Para homenagear os irmãos em seu dia, nesse blog Botocudo, reproduzo uma introdução de um ensaio que escrevi em 1999, sobre a maldição a que estão submetidos os naturais da nossa Terra brasilis.
Como o ensaio completo é muito longo para blog, a quem interessar, o artigo inteiro pode ser lido aqui.
A destruição da alma Indígena
Na América espanhola e portuguesa, ‘missões’ era um termo adotado para designar reduções e aldeias fundadas por padres católicos, também de outras ordens não só de jesuítas, primordialmente para catequese dos naturais da terra. O catolicismo passou a ser difundido na América desde os primeiros esforços de colonização, pois estreitos laços ligavam as monarquias ibéricas à Santa Sé. Haviam benefícios mútuos nesta relação: a Igreja dava proteção política às coroas de Portugal e Castela ao mesmo tempo que expandia enormemente seus domínios e por seu turno recebia concessões, impostos e doações suplementares destinados à manutenção do clero, também cobrava taxas diversas com finalidades religiosas entre a população.
Eram de diversas ordens os padres pioneiros a desembarcar nas Américas: franciscanos, beneditinos, capuchinhos, carmelitas descalços, mercedários – que pertenciam a extinta ordem de Nossa Senhora das Mercês, etc. Mas foram os padres da Companhia de Jesus – comumente conhecidos como jesuítas – que fizeram furor em seu esforço e método de catequizar e submeter os aborígines, que acabaram por impor seu domínio sobre as demais ordens de modo que estas, por fim, decaíram para um plano secundário.
A primeira providência tomada pelos missionários era separar os índios de suas comunidades tribais originais e discipliná-los: Como a boa semente era a palavra, não bastava lançá-la à terra e seguir avante, deixando-a abandonada ao acaso. Era mister vigiá-la com critério até dar os almejados frutos. Para este fim eram erigidos aldeamentos isolados, chamados reduções.Consistiam de uma praça central onde ficava a igreja e o cemitério cristão – ali só eram enterrados verdadeiros cristãos e índios que tivessem sido batizados – e o convento, que era como se denominava a residência dos padres. Ao redor construíam-se casas dos moradores e nativos convertidos, escolas, oficinas, estrebarias e todo tipo de edificação de que se precisasse.
A aldeia era protegida por uma paliçada, fossos e armadilhas contra ataques de índios pagãos renitentes e mais tarde dos bandeirantes. As fortificações eram necessárias para prevenir surpresas externas e principalmente internas, pois no início os indígenas eram extremamente recalcitrantes em abandonar ou mesmo renegar, como queriam os sacerdotes cristãos, seus costumes e suas crenças. Era um trabalho de persuasão muito difícil, principalmente com os índios mais velhos e praticamente impossível com os xamãs ou pajés, de modo que os jesuítas passaram a se concentrar mais e mais nas crianças e mulheres, bem mais maleáveis.
O método de aliciamento se baseava na velha preocupação religiosa de disciplinar o espírito de modo eficaz, impedindo que a imaginação rebelde pudesse pular de galho em galho, como um macaco. Desta forma os índios convertidos eram isolados de seu grupo original para que não houvesse a possibilidade de uma ‘recaída’, às tradições tribais e, principalmente, para que os catequizados não tivessem mais contato com os execráveis pajés.
Os pajés ou xamãs representavam a principal corrente de resistência à catequização e logo passaram a ser o alvo preferencial dos padres que os classificavam inapelavelmente como feiticeiros, bruxos e representantes terrenos de todos os demônios. Tendo os pajés como o principal obstáculo contra ação missionária, sempre procurando dissuadir o demais do aprendizado e da crença e acusando os missionários de uma oculta intenção maléfica, eram por sua vez também retratados por estes como enganadores e mentirosos, pois os padres se recusavam a admitir neles o mínimo de integridade ou que pudessem cumprir uma função social específica na tribo. Os jesuítas viam nos pajés na sociedade tribal o papel que eles próprios deviam aspirar na sociedade colonial, o que nem sempre conseguiam na plenitude. A hostilidade sempre se estabelece entre os que se consideram iguais. É o fenômeno do espelho.
Outro ritual praticado de uma maneira fanática, quase mágica, pelos jesuítas era o batismo. O faziam como que para justificar um salvo-conduto para o além. Isso se aplicava a todo e qualquer pagão e criava uma enorme confusão no espírito dos selvagens.
Mesmo não tendo vivido esse período da história, não dá para esquecer esse passado. Infelizmente o catolicismo continua alienando mentes até nos dias de hoje. É uma forma de desviar o espírito livre do crescimento necessário. Olhando a história, culpo a religião por ter havido tão pouca evolução na mente dos humanos. Existe um poder Divino sim, mas os índios chegaram mais perto D'ele. (parei para meditar agora sobre o efeito "religião" nesse planeta e, entrei em parafuso... nossa! -Por isso que a igreja proibe os fieis de pensar, para não descobrir o segredo de tanta mentira.)
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