tag:blogger.com,1999:blog-60533196630609306942024-03-06T17:02:56.286-03:00TAMBOR DOS BOTOCUDOS (Die Botokuden Trommel)Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.comBlogger2081125tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-49307552600493143342019-01-23T14:42:00.000-02:002019-01-24T15:01:10.999-02:00Fracking NÃO!... mas o que ser isso?...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjo-jJ2RmNLTGOU1PUZblGc2nisVsuTxAnTOGZEcSnIY-aKdKUYD9SHCNeB4etPBFTynK8tyyb490rHT8PYHLSxK0UnV-eR8Q-AxWpb9iQzs1jAoKpmJFXxdXELSVVPog6qHWpbxe3fNts/s1600/fracking1.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="513" data-original-width="655" height="311" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjo-jJ2RmNLTGOU1PUZblGc2nisVsuTxAnTOGZEcSnIY-aKdKUYD9SHCNeB4etPBFTynK8tyyb490rHT8PYHLSxK0UnV-eR8Q-AxWpb9iQzs1jAoKpmJFXxdXELSVVPog6qHWpbxe3fNts/s400/fracking1.png" width="400" /></a></div>
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<i><i>por Bianca Diele da Silva, no <b><a href="https://br.boell.org/pt-br/2016/02/19/aguas-e-o-fracking-no-brasil" target="_blank">Heinrich Böll Stiftung Brasil</a></b></i></i><br />
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<i><i>(publicado originalmente aqui em julho de 2017)</i></i><br />
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A questão da água no Brasil tem se tornado central nas discussões atuais. Como um país que possui 12% de toda a reserva de água doce do mundo pode estar exposto a um cenário de escassez? O caso da redução de chuvas na região sudeste foi apontado pelos gestores como um fato que desencadeou a redução drástica nos níveis dos reservatórios. No entanto, pouco se falou sobre o desmatamento das bacias hidrográficas, da poluição derramada todos os dias nos nossos rios inviabilizando seu uso para abastecimento humano ou do uso e desperdício dos setores agrícolas e industriais. Um exemplo desses outros graves fatores que contribuem para a escassez de água é o crime de Mariana, que deixou municípios inteiros sem este recurso.<br />
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Será que estamos aprendendo com isso? <br />
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Não é só o setor minerário, responsável pelo desastre de Mariana, que oferece riscos a oferta de água no país.<br />
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Com as recentes descobertas e início de exploração do pré-sal, o Brasil tem aprofundado a dependência das fontes fósseis de energia como projeto de desenvolvimento. Em setembro de 2013, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) anunciou a 13ª rodada de concessão de lotes para a exploração de gás natural de fontes não convencionais. Dentre estas fontes não convencionais está o gás de folhelho, popularmente conhecido como gás de “xisto” (<i>shale gas</i> em ingles).<br />
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Para a exploração deste gás é utilizada uma técnica chamada de fraturamento hidráulico de alta pressão, ou <i>fracking</i>, que utiliza quantidades enormes de água e gera um volume grande de efluentes. Estes efluentes possuem uma mistura de produtos químicos altamente tóxicos, areia, além de materiais radioativos carreados do subsolo. Isto, por si só, já seria um problema considerável, mas some-se o fato de que as fraturas podem alcançar corpos de água subterrâneos como os aqüíferos, contaminando-os com esta mistura.<br />
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Os Estados Unidos foram os precursores no uso comercial desta técnica. Por isso, em setembro de 2015, a Fundação Heinrich Böll, em parceria com outras organizações, realizou, naquele país, a <i>Fracking Tour</i>, cujo objetivo foi conhecer as áreas já exploradas através desta técnica e saber como a polêmica extração de petróleo tem envolvido os movimentos ambientalistas e de direitos humanos. Participaram da atividade países que já possuem áreas de extração via <i>fracking </i>como Argentina e México, bem como aqueles que vêm sofrendo pressões para iniciá-las, como Brasil, África do Sul, China, Irlanda, Alemanha e Chile. E eu fui convidada a participar desta atividade como representante brasileira nas discussões.<br />
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Nos Estados Unidos, graças ao lobby desta indústria, os empreendimentos que se utilizam desta técnica não precisam se enquadrar nos marcos regulatórios ambientais que protegem os recursos hídricos e o ar. Conseqüentemente, os poços de água potável das habitações próximas aos locais de exploração foram contaminados sem as devidas medidas de controle e mitigação. Durante a atividade foram visitadas algumas casas na zona rural do estado da Pensilvânia, onde além dos poços contaminados, registraram-se relatos de animais que morreram por terem bebido a água e de pessoas com problemas respiratórios e de pele, com medo de terem sido contaminadas. Os profissionais de saúde não têm acesso a informações sobre as composições dos fluidos que estão impactando na saúde dos residentes.<br />
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A atividade da exploração, que se intensificou consideravelmente nos últimos dez anos, não atingiu só o meio ambiente, mas também a saúde das pessoas, os seus modos de vida e a relação entre os indivíduos e as instituições governamentais que deveriam garantir o seu direito a um ambiente saudável. Alguns moradores que resolveram denunciar esta situação sofrem represálias da indústria como processos judiciais e intimidações. Para um país orgulhoso de sua democracia e liberdade de expressão, isto é um retrocesso. <br />
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Deixamos esta região com a certeza que os impactos são muito maiores do que os descritos nos artigos, e que o acordo entre a indústria e o governo para o avanço do uso desta tecnologia sem os devidos controles foi muito danosa para a sociedade como um todo. Não foi à toa que, no Brasil, os cientistas solicitaram que mais estudos fossem realizados para avaliar os impactos potenciais antes da aprovação do uso do <i>fracking</i>. Mesmo assim o governo Dilma liberou o leilão e ainda fez uma regulamentação (ANP 21/2014) sobre o tema que deixa os corpos d’água ainda mais expostos pela adoção de parâmetros aleatórios de controle de linha de base da qualidade da água, que não condizem com a composição dos fluidos utilizados.<br />
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Mas nem tudo está perdido. Na segunda parte da nossa visita pudemos conhecer como o estado de Nova Iorque, onde também há reservas de gás de “xisto”, baniu a utilização desta técnica baseado em estudos científicos que contaram com uma avaliação criteriosa de profissionais ambientais e de saúde. Muitas organizações ambientalistas, de saúde e de direitos humanos conseguiram levar a discussão para a população, sensibilizando-a para a importância de não repetir o que estava acontecendo no estado vizinho.<br />
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Foi uma mobilização longa que começou com discussões, depois pela definição de uma moratória até que mais estudos e mais dados fossem analisados, e finalmente pelo banimento em junho deste ano. Na ocasião da nossa visita, em setembro, o movimento contra o <i>fracking </i>da região estava feliz e aliviado, mas continuavam atentos nos desafios de se manter o banimento e de ampliar esta discussão para que ninguém tenha que ser exposto aos riscos; inclusive os países que vem sofrendo pressões para aderir a essa prática ou que, como no caso do México e da Argentina, já possuem campos de exploração deste tipo.<br />
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A troca e atualização das informações foi essencial para o entendimento da importância das resistências a esta nova ameaça e de como podemos fomentar a discussão nos nossos países. Também é importante fortalecer as estratégias comuns já existentes, como no caso da “<i>Alianza Latinoamericana Frente al Fracking</i>”. Na América Latina, descobrimos que temos muito em comum, tanto na forma que os governos estão atuando para a introdução do <i>fracking </i>por meio de um discurso que minimiza os riscos e supervaloriza os benefícios, como por um anseio das populações dos territórios atingidos e ameaçados por respeito ao seu direito de dizer não.<br />
As questões da água são centrais nesta disputa. No Brasil esta já adentrou o campo jurídico por meio de várias ações civis públicas, e algumas delas conseguiram a suspensão do plano de iniciar o uso do <i>fracking </i>em algumas bacias. Além disso, iniciou-se um movimento dos municípios com a declaração de municípios Livres de <i>fracking</i>. Além disso, iniciou-se um movimento dos municípios com a declaração de municípios Livres de <i>fracking </i>como Toledo e Cascavel no Paraná.<br />
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Sabemos que esta será uma luta longa e que temos que trabalhar para a ampliação da discussão com a sociedade como um todo, mas acreditamos que o povo brasileiro, que sempre valorizou e cultivou suas águas saberá tomar a melhor decisão sobre esta questão se lhe for dado este direito.<br />
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Para quê um país com tanto potencial para energias renováveis optaria por uma tecnologia tão controversa? Com a descoberta e exploração do pré-sal, devemos ampliar ainda mais a nossa dependência de fontes fósseis de energia? Se temos que mudar, como já foi tantas vezes repetidos pelos especialistas do clima, por que não começamos agora? Por que colocar os nossos aquíferos que estão entre os maiores e de melhor qualidade do mundo em risco?<br />
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Por que ampliar os conflitos de água com a inclusão de mais uma indústria de uso intensivo de água e com alto potencial poluidor? Pela segurança das nossas águas e das nossas vidas, <i>fracking </i>não. <br />
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<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dwlTXdTwDFjh5tL8VImPTFY33_dv2f9JORrF5W_5aEDXo-n6UDzfXdgl00mVAAs-_Ja7NnDoJYJ0_19HHmtjQ' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe></div>
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Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-88049131939241244012018-07-10T08:56:00.000-03:002018-07-10T22:40:35.350-03:00O contorcionismo semiótico do Braziu...ziu... ziu!...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLKcMhgECOVlpz9UrT2muAo9UdYOu92qVZ8HrFHGm8k8M4Ools6BEftiuSzuT-_EvsUQNYYyOICMoSxpzIaQMtPUCJ3gqX021fVoOngeIKJj22p2HD93wotf73-MewpyhNoax5BZ5iJVI/s1600/torcedor_brasil_fan_fest.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="652" data-original-width="1086" height="384" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLKcMhgECOVlpz9UrT2muAo9UdYOu92qVZ8HrFHGm8k8M4Ools6BEftiuSzuT-_EvsUQNYYyOICMoSxpzIaQMtPUCJ3gqX021fVoOngeIKJj22p2HD93wotf73-MewpyhNoax5BZ5iJVI/s640/torcedor_brasil_fan_fest.jpg" width="640" /></a></div>
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<i>por Wilson Roberto Vieira Ferreira, no ótimo <b><a href="http://cinegnose.blogspot.com/2018/07/por-que-o-brasil-nao-podia-ser-campeao.html" target="_blank">Cinema Secreto:Cinegnose</a></b></i></div>
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A máquina semiótica da Guerra Híbrida faz nesse momento um pesado investimento ideológico para justificar os efeitos do atual modelo neoliberal imposto ao Brasil: crise, desemprego e precarização do trabalho, no qual milhões de desempregados foram promovidos repentinamente a “empreendedores”. E no rescaldo da eliminação do Brasil diante da Bélgica na Copa da Rússia está sendo mobilizado uma operação de emergência para salvar o alto investimento semiótico-ideológico feito no futebol pela grande mídia e mercado publicitário: salvar Tite e Neymar e colocar em ação o tradicional sacrifício do bode expiatório – o volante Fernandinho. Por que? </i><br />
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Em cada época, o futebol reflete o modismo linguístico do seu momento. Na Copa de 1978 o técnico da Seleção Cláudio Coutinho tinha um discurso repleto de conceitos estranhos como “overlapping”, “ponto futuro” e “polivalência”. Refletia a europeização do futebol com estrangeirismos ao gosto de uma nova classe média que surgia do breve “milagre econômico brasileiro” da ditadura militar – uma classe que ansiava tudo que emulava o “estrangeiro” como o Play Center em SP e cantores brasileiros que se passavam por gringos como Morris Albert.<br />
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Nos anos 1990 termos como “qualidade do passe”, “excelência tática” e “gestão do time” passaram a ocupar o discurso dos técnicos nas coletivas com a imprensa pós-jogos. Outro reflexo, dessa vez do modismo da Reengenharia e dos certificados de qualidade ISO 9000, febre nos meios corporativos. E de um futebol que buscava se profissionalizar. Pelos menos na aparência discursiva.<br />
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E agora nesse início de século XXI, na boca dos jogadores e técnicos em preleções e entrevistas pós-jogo, é um tal de “fazer a diferença” de um lado e “estar focado” do outro... Principalmente no paroxismo desse modelo linguístico atual – o jargão mérito-empreendedor-motivacional de dez em cada dez palestrantes corporativos. Cujo reflexo está no discurso do técnico da Seleção Tite, celebrado pelos comerciais do banco Itaú. “Fazer por merecer”, “desempenho”, “trabalho”, “estar determinado” e assim por diante.<br />
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Em meio aos anos da ditadura militar brasileira, as seleções de 1970 a 1978 serviram à função ideológica mais primária de “pão e circo” – como falsa consciência, cujo papel era o de encobrir os “anos de chumbo” de censura, perseguições, torturas e assassinatos políticos.<br />
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Mas desde o Golpe de 2016 o futebol, principalmente o da Seleção, passou a ter um papel ideológico mais sofisticado do que de um mero tapume erguido para esconder a realidade. Passou a ter uma função de “cimento ideológico”. De função motivacional para 14 milhões de desempregados e outros tantos milhões de “desalentados” – aqueles que nem emprego procuram mais. A incumbência não de negar a crise (papel da velha função da falsa consciência), mas de narrar por um outro viés a conjuntura de crise: como oportunidade de crescimento ou empreendedorismo individual – a chance de “fazer a diferença”.<br />
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Um papel tão sofisticado quanto das bombas semióticas da guerra híbrida a partir de 2013 (<a href="http://cinegnose.blogspot.com/2018/02/bomba-semiotica-resposta-postagem-de.html" target="_blank">clique aqui</a>) e da qual essa nova função ideológica do futebol faz parte.<br />
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A desclassificação do Brasil pela Bélgica no jogo pelas quartas de final na Copa da Rússia deve ser analisado como um revés momentâneo no futebol, visto como peça ideológica da atual guerra híbrida cujo País é o alvo do momento.<br />
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Uma peça dentro do grande “mecanismo” (esse sim, o verdadeiro “mecanismo”) semiótico para criar duas narrativas midiáticas bem claras para justificar (e não legitimar) todo o processo político de golpe e posteriores efeitos deletérios das medidas neoliberais aceleradas – desemprego, crise econômica, inflação, precarização do trabalho etc.<br />
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<b>a) o discurso da corrupção</b><br />
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Narrativa midiática diária com o Mensalão e a interminável Lava Jato com o meganhamento da Justiça e o bordão diário na TV: “policiais federais nas ruas!...”.<br />
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Aqui, com uma função ideológica clássica de falsa consciência: estratégia de desvio da atenção, de dissimulação. Enquanto estudos da própria Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (a Fiesp dos inesquecíveis patos amarelos e de um sapo verde tardio) projetavam em 2014 que enquanto as ações corruptas no Brasil roubavam de 1,38% a 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB), as altíssimas taxas de juros levavam o pagamento da dívida pública a ocupar 57% do PIB.<br />
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Da mesma forma como as “pandemias” como gripe suína ou zika vírus ocuparam mais espaço midiático (enquanto gripe comum, diarreia ou sarampo matam em escala muito maior – <a href="http://cinegnose.blogspot.com/2016/02/tres-evidencias-de-que-o-zika-virus-e.html" target="_blank">clique aqui</a>), da mesma maneira a grande mídia criou uma relação metonímica de contaminação da corrupção com todas as mazelas nacionais – da crise econômica à deterioração da saúde, educação, segurança etc.<br />
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Enquanto isso, bancos, instituições financeiras, empresas de investimento, o mercado de crédito, de capitais, de câmbio e monetário nadam de braçadas em um ambiente dos juros altos (garantidos pelo do Banco Central), tomando o próprio Estado e a Nação como reféns do pagamento da dívida pública – decisivo para a crise brasileira.<br />
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E numa estratégia clássica de agenda setting (forçar o agendamento na mídia de determinadas pautas), bancam os intervalos publicitários dos telejornais que martelam a agenda do combate à corrupção como o saneador de todos os problemas nacionais.<br />
