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quinta-feira, 28 de julho de 2011

Recesso botocudo


até segunda-feira

Eles venceram?...


por Walter Hupsel, no Yahoo Brasil

Há algum tempo muitos analistas vêm falando do crescimento da extrema-direita na Europa e no mundo.

Como em todo discurso de ódio, que a caracteriza, a nova extrema-direita precisa encontrar seu inimigo. Se antes este era encarnado nos judeus apátridas, que “vagavam” pela Europa prontos a “pilhar” os recursos dos cristãos, hoje o inimigo atende pelo nome de muçulmano. São seres esquisitos, que às vezes usam uma espécie de turbante, que não acreditam no verdadeiro filho de deus, e que, algumas vezes, interpretam literalmente o que seu deus teria dito através do profeta Maomé.

Este crescimento não é nem tão novidade assim, e tem sua origem no fim do Bloco Soviético. Por um lado, os europeus “ocidentais” se viram ameaçados com aquela massa de pessoas procurando empregos, ansiosos em entrar no modo de vida capitalista. Isso levou a uma depreciação do valor do trabalho. Os novos bárbaros vinham do leste para destruir o sonho da Europa Cristã capitalista.

Por outro lado, os que viviam dentro da cortina de ferro se viram órfãos, jogados num mundo que desconheciam, e por isso temiam. Muito do movimento de completar o círculo e se voltar à extrema-direita foi feita por estes europeus do leste, numa curiosa contradição. Os ocidentais se sentiam invadidos e queriam proteção contra os invasores. Os orientais, novatos no mundo da competição, queriam o mesmo.

Em comum apenas o ódio contra aquele passageiro que chega no ônibus já cheio, cuja presença vai encher ainda mais o veículo, e que, por isso, é visto com desconfiança pelos “nativos”. Estes, os mais recentes, são aqueles que não conseguem ser abarcados pela definição de Europa, os muçulmanos. Os ódios se juntam contra o terceiro.

Mas isso não interessa tanto. Interessa como a mídia repercutiu os atentados na Noruega na semana passada. Todos os veículos “ocidentais”, sem nenhuma exceção, correram para dizer que seriam obras de…. muçulmanos. As razões beiravam a esquizofrenia coletiva: desde a Líbia (com Kadafi relembrando os tempos da PanAm), até mesmo o Acordo de Paz de Oslo, que deveria por fim ao conflito Israel-Palestina, assinado por Yitzhak Rabin (Israel) e Yasser Arafat (OLP), mediado pelo então presidente dos EUA, Bill Clinton.

Os “especialistas”, atônitos com o ocorrido, tentaram, de toda e qualquer maneira, encaixar uma explicação qualquer que remetesse aos muçulmanos. Qualquer coisa, naquele momento, servia a eles, nos seus delírios, nas suas elucubrações. Diria eu que estavam estado de êxtase hipnótico, apontando o dedo rua afora e vendo fantasmas em todos os lugares.

Desde os primeiros momentos já estava claro, pra qualquer pessoa que tentasse entender o que se passava, que o alvo dos atentados não era a Noruega, ou mesmo o governo, mas sim um partido, uma posição política. Era claro, logo, que o atentado fora levado a cabo por razões internas.

O alvo, o modus operandi, tudo indicava solidamente pra nacionalistas noruegueses, para extrema-direita. Mas a mídia olhou, e não viu. Não quis ver.

Quando finalmente enxergou, as características “religiosas” do assassino, do terrorista norueguês, foram esquecidas. Ele tornou-se uma radical louco, um homem perturbado aos olhos dos jornais. Afinal era um de nós.

A mídia, seus intérpretes, seus analistas com doutorado em grandes universidades, especialistas em Relações Internacionais, em terrorismo, compraram acriticamente o discursos da extrema-direita do inimigo da Europa.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Bateria usada de carro elétrico pode ser reciclada para usos energéticos domesticos

Jim Witkin, no New York Times

O que acontece com as baterias no fim do seu ciclo de uso em um veículo tornou-se preocupação frequente na fabricação de carros elétricos. A imagem de uma bateria com vazamento de produtos químicos em um aterro sanitário é inquietante para muitos potenciais compradores.

Mas algumas montadoras estudam como reutilizar as baterias descartadas e aproveitar o que ainda exista de útil nas células.

Efe
Funcionamento da bateria do Chevrolet Volt
Chevrolet Volt tem motor elétrico movido a bateria

GM e Nissan estimam que as baterias de seus modelos elétricos (Volt e Leaf, respectivamente), após dez anos de uso, ainda tenham 70% de sua vida.

Entre os planos de reciclagem, uma opção em estudo é reutilizar baterias ainda com vida útil como fonte auxiliar de energia elétrica para serviços públicos e residências.

De acordo com a GM, uma unidade de força com 33 pacotes de bateria do Volt poderia armazenar energia suficiente para abastecer 50 casas --durante um apagão, por exemplo-- por quatro horas.

A GM está trabalhando com a ABB Group, especializada em tecnologias de potência e automação, no reúso de bateria.

As duas empresas demonstraram nesta semana, em um laboratório na Carolina do Norte (EUA), um sistema de armazenamento em estágio inicial utilizando um inversor elétrico da ABB elétrico um pacote de bateria do Volt.

"Nossa meta sempre foi uma demonstração de campo com uma bateria usada e eletrônicos apropriados para apoiar a rede elétrica", afirma Sandeep Bala, engenheiro de pesquisa da ABB.

O plano é construir um protótipo que demonstre a viabilidade de armazenar e distribuir em rede a energia de baterias de veículos elétricos e incluir sistemas de energias renováveis, como a extraída do vento ou da luz solar.

