A gente imagina que caos é anarquia, falta de organização, algo assim. Mas a teoria do caos, conforme proposta de JAMES GLEICK (Caos, criação de uma nova ciência, Rio de Janeiro, Campus, 1989), tem outra conceituação. Os sistemas naturais apresentam mudanças significativas na maneira como funcionam mesmo quando permanecem dentro do mesmo padrão global, de forma que certas fronteiras críticas que definem este padrão não podem ser transpostas sem que este equilíbrio seja ameaçado.
Traduzindo para exemplos simples e de fácil compreensão poderíamos dizer que é a gota de água que transborda o copo, ou de como a movimentação das asas de uma borboleta em Pequim, altera a condição dos ventos em Cuiabá. Coisas que aparentemente não tem nenhum sentido, mas estão relacionadas por equilíbrios frágeis e complexos.
Tem fatos naturais que não guardam as mesmas leis de organização que estamos acostumados a saber, não tem geometria, não são passíveis de descrições por algoritmos matemáticos lineares ou logarítmicos, mas nem por isso deixam de existir. São as chamadas ordens naturais não-lineares ou fractais ou nem compreendidas.
Na análise dos impactos ambientais existem vinculações com o espaço, o tempo e a ciclicidade. Isto implica interação com o equilíbrio endógeno (interno) e exógeno (externo). É como quando alguém adoece. Uma dor de estomago atrapalha muito qualquer outra atividade e interfere no conjunto da saúde.
Nesta paisagem ocorre de forma indiscutível, a intervenção da questão política como cenário de fundo para muito, ou quase tudo que ocorre no planeta.
Existem relações ainda não completamente descritas entre várias ocorrências da civilização, com fatores de clima, condições naturais ou interferências antrópicas, que desequilibram o meio natural. Podem se citar exemplos bem prosaicos e ao nosso alcance, como as monoculturas e as ações históricas dela decorrentes. Que tornam os ecossistemas muito vulneráveis ou frágeis.
De fato, muitas das conexões demonstradas tiveram conseqüências registradas e demonstradas sobre eventos históricos, mas não é possível afirmar que a abordagem reducionista aplicada, limitando os fatores para explicar os fatos, possam resistir a análises mais completas.
Complexidade é isto, são inúmeros fatores, geralmente muito além do que a gente possa citar ou analisar e que estão envolvidos com a ocorrência. Todo mundo associa a gordura com os níveis de colesterol, e está certo. Mas não é o único fator, tem sedentarismo, e vários outros itens que a medicina cita.
Conseguir vincular todos os itens relevantes e as relações entre eles numa análise de impacto ambiental é um grande desafio, bastante difícil de atingir mesmo que se tenha extrema boa vontade.
Na visão de mundo apresentada por várias religiões orientais antigas, é destacada a experiência de viver a unidade em um corpo integrado física e mentalmente, vale dizer emocionalmente. O mesmo pode ser dito para a maioria das intervenções antrópicas sobre o meio natural. Deve resguardar sua unidade tanto fisiológica quanto funcional.
Para estas escolas do pensamento humano, enquanto a sociedade humana viver dicotomias que precipitam comportamentos desintegrados, a vida será entendida como um processo de aquisições sem compromisso. E sabemos que não é assim, talvez nossa maior festividade seja o compromisso celebrado quando um homem e uma mulher casam. Talvez tenha que ser assim com o mundo um dia.
Apenas a sensação de integração entre a vida e os sentimentos que são criados ou propagados pelas vivências é que poderão transformar o prazer de ter no prazer de ser, conforme já amplamente demonstrado por CRISTOPHER LASCH em 1986, no seu livro “The minimal self” (O mínimo eu).
O aprofundamento desta discussão talvez possa ser resumido na conscientização de que novos paradigmas geram novas formas de visão e abordagem. Deste processo resultam novos valores éticos e humanos que vão se tornar relevantes em todas as dimensões da vida.
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