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<b>b) O discurso do mérito-empreendedorismo</b><br />
Ao bancar os intervalos publicitários, estimulam peças de propaganda que consolem as massas dos efeitos das medidas neoliberais a toque de caixa – no final, medidas para garantir o ambiente de juros altos do mercado financeiro. <br />
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Aqui entram o futebol e a Seleção como vitrines de uma função semiótica mais sofisticada que a mera falsa consciência: a de “cimento” ideológico – não negar a realidade da crise, mas torna-la tão verossímil quanto um acidente natural que deve ser superado pela narrativa individualista do “fazer a diferença” daquele que trabalha. Ou melhor, empreende, que “faz por merecer”.<br />
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O problema para tornar a Seleção uma peça desse mecanismo para injetar cimento ideológico nas massas estava na distância desses jovens milionários brasileiros europeizados da realidade do dia-a-dia do brasileiro. Por isso, dois personagens foram destacados para criar algum laço de empatia: Tite e Neymar Jr.<br />
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A participação de treinadores da Seleção em comerciais é algo comum desde os anos 1970, e foi progressivamente aumentando até atingir o ápice com o Felipão, na Copa de 2014, com 7 participações de comerciais. O personagem que desempenhou se encaixou no clima de instabilidade emocionou e política envolvendo a Copa e a Seleção: Felipão era figurado como um personagem cômico que tentava lidar com as cobranças da torcida, representada como exigente e que gosta de palpitar.<br />
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Ao contrário, nos comerciais dos patrocinadores atuais da Seleção (Itaú, Samsung, Cimed) Tite reina como protagonista absoluto, com aura de líder com discursos que unem estímulos motivacionais, sensatez e sabedoria.<br />
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Enquanto Neymar Jr, apesar de todos os seus chiliques, desequilíbrio e grosserias, foi definido em uma mesa de debates como “transparente emocional” e “caçado em campo”. Aquele que deverá “superar as adversidades”, criando uma empatia com os brasileiros também “caçados” pela crise e desemprego...<br />
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A derrota brasileira, enquanto o mundo ria dos memes do Neymar que atravessou a Copa tecnicamente apagado, fez nesse momento a grande mídia disparar os dispositivos semióticos para salvar todo investimento linguístico e ideológico nesse rescaldo pós-derrota.<br />
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<b>(1) O ritual de sacrifício do bode expiatório</b><br />
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O volante da Seleção, Fernandinho, foi escolhido como o bode expiatório da tragédia. “Fernandinho, como no 7X1, repete falhas em nova queda do Brasil”, estampa o jornal Folha de São paulo. No JN da Globo, “Lukaku passou como quis por Fernandinho” na origem do segundo gol da Bélgica. “Um dos vilões do 7 X 1, Fernandinho marca gol contra e decepciona mais uma vez”, fuzila o Estadão.<br />
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Vão-se os anéis, ficam os dedos... sacrifica-se o culpado e salva-se todo o investimento ideológico feito na seleção até aqui.<br />
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E o resultado previsível: açodado pela grande mídia no ritual de sacrifício, Fernandinho sofreu ataques racistas em redes sociais após a eliminação do Brasil. É o modus operandi midiático desses últimos tempos.<br />
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<b>(2) Cadê o Tite?</b><br />
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Estranhamente nesse momento, os críticos de plantão da grande mídia sentem-se pisando em ovos com Tite. Afinal, ele parece criar um estranho efeito nos jornalistas: sempre tão solicito, didático e paciente nas coletivas, parece fazer os jornalistas se sentirem inteligentes.<br />
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Não há o costumeiro pelotão de fuzilamento e a escolha do técnico como o previsível culpado. Por exemplo, o comentarista PVC da Fox Sports fala de “erro de diagnóstico da comissão técnica”. Outros falam que o “Brasil demorou para entender a mudança tática da Bélgica”.<br />
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O nome Tite é substituído por “comissão técnica” e “Brasil”. Há de se salvar o investimento semiótico que os patrocinadores fizeram em Tite. E tudo que o técnico representa como garoto-propaganda do mérito-empreendedorismo que se enfia goela abaixo dos brasileiros na guerra híbrida.<br />
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<b>(3) Cadê o Neymar?</b><br />
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Outro investimento semiótico que precisa ser poupado. Deixou a Arena Kazan sem falar com a imprensa após a eliminação contra a Bélgica. Aliás, só falou duas vezes com os jornalistas nessa Copa. Por muito menos, técnicos como Dunga foram execrados pela grande mídia (e principalmente a Globo) - para a costumeira autoindulgência jornalística, sempre foi um pecado capital.<br />
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Mas diante do alto investimento financeiro e ideológico em Neymar, até a autoindulgência da imprensa foi supreendentemente neutralizada. Enquanto , condescendente, o coordenador técnico Edu Gaspar declarou numa coletiva aos jornalistas: “Não é fácil ser Neymar...”.<br />
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<b>4) Craques-commodities</b><br />
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Terminada as quartas de final, todas as seleções sul-americanas deixaram a Copa. Parece sintomático.<br />
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Sintoma da “commoditização” do futebol desse continente, reflexo da condição de nações sub-industrializadas reduzidas em exportadoras de commodities – exportar produtos primários de baixo grau de transformação para serem beneficiados lá fora. Modelo que favorece a própria banca financeira e mercado publicitário que patrocinam a Seleção.<br />
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De maneira análoga, o continente exporta jovens jogadores como simples commodities que serão transformados em craques nos clubes europeus, além de ganharem alto valor agregado em marketing, publicidade e mídia. Craques que jamais funcionarão nas seleções dos seus países de origem.<br />
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Craques-commodities serão sempre cronicamente disfuncionais nas suas seleções nacionais. E nas seleções sul-americanas essa realidade parece ser mais dramática.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9vPoC4j6wIfZ9D9DnG41nCcWKl51k6EvfG7SKXE6t0JPu7Thyphenhyphenp_IRsXGQcSFP3kHyp82suWbJsJjOeHxQ4gaQQlwsvyS4qwcZ0BZqblWdDpNfgRt9sV4xPun0CqBp4ukyNj6-NTpWq7w/s1600/favela_pantanal.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="425" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9vPoC4j6wIfZ9D9DnG41nCcWKl51k6EvfG7SKXE6t0JPu7Thyphenhyphenp_IRsXGQcSFP3kHyp82suWbJsJjOeHxQ4gaQQlwsvyS4qwcZ0BZqblWdDpNfgRt9sV4xPun0CqBp4ukyNj6-NTpWq7w/s640/favela_pantanal.jpg" width="640" /></a></div>
<div dir="ltr" style="background-attachment: initial !important; background-clip: initial !important; background-image: initial !important; background-origin: initial !important; background-position: 0px 0px !important; background-repeat: initial !important; background-size: initial !important; color: #333333; font-family: Verdana, Geneva, "dejavu sans", sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 15px; padding: 0px;">
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<br /><br /><i><b>por Pedro Marin, no <a href="https://jornalggn.com.br/noticia/cronica-terceiro-mundo-um-trem-para-nada-mais-por-pedro-marin" target="_blank">blog do Nassif</a></b></i><br /><br />Foi em um desses ominosos dias em que deveria me despedir. Peguei minha mochila, lhe dei um beijo e saí, com meu compadre, às 10 da noite. Não demorou muito até pararmos uma das vans que operam quase clandestinas em Guarulhos. Subimos nos bancos da frente. O motorista acelerava e costurava entre as vias e, às vezes, as calçadas, como se o mundo todo tivesse sido criado por Deus na forma de atalhos. Enquanto isso, tratávamos do cenário político e da crescente influência dos militares na política nacional.<br /><br /><br />O Comandante do Exército, General Villas Boas, havia tuitado em 3 de Abril, cerca de uma semana antes, que assegurava “à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais.” A mensagem do General irrompeu no Jornal Nacional naquela noite, um dia antes do STF julgar o habeas-corpus de Lula.<br /><br />De qualquer maneira, as ruas do bairro dos Pimentas que levam à estação de São Miguel Paulista passam por ao menos três das dezenas de favelas da região. Em uma dessas, a “Favela do Pantanal”, se empilham pequenas casas de madeirite, acima de um pequeno córrego (o “Pantanal”.)<br /><br />Chegamos enfim a São Miguel, quarenta minutos depois. (A viagem usualmente leva uma hora de ônibus, mas a disposição dos motoristas para a velocidade são a razão pela qual a maior parte do povo prefere as vans semiclandestinas.)<br /><br />Pego o trem. São 11 da noite.<br /><br />Kreeeeeeen… A porta do vagão abre subitamente, e um mascate passa por ela, anunciando os chocolates que vende. Antes de chegar ao destino, ao menos mais quatro deles aparecerão vendendo seus produtos. São parte dos 34,2 milhões de brasileiros que agora trabalham informalmente, sem registro. De acordo com o IBGE, trata-se do maior número de trabalhadores sem carteira registrada na história, sendo essa a primeira vez em que o número daqueles que trabalham por conta própria superou o daqueles com trabalhos formais (33,3 milhões).<br /><br />E então chego à estação do Brás. Essa é a principal conexão entre o sistema de trens, que cobre as periferias distantes de São Paulo, ao metrô. Há na estação quatro plataformas, e acima de cada uma delas há uma tela gigante; são quatro monstros luminosos que vendem tudo, de celulares a geladeiras, e alumiam as massas que ansiosamente esperam o próximo trem. Sendo um habitante do Terceiro Mundo, o leitor entenderá perfeitamente a estranheza de se viver sob as asas do progresso e do consumo, de um lado, e do subdesenvolvimento e pobreza do outro, como se fôssemos ovelhas admirando os telões, com sede de Coca-Cola apesar da água enlameada que bebemos, impressionados com a imponência estrutural dos shoppings aos finais de semana, mas acostumados à visão diária da arquitetura paleolítica das favelas. O novo (velho) controle ideológico, sob o qual as contradições do Mundo são profundamente escondidas estando à frente de nossos olhos, como se não pudesse haver perversidade em uma realidade tão aberta e transparente. As telas, o semiclandestino, as favelas, os trens, os vendedores: nada impressiona. Tudo é simplesmente como é. O clarão do anúncio evidencia a blusa costurada na Índia, mas é sob sua sombra que vivem os generais e os dados do IBGE.<br /><br />A maior parte das pessoas, mesmo que vivam na Favela do Pantanal, mesmo que peguem estes trens, mesmo que neles vendam doces às 11 da noite, só verá o brilho atordoador das telas. Como o escritor mexicano Fabrizio Mejía escreveu: “a cultura dominante não se mantêm por ser melhor, mas por criar a ilusão de que não há nada mais.”<br /><br /><i>Pedro Marin, 22, é editor-chefe e fundador da Revista Opera. Foi correspondente na Venezuela pela mesma publicação, e articulista e correspondente internacional no Brasil pelo site Global Independent Analytics</i>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-6595752846211870762017-10-13T17:52:00.001-03:002017-10-13T21:43:11.353-03:00O fim do Império do North (?)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkJA_TI5O0iwMqXkkqDzm6z6Ea-DEZuqxrIjHrDH55qdtNC56nb4C2AMFkqiOFIe0blBNMckpgOSb2i5jf8nRDdPSJKU4Mhq5UhKBd9KBnjX_lWw9NqC3p_YCweNWcO8KEEGox-ZLKsMs/s1600/uncle+sam+for+money.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="542" data-original-width="640" height="542" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkJA_TI5O0iwMqXkkqDzm6z6Ea-DEZuqxrIjHrDH55qdtNC56nb4C2AMFkqiOFIe0blBNMckpgOSb2i5jf8nRDdPSJKU4Mhq5UhKBd9KBnjX_lWw9NqC3p_YCweNWcO8KEEGox-ZLKsMs/s640/uncle+sam+for+money.jpg" width="640" /></a></div>
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<i>por Chris Hedges, no <b><a href="https://www.truthdig.com/articles/the-end-of-empire/" target="_blank">Thruthdig</a></b>, com tradução para o vernáculo tupinambá pelo Coletivo Vila Vudu, <b><a href="http://blogdoalok.blogspot.com.br/2017/10/o-fim-do-imperio-por-chris-hedges.html" target="_blank">blog do Alok</a></b></i></div>
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<b><span style="color: #e06666;">NOTA -</span></b> <i>observem que o autor se refere aos EUA como "nós", pois originalmente escreve para o público norte-americano, seus compatriotas.</i><br />
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O império norte-americano está chegando ao fim. A economia dos EUA está sendo drenado por infindáveis guerras no Oriente Médio e expansão militar superdistendida sobre o mundo. O império verga sob o peso de déficits crescentes, além dos efeitos devastadores <a href="https://www.google.com/search?source=hp&q=deindustrialization&oq=deindustrialization&gs_l=psy-ab.3..35i39k1j0l9.1972.1972.0.2293.2.1.0.0.0.0.112.112.0j1.1.0.dummy_maps_web_fallback...0...1.2.64.psy-ab..1.1.110.0...0.6SBRxkdmLQI" target="_blank"><b>desindustrialização</b></a> e de acordos comerciais globais. <br />
<br />
Nossa democracia foi capturada e destruída por empresas que só fazem exigir impostos cada vez menores, desregulação cada vez maior e impunidade ampla, geral e irrestrita para todos os tipos imagináveis de fraudes financeiras, tudo isso enquanto as mesmas empresas saqueiam trilhões do Tesouro dos EUA à guisa de 'resgates'.<br />
<br />
A nação perdeu o poder e o respeito sem os quais já não consegue interessar aliados na Europa, na América Latina, na Ásia e na África para que abracem o 'projeto' norte-americano. Acrescente-se a isso a destruição crescente provocada pela mudança climática, e aí está a receita para uma distopia emergente. <br />
<br />
Supervisionando esse desastre, nos mais altos cargos dos governos federal e estadual está uma coleção insuperável de imbecis, de artistas conservadores, de ladrões, oportunistas e generais belicistas. E, claro, para que não restem dúvidas: essa lista está cheia, sim, de Democratas.<br />
<br />
O império continuará a capengar, perdendo influência sempre, até que o dólar seja abandonado como <a href="https://www.google.com/search?q=reserve+currency&oq=reserve+currency&gs_l=psy-ab.3..0l10.285201.285702.0.286092.2.2.0.0.0.0.116.116.0j1.2.0.dummy_maps_web_fallback...0...1.1j2.64.psy-ab..0.2.400.6..35i39k1.284.QvashJ8jG2c" target="_blank"><b>moeda mundial de reserva</b></a>, o que lançará os EUA em depressão incapacitante e instantaneamente obrigará a fazer cortes massivos na máquina militar.<br />
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A menos que brote a revolta popular repentina e disseminada, o que nada sugere que esteja iminente, a espiral mortífera parece impossível de deter, o que significa que os EUA que conhecemos já não existirão dentro de dez anos, no máximo vinte. O vácuo global que deixamos será preenchido pela China, que já se estabelece como potência econômica e militar gigante, ou, talvez, surja um mundo multipolar partilhado entre países como Rússia, China, Índia, Brasil, Turquia, África do Sul e uns poucos outros. Ou talvez o vácuo seja preenchido, como escreve o historiador <a href="https://history.wisc.edu/people/mccoy-alfred-w/" target="_blank"><b>Alfred W. McCoy</b></a> em seu livro <i>In the Shadows of the American Century: The Rise and Decline of US Global Power</i>, por "uma coalizão de empresas transnacionais, forças militares multilaterais como a OTAN e uma liderança financeira internacional autoselecionada em <a href="http://www.telegraph.co.uk/finance/financetopics/davos/11354221/What-is-the-point-of-Davos.html" target="_blank"><b>Davos e Bilderberg</b></a>", a qual "forjará um nexo supranacional que se imporá sobre quaisquer nações ou impérios."<br />
<br />
Seja qual for o parâmetro, do crescimento financeiro e investimento em infraestrutura a alta tecnologia, inclusive dos supercomputadores, armas espaciais e ciberguerra, em todos esses campos os chineses já superaram os EUA, ou superarão em breve. "Em abril de 2015 o Departamento de Agricultura dos EUA sugeriu que a economia dos EUA cresceria perto de 50% nos 15 anos seguintes, e que a China, em 2030, teria triplicado e estaria bem perto de ultrapassar os EUA" – lembrou McCoy. Em 2010 a China tornou-se a segunda maior economia do mundo, no mesmo ano tornou-se a primeira nação em manufatura, deslocando do posto os EUA, que dominaram a manufatura no planeta durante um século.<br />