"O cliente do Volt é muito focado no ciclo de vida da bateria e, porque as células foram projetadas para serem muito robustas, há ainda uma quantidade de vida muito significativa da bateria após dez anos de uso do carro", ressalta Pablo Valencia, gerente da GM para gestão de baterias.

A Nissan também iniciou um programa que inclui opções de reutilização e reciclagem. Com a Sumitomo Corporation, a montadora desenvolve, desde 2009, dispositivos compatíveis com as baterias do Leaf.

O sistema pode alimentar um sistema fotovoltaico residencial, e, em maior escala e conectado a um transformador, pode fornecer energia extra para um grupo de casas.

A Nissan também trabalha com a Toxco, empresa de reciclagem de bateria, no processo de descarte e reutilização dos materiais dos Leaf vendidos na América do Norte.

Mesmo caminho de outras montadoras, como a Tesla Motors, que têm parcerias de reciclagem na América do Norte e na Europa.

Texto adaptado pela Folha


Terrorismo de Estado: os EUA e Israel estão livres para matar?...


do blog Tijolaço, do Brizola Neto


Não é um jornal esquerdista, nem mesmo é o governo iraniano, que – embora eleito - é tratado pela nossa mídia como se fosse uma quadrilha de lunáticos.

Não, é a respeitadíssima – e ocidentalíssima – Agência Reuters que informa que foram, segundo analista por ela consultados, agentes dos serviços secretos ocidentais os responsáveis pelo assassinato de um jovem cientista iraniano, que trabalhava no sistema de pesquisas nucleares do Irã.

Darioush Rezaie, de 35 anos, foi assassinado a tiros no sábado na zona leste de Teerã. Ele é o terceiro cientista assassinado no país desde 2009. Um deles foi morto por um carro-bomba; o outro, por explosivos acionados por controle remoto.

Nos dois casos anteriores, as autoridades reagiram de modo confuso, mas desta vez houve uma divergência ainda mais ampla dentro do governo.

“Os assassinatos continuarão sendo uma ferramenta usada nesta guerra encoberta. Embora seja impossível dizer com certeza se Rezaie era um cientista nuclear ativo, sua morte parece ser mais um episódio nessa guerra”, disse Ghanem Nuseibeh, analista radicado em Londres e fundador da Cornerstone Global Associates.

“A narrativa iraniana tem sido confusa acerca do trabalho de Rezaie, e isso acrescenta credibilidade à especulação de que ele estava envolvido no programa nuclear.”, diz um dos ouvidos pela Reuters, que entende que o Governo de Teerã não quer admitir que ele trabalhasse em atividades que têm sido proibidas ao país em matéria de energia nucler.

“Diz a matéria:

“Suspeito, apenas com base no que se sabe pelos relatos da imprensa iraniana, que Rezaie tenha sido assassinado por causa da sua relação com o programa nuclear do Irã”, disse Afshon Ostovar, analista radicado em Washington e especializado em Irã.

Após a confusão inicial, Ostovar disse ter notado “uma campanha de relações públicas para minimizar o impacto da morte dele sobre o programa nuclear e para desacreditar qualquer sensação de legitimidade do assassinato”.

Vários analistas disseram crer na hipótese de participação de agentes dos EUA ou de Israel no crime.

Só uma pergunta: como assim “desacreditar qualquer sensação de legitimidade do assassinato”? Desde quando é legitimo a Israel ou aos EUA assassinar um cidadão de outro país, em outro país, só porque considera sua atividade potencialmente prejudicial à sua supremacia nuclear? Então o Irã tem o direito de mandar agentes executarem cientistas nucleares dos EUA, em território americano, só porque não acham bom que lá se desenvolvam tecnologias bélicas nucleares?

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Crise da economia mundial - o sertão vai virar mar e o mar virar sertão


Joseph Stiglitz (*) na Sin Permiso

Há apenas alguns anos atrás, uma poderosa ideologia – a crença nos mercados livres e sem restrições – levou o mundo à beira da ruína. Mesmo em seus dias de apogeu, desde o princípio dos anos oitenta até o ano de 2007, o capitalismo desregulado ao estilo estadunidense trouxe maior bem estar material só para os mais ricos no país mais rico do mundo. De fato, ao longo dos 30 anos de ascensão desta ideologia, a maioria dos estadunidenses viram suas receitas diminuir ou estancar ano após ano.

Mais do que isso, o crescimento da produção nos Estados Unidos não foi economicamente sustentável. Com tanto da receita nacional dos EUA sendo destinada para tão poucos, o crescimento só podia continuar por meio do consumo financiado por uma crescente acumulação da dívida. Eu estava entre aqueles que esperavam que, de alguma maneira a crise financeira pudesse ensinar aos estadunidenses (e a outros) uma lição acerca da necessidade de maior igualdade, uma regulação mais forte e um melhor equilíbrio entre o mercado e o governo. Desgraçadamente, isso não ocorreu. Ao contrário, um ressurgimento da economia da direita, impulsionado como sempre, por ideologia e interesses especiais, uma vez mais ameaça a economia mundial – ou, ao menos, as economias da Europa e dos EUA, onde estas ideias continuam florescendo.

Nos EUA, este ressurgimento da direita, cujos partidários, evidentemente, pretendem derrogar as leis básicas da matemática e da economia, ameaça provocar uma moratória da dívida nacional. Se o Congresso ordena gastos que superam as receitas, haverá um déficit e esse déficit deve ser financiado. Em vez de equilibrar cuidadosamente os benefícios da cada programa de gasto público com os custos de aumentar os impostos para financiar tais benefícios, a direita procura utilizar um pesado martelo – não permitir que a dívida nacional aumente, forçando os gastos a limitarem-se aos impostos.

