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quarta-feira, 14 de abril de 2010

Generais de pijamas: As vozes dos derrotados


Os senhores jornalistas, que se arvoram em defensores da liberdade e da democracia, tentando reescrever a história e inventando até — como a Época dia desses — que o Estadão resistiu à ditadura de 1964, deveriam ter um mínimo de vergonha na cara e se pronunciar contra um depoimento podre como o do ex-ministro e ex-chefe do DOI-CODI Leônidas Pires Gonçalves no Globonews, ontem à noite.

Eu fui um militante comunista. Sou stalinista, como lembra de sacanagem o Idelber. E tenho muito orgulho do que fui e do que sou. Como tenho muito orgulho da herança que me coube: a crença na capacidade de cada indivíduo de dar o melhor de si não apenas em benefício próprio, mas para melhorar, de alguma forma, o mundo.

É por isso que não admito que um sujeito ao menos indiretamente responsável por tantas mortes venha tentar jogar lama sobre a memória de brasileiros dignos e honestos como os tantos mártires deste país, que tiveram a coragem de lutar contra criminosos que subverteram a ordem política e institucional deste país e o arrastaram a um tempo excessivamente longo de miséria e obscurantismo.

Eu aprendi a respeitar brasileiros valorosos como Manoel Fiel Filho, como Maurício Grabois, que morreu ao lado do filho tentando recuperar o país que vocês nos roubaram. A respeitar os tantos homens e mulheres que morreram nas mãos de criminosos e torturadores que se diziam militares. Do meu ponto de vista, general, vocês fizeram o mesmo que assaltantes vagabundos fizeram: mas em vez de facas e revólveres vocês usaram tanques. Não há diferença, na essência: um assaltante qualquer rouba dinheiro; vocês roubaram um país e as vidas de centenas de brasileiros.

Quando você vem a público, e tem a desfaçatez de afirmar que Vladimir Herzog se suicidou, você desrespeita a memória de um homem que foi assassinado covardemente pelo regime do qual o senhor fazia parte — um assassinato tão covarde que vocês sequer tiveram a coragem de assumir a porcaria que fizeram. Quando tem a falta de vergonha de chamar os exilados de fugitivos, chamando-os indiretamente de covardes, você desrespeita qualquer noção de civismo neste país. Quando chama as indenizações aos torturados de “bolsa-ditadura”, você mostra o seu desprezo pelas próprias noções de justiça e dignidade.

Em determinado momento, com o descaramento que só velhos ultrapassados que já detiveram muito poder podem demonstrar, você perguntou aos técnicos presentes se seus pais tinham sido presos. E depois acrescentou: se foram presos é porque tinham feito alguma coisa.

Com outras palavras, o general chamou de criminosos, puros e simples, todos aqueles que tiveram a coragem de se levantar contra a opressão.

Pois o meu pai foi preso pelo seu regime, general. E você não ouse chamá-lo de criminoso, porque você não tem moral para isso. Ele tinha apenas 17 anos, e o seu crime foi escrever uma coluna sobre sindicatos no jornal. Foi preso por pessoas como você, sub-humanos que não merecem ser chamados de gente escondidos sob fardas militares, pessoas cujas mentiras só podem ser ouvidas hoje em dia porque a gente acaba tendo que compactuar com uma mídia ruim como essa; é o preço que pagamos pela democracia que vocês tentaram destruir e que, graças ao sacrifício desses que você hoje chama de criminosos, conseguimos recuperar.

O meu consolo, e o consolo de todos aqueles que vêm Leônidas Pires falar as besteiras que quer — talvez com a condescendência de que apenas velhos senis podem usufruir, mas que não é devida a nenhum integrante da ditadura militar –, é que no fim das contas nós ganhamos a guerra. Entendeu, general? Vocês perderam. Resta ao general de pijama Leônidas o peso de saber que foi a sua geração que destruiu o Exército Brasileiro, que o colocou em um patamar imoral e abaixo do papel histórico que ainda poderia cumprir. Foram vocês que transformaram soldados em torturadores e desgraçaram por muito tempo uma instituição nacional importante.

E por isso, senhor general, o senhor é apenas um derrotado com as mãos sujas. Morra com isso na sua consciência.

Da pena fluida do Rafael Galvão, aqui.


COMENTÁRIO

Para quem não conhece o cronista Rafael Galvão, a parte que se declara stalinista é de uma velha brincadeira entre ele e outro blogueiro ótimo, Idelber Avelar, do Biscoito Fino e a Massa, hoje descontinuado.

Nem vou reproduzir os vídeos desse lixo de entrevista aqui nesse blog (estão no VocêTuba para quem quiser e tiver estomago para ver).

A primeira parte é só uma introdução com justificativas Globósticas pra aliviar a barra do general.

Mas na parte 2, logo nos 30 segundos iniciais já afirma na cara dura que no DOI-CODI “nunca houve tortura” . (Veja aqui, se conseguir sem vomitar). Diz depois igualmente na cara dura também que não começaram guerra nenhuma. Sobre o Herzog também nega nessa parte 2 (no minuto 8:00).

Uma tristeza!

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