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O Departamento da Defesa lançou relatório sóbrio, intitulado "<a href="https://ssi.armywarcollege.edu/pdffiles/PUB1358.pdf" target="_blank"><b><i>At Our Own Peril</i></b></a>: <i>DoD Risk Assessment in a Post-Primacy World</i>" [Por nossa conta e risco: Departamento de Defesa avalia riscos num mundo pós-primazia dos EUA]. Segundo esse relatório, os militares norte-americanos "já não estão em posição inalcançável, na relação com outros competidores estatais," e "já não podem (...) gerar automaticamente superioridade militar local consistente e sustentável de longo alcance." McCoy prevê que o colapso chegará por volta de 2030.<br />
<br />
Impérios em decadência abraçam o que se pode descrever como suicídio disfarçado. Cegados pela própria húbris e incapazes de lidar com a realidade do evanescimento do próprio poder, recolhem-se a um mundo de fantasia onde não entra nenhum fato duro ou desagradável. Substituem diplomacia, multilateralismo e política por ameaças unilaterais e o grosseiro argumento da guerra.<br />
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Esse autoengano coletivo deixou passar sem protestar quando os EUA cometeram o maior tropeço estratégico de sua história, que foi como o golpe de misericórdia que matou o império – a invasão do Afeganistão e do Iraque. Os arquitetos da guerra na Casa Branca de George W. Bush e a seleta de idiotas úteis na imprensa e na academia que lhe serviam de líderes de torcida sabiam bem pouco sobre os países que invadiam, foram inacreditavelmente crédulos e ingênuos quanto aos efeitos da guerra industrial e foram completamente ludibriados pelo feroz revide que viria e veio. Declararam, e provavelmente acreditavam que fosse verdade, que Saddam Hussein teria armas de destruição em massa, embora não houvesse qualquer prova. Insistiram que a democracia seria implantada em Bagdá e dali se espalharia pelo Oriente Médio. Garantiram aos cidadãos que os soldados dos EUA seriam saudados como libertadores, por iraquianos e afegãos agradecidos. Prometeram que a renda do petróleo cobriria os custos da reconstrução, insistiram que o ataque militar duro e direto – "choque e pavor" – restauraria a hegemonia dos EUA na região a dominação no mundo. Foi o oposto disso. Como <a href="https://www.washingtonpost.com/national/zbigniew-brzezinski-foreign-policy-intellectual-who-served-as-carters-national-security-adviser-dies-at-89/2017/05/26/84cf5d5c-3f42-11e7-adba-394ee67a7582_story.html?utm_term=.f9afa906fa1c" target="_blank"><b>Zbigniew Brzezinski</b></a> viu, essa "guerra unilateral de escolha contra o Iraque precipitou uma muito disseminada deslegitimação da política externa dos EUA."<br />
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Historiadores de impérios chamam a esses fiascos militares, traço sempre presente no período final dos impérios, de exemplos de "micromilitarismo". Os atenienses envolveram-se em micromilitarismo durante a Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.), invadiram a Sicília, perderam 200 navios e milhares de soldados e dispararam revoltas por todo o império. A Grã-Bretanha fez o mesmo em 1956 quando atacou o Egito num disputa pela nacionalização do Canal de Suez e rapidamente teve de bater em retirada, humilhada, o que empoderou uma sequência de líderes nacionalistas árabes como Gamal Abdel Nasser do Egito, e condenando à extinção o mando dos britânicos sobre as poucas colônias que lhes restavam. Nenhum desses impérios jamais se recobrou.<br />
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"Se impérios em ascensão são frequentemente judiciosos, até racionais, no uso que dão às forças armadas para conquistar e controlar domínios distantes, impérios decadentes apresentam a tendência a dar shows de poder, sonhando com duros golpes de mestre militares que de algum modo lhes devolveriam prestígio e poder" – McCoy escreve. "Frequentemente irracionais, mesmo de um ponto de vista militar, essas operações micromilitares podem gerar a gastos hemorrágicos ou a derrotas humilhantes que só aceleram a decadência já em curso."<br />
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Impérios precisam de mais do que força para dominar outras nações. Precisam de uma mística. Essa mística – uma máscara para o saque, a repressão e a exploração – seduz algumas elites nativas, que passam a se dispor a fazer o jogo da potência imperial ou, pelo menos, permanecem passivas. E garantem a pátina de civilidade e até mesmo de nobreza para justificar em casa o quanto manter o império custa em sangue e em dinheiro. <br />
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O sistema parlamentar de governo que a Grã-Bretanha replicou, na aparência, nas colônias, e a introdução de esportes bretões como polo, críquete e corridas de cavalos, além de vice-reis elaboradamente fardados e a pompa da realeza, alicerçavam-se no que os colonialistas diziam que seria a invencibilidade da marinha e do exército deles mesmos. A Inglaterra conseguiu manter coeso seu império entre 1815 e 1914, antes de ser forçada à retirada. A ruidosa retórica dos EUA sobre democracia, liberdade e igualdade, com muito basquetebol, beisebol e Hollywood, além da deificação que fazemos dos militares, hipnotizou e arrastou grande parte do mundo, como um só rebanho, no alvorecer da 2ª Guerra Mundial. Por trás das cortinas, claro, a CIA usava seu saco de truques sujos para orquestrar golpes, manipular urnas, assassinar líderes, em campanhas de propaganda, suborno, chantagem, intimidação e tortura. Nada disso funciona hoje.<br />
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Sem mística, todo o processo engripa. Passa a ser difícil encontrar subalternos absolutamente servis para administrar o império – como vimos acontecer no Iraque e no Afeganistão. Fotografias de abusos físicos e de humilhação sexual impostos a prisioneiro árabes em Abu Ghraib incendiaram o mundo muçulmano e o processo de alistar recrutas para a al-Qaida, depois para o Estado Islâmico. O assassinato de Osama bin Laden e de muitos outros líderes jihadistas, inclusive de pelo menos um cidadão norte-americano, <a href="http://www.bbc.com/news/world-middle-east-11658920" target="_blank"><b>Anwar al-Awlaki</b></a>, abertamente zombou do conceito de Estado de Direito. As centenas de milhares de mortos e milhões de refugiados que fogem de nossas guerras no Oriente Médio, além da ameaça constante dos drones militarizados, expuseram os EUA como estado terrorista. No Oriente Médio, os militares dos EUA exercitaram uma tendência a praticar atrocidades em grande escala, a violência indiscriminada, mentiras, erros escandalosos, ações já haviam levado à derrota dos norte-americanos no Vietnã.<br />
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A brutalidade longe de casa equivale à crescente brutalidade em casa. Policiais da polícia militarizada matam a tiros norte-americanos negros pobres quase sempre desarmados, e assim enchem um sistema de cadeias e penitenciárias onde semivivem inacreditáveis 25% do total de prisioneiros que há no mundo, embora a população dos EUA não ultrapasse 5% da população mundial. Incontáveis cidades dos EUA estão em ruína. O sistema de transporte público está em pedaços. Nosso sistema educacional está em declínio agudo, para ser privatizado. A dependência de opiáceos, o suicídio, os massacres de massa por atiradores locais, a depressão e a obesidade mórbida são pragas que acometem uma população já lançada no mais profundo desespero. <br />
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A desilusão profunda e a ira que levaram à eleição de Donald Trump – uma reação contra o golpe de estado feito pelas empresas contra a nação, e a miséria que aflige pelo menos metade do país – destruíram o mito de uma democracia em funcionamento. Tuítos e a própria retórica do presidente celebram o ódio, o racismo, a intolerância e ameaçam os fracos e vulneráveis. <br />
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Em discurso da tribuna da ONU, o presidente <a href="http://www.truth-out.org/news/item/42101-trump-threatens-genocide-crimes-against-humanity-in-north-korea" target="_blank"><b>ameaçou varrer outra nação da face da Terra</b></a> em ato de genocídio. Em todo o mundo os EUA somos objeto de ódio e ridicularizados. O que o futuro reserva aos norte-americanos já está aparecendo numa onda de filmes distópicos, que já nem tentam propagandear a virtude norte-americana ou o excepcionalismo ou o mito do progresso da humanidade.<br />
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"O descarte final dos EUA como potência global dominante pode vir muito mais depressa do que se imagina" – escreveu McCoy. "Apesar da aura de onipotência que com frequência os impérios projetam, muitos deles são supreendentemente frágeis, sem sequer a força inerente com que podem contar até os estados-nação mais humildes. Na verdade, rápido olha à história dos impérios deve nos obrigar a ver que até o maior deles é suscetível de fracassar e colapsar por causas diversas, sendo as pressões fiscais quase sempre um fator essencial. Pela melhor parte de dois séculos, a segurança e a prosperidade da própria pátria foi o principal objetivo da maioria dos estados estáveis, o que fazia da aventuras estrangeiras e imperiais opção descartável, à qual se reservavam nunca mais de 5% do orçamento doméstico. Sem a riqueza que cresce quase organicamente dentro de uma nação soberana, os impérios são predadores afamados em sua ânsia incansável por saque ou lucro – como o demonstra o tráfico de escravos no Atlântico, a febre belga da borracha no Congo, o tráfico do ópio na Índia Britânica, o estupro da Europa pelo Terceiro Reich."<br />
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Quando os ganhos encolhem ou colapsam, diz McCoy, "os impérios tornam-se quebradiços."<br />
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"Sua ecologia do poder é tão delicada que, quando as coisas começam a ir realmente mal, os impérios desmoronam com velocidade de profanação: em Portugal, apenas um ano; dois anos, para a União Soviética; oito anos para a França; 11 anos para os otomanos; 17 anos para a Grã-Bretanha e, como tudo sugere fortemente, apenas 27 anos para os EUA, contados daquele ano crucial de 2003 [quando os EUA invadiram o Iraque]" – escreve ele.<br />
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Muitos dos cerca de 70 impérios que o mundo conheceu ao longo da história padeceram a falta de liderança competente nos anos do declínio final, e cederam o poder a monstruosidades como os imperadores Calígula e Nero, romanos, por exemplo. Nos EUA, as rédeas da autoridade podem já ter caído nas mãos de um, numa linha de demagogos depravados.<br />
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"Para a maioria dos norte-americanos, os anos 2020s serão lembrados, muito provavelmente, como década de desmoralização, com preços subindo, salários estagnados e competitividade internacional desaparecendo" – McCoy escreve. A fim do dólar como moeda global de reserva tornará os EUA incapazes de pagar pelos seus déficits monstros com a venda de papéis do Tesouro –, os quais, àquela altura, já estarão drasticamente desvalorizados. Os preços dos importados subirão massivamente. O desemprego explodirá. Os confrontos domésticos em torno do que McCoy chama de "questões sem substância" alimentará um perigoso hipernacionalismo reacionário que pode facilmente se converter num fascismo norte-americano.<br />
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Uma elite desacreditada, desconfiada, mesmo paranoica em tempos de declínio, verá inimigos em todos os cantos. O conjunto de instrumentos criados para a dominação global – vigilância por todos os lados, a evisceração das liberdades civis, técnicas sofisticadas de tortura, polícia militarizada, sistema prisional massivo, milhares de drones e satélites militarizados – serão empregados dentro de casa. O império colapsará e a nação se autoconsumirá, ainda no tempo que nossa geração tem para viver, se não arrancarmos o poder das garras dos que comandam o estado dos financistas e empresários.*****</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-66561700742217112452017-10-13T11:00:00.002-03:002017-10-13T14:53:10.913-03:00Ambientalismo: da contracultura à corporação<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrB4kmxf0j-VDW0fmbhXYZyycz1c2qUsRwc6fKJELirOSvVJWLVRjVMJBiWJaEOg3TxI_DxQyz6BzEEzqC4csSLd_nGnMTuDgx3oQwzIPiA4UuzvTIf_bmftQDZBM_bXvk_vXw_I334IE/s1600/green_capitalism-293x307.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="307" data-original-width="293" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrB4kmxf0j-VDW0fmbhXYZyycz1c2qUsRwc6fKJELirOSvVJWLVRjVMJBiWJaEOg3TxI_DxQyz6BzEEzqC4csSLd_nGnMTuDgx3oQwzIPiA4UuzvTIf_bmftQDZBM_bXvk_vXw_I334IE/s400/green_capitalism-293x307.jpg" width="381" /></a></div>
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<i>excerto adaptado do texto de Wilson Roberto Vieira Ferreira, no <b><a href="http://cinegnose.blogspot.com.br/2014/06/praca-victor-civita-e-disneylandia-do.html" target="_blank">Cinema secreto/Cinegnose</a></b></i><br />
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O movimento ambientalista contemporâneo emerge como tendência influente no pós-guerra, principalmente na Europa e América com o surgimento dos movimentos contraculturais - <i>hippie</i>, <i>Flower Power</i> e toda ideologia californiana que idealizava uma associação entre alta tecnologia industrial com a vida rústica integrada à Natureza. Contestavam o modelo de civilização em vigor. Alguns de inspiração marxista acreditavam que o problema estava no modo de produção capitalista, onde a ganância do Capital produzia desperdício e destruição.<br />
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A vigorosa emergência do movimento pegou na época os sociólogos de surpresa. Mas a resposta foi rápida com o surgimento do chamado Clube de Roma (fundado em 1968 por acadêmicos, cientistas, diplomatas e empresários) que em 1972 publica o relatório <b>Os Limites do Crescimento</b>, elaborado pela equipe do <i>MIT – Massachussetts Institute of Technology</i>. Nessa publicação está a origem de toda a atual agenda corporativa sobre o meio ambiente com temas que seriam cruciais para a humanidade tais como energia, poluição, tecnologia, saúde e crescimento populacional.<br />
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<b><span style="color: #e06666;"><span style="font-size: medium;"><b><span style="font-size: medium;">Clube de Roma em 1972: a mudança do enfoque ambiental da contracultura</span></b></span></span></b><br />
<b><span style="color: #e06666;"><span style="font-size: large;">
</span></span></b>
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Há uma reviravolta em relação à crítica ambientalista da contracultura: se lá o problema estava no modo de produção e nas relações sociais de trabalho (e, portanto, a causa ambiental estaria associada a questões mais amplas como direitos humanos, liberdade, desenvolvimento equitativo etc.), a partir do Clube de Roma a questão se desloca da sociedade para exclusivamente a Natureza, abordada como dotada de recursos finitos e escassos. Portanto, o problema estaria na irracionalidade humana em não saber disso e insistir no crescimento industrial e populacional. O culpado é o homem, pensado como um ser genérico, abstrato, sem definir classe social ou nacionalidade.<br />
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Dessa maneira, o discurso ambientalista do Clube de Roma cai como uma luva para uma economia mundial que, a partir do fim do Acordo de Bretton Woods iniciada com a moratória disfarçada da dívida dos EUA em 1971 feita pelo presidente Nixon, o dólar desatrelou do lastro ouro, impulsionando a liquidez e a financeirização em escala global. As altas finanças e a elite rentista passam a determinar o ritmo econômico. O crescimento industrial torna-se pouco atraente numa economia global marcada pela especulação e fluidez. Aquecimento econômico e pleno emprego são tudo que essa elite mais teme. Por isso, ela cria freios estruturais como os juros altos e a chantagem da inflação, caso a economia aqueça.<br />
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Cria-se uma espécie de economia negativa onde a produção de riqueza se desatrela do lastro produtivo. A financeirização e a liquidez tornam-se uma camisa de força para as forças produtivas da sociedade (como diria Marx, o trabalho morto domina o vivo), pois a criação do dinheiro-crédito é uma nova forma de poder (virtualmente infinita) pela capacidade do sistema financeiro criar crédito e riqueza sobre o nada.<br />
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<b><span style="color: #e06666; font-size: medium;">Água escassa vira mercadoria</span></b></div>
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Mas o decisivo para a nova ordem econômica é a concepção dos recursos naturais como bens escassos. Se eles estão acabando, seja pelas mudanças climáticas, seja porque o planeta é pequeno demais para as ambições humanas, passam a serem bens altamente estimados e valorizados. A escassez é o pressuposto econômico no capitalismo para a transformação de qualquer coisa em mercadoria.<br />
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Assim como no neoliberalismo, o hiperliberalismo acredita que o mercado é a única instância que sincronizaria de forma racional a oferta e a demanda. A diferença, é que no hiperliberalismo essa mercantilização generalizada é agora inscrita na Natureza. Em outras palavras, a escassez dos recursos naturais é a justificativa “orgânica” para a ordem mercantil, com o apoio do discurso ambientalista corporativo.<br />
