Não me canso de dizer que tenho a nítida impressão de que a grande crise financeira global ainda não acabou. O modelo pós queda do Muro de Berlin sucumbiu à queda dos Muros de Wall Street. É como o toque das trombetas de Jericó. Mas Wall Street continua fazendo de conta que está em pé.
Ontem um escândalo envolvendo o Goldman Sachs azedou o humor dos investidores e derrubou as bolsas mundiais. A instituição financeira está sendo acusada pelo governo americano de enganar os investidores em seus relatórios sobre títulos vendidos associados com papéis de hipotecas subprime, enquanto o mercado imobiliário estava instável. Muito bonito!... mas não é de causar espanto: os cínicos do mundo financeiro agem assim mesmo, na maior cara-dura. São salvos por montanhas trilionárias pelos governos e quase que imediatamente depois passam a estorquir desses mesmos governos.
O LEAP - Laboratoire Européen d'Anticipation Politique publica um boletim bimestral chamado GEAB – Global Europe Antecipation Bulletin. A versão impressa completa é vendida para assinantes, mas disponibilizam uma versão resumida gratuitamente na internet, que nos permite uma boa idéia das tendências que analisam. A visão dessa gente não está nada otimista – como a minha – mas quem sou eu em termos de analise conjuntural mundial?... mas voilá, dou meu pitaco também!
O LEAP n.º 44 foi publicado ontem, 16/04/2010, e anuncia graves distúrbios no Banco da Inglaterra para os próximos meses pois vai ter que contornar a crise que deverá se abater sobre a libra esterlina e tourear os débitos do governo britânico. Como conseqüência disso para o fim do ano prevêem um risco real de colapso do FED americano, visto que os deficitis públicos americanos são, de resto, os mais tenebrosos do universo e estamos falando do maior tomador global de fundos.
Com a queima do fusível do Banco da Inglaterra o FED está seriamente ameaçado também, ainda mais porque por volta de outubro começam a vencer as operações de mais de 4 trilhões de dólares (alguns falam e mais de 10 trilhões) usadas para salvar o sistema bancário americano e a industria automobilistica, em 2008/2009. Isso vai gerar uma necessidade de novas tomadas americanas que excedem a capacidade de provimento de todos os outros players no mercado global. Não se vislumbra uma solução capaz de desatar esse nó-górdio.
Se fizerem emissões de derivativos ou títulos podres para contornar essa contingência o problema só vai agravar e empurrar o sistema todo ainda mais para o abismo. Ontem o presidente Obama anunciou que não vai mais ser complacente com agentes financeiros que continuarem a emitir títulos podres e especular (lucrar) obscenamente com derivativos numa situação de risco dessa magnitude.
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