que o Brasil possa dar lição de moral em direitos humanos para outros países. Sabe qual o índice de criminalidade no Irã? É quase zero. Acho que seria muito mais honesto se Marina Silva falasse dos problemas de seu próprio país, e não desse pitaco sobre o que não sabe. Pior: não participasse desse joguinho nojento da mídia americana (e suas subsidiárias mundo afora) de ir minando a imagem do Irã para preparar a opinião pública para uma outra guerra.

Eu já falei que não gosto do Irã. Mas realmente fico perplexo em ver como Marina Silva está incorporando o figurino do ultra-conservadorismo ecológico. Um pouquinho de verde aqui, outro acolá, e dá-lhe repetir o que publicam os falcões no Washington Post.

O Irã tem problemas graves, sim. Mas qual é? O mundo agora vai tirar uma onda de juiz do Irã? Por que só do Irã? Paquistão, China, Costa do Marfim, Arábia Saudita, também tem presos políticos e também desrespeitam os direitos humanos.

E por falar nisso, observo que o Globo tem feito ofensas ao Irã que ultrapassam sua leviandade costumeira. Para começar, a acusação de fraude. Acho isso um desrespeito terrível. Por acaso o Globo tinha repórteres no Irã para saber se houve fraude de fato? A suposta fraude não foi encontrada pelas autoridades competentes. Elas admitiram problemas, mas nada que pudesse mudar o resultado eleitoral.

Quem acusou a fraude, logo no dia seguinte ao pleito, foi o candidato perdedor. Outra palhaçada. Isso não é democrático. Se o candidato, que não por acaso era apoiado pelos EUA, suspeitava que pudesse ocorrer fraude, deveria ter feito denúncias antes da votação, e chamado observadores internacionais. Numa eleição, há um acordo moral de que ambos os candidatos respeitarão o resultado e confiarão na autoridade eleitoral. Se não houver essa confiança e esse respeito, não existe democracia.

A acusação de fraude tem o objetivo político de desacreditar o Irã. Quase todo o oriente médio é regido por monarquias totalitárias, ditaduras sem nenhuma perspectiva de democracia, e não ouvi Marina Silva ou editorialistas do Estadão fazerem qualquer crítica; e quando vemos, no Irã, o povo escolher democraticamente seus governantes, diz-se que não valeu, que houve fraude. Não creio que essa estratégia incentive a democracia a se disseminar pelo mundo.

Então é assim. O Irã frauda eleições, tem presos políticos, quer produzir mísseis nucleares. São maus. São feios. São bobos. Devemos, portanto, lançar umas bombas atômicas por lá para resolver o problema. Depois Marina Silva planta umas árvores em algum lugar e estará tudo certo.


Comentário

Mais uma opinião do talentoso Miguel do Rosário, com a qual eu concordo em 99%.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Esse Serra é um engraçadinho (pra não dizer outra coisa)

foto aparentemente sem PhotoShop - note que nosso herói está pálido como um defunto nosferático

Esses dias numa entrevista ao Jornal do SBT, o DEMo/tucano José Serra falou duas besteiras homéricas:

1) No figurino “Serrinha paz e amor e pós Lula”, prometeu: “Eu quero a reforma agrária pra valer, com gente produzindo melhor, cada vez mais e com terra”.

2) Na sequência, tirando a máscara e assumindo o seu estilo brucutu, rosnou: “O MST vive de dinheiro governamental. Eu acho que a reforma agrária para o MST é pretexto. Trata-se de um movimento político, com finalidades políticas”.

Pergunto:

Quanto ao MST ser um “movimento político”, qual o problema? Serra vai acionar a repressão por causo disso?... como sempre faz?... Ou só a CNA, Bancada Ruralista e outras entidades de direita podem fazer política?

Pra que prova maior do cinismo de José Serra, que a sua virtual candidata a vice-presidente, a senadora Kátia Abreu (DEMo-TO), atual presidente da CNA. Se quisesse, de fato, realizar a “reforma agrária pra valer” como alardeou, poderia começar propondo a desapropriação das terras griladas pela “musa forrageira da pastagem”.

E quantro a essa máxima de “dinheiro governamental”: quem é que financia a CNA e os ruralistas em geral?... caloteiros contumazes dos sistemas de financiamento agrícola do Banco do Brasil. De quanto é o calote do agrobusiness ao sistema?

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Einen Koffer in Berlin – Marlene Dietrich

Esse é um épico das nossas festas do clube de tiro na década de 1970/80, interpretado também lindamente pelo meu amigo Blasius Meyer (1929-1996) e seu acordeão Hohner.

Ich hab noch einen Koffer in Berlin
deswegen muß ich nächstens wieder hin
die Seligkeiten vergangener Zeiten
sind alle noch in meinen kleinen Koffer
drin

Ich hab noch einen Koffer in Berlin
der bleibt auch dort und das hat seinen Sinn
auf diese Weise lonht sich die Reise
denn wenn ich Sehnsucht hab dann fahr ich wieder hin

Wunderschön ists in Paris
auf der Rue Madleen
schön ist es im Mai in Rom
durch die Stadt zu gehen
Oder eine Sommernacht
still beim Wein in Wien
doch ich denk wenn ihr auch lacht
heute noch an Berlin

Ich hab noch einen Koffer in Berlin
deswegen muß ich nächstens wieder hin
die Seligkeiten vergangener Zeiten
sind alle noch in meinen kleinen Koffer
drin


Ich hab noch einen Koffer in Berlin
der bleibt auch dort und das hat seinen Sinn
auf diese Weise lonht sich die Reise
Denn wenn ich Sehnsucht hab dann fahr ich wieder hin

Denn Ich hab noch einen Koffer in Berlin…