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Por isso, não são surpreendentes notícias de que ONGs ambientalistas como o Greenpeace tenham o apoio financeiro de grandes empresas petrolíferas, Fundação Rockfeller e mercado de energia elétrica – sobre isso <a href="http://jornalggn.com.br/noticia/o-greenpeace-e-a-campanha-contra-a-copa" target="_blank"><b>clique aqui</b></a>.<br />
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Um exemplo dessa convergência entre mercado e ambientalismo são os créditos de carbono (sistema de compensação onde empresas que não tenham conseguido diminuir a emissão de gases podem comprar créditos de terceiros que fizeram tais ações) negociados em bolsas de valores, leilões etc., criticados por mais favorecer o mercado financeiro do que o meio ambiente – sobre isso <a href="http://noticias.terra.com.br/ciencia/cupula-dos-povos-ativistas-criticam-mercado-de-credito-de-carbono,2ba900beca2da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html" target="_blank"><b>clique aqui</b></a>.<br />
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Na medida em que o hiperliberalismo coloca o mercado como a única instância onde supostamente se equalizaria racionalmente os recursos naturais escassos, estes deixam de ter o controle público por meio das pressões pela privatização.<br />
<br />
Por isso, uma poderosa engenharia de opinião pública está em ação nesse momento. Assim como hoje achamos natural pagar pela energia elétrica transmitida por fios, depois que o banqueiro JP Morgan e a empresa Westinghouse levaram o físico Nikola Tesla à ruína no início do século XX, depois que descobriram que ela havia encontrado a transmissão livre de energia, abundante no planeta (sobre isso <a href="http://cinegnose.blogspot.com.br/2010/08/o-gnosticismo-alquimico-de-nikola-tesla.html" target="_blank"><b>clique aqui</b></a>); e assim como achamos natural trocar lâmpadas que queimam, depois que o cartel de lâmpadas dos EUA institucionalizou a obsolescência planejada, da mesma forma a estética e o discurso da escassez do hiperliberalismo fará acharmos natural pagar pela água como uma mercadoria qualquer cotada pelo mercado.<br />
<br />
Se o neoliberalismo foi a ideologia do capitalismo industrial na sua fase tardia, o hiperliberalismo é a ideologia da elite financeira e rentista. A Esquerda critica os 20 anos de governos do PSDB no Estado de São Paulo de incompetentes pela má gestão citando os exemplos da crise hídrica (<i>nota aqui do blogo botocudo - a de 2014, porcamente gerida pela Sabesp</i>), a quebra financeira da USP etc. Pelo contrário: eles estão aplicando rigidamente e com precisão a agenda do hiperliberalismo imposto pela elite financeira como, por exemplo, os bancos internacionais de desenvolvimento – tornar escasso todos os bens tidos como universais (a educação, a água, a energia e, no futuro, até o ar) para submetê-los à regulação do mercado.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-82074345580686988702017-09-18T22:51:00.002-03:002017-09-18T22:51:49.721-03:00Para registro: A trampa do 11 de setembro<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQnJME-womYyeX3G-bQnbqPRP5CsusnDWKkvcIN671cW43Er1WuH0PezuK7z5MJgc2hd4606SFxDulJ_uOdMmv0Bpin_DzJEPaB1SDKYUHY7kQW69X1zjYmcwRvfuMf2YEJ-dF_5VxMK0/s1600/setembro_11_capiroto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="403" height="296" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQnJME-womYyeX3G-bQnbqPRP5CsusnDWKkvcIN671cW43Er1WuH0PezuK7z5MJgc2hd4606SFxDulJ_uOdMmv0Bpin_DzJEPaB1SDKYUHY7kQW69X1zjYmcwRvfuMf2YEJ-dF_5VxMK0/s400/setembro_11_capiroto.jpg" width="400" /></a></div>
<br /><br /><i>por Gustavo Gollo, no <b><a href="http://jornalggn.com.br/fora-pauta/de-volta-ao-11-de-setembro-por-gustavo-gollo" target="_blank">blog do Nassif</a></b></i><br /><br /><br />As evidências mais óbvias da tramoia surgem quando se atenta para a demolição da torre 7, a terceira a desmoronar naquele dia. À primeira vista, os choques dos aviões poderiam justificar a derrubada das outras duas torres, mas a terceira teria que ter caído em decorrência de um incêndio, fato inédito, inverossímil ante a informação de que a temperatura dos fogos de incêndios não é suficiente para derreter o aço.<br /><br />A terceira torre foi implodida, conforme evidenciam a simetria e velocidade de sua queda, as explosões laterais vistas nos vídeos, antecedendo a queda, e os relatos de explosões sucessivas antecedendo imediatamente a implosão. O comentário do dono da torre, o mesmo que veio a receber bilhões de dólares pelo seguro do prédio, dizendo ter implodido a torre, e o cheiro de termite, substância capaz de derreter o aço, relatado por testemunhas, reforçam essa convicção.<br /><br />A informação técnica adicional de que os aviões não são capazes de derrubar as torres, somadas às mesmas considerações anteriores sobre a possibilidade de incêndios as demolirem, confirma o fato da implosão das 3 torres.<br /><br />O míssil sobre o pentágono, e não um avião, como relatado na farsa, configura o crime de ódio. Foram assassinados ali os que se opuseram à atrocidade.<br /><br />O teatro armado consistiu cenário perfeito para a consecução de múltiplos assassinatos, todos eles encobertos por uma única farsa. A demonstração de poder resultante dessa chacina seria suficiente para calar até os mais ferrenhos oponentes da farsa. Pessoas muito poderosas foram eliminadas, 184 delas sucumbiram no pentágono. Outras tantas desapareceram, simplesmente (40% dos corpos não foram identificados).<br /><br />Existem inúmeras evidências da farsa, quem assistir aos vídeos com o intuito de desvendar os fatos chegará às mesmas conclusões. Assistindo aos vídeos, tenha em mente que a expressão mágica “teoria da conspiração” tem o poder de transformar mentiras oficiais em dogmas. Basta associar tal rótulo a uma mentira descarada para torná-la inatacável.<br /><br />O gênio do mal que arquitetou essa hecatombe bem poderia ser alcunhado “Coringa”, por seu senso de humor bizarro.<br /><br />A grande lição desse episódio macabro é a constatação de estarmos vivendo sob o domínio de tais criaturas.<form accept-charset="UTF-8" action="http://jornalggn.com.br/fora-pauta/de-volta-ao-11-de-setembro-por-gustavo-gollo" class="fivestar-widget" id="fivestar-form-node-1399523" method="post" style="clear: both; color: #333333; font-family: Verdana, Geneva, "DejaVu Sans", sans-serif; font-size: 14px; margin: 0px 0px 10px; padding: 0px;">
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<div class="star star-1 star-odd star-first on" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: url("/sites/default/files/fivestar/basic/star.png"); background-origin: initial; background-position: 0px 0px; background-repeat: no-repeat; background-size: initial; float: left; height: 15px; overflow: hidden; text-indent: -999em; width: 17px;">
<a href="http://jornalggn.com.br/fora-pauta/de-volta-ao-11-de-setembro-por-gustavo-gollo#20" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: url("/sites/default/files/fivestar/basic/star.png"); background-origin: initial; background-position: 0px -16px; background-repeat: no-repeat; background-size: initial; color: #333333; cursor: pointer; display: block; height: 15px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.1s linear; width: 17px;" title="Nota 1">Nota 1</a></div>
<div class="star star-2 star-even on" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: url("/sites/default/files/fivestar/basic/star.png"); background-origin: initial; background-position: 0px 0px; background-repeat: no-repeat; background-size: initial; float: left; height: 15px; overflow: hidden; text-indent: -999em; width: 17px;">
<a href="http://jornalggn.com.br/fora-pauta/de-volta-ao-11-de-setembro-por-gustavo-gollo#40" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: url("/sites/default/files/fivestar/basic/star.png"); background-origin: initial; background-position: 0px -16px; background-repeat: no-repeat; background-size: initial; color: #333333; cursor: pointer; display: block; height: 15px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.1s linear; width: 17px;" title="Nota 2">Nota 2</a></div>
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<a href="http://jornalggn.com.br/fora-pauta/de-volta-ao-11-de-setembro-por-gustavo-gollo#100" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: url("/sites/default/files/fivestar/basic/star.png"); background-origin: initial; background-position: 0px -16px; background-repeat: no-repeat; background-size: initial; color: #333333; cursor: pointer; display: block; height: 15px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration-line: none; transition: all 0.1s linear; width: 5.09375px;" title="Nota 5">Nota 5</a></div>
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Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-23834375877366430732017-09-14T18:26:00.000-03:002017-09-15T08:13:33.801-03:00A afronta da China e Rússia ao dólar<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhb42TTmXykikXv0HhfrjzzO4KCQmNc2fMAgdy22drJU6jxcyCTFSOmS6Qrfx8XJ7hAqO6ZH5bsoPhODfPtaHc9_rfuYX-XeYxIFXujXVluq1WPHQ6QaHmeBu53hyphenhyphenz5dRDJVgybAqhGYEk/s1600/dolar_yuan.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="742" data-original-width="1320" height="356" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhb42TTmXykikXv0HhfrjzzO4KCQmNc2fMAgdy22drJU6jxcyCTFSOmS6Qrfx8XJ7hAqO6ZH5bsoPhODfPtaHc9_rfuYX-XeYxIFXujXVluq1WPHQ6QaHmeBu53hyphenhyphenz5dRDJVgybAqhGYEk/s640/dolar_yuan.jpg" width="640" /></a></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
F. William Engdahl, <b><i><a href="https://journal-neo.org/2017/09/13/gold-oil-dollars-russia-and-china/" target="_blank">New Eastern Outlook</a> </i></b><i>- tradução Vila Vudu - publicado no ótimo <b><a href="http://blogdoalok.blogspot.com.br/2017/09/melhor-levar-serio-o-desafio-sino-russo.html" target="_blank">blog do Alok</a></b></i><br />
<div>
<br />
<br />
Pouco depois do fim da 2ª Guerra Mundial, o governo dos EUA, aconselhado pelos grandes bancos internacionais de Wall Street, projetou o que muitos interpretam erradamente como um novo padrão ouro. Na verdade, foi um padrão dólar, no qual todas as demais moedas dos países do Fundo Monetário Internacional fixaram o valor das respectivas moedas em relação ao dólar. Em troca, o dólar dos EUA foi ancorado ao ouro, num valor igual ao de 1/35 de uma onça de ouro. Ao mesmo tempo, Washington e Wall Street puderam impor um sistema pelo qual o Federal Reserve ficava com cerca de 75% de todo o ouro monetário mundial, como consequência da guerra e desenvolvimentos a ela relacionados. Bretton Woods estabeleceu o dólar, o qual então se tornou a moeda de reserva do comércio mundial, dos bancos centrais.<br />
<br />
<br />
<b>Agonia final de um padrão dólar defeituoso </b><br />
<br />
Pelo fim dos anos 1960s, com os déficits crescentes no orçamento dos EUA por causa dos custos da Guerra do Vietnã e outros gastos igualmente alucinados, o padrão dólar começou a deixar ver suas profundas falhas estruturais. A Europa Ocidental e o Japão recuperados já não precisavam de bilhões de dólares dos EUA para financiar reconstruções. A Alemanha e o Japão haviam-se tornado economias de exportação de classe mundial com mais alta eficiência que a manufatura norte-americana, por efeito da obsolescência crescente da indústria básica dos EUA, do aço a automóveis, e da infraestrutura básica. Washington então deveria ter desvalorizado significativamente o dólar frente ao ouro, para corrigir o crescente desequilíbrio no comércio mundial. Essa desvalorização do dólar teria estimulado os ganhos de exportação dos EUA e reduzido os desequilíbrios comerciais. Teria sido verdadeiro alento para a economia real dos EUA.<br />
<br />
Mas para os bancos dos EUA o mesmo passo teria levado a grandes perdas. Então, em vez de fazer o que era dever deles, os governos Johnson e depois Nixon imprimiram mais dólares e, efeito disso, exportaram inflação para o mundo.<br />
<br />
Os bancos centrais, especialmente da França e da Alemanha, reagiram à surdez de Washington exigindo o ouro do Fed dos EUA das reservas norte-americanas a $35 por onça do acordo de Bretton Woods de 1944. Em agosto de 1971, a troca de ouro por dólares norte-americanos inflados alcançou ponto crítico, e Nixon foi aconselhado por Paul Volcker, alto funcionário do Tesouro, a pôr abaixo o sistema de Bretton Woods.<br />
<br />
Em 1973, Washington permitia o livre comércio do ouro, que já não era o lastro firme do dólar norte-americano. Em vez disso, um choque artificial do preço do petróleo em outubro 1973, que em meses elevou em mais de 400% o preço do petróleo, criou o que Henry Kissinger chamou então de "petrodólar".<br />
<br />
O mundo precisava de petróleo para a economia. Washington, em negócio de 1975 com a monarquia saudita, determinou que a OPEP Árabe não vendesse sequer uma gota de seu petróleo ao mundo, se não em dólares norte-americanos. O valor do dólar subiu às alturas contra outras moedas como o marco alemão ou o yen japonês. Os bancos de Wall Street encheram as burras com depósitos em petrodólares. O cassino do dólar estava aberto e operando, e o resto do mundo estava sendo tungado por ele.<br />
<br />
Em meu livro <a href="https://www.amazon.com/Gods-Money-Street-American-Century/dp/1615778055" target="_blank"><i>Gods of Money: Wall Street and the Death of the American Century</i></a> [Deuses do Dinheiro: Wall Street e a Morte do Século Norte-americano], narro em detalhes o modo como grandes bancos internacionais em New York, como Chase, Citibank e Banco da América usaram petrodólares naquele momento para reciclar os lucros árabes da importação de petróleo pelos países em desenvolvimento durante os anos 1970s, lançando as sementes da chamada "Crise da Dívida do Terceiro Mundo". Curiosamente, foi o mesmo Paul Volcker, protegido de David Rockefeller e do Banco Chase Manhattan de Rockefeller, naquele momento, em outubro de 1979 era presidente do Federal Reserve, quem disparou a crise da dívida dos anos 1980s empurrando para a estratosfera as taxas de juros do Fed. Volcker disse que a operação visava a conter a inflação. Era mentira. A operação visava a salvar o dólar e os bancos de Wall Street.<br />
<br />
Hoje, o dólar é fenômeno estranhíssimo, para dizer o mínimo. A partir de 1971, os EUA foram, de principal nação industrial do planeta, a casino de especulação gigante, movido a dívida.<br />
<br />
Com as taxas de juros dos Fundos Fed entre zero e 1% durante os últimos nove anos – evento sem precedentes na história moderna – os grandes bancos de Wall Street, os mesmos cujos crimes financeiros e ganância assassina criaram a crise dos "subprimes" de 2007 e seu tsunami financeiro global de 2008, decidiram construir uma nova bolha especulativa.<br />
<br />
Em vez de emprestar para cidades já intoxicadas de dívidas para infraestrutura urgentemente necessária ou outras vias produtivas da economia real, aqueles bancos criaram outra bolha colossal no mercado de ações. Grandes empresas usaram crédito barato para recomprar suas próprias ações, o que fez subir alucinadamente o preço das ações nas bolsas de valores, aumento alimentado por boatos e mitos sobre uma "recuperação da economia". O índice de ações das S&P-500 subiu 320% a partir do fim de 2008. Um fato é certo: o aumento daquelas ações não aconteceu 'porque' a economia dos EUA tivesse crescido 320%!...<br />
<br />
Os lares norte-americanos ganham menos, em termos reais, de ano para ano, há décadas. Desde 1988 a renda doméstica média manteve-se estável, com inflação sempre crescente e renda real sempre decrescente. As famílias têm de emprestar mais e do que jamais antes em toda a história. A dívida do governo federal alcança inimagináveis $20 trilhões, sem fim à vista. A indústria norte-americana foi fechada e a produção 'exportada', mandada para fora, "deslocalizada" [ing.<i>outsourced</i>] é o eufemismo da hora. Deixada nos EUA, fica uma dívida monstro e uma apodrecida "economia de serviços", na qual milhões trabalham em dois, três empregos de período parcial, só para se manter à tona.<br />
<br />
O único fator que mantém o dólar a salvo do colapso total são os militares e uma infinidade de falsas ONGs que os norte-americanos espalham pelo mundo, com a tarefa de facilitarem o saque da economia global.<br />
<br />
Enquanto os truques sujos de Washington e as maquinações de Wall Street conseguiram criar crises das dimensões do que se viu na Eurozona em 2010, na qual a Grécia foi sacrificada, países com superávit comercial como China, Japão e depois a Rússia não tiveram alternativa que não fosse comprar mais e mais dívida do governo dos EUA – seguros do Tesouro –, usando com o grosso de seus respectivos superávits comerciais em dólares. Washington e Wall Street sorriram. Podiam imprimir quantidades infinitas de dólares lastreados em nada mais valioso que jatos F-16s e tanques Abrams. Comprando a dívida norte-americana, China, Rússia e outros países detentores de ações em dólares financiaram, na verdade, as guerras que os EUA fizeram contra aqueles mesmos países. Naquele momento, simplesmente não tinham alternativas viáveis.<br />
<br />
<br />
<b>Surge a alternativa viável </b><br />
<br />
Agora, por ironia, duas das economias estrangeiras que garantiram ao dólar sobrevida artificial além de 1989 – Rússia e China – está cuidadosamente expondo essa mais temida alternativa, uma moeda internacional viável, com lastro em ouro e potencialmente várias moedas similares que podem deslocar o papel injustamente hegemônico que o dólar tem hoje.<br />
<br />