Isso deixa aberta a interrogação sobre quais gastos terão prioridade – e se os gastos para pagar juros da dívida nacional não forem prioridade, uma moratória é inevitável. Além disso, cortar os gastos agora, em meio de uma crise em curso provocada pela ideologia de livre mercado, simples e inevitavelmente só prolongaria a recessão.

Há uma década, em meio a um período de auge econômico, os EUA enfrentavam um superávit tão grande que ameaçou eliminar a dívida nacional. Reduções de impostos insustentáveis e guerras, uma recessão importante e crescentes custos de atenção com saúde – impulsionados em parte pelo compromisso da administração de George W. Bush de outorgar às companhias farmacêuticas liberdade para a fixação de preços, inclusive com dinheiro do governo em jogo – rapidamente transformaram um enorme superávit em déficits recordes em tempos de paz.

Os remédios para o déficit dos EUA surgem imediatamente deste diagnóstico: os EUA devem trabalhar para estimular sua economia; deve-se por um fim às guerras sem sentido; controlar os custos militares e com medicamentos; aumentar impostos, ao menos para os mais ricos. Mas a direita não quer saber nada disso e está pressionando para obter ainda mais reduções de impostos para as corporações e os ricos, juntamente com os cortes de gastos em investimentos e proteção social, o que coloca o futuro da economia dos EUA em perigo e destrói o que resta do contrato social. Enquanto isso, o setor financeiro dos EUA pressiona fortemente para libertar-se das regulações, para que possa voltar às suas anteriores práticas desastrosas e despreocupadas.

Mas as coisas estão um pouco melhores na Europa. Enquanto a Grécia e outros países enfrentam crises a medicina em voga consiste simplesmente em pacotes de austeridade e privatização desgastados pelo tempo, os quais só deixarão os países que os adotarem mais pobres e vulneráveis. Esse remédio fracassou no leste da Ásia, na América Latina e em outros lugares e fracassará também na Europa. De fato, já fracassou na Irlanda, Letônia e Grécia.

Há uma alternativa: uma estratégia de crescimento econômico apoiada pela Uniçao Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional. O crescimento restauraria a confiança de que a Grécia poderia pagar suas dívidas, fazendo com que as taxas de juros baixem e deixando mais espaço fiscal para mais investimentos que propiciem o crescimento. O crescimento por si mesmo aumenta as receitas por meio dos impostos e reduz a necessidade de gastos sociais, como o pagamento de seguro desemprego, por exemplo. Além disso, a confiança que isso engendra conduz a mais crescimento ainda.

Lamentavelmente, os mercados financeiros e os economistas de direita entenderam o problema exatamente ao contrário. Eles acreditam que a austeridade produz confiança e que a confiança produz crescimento. Mas a austeridade solapa o crescimento, piorando a situação fiscal do governo ou ao menos produzindo menos melhorias que as prometidas pelos promotores da austeridade. Em ambos os casos, se solapa a confiança e uma espiral descendente é posta em marcha.

Realmente precisamos de outro experimento custoso com ideias que fracassaram repetidamente? Não deveríamos precisar, no entanto, parece cada vez mais que teremos que suportar outro fracasso. Um fracasso na Europa ou nos Estados Unidos para voltar ao crescimento sólido seria ruim para a economia mundial. Um fracasso em ambos os lugares seria desastroso – inclusive se os principais países emergentes conseguirem um crescimento autossustentável. Lamentavelmente, a menos que prevaleçam as mentes sábias, este é o caminho para o qual o mundo se dirige.

(*) Joseph Stiglitz foi Prêmio Nobel de Economia em 2001


NOTA BOTOCUDA

O maior credor do tesouro dos EUA é a China. O Brasil é o 4º maior na fila. E os chineses estão começando a ficar nervosos. Essa dívida é impagável, é uma bolha prestes a estourar: POP... goes the weasel!...

Se houver uma "corrida aos bancos" a nível global para se livrar desse mico, o sertão vai virar mar e o mar virar sertão. Muito choro e ranger de dentes.

sábado, 23 de julho de 2011

Texto definitivo: sobre Economia e Meio Ambiente


“Que tempos são esses, em que falar de árvores é quase um crime, pois implica silenciar sobre tantas barbaridades?” - BERTOLT BRECHT, Aos que vão nascer.


Por Ari de Oliveira Zenha, no Caros Amigos

No intuito de se entender a relação entre economia e meio ambiente, é necessário e importante se esclarecer, ainda que de forma breve, o significado da relação entre o homem e a natureza através do trabalho.

A relação homem/natureza sempre existiu, pois “nem a natureza objetivamente nem a natureza subjetivamente existem de modo imediatamente adequado ao ser humano” (Karl Marx). Sendo assim, a natureza há que ser transformada pela ação humana, pelo trabalho humano que a submete e a ajusta às suas necessidades essenciais. Portanto, como afirma Vázquez, “o homem só existe na relação prática com a natureza. Na medida em que está – e não pode deixar de estar – nessa relação ativa, produtiva, com ela, a natureza se lhe oferece como objeto de matéria de sua atividade, ou como resultado desta, isto é, como natureza humanizada...”.

Com o advento do capitalismo, esta relação fundamental entre o homem e a natureza sofre uma profunda transformação. A lógica do lucro, inerente a esse regime de propriedade privada dos meios de produção, faz do homem e da natureza fontes de seu contínuo e crescente crescimento e reprodução. Os rudimentares instrumentos de trabalho são substituídos por novos e permanentemente aperfeiçoados métodos e implementos de produção, aumentando a capacidade produtiva do trabalho e, portanto, a forma de apropriação da natureza, de maneira jamais experimentada em outras épocas. Transformados em forças produtivas do e para o capital, os meios de produção modernos não mais servem apenas de meios para retirar da natureza os meios de subsistência humana, antes passam a ser utilizados intensivamente para produzir os excedentes apropriados, na forma de lucro, pelo capital.

