por Lilian Milena, no brasilianas.org
A oferta de etanol para o mercado de combustíveis está no limite do que a demanda de carros flex necessita. Recentemente a Unica, associação das indústrias do setor sucroalcooleiro, anunciou um corte de 11,4% da oferta do produto para 22,5 bilhões de litros de etanol este ano, a uma frota de veículos bicombustíveis estimada hoje em 12 milhões de carros e com consumo potencial anual de álcool igual a 21 bilhões de litros.
A redução da oferta ocorreu devido a problemas climáticos sofridos pela região centro-sul, responsável por 90% da safra de cana brasileira. Entretanto, os problemas que envolvem a produção de álcool não são apenas de questão ambiental - o aumento da frota de veículos flex também exigirá mais trabalho das usinas nos próximos anos.
Futuro da produção
A produtividade do etanol brasileiro atualmente é de 7 mil litros de álcool por hectare de cana plantado. Com o domínio da tecnologia de produção do etanol celulósico a produtividade sofrerá aumento de 30%, para 10 mil litros de álcool/ha, estima Jaime Finguerut, gerente de desenvolvimento estratégico do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira).
Segundo ele, o custo atual do combustível à base de celulose já seria competitivo com o custo do etanol norte-americano, hoje com valor superior entre 30% e 40% do etanol brasileiro de primeira geração. “Mas esses cálculos de valores são grosseiros, em cima de uma escala longe da comercial”, esclarece Finguerut, que prevê para a safra de 2013 a produção dos primeiros litros de etanol de segunda geração, saindo de alguma torneira de uma usina real.
Desde 1997 o CTC estuda a produção de etanol do bagaço da cana. Para a entidade, a criação de uma carteira de investimentos BNDES-FINEP, este ano - específica para o desenvolvimento de tecnologia nos setores sucroenergético (PAISS) -, foi um passo importante tomado pelo governo, que ajudará a acelerar a introdução do etanol celulósico, em larga escala, no mercado. As empresas apoiadas receberão até R$ 10 milhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FNDCT.
Diferença entre as técnicas
O etanol de segunda geração é produzido a partir do bagaço que passa por um processo de lavagem e pré-tratamento para que sua superfície fique maior. Nele são aplicadas enzimas que quebram a celulose do material em glicose. "A glicose que sobra é a mesma substância que temos no caldo utilizado na primeira geração de etanol. Daí, então, é só aplicar a levedura e produzir o álcool", explica Marcos Buckeridge, do CTBE (Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol).
Os norte-americanos dizem que estão na frente quanto ao domínio da tecnologia. Recentemente, um dos pioneiros nessas pesquisas nos EUA, Lee Lynd, anunciou deter um processo mais rápido e barato, que reduz em uma as quatro transformações que envolvem a produção do etanol celulósico. A técnica, chamada de bioprocessamento consolidado (CBP), é realizada a partir de um microorganismo geneticamente modificado que soma as características das leveduras e das enzimas.
Buckeridge, pensa diferente. "Os americanos têm muito dinheiro e pesquisadores, mas não tem uma planta tão estudada e tão madura para fazer isso quanto nós, que é o caso da cana de açúcar". O Brasil tem cerca de 500 usinas de açúcar e álcool já em funcionamento. Os norte-americanos produzem etanol a partir do amido de milho, que é um alimento, e precisam subsidiar sua produção para tornar o preço do etanol do milho equivalente ao preço do etanol da cana de açúcar.
Jaime Finguerut concorda com o colega, mas aponta que outros países estão um pouco à frente do Brasil. “Em relação ao etanol celulósico, nós estamos num estágio um pouco antes da escala de demonstração. Nos Estados Unidos existem quatro instalações de demonstração já operando. Existem também outras na Dinamarca, na Suécia. São instalações para o nosso tamanho de produção de álcool bastante pequena, chegam a produzir 1 milhão de litros por ano, enquanto as nossas plantas produzem 1 milhão de litros de álcool primeira geração por dia”, conta.
Concorrentes da segunda geração
A indústria brasileira pode até ser mais competitiva, mas a produção de etanol de segunda geração já tem fortes concorrentes, dentro das próprias usinas. O bagaço que sobra do processo para obtenção do etanol de primeira geração não é descartado, e sim queimado em caldeiras e transformado em energia elétrica. A eletricidade excedente, não consumida pelas usinas, é de cerca de 40%, geralmente vendida para o sistema interligado de distribuição elétrica nacional, explica Buckeridge.
O que acontecerá no futuro será determinado pelo mercado. "Se ele estiver pagando mais por eletricidade, vamos queimar o bagaço e a palha para produzir eletricidade. Se o etanol for mais bem pago, então vamos usá-los para produzir etanol de segunda geração", completa o pesquisador. Logo, a produção do etanol celulósico deverá ser, no Brasil, acoplada à produção de etanol de primeira geração.
Buckeridge destaca que esse combustível terá que concorrer, ainda, com a chamada química verde, divisão da ciência que estuda compostos do bagaço e da palha da cana que possam ser comercializados e utilizados pela medicina e indústria alimentar. Já existem patentes para uma substância que auxilia diabéticos e para uma fibra solúvel em bolachas.
"No futuro teremos que fazer as contas para saber o que realmente irá valer mais a pena". O que importa no final das contas, considera o biólogo, é que as usinas brasileiras sejam flex e dominem até mesmo os conhecimentos da química fina.
NOTA BOTOCUDA
Etanol de 2ª geração é o produzido por hidrolise enzimática, onde, podemos ver, ocorrem mistificações tecnológicas sem numero em que avançam para modificações genéticas na tentativa de dominação via patentes. Mas, os resultados práticos dessas técnicas: energéticos, ambientais, sociais e por fim, econômicos, não são satisfatórios. Algas, assunto tratado recorrentemente neste blog botocudo, tem muito mais futuro.
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