Já há vários anos, ambas, a Federação Russa e a República Popular da China vêm comprando enormes quantias de ouro, em grande parte para acrescentar às moedas de reserva dos respectivos bancos centrais as quais sem isso seriam tipicamente dólar ou euro. Até recentemente, ainda não era muito claro porque os dois países faziam o que faziam.<br />
<br />
Durante vários anos soube-se nos mercados de ouro que os maiores compradores de ouro físico eram os bancos centrais de China e Rússia. Mas não se via com clareza a profundidade da estratégia que houvesse por trás de simplesmente construir confiança nas moedas, em tempo de sanções econômicas e palavras belicosas emitidas por Washington, de guerra comercial.<br />
<br />
Agora tudo já aparece claramente.<br />
<br />
China e Rússia, acompanhadas provavelmente por seus principais parceiros comerciais nos RICS (Rússia, Índia, China, África do Sul)*, e também pelos países seus parceiros eurasianos da Organização de Cooperação de Xangai (OCX) estão bem próximas de completar a arquitetura funcional de uma nova alternativa monetária a um mundo do dólar.<br />
<br />
Atualmente, além dos membros fundadores China e Rússia, são membros plenos da OCX o Cazaquistão, o Quirguistão, o Tadjiquistão, o Uzbequistão e, mais recentemente, Índia e Paquistão. É população total de mais de 3 bilhões de pessoas, cerca de 42% da população do planeta, reunidas em cooperação econômica e política planificada e pacífica.<br />
<br />
Se se acrescentam aos já membros da OCX também os países em posição de Observadores Oficiais – Afeganistão, Belarus, Irã e Mongólia, estados com desejo já manifesto de unir-se formalmente como membros plenos, basta examinar o mapa mundial para ver o impressionante potencial da emergente OCX. Turquia é Parceira de Diálogo formal, considerando a possibilidade de integrar-se à OCX, bem como o Sri Lanka, a Armênia, o Azerbaijão, o Cambodia e o Nepal. Dito em termos simples, é organização gigantesca.<br />
<br />
<b><br />"Iniciativa Cinturão e Estrada" e Rota da Seda com lastro ouro </b><br />
<br />
Até recentemente, os think-tanks de Washington e do governo dos EUA menosprezaram instituições eurasianas emergentes como a OCX. Diferente dos RICS, que não é grupo de países contínuos em vasta massa terrestre, o grupo da OCX forma uma entidade geográfica contínua chamada Eurásia. Quando o presidente chinês Xi Jinping propôs a criação do que foi então chamado de Nova Rota da Seda Econômica, em reunião no Cazaquistão em 2013, pouco no ocidente levaram a sério a proposição. Hoje, o nome oficial é Iniciativa Cinturão, Estrada (ICE). E hoje o mundo já começa a levar muito a sério o objetivo da ICE.<br />
<br />
Claro que a diplomacia econômica da China, como da Rússia e de seu grupo de países da União Econômica Eurasiana, tem muito a ver com construir ferrovias para trens de alta velocidade, portos, infraestrutura de energia e vasto novo mercado o qual, em menos de uma década ao ritmo em que está andando, já terá ofuscado qualquer potencial econômico que ainda reste aos países arqueados sob dívidas gigantes e estagnados da Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento, OCED, da União Europeia e da América do Norte.<br />
<br />
Até agora, embora vitalmente necessária, ainda não era clara alguma estratégia para libertar do dólar as nações da Eurásia, libertando-as também de crescente vulnerabilidade a sanções pelo Tesouro dos EUA e da guerra financeira baseada naquela dependência do dólar. Isso, precisamente é o que está começando a surgir.<br />
<br />
Na reunião de cúpula dos RICS dia 5 de setembro em Xiamen, China, o presidente Putin da Rússia enunciou em termos simples e muito claros a visão russa do mundo econômico atual. Disse ele:<br />
<br />
<br />
"<i>A Rússia partilha as preocupações dos países RICS relacionadas à arquitetura econômica e financeira mundial, injusta e desigual, que não dá a consideração devida ao peso das economias emergentes. Estamos prontos a trabalhar com nossos parceiros para promover reformas na regulação financeira internacional, <a href="http://blogdoalok.blogspot.com.br/2017/09/putin-chegou-com-verdadeira-bomba-brics.html" target="_blank">para superar a dominação excessiva do número limitado de moedas de reserva</a></i>."<br />
<br />
<br />
Que eu saiba, o presidente Putin jamais foi tão perfeitamente claro sobre moedas. Ponha-se essa fala no contexto da recente arquitetura financeira que Pequim revelou, e é claro que o mundo está bem próximo de gozar de novos graus de liberdade econômica.<br />
<br />
<br />
<b>Futuros de petróleo em yuan chineses</b><br />
<br />
<br />
Segundo artigo publicado na revista asiática Japan Nikkei, a China está perto de lançar um contrato futuro de petróleo denominado em yuan chineses que poderá ser convertido em ouro. Isso, se combinado com outros movimentos da China ao longo dos dois últimos anos, para tornar viável uma alternativa a Londres e New York, para Xangai, torna-se realmente <a href="https://oilprice.com/Latest-Energy-News/World-News/China-Readies-Yuan-Priced-Crude-Oil-Benchmark-Backed-By-Gold.html" target="_blank">interessante</a>.<br />
<br />
China é o maior importador de petróleo do mundo, a vasta maioria de cujos negócios ainda são pagos em dólares norte-americanos. Se o novo contrato futuro de petróleo for amplamente aceito, poderá tornar-se o mais importante referencial para petróleo com base na Ásia, uma vez que a China é o maior importador de petróleo do mundo. Esse movimento desafiaria os dois contratos de petróleo dominados por Wall Street, o Brent do Mar do Norte e os futuros de West Texas Intermediate, os quais até agora deram imensas vantagens ocultas a Wall Street.<br />
<br />
Com isso a China e seus parceiros eliminariam um dos grandes meios para manipulação, incluindo muito especialmente a Rússia. A introdução de contratos futuros de petróleo negociados em Xangai em yuan, recentemente incluídos na cesta de seletas moedas SDR do FMI, os futuros de petróleo, especialmente quando possam ser convertidos em ouro, podem mudar dramaticamente o equilíbrio geopolítico do poder, desviando-o, do mundo Atlântico, para a Eurásia.<br />
<br />
Em abril de 2016, a China completou grande movimento para se tornar novo centro do câmbio de ouro e centro mundial do comércio do ouro físico. A China é hoje a maior produtora mundial de ouro, muito à frente da África do Sul, com a Rússia em segundo lugar.<br />
<br />
A China já estabeleceu grande centro de armazenamento na Zona Franca de Qianhai na China, próxima de Shenzhen, cidade de cerca de 18 milhões de habitantes ao norte, próxima de Hong Kong, no Delta do Rio Pérola. Agora a China está completando a construção de um prédio-cofre para ouro, incluindo armazém, bolsa para negociações e escritórios para áreas relacionadas. A Sociedade Chinesa de Câmbio de Ouro e Prata, existente há 105 anos e com sede em Hong Kong está num projeto conjunto com o banco ICBC, o maior banco estatal chinês e maior banco de importação de ouro, para criar o <a href="https://www.scmp.com/business/companies/article/1938220/hong-kongs-local-gold-exchange-work-icbc-launch-shenzhen-services" target="_blank">Qianhai Centro de Armazenamento</a>. Começa a ficar perfeitamente claro o motivo pelo qual as falsas ONGs a serviço de Washington, como a National Endowment for Democracy tanto tentou, sem sucesso, criar uma Revolução Colorida anti-Pequim, a "Revolução Guarda-Chuva", em Hong Kong, no final de 2014.<br />
<br />
Agora, somando-se aos novos contratos futuros de petróleo negociados na China em yuan, com o lastro em ouro, levará a mudança dramática nos países que são membros chaves da OPEP, mesmo no Oriente Médio. Claro que preferirão o yuan lastreado em ouro, em vez dos dólares norte-americanos hiper inflados, que carregam grave risco geopolítico, como o Qatar aprendeu, depois da visita de Trump a Riad, há alguns meses. Importante, a gigante estatal russa Rosneft acaba de anunciar que a estatal chinesa do petróleo, CEFC China Energy Company Ltd., acaba de comprar a participação de 14% que o <a href="https://oilprice.com/Latest-Energy-News/World-News/China-Purchases-14-Of-Rosneft-From-Qatar.html">Qatar</a> tinha na Rosneft. Tudo começa a se encaixar, numa estratégia muito coerente.<br />
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O império do dólar está em dolorosa agonia, e seus patriarcas entraram em processo de negar a realidade, processo também conhecido como "governo Trump". Enquanto isso, os elementos mais sãos desse planeta estão bem próximos de montar alternativas construtivas e pacíficas. Estão dispostos até a acolher Washington em seu grupo, sob regras justas. Muita generosidade não é mesmo?!... <br />
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<span style="font-size: x-small;">* Desde o golpe, o Brasil deixou de contar como parceiro comercial de quem quer que seja, porque voltou à condição degradada de estado-vassalo dos EUA. Por isso, doravante, não mais falaremos de BRICS, que já não existem, mas só de RICS, sem Brasil [NTs].</span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-69221384854358971202017-08-21T18:44:00.000-03:002017-08-21T22:23:18.399-03:00Receita para fazer uma Revolução Popular Híbrida (RPH)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiVlnFGMKBSA_uJ0k2o6xlUEZT9W-rYV8-OvTu52i80XGq39t7SlLI5mJ_h5GcCYIwt1pbT5662e3IocecDiUYMKY7m8Zs3Wsqx1CirnvHXazb736S1b9SjPf0Bwt9yGr2Se0uEyAIbtU/s1600/agito9.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="413" data-original-width="620" height="425" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiVlnFGMKBSA_uJ0k2o6xlUEZT9W-rYV8-OvTu52i80XGq39t7SlLI5mJ_h5GcCYIwt1pbT5662e3IocecDiUYMKY7m8Zs3Wsqx1CirnvHXazb736S1b9SjPf0Bwt9yGr2Se0uEyAIbtU/s640/agito9.jpg" width="640" /></a></div>
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“Primaveras”, “levantes”, “jornadas”, “protestos”, não importa o nome. Egito, Ucrânia, Síria, Brasil: em todos eles, a mídia corporativa viu os acontecimentos sob a narrativa do “espontâneo”, do “novo”, da “renovação na política”. E sempre pelo mesmo viés: a “velha política” não conseguiria dar mais conta das insatisfações, principalmente dos jovens. O roteiro de todas essas “primaveras” é praticamente idêntico (ONGs e fundações educacionais dando apoio financeiro e operacional, jovens lideranças formadas em universidades dos EUA, faixas e cartazes em inglês, vítimas em manifestações principalmente femininas, vazamentos oportunos do Wikileaks etc.) sugerindo algo como uma receita de bolo com ingredientes bem definidos. Propaganda, branding management, técnicas avançadas de psicologia de massas fermentam toda essa “espontaneidade” com objetivos geopolíticos bem definido contra o governo-alvo. Mas não conte para a esquerda – afinal, tudo não passa de “teorias conspiratórias”.</i><br />
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<i>por Wilson Roberto Vieira Ferreira, no ótimo <b><a href="http://cinegnose.blogspot.com.br/2017/08/receita-para-fazer-uma-revolucao.html" target="_blank">Cinema Secreto Cinegnose</a></b></i></div>
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<i><br /></i>Em uma sequência do filme MIB – Homens de Preto, o agente Kevin (Tommy Lee Jones) introduz o novo agente James (Will Smith) na Organização. Kevin para em uma banca de jornais e folheia um tabloide sensacionalista. “Vamos ver os relatórios”, diz diante do incrédulo agente James. Percebendo a estranheza do pupilo, Kevin explica: “são as melhores fontes do planeta... às vezes também se encontra algo no <i>New York Times</i>”.<br />
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Tão previsível e clichê como o último atentado em Barcelona (sempre com a mesma narrativa ao mesmo tempo fatal e enfadonha que caracterizam os “não-acontecimentos”, “<i>false flags</i>” e “i<i>nside jobs</i>”) são também as “revoltas populares” ou “primaveras” que nos últimos anos pipocaram em países como Jordânia (2013), Egito (2013), Ucrânia (2014), Georgia (2003), Hong Kong (2014), Síria (2012), Tunísia (2010), Líbia (2011) e, finalmente, Brasil (2013-16).<br />
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O modelo desses “levantes populares” de protestos desse século estão lá no século passado como a “Primavera de Praga” na Checoslováquia em 1968 ou a chamada “Revolução de Veludo” no Leste Europeu em 1989.<br />
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Previsíveis e com uma narrativa tão fixa e recorrente que falar sobre isso sempre faz o locutor ser rotulado de “sensacionalista” ou “teórico da conspiração”. Mas, principalmente as esquerdas, deveriam seguir o conselho do agente Kevin: há mais verdades nas maquinações conspiratórias e sensacionalistas do que na séria Ciência Política.<br />
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“Primaveras”, “levantes”, “jornadas”, “protestos”, não importa o nome. Em todos eles, sempre a cobertura midiática relata os acontecimentos sob a narrativa do “espontâneo”, do “novo”, da “renovação na política” ou, como no recente giro de “primaveras” pelo planeta, do papel das novas tecnologias digitais (redes sociais e dispositivos móveis) nesse processo. E sempre com o mesmo viés: a “velha política” supostamente não conseguiria dar mais conta das insatisfações, principalmente dos jovens.</div>
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<span style="color: #e06666;"><br /><b><span style="font-size: large;">A cilada do “novo”</span></b></span><br />
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E as esquerdas e intelectuais acabam sempre caindo nessa cilada do “novo”. Por exemplo, durante as “jornadas de junho” em 2013 esse humilde blogueiro assistia, incrédulo, professores da ECA/USP rumando para a Avenida Paulista para sentir, de dentro das manifestações, o irromper do “novo” na política brasileira, que a supostamente carcomida política tradicional não conseguiria enxergar.<br />
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Por isso, as esquerdas parecem evitar discutir esse assunto: uma guerra híbrida da geopolítica dos EUA por trás das “primaveras”? Isso é “teoria conspiratória!”, “sensacionalismo!”, teme a esquerda, talvez preocupada em ser levada à sério para ganhar espaço em colunas e entrevistas na mídia corporativa e não ser confundida com "chavistas" ou "bolivarianos". <br />
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E toca a fazer “autocrítica” dos supostos “erros de avaliação” por não ter dado “respostas” ou informações “na hora certa” para a opinião pública.<br />
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Agentes políticos surgem do nada, em geral vindos de alguma universidade norte-americana e turbinados por alguma ONG ou fundação financiada por algum empresário brasileiro com preocupações na área da “educação”. Enquanto isso, a esquerda ou patina nas incansáveis auto-avaliações (lembrando as impagáveis sequências das reuniões da inerte e burocrática Frente de Libertação contra a dominação romana do filme A Vida de Brian do grupo Monty Python) ou joga fora jovens lideranças com origens na própria esquerda.<br />
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Então, esse Cinegnose (blog original deste texto) vai dar uma humilde e didática contribuição descrevendo uma receita para criar o bolo das revoluções populares híbridas, diretamente inspirada nas chamadas “teorias da conspiração”. <br />
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Se o agente Kevin estiver correto, as melhores fontes de informações do planeta estão nos tabloides sensacionalistas... mas não conte para a esquerda!...<br />
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<b><span style="color: #e06666; font-size: large;">ENTÃO AQUI ESTÁ A RECEITA DETALHADA</span></b><br />
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<b>Ingredientes:</b><br />
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<li>Toneladas de dólares da CIA, MI6 e/ou George Soros e/ou irmão Koch</li>
<li>Empresários nacionais financiadores de Fundações, principalmente em áreas de Educação e Meio Ambiente</li>
<li>Grupos nacionais de defesa de “Direitos Humanos” ou “Pró-Democracia”</li>
<li>Jovens universitários idealistas e aspirantes libertários facilmente manipuláveis</li>
<li>Faixas profissionalmente confeccionadas e escritas em inglês</li>
<li>Agentes provocadores violentos para ação direta – <i>black blocs</i> ou policiais infiltrados (P2)</li>
<li>Jornalistas corrompíveis ou chantageáveis</li>
<li>Políticos corrompíveis ou chantageáveis</li>
<li>Acadêmicos corrompíveis ou chantageáveis</li>
</ul>
<b>Modo de preparar:<br /><br /><u>Passo 1</u></b><br />
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Despachar agentes da CIA, de ONGs turbinadas por George Soros e/ou irmãos Koch para a nação alvo. Eles poderão facilmente se passar como estudantes de intercâmbio, turista, ativista comunitário, jornalista, empresário, diplomata. O que importa é ser criativo.<br />
<b><br /><u>Passo 2</u></b><br />
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Inicie ONGs no país-alvo. Use pretextos humanitários como “Pró-Democracia”, “Direitos Humanos”, “transparência” ou “Liberdade de Informação”. Contate empresários brasileiros que financiam fundações, principalmente na área educacional. Aquelas organizações com ideais altruístas como “formar gente boa que capacita jovens para mudar o Brasil” ou “comprometida em formar líderes no País”.<br />
<br />