É sob essa conformação estrutural que aparece a relação entre economia e meio ambiente, uma relação que denota o efeito predatório da produção capitalista sobre a natureza e/ou sobre o meio ambiente.

Tanto a agricultura explorada sob a forma capitalista como a indústria, em seu processo de crescimento e de concentração, participam da busca incessante de lucros, desencadeando e intensificando, para tanto, métodos ruinosos à natureza onde atuam.

A mecanização acelerada, os agrotóxicos e outros elementos químicos utilizados no manejo da terra e no trato dos animais são exemplos de métodos nocivos – ao homem e ao meio ambiente – predominantes na agricultura capitalista. Na indústria, as tecnologias empregadas ao longo dos duzentos anos do sistema fabril já causaram danos irreparáveis à natureza e à existência humana.

As condições degradantes a que o meio ambiente foi e ainda é submetido resultam dessa exploração predatória empreendida pelo capital em sua interação com a natureza, constituindo uma ameaça permanente ao equilíbrio ecológico.

A questão do meio ambiente – a ecologia -, portanto, não pode ser abordada e/ou compreendida independentemente de sua vinculação com a estrutura do regime capitalista de produção. Se não for assim, as análises e proposições decorrentes serão inúteis e ineficazes, pois que não partem dos alicerces do modo de produção do capital que engendra, na sua busca obstinada de lucro, os efeitos destrutivos sobre o meio ambiente. Tratar o meio ambiente isoladamente, fora de sua íntima conexão com a economia de base capitalista, é o mesmo que navegar na superfície dos fenômenos sem atingir a sua essência, ou seja, as particularidades inerentes e distintivas do modo de produção capitalista.

É sob essa ótica da relação intrínseca entre a economia (capitalista) e o meio ambiente que devem ser tratadas questões fartamente divulgadas, mas não enfocadas em suas raízes. Entre tantas outras questões, podem-se nominar: o aquecimento global; a camada de ozônio; o lixo nuclear; os transgênicos; a devastação das florestas; a poluição ambiental; o uso intensivo e indiscriminado de inseticidas; a emissão de monóxido de carbono; os resíduos industriais e hospitalares; o esgotamento acelerado de matérias-primas não renováveis; os constantes desastres ecológicos provocados por resíduos químicos; a monocultura intensiva; as mudanças climáticas; a pesca predatória; o extermínio da fauna e flora; a ocupação desordenada do campo e das cidades; o surgimento de megalópoles e a crescente favelização mundo afora; o aquecimento dos oceanos; e o comprometimento da biodiversidade.

Ao contrário da relação entre o homem e a natureza descrita inicialmente, onde a natureza é humanizada pela ação do trabalho humano ou, ainda, transformada para a humanidade ao se objetivar em produtos para a satisfação das necessidades do homem, tem-se agora uma relação totalmente desvirtualizada. No capitalismo, a ligação entre o homem e a natureza se estabelece de forma desumanizadora. Ao invés de objetos de uso para a humanidade, o capital extrai implacavelmente tudo da natureza que possibilita a obtenção de produtos vendáveis e/ou lucrativos para si, de forma crescente e avassaladora, dado o extraordinário desenvolvimento das forças produtivas que ele próprio promove. A natureza se torna, para o capital, um meio de satisfação e realização da ganância de poucos, em detrimento da imensa população de agora e por vir.

Ex-executivo da China Mobile é condenado à morte por corrupção


na pagina CRI online (Radio Internacional da China) (*1)

O ex-subdiretor-geral da companhia estatal China Móbile, Zhang Chunjiang, foi condenado à morte por corrupção nesta sexta-feira (22/07), mas a pena pode ser comutada por prisão perpétua se for comprovado bom comportamento durante dois anos de adiamento na execução, informou a agência oficial Xinhua.

Um tribunal da província de Hebei ordenou ainda a privação de seus direitos políticos e o confisco de todos os ativos pessoais do ex-subdiretor da China Mobile, a maior companhia de telefonia celular do mundo por número de assinantes.

Segundo a sentença, Zhang, de 53 anos, aceitou suborno num total de 7,46 milhões de iuans (US$ 1,15 milhão) entre 1994 e 2009.

Zhang poderá ter a pena convertida em cadeia perpétua por ter confessado seus delitos e porque todo o dinheiro do suborno foi recuperado. O ex-subdiretor foi demitido de seu cargo na China Mobile em janeiro e também expulso do Partido Comunista da China para poder ser julgado.

Outro diretor da China Mobile, Shi Wanzhong, de 51 anos, também foi condenado à morte em junho por ter aceitado US$ 5,06 milhões de suborno da multinacional alemã Siemens.


NOTA:

(*1) as vezes eu ouvia essa radio em ondas curtas (muiiito antes do advento da internet claro), na década de 1970 - esses chineses dessa rádio são completamente doidos... sua visão de mundo é bem... bem... de chinês mesmo.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Destruição neoliberal em Santa Catarina

por Lucas dos Santos Ferreira e Fabio Napoleão, no Correio da Cidadania


Não obstante ostentar a imagem de gestor democrático, o governador de Santa Catarina, João Raimundo Colombo, vem sendo responsável pelo encaminhamento de proposições unilaterais que precarizam o serviço público e desmantelam o patrimônio da sociedade catarinense.

Este trágico quadro é marcado por:

1) substituição de conselhos deliberativos por autoridades indicadas pelo executivo estadual (vide Reforma Administrativa);

2) pretensão de extinguir autorização legislativa para mudança estatutária de empresas que contam com participação estatal, além de anseio por suprimir consulta popular para venda das mesmas;

3) profundo desrespeito com grandes segmentos da classe trabalhadora, sobretudo o magistério, que mantendo legítimo processo de greve reivindica direitos economicamente viáveis.

