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terça-feira, 12 de julho de 2011

Sobre o inquérito do acidente da TAM em Congonhas

Aquele em que o Presidente Lula assassinou 199 brasileiros porque permitiu que se instalasse o "caos aéreo" e a pista não tinha “grooving”.



análise de André Borges Lopes, no blog do Nassif


É obvio que um acidente desse tipo sempre tem uma meia dúzia de "culpados" que – por ação ou omissão – contribuiram para a conjunção de fatores que levou à tragédia. O procurador De Grandis que me desculpe, mas o MPF está "jogando para a platéia" com essa tentativa de criminalizar isoladamente três indivíduos pelo conjunto de erros que causaram essas mortes estúpidas. Eu temo que a denúncia, da maneira como está formulada, resulte inepta: acabará sendo arquivada ou vai se encerrar com a absolvição dos acusados.

Não tive acesso à íntegra do processo mas, pelo que eu li na imprensa, há equívocos graves na denúncia.

O principal erro é centrar a peça acusatória nesse falso pressuposto de que havia em Congonhas na ocasião "péssimas condições de frenagem da pista, notadamente em dias de chuva" (tentando no bojo ressuscitar a velha questão da falta do famigerado "grooving"), o que é tecnicamente uma bobagem. Além do asfalto ter sido aprovado na ocasião pelo IPT, constata-se que, se as condições eram péssimas há 4 anos, elas o seriam até hoje, já que a pista não foi reconstruída após o acidente (e não há aplicação de grooving que milagrosamente conserte uma pista ruim).

Além disso, ainda que já houvesse grooving aplicado na pista, as ranhuras não teriam alterado em nada o fatídico resultado de um pouso que já estava essencialmente condenado pelo erro de operação nas manetes pelos tripulantes. Dezenas de aviões similares pousaram naquela pista sob chuva e sem grooving no dia da tragédia, milhares de pousos sem incidentes foram realizados em Congonhas desde então. Por fim, há centenas de aeroportos no mundo operando em segurança sem qualquer grooving nas pistas.

A ANAC tinha sim (e ainda tem) culpa por ceder às pressões das Cias Aéreas e dos usuários ao permitir que um aeroporto com severas limitações – como é o caso de Congonhas – opere na prática como um dos principais "hubs" das linhas aéreas no País. Ressalte-se que, nesse aspecto, pouca coisa mudou desde então. As chances de que, num prazo de poucos anos, presenciemos outro acidente grave em Congonhas permanecem muito elevadas.

A TAM teve parcela inequívoca de culpa direta ao deixar seu avião operando numa situação (o reverso inoperante) em que sacrificavam-se as margens de segurança para um pouso pesado em pista curta e molhada. Essa culpa que é agravada pela decisão imprudente de carregar desnecessariamente um avião defeituoso com combustível excedente em Porto Alegre, só para economizar uns caraminguás de ICMS. Tem também culpa indireta na medida em que fica claro que a tripulação não estava devidamente treinada para o pouso nessas condições, e menos ainda para lidar adequadamente com uma situação de emergência (assim como acontecera no acidente anterior com o Focker 100).

A AIRBUS tem sua parcela de culpa na medida em que foi constatado que os procedimentos corretos de pouso com um reverso travado eram bastante complexos e confusos, com um sistema automatizado "fly-by-wire" que mais atrapalhou que ajudou na ocasião.

Por fim, em meio ao carnaval midiático do "Caos Aéreo", não se sabe qual o grau de pressão sofrido pelas tripulações para manter o cronograma das operações. Nas condições de risco em que estava, o Comandante tinha autonomia para solicitar um pouso alternativo nas longas pistas de Guarulhos, onde aterraria sossegado com as manetes em "Idle", sem uso dos reversos. Mas isso certamente geraria a usual insatisfação nos passageiros, além de problemas no escalonamento dos demais vôos da TAM.

Tentar condenar a Denise Abreu e os diretores da TAM a meia dúzia de anos de detenção (que provavelmente seriam convertidos em multas e/ou serviços comunitários) pode até ser didático, pode até dar alguma satisfação às famílias dos envolvidos, mas não resolve a principal questão.

O que eu efetivamente quero saber é em que medida (depois de todo o falatório e montes de promessas que circularam na época) os aviões da TAM e o aeroporto de Congonhas estão hoje mais seguros do que há quatro anos.


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NOTA BOTOCUDA

Pode-se recapitular toda a sandice que correu na imprensa golpista nacional naqueles dias imediatamente após o acidente, em julho de 2007, neste blog. Abobrinhas de Arnaldo Jabor, disparates de Globos, Folhas de SP, top-top de Marco Aurelio Garcia e por ai vai...

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