Baixando do céu das boas intenções e colocando em prática na Terra, essas organizações tornam-se úteis para ter em mão aqueles “jovens idealistas” (vide ingredientes) no bolo final da Revolução Popular Híbrida. Essas organizações acabam dando cobertura para descontentes locais e idealistas ingênuos.<br />
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<b><u>Passo 3</u></b><br />
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Recrutar a rede de traidores nacionais – alvos intelectuais, políticos e acadêmicos e, se possível, militares. Suborno é uma boa maneira para formar essa rede. Se não for suficiente, chantagear aqueles que têm alguma mancha na sua vida privada ou profissional é a solução mais drástica.<br />
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<b><u>Agora estamos prontos para começar a cozinhar!...</u></b><br />
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<b><u>Passo 4</u></b><br />
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Escolha um nome cativante ou cor para sua Revolução Popular Híbrida (RPH). Revolução Laranja (Ucrânia), Primavera Árabe (Egito, Tunísia, Líbia, Síria), <i>Umbrella Revolution</i> (Hong Kong), Revolução Verde (Irã). No Brasil tivemos uma interessante combinação de temas: “Jornadas de Junho” ou “Manifestações dos 20 centavos”.<br />
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Faça um verbete na Wikipedia sobre o tema e crie perfis nas redes sociais. Revolução é uma questão de marketing.<br />
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<b><u>Passo 5</u></b><br />
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Lance sua revolução como um “protesto espontâneo”. Use aqueles agentes da CIA (aqueles sob identidade de “estudantes de intercâmbio”, “jornalistas” etc.) e os ativistas e “novos líderes” das ONGs.<br />
<br />
Proteste contra alguma coisa do tipo “violações de direitos humanos”, “fraude eleitoral”, “governo corrupto” ou “Saúde e Educação Padrão FIFA”. Pouco importa se as alegações são verdadeiras. O que importa é criar paixões, polarizações e o inevitável efeito de manada.<br />
<br />
Nesse momento descobrirá a importância daquelas fundações educacionais que formam “líderes para o futuro”: por exemplo, no Brasil a Fundação Estudar, criada pelo empresário Jorge Paulo Lemann, financiou e deu apoio operacional ao Movimento Vem Pra Rua.<br />
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<b><u>Passo 5.1. (opcional)</u></b><br />
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Em certos casos Wikileaks pode dar uma ajuda a sua RPH através de “vazamentos” de segredos embaraçosos sobre personagens-chave dentro do governo-alvo.<br />
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No caso do Brasil, a “Carta Aberta ao Povo Brasileiro” do funcionário dissidente da NSA, Edward Snowden, denunciando que a agência dos EUA teria espionado e-mails da presidenta Dilma e Petrobrás só aumentou a temperatura da fritura do governo-alvo: virou prova da fraqueza de uma presidenta à beira do abismo.<br />
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<b><u>Passo 6</u></b><br />
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Estenda suas faixas “espontâneas” e cartazes de protesto escritas em inglês nas manifestações. Afinal, é necessário ganhar a simpatia da opinião pública internacional e, principalmente, dos políticos norte-americanos.</div>
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<b><u>Passo 7</u></b><br />
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Adicione aos seus agentes e líderes políticos em tempo integral que, a essa altura, já ganharam espaço na mídia corporativa (alguns até ganharão coluna fixa em jornais e internet), acadêmicos e universitários aspirantes a uma geração globalizada e “antenada”.<br />
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Isso vai engrossar a fileira de manifestantes, incluindo descontentes, pessoas com queixas legítimas, desinformados que acabam seguindo a manada ou simplesmente gente entediada que não tem coisa melhor para fazer.<br />
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<b><u>Passo 8</u></b><br />
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A essa altura a grande mídia norte-americana e europeia já está retratando a sua RPH como “popular”, “espontânea” e “renovação política” . Uma reação natural à tirania, ditadura, corrupção ou fraude do governo-alvo.<br />
<br />
Agora que o mundo está assistindo, encene um incidente. Se você não conseguir encontrar algum fanático que ateie fogo contra si mesmo, simule uma atrocidade. Sangue falso, gás lacrimogêneo ou simplesmente fotos encontradas na Internet. Certifique-se que a vítima seja mulher (ou melhor ainda: criança!...).<br />
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Por exemplo, no Brasil pegou bem o episódio de mulheres salvando cães beagles cobaias em um Instituto farmacêutico em São Roque/SP em 2013: mulheres de classe média salvando animaizinhos em meio a fogo e quebradeira de <i>black blocs</i>. Claro, para jogar a culpa no Governo e Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).<br />
<br />
Ou o fusca incendiando com uma família dentro (marido, esposa e filhos) pegos “de surpresa” em uma manifestação em São Paulo. Ou ainda os “lindos olhos amendoados do anarquismo” (Caetano Veloso) das fotos de <i>black blocs</i> femininos, capas de revistas nacionais. Transforme <i>black blocs</i> em editorial de alguma revista moda feminina. Algo assim como o ensaio fotográfico da atriz Bárbara Paz.<br />
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Mas avise aos seus agentes para não olharem ou rirem para as câmeras. Como aconteceu nos atentados terroristas <i>false flag</i> em Berlim e Paris – em plena cena de tragédia, a câmera pegou policiais rindo e conversando descontraidamente até perceberem que estavam no enquadramento. Para de imediato ficarem em alerta e correr para algum lugar apontando armas.<br />
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Ou o caso da iraniana Neda Agha-Soltan (intitulada pela grande mídia “o anjo da liberdade”) checando o ângulo da câmera enquanto aplicava sangue falso em si mesma.<br />
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Blogueiras que inacreditavelmente conseguem <i>wi-fi</i> no meio de uma guerra civil como na Síria ou num país supostamente isolado como Cuba, também cai bem.<br />
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<b><u>Passo 9</u></b><br />
<br />
Se, mesmo assim, tudo isso não der certo você poderá contar com o levante de alguma armada rebelde ou ainda a ameaça de sanções econômicas ou de “zona de exclusão aérea” imposta pelos EUA, ONU ou União Europeia. Até convencer ou derrubar um governo contrário a agenda geopolítica dos globalistas.<br />
<br />
Mas, claro, tudo isso não passa de “teoria da conspiração”... mas não conte para esquerda. Eles não entenderão mesmo...Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-86840139504193958152017-07-04T13:54:00.001-03:002017-07-04T15:46:44.142-03:00The Walking Dead: A maldição da semiótica política e do jornalismo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNN9jVhJ6VeI9tasUAcwlzuBHzcXC_3wrh-D3KY4P1_QAo3F3_Fy4txDPuZXdnSrSWI4iWM6h4641JZrlVSnyxUSU70KahyQqjZfLUPcHGY8lYAbCVlgxYgiwppsMTwtywlD7mYlbMlQY/s1600/the-walking-dead.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="658" data-original-width="935" height="449" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNN9jVhJ6VeI9tasUAcwlzuBHzcXC_3wrh-D3KY4P1_QAo3F3_Fy4txDPuZXdnSrSWI4iWM6h4641JZrlVSnyxUSU70KahyQqjZfLUPcHGY8lYAbCVlgxYgiwppsMTwtywlD7mYlbMlQY/s640/the-walking-dead.jpg" width="640" /></a></div>
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<i>henry Henkels</i><br />
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A política tardiamente descobriu que não passa de uma nulidade, que o poder não mais existe, pelo menos como um <i>locus - </i>uma nobreza, um palácio, um congresso, um tribunal ou coisa que valha - um espaço a ser preenchido por um grupamento social ou uma classe. O poder real migrou definitivamente para a banca financeira transnacional, na gestão automática e algorítmica do capitalismo especulativo e rentista, com seus planejados ciclos de crise e prosperidade.<br />
<br />
Através de construção de narrativas e marketing, partidos políticos simulam diferenças entre si, fazem paródia do velho espectro (de esquerda x direita, comunismo x capitalismo, etc.) e vivem do escândalo, da denúncia e do moralismo para se por em um movimento <i>walking-dead </i>de um sistema zumbi.<br />
<br />
O jornalismo tradicional, igualmente decrépito e decadente, acha que é uma peça essencial nessa simulação errática: hoje se equilibra numa estrutura de escândalos e denúncias que são sistemática e seletivamente vazados segundo uma agenda política que tenta esconder essa nulidade de si mesmos: os próprios, a politica e o jornalismo em si.<br />
<br />
Porém, assim como o subsistema da política, o jornalismo procura simular racionalidade e utilidade para justificar a própria existência. Isto é, simular a finalidade original à qual o jornalismo supostamente serviria, de informar a sociedade, investigar, enfrentar os poderosos, mas no fim acaba indo onde os poderes decadentes deles próprios tentam cerceá-lo: a verdade.<br />
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Assim caminhamos: Ó tempora!... Ó mores!...Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-27353075764984475932017-06-20T10:18:00.000-03:002017-06-20T10:19:11.529-03:00Ninguém fala sobre isso em Banânia: Rússia contra a OTAN<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyLSYFvmWU0ikTv_FpR_x4rjVCgsSPNbOHswMhVqcvtjYRms_P9fFbv6UukU2ZUNCbaSqoUGwUZb1e2CPqTbqTo-wFaij8bDNWGf47zYiKNv8-1AlDMSU9YY00GT59WB2cXg4SLqqXM_U/s1600/ucrania_2015.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyLSYFvmWU0ikTv_FpR_x4rjVCgsSPNbOHswMhVqcvtjYRms_P9fFbv6UukU2ZUNCbaSqoUGwUZb1e2CPqTbqTo-wFaij8bDNWGf47zYiKNv8-1AlDMSU9YY00GT59WB2cXg4SLqqXM_U/s640/ucrania_2015.jpg" width="640" /></a></div>
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<i>por J. Carlos de Assis, no<b> <a href="http://jornalggn.com.br/noticia/otan-prepara-um-tsunami-como-provocacao-a-russia-por-j-carlos-de-assis" target="_blank">blog do Nassif</a></b></i><br />
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Os problemas brasileiros tornaram-se tão graves nos últimos tempos que corremos o risco de não ver nenhum deles resolvido antes que um tsunami internacional, uma guerra da Rússia contra a OTAN, inicialmente em solo ucraniano, nos envolva em terríveis desafios externos. Na eventualidade dessa guerra podemos ser atingidos de diferentes formas, a mais elementar delas sendo os Estados Unidos impondo um embargo total contra os russos, o que nos afetaria diretamente. No caso das proteínas, isso seria grandemente facilitado pela JBS, o maior produtor e exportador mundial, agora plantada em território norte-americano.<br />
<br />
A grande imprensa brasileira praticamente não acompanha ou dá notícias sobre essa crise. Os principais correspondentes de televisão estão baseados em Nova Iorque. Refletem o que noticia a imprensa norte-americana padrão, enquanto a imprensa norte-americana padrão dá a exata versão de propaganda do Departamento de Estado. Foi assim quando o que chamam de Massacre da Praça da Paz Celestial, em Pequim, foi apresentado como massacre de milhares de jovens, quando a contabilidade final (<i>Foreign Affairs</i>) não apontou um único morto. Entretanto a imprensa padrão, lá e cá, ainda fala em massacre.<br />
<br />
Na guerra potencial entre Estado Unidos e Rússia, os jornalistas brasileiros, por razões estranhas, tomaram o lado dos russos – não obstante os russos serem nossos parceiros no BRICS. Quando a Crimeia, por vontade de seus cidadãos, decidiu re-anexar-se à Rússia, tivemos uma espécie de coro grego da imprensa brasileira acompanhando a posição absolutamente hipócrita do Departamento de Estado, acusando a Rússia de expansionista e lhe impondo sanções. Nossa imprensa (deles) ignorou o golpe de Estado na Ucrânia patrocinado pelo Departamento de Estado e por ONGs ativistas, aceitando sem reclamar a presença de nazistas no novo Governo.<br />
<br />
É de um nazista ucraniano, presidente do Parlamento, que parte a maior ameaça à paz na região. Ele fez aprovar uma resolução pela incorporação da Ucrânia à OTAN. Isso é inaceitável pela Rússia. Os estrategistas russos aceitaram a expansão da OTAN para o leste, engolindo doze países antes integrados à antiga União Soviética, mas deixaram claro que não aceitariam fortalezas da OTAN na Geórgia e mu8itop menos na Ucrânia, eventualmente integradas à OTAN, logo nas suas costas. Entretanto, as ameaças e provocações da OTAN nunca cessaram, a ponto de que Putin advertiu claramente a Obama: Se a Ucrânia integrar-se à OTAN ela desaparecerá como país.<br />
<br />
Trump não é Obama, mas Putin continua sendo Putin. A tropa neoconservadora belicista em torno de Trump, herdada de Obama e Bush, provavelmente vai escalar nas provocações contra a Rússia, mas não é fácil enfrentar o que um ex-coronel do Estado Maior americano classificou como uma força militar absolutamente imbatível em terra. Os estrategistas europeus, também eles provocadores enquanto integrados à OTAN, terão de fazer seus cálculos. Se insistirem nessa aventura desnecessária – expandir a OTAN até a Ucrânia em nada acrescenta à segurança europeia, ao contrário -, o mundo pagará um preço, mas a Europa pagará preço maior.<br />
<br />
Por que estou escrevendo sobre isso? Preferia falar sobre economia política. Entretanto, o leitor brasileiro merece mais que os press-release do Departamento de Estado antes que chegue o Armagedon provocado exclusivamente pelos Estados Unidos. Além do mais, trata-se de uma contribuição, ínfima que seja, para que a parte da opinião mundial que representamos possa constituir um pequeno passo de mobilização contra a guerra iminente.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-37597025884258236632017-06-19T15:11:00.000-03:002017-06-19T15:17:19.236-03:00Empresas familiares - ninho de encrencas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgd1j7seEkJzYZ6lUC-w3XF5j3A9CjwZbFbhI5JImCsCVIZmzVLGGsSnm7EgoqO1a6PXmIe6r5m714iY0CGycF6j7ys3b3J35Jhy-w4CVk2Hk1trp8ZlwpmhdoI_wRJRs7W4LxG4GwgMw8/s1600/empresa_familiar.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="301" data-original-width="251" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgd1j7seEkJzYZ6lUC-w3XF5j3A9CjwZbFbhI5JImCsCVIZmzVLGGsSnm7EgoqO1a6PXmIe6r5m714iY0CGycF6j7ys3b3J35Jhy-w4CVk2Hk1trp8ZlwpmhdoI_wRJRs7W4LxG4GwgMw8/s1600/empresa_familiar.jpg" /></a></div>
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por Caio Eduardo de Aguirre, no <b><a href="http://jornalggn.com.br/noticia/mediacao-para-empresas-familiares-um-indicador-de-boa-governanca-corporativa-por-caio-e-de-aguirre" target="_blank">blog do Nassif</a></b></i><br />
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Empresas familiares são aquelas cujo poder de controle está nas mãos de uma ou mais famílias. Representam, no Brasil, o expressivo percentual de 90% das empresas. Pelo mundo afora também são imensa maioria, com participação significativa no PIB mundial.<br />
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Aquelas que já passaram por processo de profissionalização são extremamente competitivas e até mais rentáveis do que as empresas não familiares. Todavia, a vida da maioria das empresas familiares não costuma ser longa. Estima-se que apenas 5% delas cheguem à terceira geração, sendo que 65% encerram suas atividades por conta de conflitos entre os sócios parentes. Esse último dado é extremamente relevante e faz do conflito um protagonista importante e merecedor de cuidados especiais.<br />
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O conflito entre sócios parentes costuma, na maioria das vezes, ser foco de atenção somente após sua eclosão, quando então será tratado da forma tradicional: ou solucionado, dentro do ambiente corporativo, por imposição do hierarquicamente superior ou submetido a processo judicial, se o caso. <br />
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Brigas judiciais homéricas entre familiares são frequentes em qualquer comarca, expondo quase sempre a imagem das empresas e a intimidade da família. Essa situação, além de esgarçar de vez as relações entre os familiares, ao contrário de solucionar o conflito, torna-o ainda maior. Com a briga judicial as desavenças aumentam, até pela necessidade de que uma parte reforce, e prove, os argumentos da tese que expôs no processo.<br />
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Além disso, a disputa acarreta prejuízos financeiros, e sobretudo emocionais, de lado a lado. Em alguns casos, sócios são afastados da administração e em situações mais críticas chegam a ter a distribuição de lucros suspensa. Proferida a sentença, é difícil que as partes com ela se conformem e a cumpram espontaneamente. Pelo contrário, o roteiro comum é a interposição de infindáveis recursos que conduzem a briga para as instâncias superiores dos Tribunais.<br />
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E isso se dá pelo “simples” motivo de que o processo judicial não aborda as verdadeiras causas do conflito. O Juiz decide, até porque assim determina a lei, de acordo com o que lhe é pedido. Contudo, os contendores não expõem ao julgador a origem do problema, as discórdias antigas, a falta de comunicação, até mesmo porque nem eles próprios têm clareza quanto a isso, já que o conflito é processo construído ao longo do tempo e a falha de comunicação acaba mascarando suas verdadeiras razões. <br />