A propósito do caráter privatizante do atual governo, convém mencionar que importantes e (potencialmente) rentáveis estruturas públicas como a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (CASAN), a Corretora de Seguros do Estado (BESCOR), a ZPE de Imbituba (equivocada desde sua concepção) e a Centrais Elétricas de Santa Catarina (CELESC), estão sendo conduzidas a uma situação que tende a privilegiar cada vez mais um pequeno punhado de gananciosos acionistas descomprometidos com o bem público.

No caso da CASAN, diretamente ameaçada por projeto do governo recentemente remetido ao Parlamento que permite alienação de 49% de seu capital, recordemos que somente nos últimos oito anos a empresa investiu a soma de R$ 460 milhões que resultaram em obras voltadas à melhoria do sistema de abastecimento de água e dos serviços de coleta e tratamento de esgoto no Estado, levando água a cerca de 2,5 milhões de pessoas, angariando um índice de atendimento próximo de 100% nas áreas urbanas de concessão da empresa.

Nem mesmo o segmento industrial tem sido atendido a contento. Marcaram igualmente o início da gestão Colombo incentivos a importações predatórias (fios de algodão, por exemplo) e a negação de proposta de redução de ICMS das cadeias produtivas têxtil, de revestimentos cerâmicos, equipamentos de informática e moveleira, todas atingidas por política econômica irresponsável mantida há mais de 15 anos no âmbito nacional. No caso da produção de móveis, o incentivo não ultrapassaria a marca de 40 milhões e atingiria mais de 400 empresas, possibilitando aumento de produção e criação de novos postos de trabalho.

Não bastassem tais constatações, permanece ainda o gerenciamento de determinados Fundos do Estado em prol de duvidosos privilégios de certos grupos. A situação, constatada por auditoria realizada pelo Tribunal de Contas do Estado em 2009, pouco foi modificada e quatro fundos desconectados da base de cálculo orçamentário (Funcultural, Fundesporte, Funturismo e Fundosocial) já resultaram em brutal retirada de recursos da saúde e da educação, que superaram o montante de R$ 486,5 milhões.

Faz-se mister a organização dos setores progressistas da sociedade barriga-verde para que não sejam fortalecidos os interesses dos arautos do livre-cambismo em Santa Catarina. Esperamos que a bancada de oposição da Assembléia Legislativa tenha postura coerente e faça jus a nobre memória de Paulo Stuart Wright e tantos outros lutadores do povo catarinense.

Os (des)caminhos de ferro do Brasil





Por Paulo Sidnei Ferraz, no blog vida de Maquinista

Transcorridos 15 anos da desestatização das ferrovias no Brasil, temos a desativação de vários ramais, ou seja, 40% da malha arrendada aos concessionários, que isolou tradicionais cooperativas, assim como prejudicou médios e pequenos produtores. Outro problema sério é a falta de modernização e aumento real da frota de locomotivas, que impede a ampliação da oferta de transporte ferroviário, sendo apenas atendidos os clientes de maiores volumes. Então temos hoje um monopólio privado do transporte ferroviário no país, concentrado nas mãos da América Latina Logística (ALL) e da Vale, sendo parceiros de outros monopólios ou cartéis de controladores de grãos, minérios, cimento etc. Isso está casado com a condição da economia brasileira, que tem como um dos eixos a exportação de commodities?

O Brasil continua a ser um exportador de matérias-primas, por isso os principais corredores de transportes se destinam aos portos. Sem nenhum compromisso com o desenvolvimento do nosso país, as concessionárias otimizaram as rotas de vagões e locomotivas, concentrando-se nos maiores clientes. Com isso fecharam quase todas as estações, desativaram extensos ramais e isolaram tradicionais clientes dependentes da ferrovia, focando só no atendimento dos fluxos de maior margem de lucro. Sendo uma concessão pública, os governos não deveriam permitir essa seletividade para os maiores grupos, afinal a ferrovia é indutora do desenvolvimento.

O que significam os acidentes constantes e as denúncias sobre a ALL? É um sinal de decadência desse modelo privado?

A situação geral dos bens das ferrovias é a decadência do sistema, só a Agência Nacional de Transportes Terrestres [ANTT] não quer ver. As ações, tanto do Ministério Público Federal como da Polícia Federal, têm comprovado que o modelo de privatização implementado pelo BNDES, em 1996, foi um verdadeiro fiasco. Segundo dados da Confederação Nacional dos Transportes [CNT], a participação do modal ferroviário na matriz de transporte do Brasil deu marcha ré. Os fretes não baixaram [de preço] como previam os promotores da desestatização. Não houve modernização dos equipamentos de tração, muito pelo contrário, hoje a idade da frota é maior e o patrimônio está em ruínas.

Esse sucateamento foi patrocinado, na década de 1990, pelo BNDES. Quais foram os prejuízos que esse processo acarretou para a economia brasileira?

A premissa do BNDES dizia que não havia recursos públicos para alavancar o sistema ferroviário, com objetivo de mudar a matriz de transporte do país e baratear o custo dos fretes. Garantia que o setor privado tinha dinheiro para injetar o salto da modernização e ampliação da capacidade do sistema. Como essa fonte não jorrou, o banco estatal teve que aportar recursos públicos para alimentar as concessionárias, injetando bilhões em operações de aquisição de material ferroviário e resultados pífios. Para impedir o fiasco total do processo de desestatização, o BNDESPAR (carteira do BNDES acionária de várias empresas) acabou virando sócio da ALL e levou ainda os fundos de previdência de empresas públicas: Funcef, Previ, Petros, Postalis, Sabesprevi, Forluz etc.