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O fato é que com os processos judicias a briga se prolonga, a imagem e a gestão da empresa são comprometidas e os investidores se afastam.<br />
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Relegar o conflito para segundo plano ou considerar o Judiciário como única forma de solucioná-lo faz parte de uma visão ainda vigente mas que, felizmente, começa a mudar.<br />
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<b>MEDIAÇÃO COMO OPÇÃO</b><br />
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Nesse contexto, a gestão preventiva de conflitos através da mediação empresarial familiar aparece como uma das opções mais úteis para tratar a questão.<br />
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A mediação poderá ser utilizada “apenas” para facilitar a conversação dentro do ambiente corporativo, tanto entre sócios parentes como entre os demais atores da empresa e antes mesmo que o conflito venha à tona e mostre apenas seus efeitos deletérios. Isso facilitará a comunicação e o alinhamento de interesses, tornando a briga judicial mais improvável. Somente o lado positivo e construtivo do conflito é que virá à tona. <br />
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Já depois da eclosão do conflito, a mediação também será extremamente útil como método facilitador da construção de acordo, o que pode ocorrer antes mesmo da submissão do problema aos tribunais.<br />
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No ambiente empresarial familiar pode-se mencionar como vantagens da mediação: (i) o menor custo financeiro e emocional; (ii) menor potencial para agravamento do conflito e rompimento de relações; (iii) confidencialidade, e: (iv) ingerência do procedimento e do resultado obtido, o que afasta a surpresa das decisões judiciais.<br />
<b><br />MEDIAÇÃO COMO INDICADOR DE BOA GOVERNANÇA – CONFLITO LEVADO À SÉRIO</b><br />
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A utilização da mediação no ambiente corporativo é um indicador de que a empresa tem boa governança.<br />
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O Código de Melhores Prática de Governança Corporativa do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) recomenda que as empresas utilizem a mediação para a solução de controvérsias.<br />
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Dispõe seu artigo 1.4, “a”, que: “Os conflitos entre sócios, administradores e entre esses e a organização deve, preferencialmente, ser resolvidos mediante a negociação entre as partes. Caso isso não seja possível, recomenda-se que sejam resolvidos por meio da mediação/arbitragem. É recomendável a inclusão desses mecanismos no estatuto/contrato social ou em compromisso a ser firmado entre as partes”.<br />
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Isso é claro indicativo de que, como se afirmou, o tema dos conflitos tende a ser objeto de tratamento especial pelas empresas. Uma empresa, especialmente a familiar, que tenha política séria para trabalhar os conflitos, será detentora de boa governança, fato que, somado a outras boas posturas gerenciais, como a transparência, a alçara para um patamar mais profissional e contribuirá para dissipar inseguranças por parte de investidores atentos ao potencial destrutivo dos conflitos entre sócios parentes. <br />
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<b>O MEDIADOR</b><br />
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Em síntese, o mediador é um profissional facilitador do diálogo e, em regra, não emite parecer sobre a disputa.<br />
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Não se trata daquela pessoa próxima da família ou da empresa que sempre foi conhecida pelo bom senso e pela postura conciliadora, mas sim de profissional devidamente formado por instituições gabaritadas que ministram treinamento adequado.<br />
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Considerando-se que não há um órgão ou instituição que disponibilize cadastro de mediadores privados<a href="http://jornalggn.com.br/noticia/mediacao-para-empresas-familiares-um-indicador-de-boa-governanca-corporativa-por-caio-e-de-aguirre#_ftn1">[1]</a>, a escolha desse profissional ainda se faz através de referências do mercado.<br />
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Outra boa opção são as Câmaras de Mediação. Essas instituições privadas têm mediadores cadastrados e previamente selecionados, administrando o procedimento e fornecendo toda a estrutura o seu desenvolvimento.<br />
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Enfim, sendo a mediação um dos métodos disponíveis para os empresários, especialmente os que enfrentam o diário desafio de conciliar família e empresa, seu uso deve ser sempre uma opção concreta a ser considerada, sobretudo antes de apressadamente buscar socorro junto ao Poder Judiciário.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-35254465467206898702017-06-15T10:20:00.001-03:002017-06-15T10:26:10.572-03:00É exatamente assim!...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="text-align: start;">... e já era assim em 2001 quando eu estive lá.</span></div>
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<iframe width="320" height="266" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/yWjyaeJbwGY/0.jpg" src="https://www.youtube.com/embed/yWjyaeJbwGY?feature=player_embedded" frameborder="0" allowfullscreen></iframe></div>
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<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-34306434570170938042017-06-15T00:15:00.000-03:002017-06-15T00:16:51.126-03:00Águas em disputa - aquela velha trampa<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgE2Aa16lbeIts0a_-6h0q6zr0Des5zs157bzIWlM1Xn92R0VXND2nEyHQheg2KfPUxOph4TrxkIJ_V-ATf5NkejaPD-dDy3vw_9_EFt4oz5ZluyVw6eqK7_PlCzGVew7MSmwRpfcHxX74/s1600/rios_voadores2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="720" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgE2Aa16lbeIts0a_-6h0q6zr0Des5zs157bzIWlM1Xn92R0VXND2nEyHQheg2KfPUxOph4TrxkIJ_V-ATf5NkejaPD-dDy3vw_9_EFt4oz5ZluyVw6eqK7_PlCzGVew7MSmwRpfcHxX74/s1600/rios_voadores2.jpg" /></a></div>
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<b><i>A maior agenda de privatizações do saneamento da história do país desperta preocupação e aponta o aumento dos conflitos por água como consequência</i></b><br />
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<i>Maíra Mathias - <b><a href="http://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/reportagem/aguas-em-disputa" target="_blank">EPSJV/Fiocruz</a></b></i><br />
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A rua se transformou em um cenário de guerra. A fumaça e o barulho desorientadores das bombas de efeito moral se somavam aos estampidos produzidos por gatilhos a todo o momento acionados para liberar balas – de borracha, de plástico e até de chumbo. A visão era dificultada por outras bombas, de gás lacrimogêneo, e a entrada de um certo prédio público foi cercada de barreiras. De lá, saíam fortes jatos d´água apontados na direção de um carro de som. A perseguição se estendeu e dois veículos blindados, conhecidos como ‘caveirão’, avançaram por outras vias do centro do Rio de Janeiro. O noticiário chamou o acontecido naquela tarde de sol de 9 de fevereiro de “batalha”, palavra que originalmente remete ao combate militar entre dois exércitos inimigos. Na mira de todas essas armas, no entanto, não havia outro exército. Tampouco, de um ponto de vista republicano, as mulheres e homens, jovens e idosos que ali se agruparam deveriam ser encarados como ‘inimigos’. Mas assim foi feito. E, a partir do dia 15, quando a autorização para o envio da Força Nacional de Segurança Pública foi dada pelo governo federal, aqueles que defendiam a privatização da Companhia Estadual de Água e Esgoto (Cedae) se cercaram – literalmente – das condições necessárias para aprovar a medida. No dia 20 de fevereiro, com galerias vazias e cordão policial de 500 homens montado no entorno da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), os deputados autorizaram o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) a vender todas as ações da empresa.<br />
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Passado pouco mais de um mês, a água foi novamente objeto de disputa, mas de um tipo diferente. Uma década após as obras começarem e mais de cem anos depois de irromperem no imaginário político nacional como solução para as dificuldades trazidas pela terra árida e pelo clima seco que afetam a vida de gerações de nordestinos, a inauguração da transposição do rio São Francisco aconteceu. Ou melhor, inaugurações. No dia 10 de março, o presidente Michel Temer acompanhado de uma enxuta comitiva participou da cerimônia oficial de abertura do trecho que leva as águas do Velho Chico para Monteiro, na Paraíba. No dia 19, mulheres, homens, moços e velhos se aglomeraram na praça da cidadezinha para participar da inauguração extraoficial, que tinha no palanque os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff. Fato histórico carregado de simbolismo, a transposição evidenciou a “batalha” travada no coração do poder nacional e regional que tem na mira 2018.<br />
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Cada qual a sua maneira, os dois eventos dizem muito sobre como o Brasil pensa e gere suas águas. Isso porque a transposição, feita em nome das pessoas, talvez não seja para elas. E a venda da Cedae, feita em nome da recuperação financeira do Rio de Janeiro, tem tudo para ser um tiro no pé. Os alertas são feitos por especialistas ouvidos pela Poli e têm como pano de fundo a mais ampla agenda de privatizações da infraestrutura pública de saneamento da história do país – que inclui desde companhias estaduais veteranas até a gestão dos recém-inaugurados canais da transposição do São Francisco – e prevê ainda mudanças no marco legal do setor. “Sob muitos pontos de vista e de diferentes formas, essas medidas vão acirrar os conflitos por água no Brasil”, afirma o engenheiro sanitarista Alexandre Pessoa, professor-pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz).<br />
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<b>A via da imposição</b><br />
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A Cedae é a segunda maior empresa de saneamento do Brasil. Com 75 unidades de tratamento de água, 20 de tratamento de esgoto e uma rede de distribuição de 14 mil quilômetros que abastece aproximadamente 12 milhões de pessoas residentes em 64 dos 92 municípios do Rio, a estatal apresenta um histórico de lucros que geram dividendos ao governo fluminense. Até o terceiro trimestre de 2016, o lucro líquido – ou seja, o faturamento apurado depois do pagamento de impostos e taxas – foi de R$ 165 milhões. Em 2015, ano da crise hídrica, ficou em R$ 248,8 milhões. Em 2014, bateu recorde e alcançou R$ 460,3 milhões. Nos últimos dez anos, esse número ultrapassou R$ 2 bilhões.<br />
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Com um déficit orçamentário previsto em R$ 26 bilhões apenas em 2017, o governo do Rio decretou estado de calamidade financeira em junho do ano passado. O desastre das contas públicas nas gestões do PMDB fluminense abriu espaço para medidas excepcionais, como sucessivos atrasos no pagamento dos salários de servidores, aposentados e pensionistas. E também foi o pontapé inicial para um controverso processo de renegociação da dívida com a União.A privatização da Cedae foi apresentada pelo governo federal como exigência para socorrer o Rio. “Não há um plano B”, sentenciou o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, sobre o acordo firmado entre Pezão e Temer no dia 26 de janeiro. O documento traz uma longa lista de medidas que precisam ser cumpridas pelo governo fluminense para que este possa adiar o pagamento dos débitos com a União. Válido até 2019, o acordo projeta para o período um déficit que ultrapassa R$ 60 bilhões. Um número superlativo que, contudo, não chega nem perto do total de benefícios fiscais concedidos pelo PMDB do Rio ao setor privado que, segundo um relatório dos auditores da receita estadual, somou R$ 138 bi desde 2007, ano em que o ex-governador Sérgio Cabral assumiu o Executivo. O político está detido na penitenciária de Bangu desde novembro do ano passado. É acusado, dentre outras coisas, de integrar um esquema de propina em troca da concessão de benefícios fiscais.<br />
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Tendo por moldes tais números, personagens e circunstâncias, o acordo bilateral lançou as bases para que o governo federal estendesse as condições aceitas pelo Rio para o restante do país. Em 23 de fevereiro, o ministro da Fazenda enviou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei Complementar (PLC) 343, que instituiu o Regime de Recuperação Fiscal dos Estados e do Distrito Federal. No texto, a privatização de estatais de saneamento, energia e bancos são contrapartidas exigidas pelo governo Temer para renegociar as dívidas dos entes federados. O PLC 343 estava pronto para ser votado no plenário da Câmara dos Deputados desde 29 de março, mas encontrou resistência dos partidos de oposição, de vários governadores e até de quem também decretou calamidade financeira em seu estado. É o caso de Minas Gerais.<br />
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“Por que a gente privatizaria empresas que estão bem e dando resultados, como a Cemig [energia elétrica], a Copasa [saneamento] e a Codemig [desenvolvimento]? O próprio caso da Cedae. O valor da Cedae mal cobre um mês da folha de pagamento do Rio de Janeiro. Vai privatizar para quê? A não ser que o governo federal assuma que isso não tem nada a ver com ajuste e que seja decisão ideológica”, declarou o governador mineiro, Fernando Pimentel (PT), em entrevista ao jornal Valor Econômico (02/03). “Podemos privatizar se isso for mais útil para a prestação de serviços”, continuou ele, arrematando: “Agora, sermos obrigados a privatizar?”.<br />
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Fechando a lista dos entes federados em estado de calamidade financeira está o Rio Grande do Sul. Por lá, o governador Ivo Sartori (PMDB) tem mantido posição ambígua. Assim como fez o Rio, enveredou por uma negociação bilateral com a equipe de Temer e, tal qual Pezão, foi presença assídua em Brasília durante as votações do PLC 343. Contudo, nem a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) nem o Banrisul, banco do estado – definidos como “joias da coroa” pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha – estão no rol das estatais que Sartori admite vender para renegociar sua dívida com a União, segundo a assessoria de imprensa do governo gaúcho informou à Poli no início de abril.<br />
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Contudo, com o pacote aprovado, Minas, Rio Grande do Sul ou qualquer estado que precise renegociar dívidas no futuro fica obrigado, por lei federal, a privatizar o saneamento. “Esse projeto vai abrir a porteira para eles fazerem o que bem entendem”, comenta Ary Girota, delegado sindical da Cedae, que, junto com outros trabalhadores da estatal, tentava influenciar deputados federais a barrarem o projeto. Até o fechamento desta reportagem, as perspectivas não eram as melhores. Depois de sucessivos adiamentos, o texto base, que incluía as privatizações no saneamento, foi aprovado pela Câmara em 10 de maio e as propostas que tentavam retirar esse tipo de contrapartida foram derrotadas. Agora, o texto segue para o Senado. O Regime de Recuperação Fiscal libera os estados de pagar o que devem à União por três anos, prorrogáveis por mais três, e prevê ajuda para renegociação de dívidas com bancos.<br />
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“O atual governo está radicalizando a proposta neoliberal. Para isso, faz chantagem com os estados, impõe como condição para renegociar as dívidas a privatização não só das companhias de saneamento, mas de quaisquer outras estatais que ainda existam. É um jogo pesado”, comenta o engenheiro Luiz Roberto Moraes, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Considerado um dos maiores especialistas na área em atividade no país, ele completa: “Nunca houve um processo tão avassalador de privatização do saneamento no Brasil”.<br />
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<b>As águas debaixo da Ponte</b><br />
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O veredicto decorre da constatação de que a agenda do governo federal não se limita à imposição de contrapartidas para renegociar as dívidas estaduais. Esse seria o polo negativo de um amplo espectro de medidas que, segundo seus proponentes, são necessárias para a retomada do crescimento econômico do país. O cerne desse pensamento está no documento ‘Uma Ponte para o Futuro’, lançado pelo PMDB no longínquo mês de outubro de 2015, que afirmava ser “fundamental” para o desenvolvimento brasileiro a execução de uma política “centrada na iniciativa privada, por meio de transferências de ativos que se fizerem necessárias, concessões amplas em todas as áreas de logística e infraestrutura, parcerias para complementar a oferta de serviços públicos”. No seu primeiro dia no Planalto, ainda como presidente interino, Michel Temer editou uma medida provisória que daria sustentação a esse processo, criando o Programa de Parcerias em Investimento (PPI). Aprovado pelo Congresso em setembro como lei (13.334), o PPI abarca concessões à iniciativa privada de aeroportos, rodovias, portos, ferrovias, mineração, energia. Em um país onde 95% do saneamento dos municípios é operado por empresas ou autarquias públicas, não foi exatamente uma surpresa que esse setor fosse um dos primeiros alvos da política de desestatização.<br />