O modelo de modais ferroviário é uma alternativa de baixo consumo de energia e preservação do meio-ambiente, se comparado ao modelo de rodovias?

O serviço de transportes no Brasil é o responsável pela queima maior de combustíveis, motivo pelo qual interfere diretamente na busca de uma nova matriz energética para o país. E a nossa matriz de transporte concentra dois terços do volume total de cargas deslocadas por rodovias, que é o modal de maior impacto ambiental. Para transportar cada tonelada de carga por mil quilômetros, são consumidos por hidrovia cinco litros de combustíveis, por ferrovia são 10 litros e rodovia 96 itros, ou seja, quase nove vezes por caminhão se comparado aos trens. Chamamos a atenção também para os custos socioambientais de transportes (inclui acidentes, poluição atmosférica e sonora, consumo de espaço e água). Para o transporte de 100 toneladas/quilômetro por hidrovia custa 0,23 dólar, por ferrovia 0,74 dólar e por rodovia 3,20 dólares. Esses números mostram a opção errada ao se priorizar projetos rodoviários quando existem alternativas de soluções através de modais menos impactantes. Aqui no Paraná, enquanto devíamos estar construindo mil quilômetros de ferrovias e outros tantos de hidrovia, assim como estimulando a cabotagem (navegação realizada entre portos interiores), fala-se em investir mais de R$ 1 bilhão numa rodovia “Interportos”. Aliás, o título escolhido para a obra parece ter saído de algum gabinete parlamentar, pois é uma afronta à inteligência: a menor distância entre os portos é uma linha quase reta pelo mar e lá a aquavia já está pronta!

E qual o papel hoje das ferrovias dentro do atual sistema de transportes?

O Anuário Estatístico do Geipot [órgão extinto do Ministério dos Transportes] apontava, em 1994, mais de 20% das cargas deslocando-se sobre os trilhos. Já o boletim estatístico da Confederação Nacional dos Transportes, de 2009, mostra que o modal ferroviário ainda está patinando na ordem dos 20%. Podemos concluir então que estamos estagnados depois da privatização, apesar da farta propaganda institucional de avanços no segmento.

O modelo de rodovias, de acordo com a sua exposição, parece estar defasado, do ponto de vista da estrutura das pontes e dos veículos que rodam hoje em dia.

Apesar do clamor e dos alertas dos especialistas em transportes, continuamos priorizando as rodovias, jogando sobre essas obras veículos cada vez maiores e mais pesados. Não se respeita as condições originais para as quais essas estradas foram projetadas, para veículos mais leves e curtos. Permitir tráfego de caminhões de até nove eixos, com 60 toneladas de cargas, é um imenso risco de comprometer pontes, viadutos e a pavimentação. Enfim, estamos mal de ferrovias e sobrecarregando nossas rodovias arriscando, assim, num período não muito longínquo, um colapso no sistema de escoamento da produção brasileira. Na prática, apesar de o BNDES já ter presenteado as concessionárias com bilhões de reais, o que se sente é que caminhamos para o fim da linha. Na verdade, quem cresceu foi o porte dos caminhões que já chegaram a nove eixos para suprir a falta de trens. Mesmo assim faltam caminhões para suprir a falta de oferta de vagões. Com essa pressão, sobe o frete rodoviário e o frete ferroviário vem a reboque. Aí as concessionárias dos serviços ferroviários garantem margens maiores sem precisar investir em novas frotas.


Extraído do livro: Os descaminhos de ferro do Brasil.
De: José Hamilton Pereira e Túlio de Souza Muniz.

Da série comparando alhos com bugalhos: Lula x Chavez

pela BBC Brasil

O modelo de governo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, está em “declínio terminal”, pelo menos fora da Venezuela, opina a revista Economist em reportagem desta quinta-feira que traça comparações entre a eficiência do chavismo e do lulismo.


“Em seu auge, cinco anos atrás, Chávez projetou sua ‘revolução bolivariana’, uma poção que mistura socialismo autoritário e populismo, como uma força continental. Não apenas Chávez usou o toque popular de um comunicador nato, como também estava armado de um aparente suprimento ilimitado de petróleo”, diz o texto.

“Hoje, o resto da América do Sul desfruta de crescimento econômico forte, mas a Venezuela está apenas emergindo de dois anos de recessão. (...) O dinheiro do petróleo está em queda, e cortes de energia são endêmicos. No que diz respeito a reduzir a pobreza, outros países superaram a Venezuela. O exemplo mais notável é o do Brasil.”

A Economist defende que políticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mesclaram “estabilidade econômica, investimentos privados e programas sociais que se tornaram moda na região”.

Como exemplo de êxito do “modelo lulista” em relação ao chavista a revista cita o presidente eleito do Peru, Ollanta Humala, que, há cinco anos, fazia campanha como um aliado de Chávez.

Porém, na campanha eleitoral vitoriosa deste ano, Humala tentou se distanciar do presidente venezuelano e se aproximar do modelo brasileiro.

A Economist ressalta, em contrapartida, que a abordagem lulista tem “limites”. “A escala e o escopo do governo brasileiro continuam a crescer de formas que não necessariamente beneficiarão os mais pobres. A política fiscal de Lula contribuiu para o superaquecimento da economia."

A reportagem conclui que o modelo chavista pode manter sua base de apoio na Venezuela, mas opina que “a onda da história latino-americana se virou contra Chávez”.


NOTA BOTOCUDA

O Lulismo ganhou do Chavismo?... Mas eles estavam disputando alguma coisa?... Além disso, querer comparar o Brasil com a Venezuela é pácábá, hein?...

Etanol de segunda geração

por Lilian Milena, no brasilianas.org


A oferta de etanol para o mercado de combustíveis está no limite do que a demanda de carros flex necessita. Recentemente a Unica, associação das indústrias do setor sucroalcooleiro, anunciou um corte de 11,4% da oferta do produto para 22,5 bilhões de litros de etanol este ano, a uma frota de veículos bicombustíveis estimada hoje em 12 milhões de carros e com consumo potencial anual de álcool igual a 21 bilhões de litros.

A redução da oferta ocorreu devido a problemas climáticos sofridos pela região centro-sul, responsável por 90% da safra de cana brasileira. Entretanto, os problemas que envolvem a produção de álcool não são apenas de questão ambiental - o aumento da frota de veículos flex também exigirá mais trabalho das usinas nos próximos anos.

Para saber como resolver esse problema no médio e longo prazo, o Brasilianas.orgconversou com especialistas de entidades que pesquisam o aumento da produtividade do biocombustível a partir do etanol celulósico. Para o curto prazo, o governo estuda reduzir a porcentagem de etanol na gasolina, de 25% para 18%. Segundo o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, a medida poderá ser tomada no dia 1º de outubro.

Futuro da produção

A produtividade do etanol brasileiro atualmente é de 7 mil litros de álcool por hectare de cana plantado. Com o domínio da tecnologia de produção do etanol celulósico a produtividade sofrerá aumento de 30%, para 10 mil litros de álcool/ha, estima Jaime Finguerut, gerente de desenvolvimento estratégico do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira).

Segundo ele, o custo atual do combustível à base de celulose já seria competitivo com o custo do etanol norte-americano, hoje com valor superior entre 30% e 40% do etanol brasileiro de primeira geração. “Mas esses cálculos de valores são grosseiros, em cima de uma escala longe da comercial”, esclarece Finguerut, que prevê para a safra de 2013 a produção dos primeiros litros de etanol de segunda geração, saindo de alguma torneira de uma usina real.

Desde 1997 o CTC estuda a produção de etanol do bagaço da cana. Para a entidade, a criação de uma carteira de investimentos BNDES-FINEP, este ano - específica para o desenvolvimento de tecnologia nos setores sucroenergético (PAISS) -, foi um passo importante tomado pelo governo, que ajudará a acelerar a introdução do etanol celulósico, em larga escala, no mercado. As empresas apoiadas receberão até R$ 10 milhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FNDCT.

Diferença entre as técnicas

O etanol de segunda geração é produzido a partir do bagaço que passa por um processo de lavagem e pré-tratamento para que sua superfície fique maior. Nele são aplicadas enzimas que quebram a celulose do material em glicose. "A glicose que sobra é a mesma substância que temos no caldo utilizado na primeira geração de etanol. Daí, então, é só aplicar a levedura e produzir o álcool", explica Marcos Buckeridge, do CTBE (Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol).

Os norte-americanos dizem que estão na frente quanto ao domínio da tecnologia. Recentemente, um dos pioneiros nessas pesquisas nos EUA, Lee Lynd, anunciou deter um processo mais rápido e barato, que reduz em uma as quatro transformações que envolvem a produção do etanol celulósico. A técnica, chamada de bioprocessamento consolidado (CBP), é realizada a partir de um microorganismo geneticamente modificado que soma as características das leveduras e das enzimas.

Buckeridge, pensa diferente. "Os americanos têm muito dinheiro e pesquisadores, mas não tem uma planta tão estudada e tão madura para fazer isso quanto nós, que é o caso da cana de açúcar". O Brasil tem cerca de 500 usinas de açúcar e álcool já em funcionamento. Os norte-americanos produzem etanol a partir do amido de milho, que é um alimento, e precisam subsidiar sua produção para tornar o preço do etanol do milho equivalente ao preço do etanol da cana de açúcar.

Jaime Finguerut concorda com o colega, mas aponta que outros países estão um pouco à frente do Brasil. “Em relação ao etanol celulósico, nós estamos num estágio um pouco antes da escala de demonstração. Nos Estados Unidos existem quatro instalações de demonstração já operando. Existem também outras na Dinamarca, na Suécia. São instalações para o nosso tamanho de produção de álcool bastante pequena, chegam a produzir 1 milhão de litros por ano, enquanto as nossas plantas produzem 1 milhão de litros de álcool primeira geração por dia”, conta.

Concorrentes da segunda geração

A indústria brasileira pode até ser mais competitiva, mas a produção de etanol de segunda geração já tem fortes concorrentes, dentro das próprias usinas. O bagaço que sobra do processo para obtenção do etanol de primeira geração não é descartado, e sim queimado em caldeiras e transformado em energia elétrica. A eletricidade excedente, não consumida pelas usinas, é de cerca de 40%, geralmente vendida para o sistema interligado de distribuição elétrica nacional, explica Buckeridge.

O que acontecerá no futuro será determinado pelo mercado. "Se ele estiver pagando mais por eletricidade, vamos queimar o bagaço e a palha para produzir eletricidade. Se o etanol for mais bem pago, então vamos usá-los para produzir etanol de segunda geração", completa o pesquisador. Logo, a produção do etanol celulósico deverá ser, no Brasil, acoplada à produção de etanol de primeira geração.

Buckeridge destaca que esse combustível terá que concorrer, ainda, com a chamada química verde, divisão da ciência que estuda compostos do bagaço e da palha da cana que possam ser comercializados e utilizados pela medicina e indústria alimentar. Já existem patentes para uma substância que auxilia diabéticos e para uma fibra solúvel em bolachas.

"No futuro teremos que fazer as contas para saber o que realmente irá valer mais a pena". O que importa no final das contas, considera o biólogo, é que as usinas brasileiras sejam flex e dominem até mesmo os conhecimentos da química fina.


NOTA BOTOCUDA

Etanol de 2ª geração é o produzido por hidrolise enzimática, onde, podemos ver, ocorrem mistificações tecnológicas sem numero em que avançam para modificações genéticas na tentativa de dominação via patentes. Mas, os resultados práticos dessas técnicas: energéticos, ambientais, sociais e por fim, econômicos, não são satisfatórios. Algas, assunto tratado recorrentemente neste blog botocudo, tem muito mais futuro.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

A bola da vez é... corrupção!




texto de Marco Aurelio Weissheimer, em seu blog RS Urgente


Subitamente, setores da sociedade brasileira querem que o povo saia às ruas. É preciso qualificar esses “setores da sociedade brasileira”. São aqueles que foram apeados do poder político no início dos anos 2000 e que tiveram sua agenda política e econômica dilacerada pela realidade. A globalização econômica cantada em prosa e verso nos anos 1990 revelou-se um fracasso retumbante. A globalização financeira, a única que houve, afundou em uma crise dramática que drenou bilhões de dólares da economia real, conta que, agora, está sendo paga por quem costuma pagar essas lambanças: o povo trabalhador que vive da renda de seu trabalho.

Durante praticamente duas décadas, nos anos 80 e 90, a esmagadora maioria da imprensa no Brasil e no exterior repetiu os mesmos mantras: o Estado era uma instituição ineficiente e corrupta, era preciso privatizar a economia, desregulamentar, flexibilizar. A globalização levaria o mundo a um novo renascimento. Milhares de editoriais e colunas repetiram esse discurso em jornais, rádios, tvs e páginas da internet por todo o mundo. Tudo isso virou pó. Os gigantes da economia capitalista estão mergulhados em uma grave crise, a Europa, que já foi exemplo de Estado de Bem-Estar Social, corta direitos conquistados a duras penas após duas guerras mundiais. A principal experiência de integração regional, a União Europeia, anda para trás.

No Brasil, diante da total ausência de programa, de projeto, os representantes políticos e midiáticos deste modelo fracassado que levou a economia mundial para o atoleiro, voltam-se mais uma vez para o tema da corrupção. Essa é uma história velhíssima na política brasileira. Já foi usada várias vezes, contra diferentes governantes. Afinal de contas, os corruptos seguem agindo dentro e fora dos governos. Aparentemente, por uma curiosa mágica, eles são apresentados sempre como um ser que habita exclusivamente a esfera pública. Quando algum corrupto privado aparece com algemas, costuma haver uma surda indignação contra os “excessos policiais”.

No último domingo, o jornal O Globo publicou uma reportagem para questionar por que os brasileiros não saem às ruas para protestar contra a corrupção. O Globo sabe a resposta. Como costuma acontecer no Brasil e no resto do mundo, o povo só sai às ruas quando a economia vai mal, quando há elevadas taxas de desemprego, quando as prateleiras dos super mercados tornam-se território hostil, quando não há perspectiva para a juventude. Não há nada disso no Brasil de hoje. Há outros problemas, sérios, mas não estes. A violência, o tráfico de drogas, as filas na saúde, a falta de uma educação de melhor qualidade. É de causar perplexidade (só aparente, na verdade) que nada disso interesse à oposição. Quem está falando sobre isso são setores mais à esquerda do atual governo.

Comparando com o que acontece no resto do mundo, a economia brasileira vai bem. Não chegamos ao paraíso, obviamente. Longe disso. Há preocupações legítimas em nosso vale de lágrimas que deveriam ser levadas a sério pelo governo federal sobre a correção e pertinência da atual política cambial e de juros, apenas para citar um exemplo. O Brasil virou mais uma vez um paraíso para o capital especulativo e a supervalorização do real incentiva um processo de desindustrialização.

Curiosamente, essa não é a principal bandeira da oposição. Por que estão centrando fogo no tema da corrupção e não na ausência de mecanismos de controle de capitais, por exemplo? Por que não há editoriais irados e enfáticos contra a política do Banco Central e as posições defendidas pelos agentes do setor financeiro? Bem, as respostas são conhecidas. Os partidos políticos não são entidades abstratas descoladas da vida social das comunidades. Alguns até acabam pervertendo seus ideais de origem e se transformam em híbridos de difícil definição. Mas outros permanecem fiéis às suas origens e repetem seus discursos e estratégias, década após década.

Nos últimos dias, lideranças nacionais do PSDB e seus braços midiáticos vêm repetindo um mesmo slogan: o Brasil vive uma das mais graves crises de corrupção de sua história. Parece ser uma tese com pouco futuro. Tomando as denúncias de corrupção como critério, o processo de privatizações no período FHC é imbatível. Há problemas econômicos reais no horizonte. É curioso que isso não interesse à oposição. Afinal, é isso que, no final das contas, faz o povo sair às ruas. Sempre foi assim: a guerra, a fome, o desemprego. Esses são os combustíveis das revoluções.

A indigência intelectual e programática da oposição brasileira não consegue fazer algo além do que abrir a geladeira, pegar o feijão congelado meio embolorado da UDN, colocá-lo no forno e oferecê-lo à população como se fosse uma feijoada irrecusável. Mas no fundo não se trata de indigência. É falta de alternativa mesmo. Falta de ter o quê dizer. Não falta matéria-prima para uma oposição no Brasil, falta cérebro e, principalmente, compromisso com um projeto de país e seu povo.

O modelo político-econômico que hoje, no Brasil, abraça a corrupção como principal bandeira esteve no poder nas últimas décadas por toda a América Latina e foi varrido do mapa político do continente, com algumas exceções. Seu ideário virou sinônimo de crise por todo o mundo. É preciso mudar de assunto mesmo. A verdade, em muitos casos, pode ser insuportável, ou, simplesmente, inconveniente.

(*) Artigo publicado originalmente na Carta Maior