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O saneamento básico é composto, no mínimo, por quatro componentes: abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo das águas pluviais e limpeza urbana. “Desses, os mais atraentes para o capital são o abastecimento de água e o esgotamento porque, tradicionalmente no Brasil, são serviços cobrados por meio de tarifas – e isso é visto como uma oportunidade de negócio. Então, a pressão do capital é permanente no sentido de abrir um novo mercado para si. E este governo não decepcionou: com o PPI inaugurou a maior investida da história brasileira para colocar o controle das companhias estaduais de saneamento na mão da iniciativa privada”, situa Moraes. Não que as empresas não atuem há muito tempo no saneamento, explica o professor da UFBA. “Mas isso acontecia na fabricação de materiais e equipamentos, na elaboração de projetos e das próprias obras de engenharia”, explica. Não por coincidência, as grandes empresas brasileiras do saneamento foram criadas como subsidiárias de empreiteiras como Odebrecht e OAS. “O saneamento básico passou a ser um novo ambiente de negócios em que além de executar a obra, a empresa ainda lucra operando aquele sistema”, diz.<br />
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Mas, acima de tudo, o saneamento se mostrou um bom negócio para empresas privadas – não só no Brasil como ao redor do mundo – devido a uma característica especial que o distingue de outros serviços, como a telefonia por exemplo. Isso porque o saneamento é um monopólio natural. Uma empresa de água e esgoto dispõe de uma infraestrutura capaz de realizar desde a captação no manancial, passando por barragens e adutoras que levam a água dali para as estações de tratamento. A água própria para consumo humano segue para reservatórios urbanos, de onde é bombeada pela rede de distribuição. Só aí chega na torneira das casas. Depois de usada, a água se mistura com resíduos e vira esgoto. “Você não tem duas, três redes de água e esgoto na mesma rua para poder escolher entre o serviço da empresa A, B ou C. Ficaria inviável economicamente, então você tem uma única tubulação e uma única empresa para operar aquilo ali. Na telefonia tem concorrência, você pode contratar diferentes empresas, mas no saneamento o usuário não tem opção”, explica Moraes.<br />
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A captação via rede específica, o tratamento e a disposição adequada do esgoto são considerados calcanhares de Aquiles do país que, de resto, ainda não universalizou o abastecimento de água. Segundo dados mais recentes do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) referentes a 2015, apenas metade dos brasileiros têm acesso à coleta de esgoto, enquanto 83,3% são abastecidos de água. Essas estatísticas são o principal trunfo do governo e dos empresários, que argumentam que o setor público falhou na universalização dos serviços e está na hora de o setor privado assumir sua prestação. Além das alegações mais gerais de ineficiência da gestão pública, a defesa da privatização do saneamento se sustenta na crise econômica, uma vez que nem estados, nem o próprio nível federal teriam condições de investir na expansão e melhoria dos serviços na atual conjuntura.<br />
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E, assim, o círculo se fecha, na avaliação dos especialistas ouvidos pela Poli. Se a renegociação das dívidas se baseia em uma imposição às claras, o PPI tem um caráter mais sofisticado ao induzir as parcerias com o setor privado como único caminho para viabilizar o aporte de recursos para o saneamento. A questão, pondera Moraes, é que no caso do PPI os recursos imediatamente aportados são públicos e não privados.<br />
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O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é o braço operacional do PPI. De lá sai o financiamento de até 80% do montante total que a iniciativa privada irá ‘investir’. Os empréstimos feitos a juros subsidiados podem ser pagos num prazo de até 20 anos. “Sistemas de água e esgoto exigem altos custos de implantação que, historicamente, em todos os países do mundo, foram providos pelo Estado. Se o Estado brasileiro banca 80% do investimento, qual a justificativa para a entrada do setor privado?”, questiona Moraes, que define o modelo em voga no Brasil como “capitalismo sem riscos”: “O ‘parceiro’ privado acaba usufruindo bastante dos recursos públicos através de linhas de crédito a juros baixíssimos, aumentando a sua mais-valia, se apropriando, então, desses recursos. E uma vez no exercício da exploração dos serviços públicos de água e esgoto, ele praticamente determina o que vai ser feito, quando vai ser feito, como vai ser feito, para quem vai prestar o serviço, para onde se vai expandir. Entre uma população de baixa renda na periferia e uma população de renda média e alta, o ‘parceiro’ privado prefere a segunda, que tem uma maior capacidade de pagamento”.<br />
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Em outubro do ano passado, a adesão ao PPI foi formalizada pelos governadores de 18 estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Tocantins, Paraná, Santa Catarina e Rio de Janeiro (que foi o primeiro a entrar no Programa e também o primeiro a sair dele por motivos que até hoje não estão muito claros). De lá para cá, o BNDES se empenhou na abertura de editais de licitação para contratar consultorias privadas que farão o diagnóstico da situação de cada estado. Desses estudos saem o que o Banco chama de ‘modelos de parcerias’. Hoje, o controle das estatais de saneamento pode passar para a iniciativa privada de diferentes formas: concessão plena, concessão parcial, parceria público-privada, venda de ativos e até a pouco conhecida alocação de ativos, quando, por exemplo, uma empresa privada toma emprestado dinheiro público para construir uma estação de tratamento de água e esgoto e arrenda depois essa estrutura para a companhia estadual, como se fosse um aluguel.<br />
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O Banco tem demonstrado velocidade na contratação das consultorias. Os pregões do primeiro lote que reuniu seis estados – Amapá, Alagoas, Maranhão, Pará, Pernambuco e Sergipe – foram realizados em março. Os preparativos para os pregões do segundo lote – formado por Acre, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Santa Catarina – tinham começado naquele mês. Os processos de Amazonas, Bahia, Paraná, Piauí e Tocantins ainda estavam em preparo. O único estado que não seguia o trâmite foi Rondônia, que preferiu contratar uma consultoria por conta própria.<br />
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Os recursos públicos disponibilizados para a contratação dessas empresas poderiam ser usados para financiar o planejamento do setor público, defende Moraes. Segundo ele, um plano municipal de saneamento básico custa em média R$ 300 mil. O plano cumpre o papel de fazer o diagnóstico da situação e a projeção de como alcançar metas futuras de ampliação da cobertura e é feito com participação da população. Nos cálculos do professor se os R$ 19,2 milhões direcionados pelo BNDES para contratar a consultoria de Alagoas, por exemplo, fossem usados para financiar planos municipais, 64 das 102 cidades do estado poderiam ser atendidas. Em Sergipe, 50 de 72 cidades poderiam financiar seus planos. “Eu peguei o volume de recursos para os seis estados do primeiro lote e concluí que daria para fazer plano para 382 municípios com o mesmo valor. Quando um prefeito bate na porta do governo federal pedindo recursos para elaborar seu plano, o governo fala que não tem dinheiro. Estamos demonstrando que existe, sim, dinheiro mas que a opção política é financiar a privatização”, sentencia.<br />
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A previsão do BNDES é que os primeiros leilões dos serviços de saneamento ocorram no começo de 2018. O otimismo pode ser infundado, já que entre aderir ao PPI e fazer os leilões vai um longo caminho. “É preciso acreditar que todos os governadores vão conseguir aprovar leis autorizando nas respectivas assembleias legislativas. E que nem os municípios, nem a sociedade civil vão reagir”, diz Moraes.<br />
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Na Paraíba, a mobilização fez o governador mudar de ideia. O estado protagonizou em abril a segunda baixa do PPI de uma maneira, digamos, peremptória. “Como demonstra a história recente, dadas, sobretudo, as desigualdades socioeconômicas e regionais já crônicas em nosso país, as políticas irrefletidas de privatização de serviços básicos tendem a oferecer falso e momentâneo alívio financeiro aos entes públicos e a promover efeitos colaterais pelos quais o próprio Estado é responsabilizado. Assim, não é raro ocorrer em seguida a privatizações restrições de acesso a bens de interesse social, além de uma desequilibrada busca pelo lucro, o que penaliza a população como um todo”, afirmou o governador Ricardo Coutinho (PSB) em uma carta aberta endereçada aos cidadãos da Paraíba.<br />
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No texto, ele argumenta que a Companhia de Água e Esgotos (Cagepa) teve superávit de R$ 20 milhões em 2016, mas acrescenta que a importância da estatal não se resume aos valores da arrecadação obtida. “A Cagepa não visa ao lucro; embora tenha a obrigação de ser equilibrada financeiramente. Sua função é a de prestar serviços públicos acessíveis e de qualidade quanto ao abastecimento de água e ao tratamento sanitário para toda a população. A relevância de seu superávit está no fato de que – mesmo num quadro de gravíssima estiagem, com 45 municípios em absoluto colapso hídrico e muitos outros em regime de racionamento – ele revela a sustentabilidade e a eficácia da empresa, desde que o governo promova as garantias e as adaptações gerenciais necessárias”.<br />
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Em Sergipe, parlamentares de vários partidos realizaram uma audiência pública em março que foi considerada a maior da história da Assembleia Legislativa do estado com mais de mil participantes que se espremeram dentro e até do lado de fora do prédio. Como desdobramento, outra audiência foi feita pela seção regional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que chamou os senadores e deputados federais de Sergipe, além de organizações da sociedade civil. O resultado do encontro foi uma posição contrária à privatização da Companhia de Saneamento (Deso). “Lá em Sergipe está havendo uma reação à altura do movimento social, do movimento sindical, do movimento popular, do movimento ambientalista, das diferentes igrejas contra a privatização da Deso. Se não houver uma pressão social grande em cada um dos estados, acontece o que aconteceu no Rio de Janeiro”, alerta Moraes.</div>
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<b><br />Cedae: vitrine e vidraça</b><br />
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O Rio de Janeiro foi pioneiro na implantação do saneamento no Brasil. O sistema de captação de água e tratamento de esgotos da cidade foi feito ainda no período imperial pela City, uma empresa inglesa privada. “Essa empresa perdeu a concessão exatamente porque não cumpriu as cláusulas contratuais de expansão e de qualidade, então nada disso é novidade. Faz parte da história do saneamento”, afirma Alexandre Pessoa, professor-pesquisador da EPSJV/Fiocruz. De lá para cá, diversos governos tentaram privatizar o saneamento. “Por que isso não ocorreu? Há um histórico de resistência da população à privatização desses serviços por entender que uma consequência inevitável é o aumento tarifário, já que se trata de um monopólio natural”, retoma o engenheiro. “As tentativas de privatização da Cedae começaram na década de 1990 com o governo Marcelo Alencar [PMDB], que vendeu diversas estatais. Não tiveram êxito com a Cedae. Naquele momento, a população tinha clara a importância de uma empresa de saneamento que, mesmo com problemas, é pública e tem como única função atender a população e não os acionistas”, contextualiza, por sua vez, Ary Girota, delegado sindical da estatal.<br />
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Desta vez, no entanto, a reação popular à privatização não veio no tom esperado. As respostas para isso são muitas. Na opinião de Girota, depois de várias tentativas frustradas de privatização direta nos governos Garotinho, Rosinha e Cabral, a Cedae sofreu uma espécie de privatização por dentro, e passou a ser administrada sob uma lógica distanciada de sua missão. “Esses governos fizeram a expansão do sistema de água, mas a parte de tratamento de esgoto não acompanhou porque há um discurso interno de que esgoto dá prejuízo e, sob essa alegação, a Cedae abriu mão de operar sistemas de esgoto em vários locais. Com isso, esse braço da empresa foi sendo sucateado, foram deixando de investir, foram deixando cair a qualidade do serviço. Só que isso afeta diretamente a população, que não quer ter esgoto na porta de casa. E não há uma justificativa técnica para não se ter um investimento ao menos paritário entre água e esgoto. É uma opção política sucatear esse sistema para justificar a entrega, algo que não foi percebido, inclusive, pelas entidades sindicais, e que está sendo explorado hoje para defender a privatização”, avalia.<br />
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Contudo, o que sobressai quando se olha o cenário em que se aprovou a privatização da Cedae é a tentativa deliberada do governo de afastar a sociedade do debate. O projeto de lei 2.345 chegou no dia 3 de fevereiro à Alerj. Nele, o governador Luiz Fernando Pezão pedia a autorização do legislativo para privatizar a estatal e, antes mesmo de a venda se concretizar, captar um empréstimo de R$ 3,5 bilhões dando como garantia as ações da empresa. Nenhuma audiência pública sobre o tema foi realizada. Toda a discussão se deu com a Assembleia Legislativa do Rio protegida por uma espécie de barricada. As galerias do plenário foram fechadas ao público. Além disso, não houve discussão no próprio legislativo. A mesa diretora da Alerj havia divulgado um calendário em que os ritos da votação levariam quatro dias. Até porque os parlamentares apresentaram nada menos do que 211 emendas ao projeto. Mas elas foram rejeitadas em bloco pelos deputados da base do governo e o projeto acabou sendo votado em pouco mais de 40 minutos no próprio dia 20. Dos 69 deputados presentes na sessão, 41 foram a favor e 28 contra.<br />
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A votação relâmpago causou surpresa e revolta entre os manifestantes contrários à privatização. A “batalha” entre militares e civis se repetiu. Os trabalhadores improvisaram uma caminhada da Alerj até a sede da Cedae. Ao longo do trajeto, de cerca de três quilômetros, banheiros químicos instalados no centro do Rio para o Carnaval foram depredados. A resposta policial se deu com tiros e bombas. Diversas pessoas ficaram feridas e 24 foram detidas. “A repressão policial durante todo o processo foi muito violenta, desproporcional. Mobilizar as pessoas, e os próprios trabalhadores, não foi uma tarefa fácil”, diz Girota, que continua: “Na verdade, o que nós tivemos ao longo do processo de autorização da privatização da Cedae foi um Estado de exceção. Ficou muito claro nos dias dos atos. A cidade do Rio de Janeiro foi tomada por tropas federais para garantir a privatização. Não foi só a Força Nacional que veio, estiveram de prontidão também o Exército e os fuzileiros navais. E a PM fez o trabalho de repressão. Nós fomos colocados contra a parede – não só os trabalhadores como toda a população fluminense – como se estivéssemos defendendo uma ilegalidade e não o contrário. Foram eles que atropelaram o processo democrático, conduziram esse processo de uma maneira totalmente autoritária e cedendo aos interesses do Temer, que é o grande capitão desse processo todo. Estão entregando tudo e a Cedae é um desses componentes”.<br />
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A lei 7.529, que permite a privatização da Cedae, foi sancionada por Pezão no dia 7 de março. A partir daí, o governo tem seis meses, prorrogáveis por mais seis, para contratar bancos federais para estruturar o modelo de venda da companhia. Segundo o deputado Marcelo Freixo (Psol), a empresa vale entre R$ 10 e R$ 14 bilhões. Nos bastidores, ainda segundo ele, membros do governo afirmam que a negociação seria de cerca de R$ 4 bilhões, valor considerado irrisório já que a receita operacional da Cedae em 2015 foi de R$ 4,47 bilhões.<br />
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Nas apostas do mercado de quem pode levar a Cedae os mais cotados são Brookfield, Águas do Brasil e Aegea Saneamento. Uma análise detida sobre os três já revela muito da atual dinâmica empresarial em torno da água. Se o mercado brasileiro por muito tempo foi dominado pelas empreiteiras, com a Operação Lava Jato o cenário apresenta um mix cada vez mais transnacional. O comprador mais cotado é um fundo canadense (Brookfield) que em outubro do ano passado arrematou 70% da Odebrecht Ambiental por R$ 2,5 bilhões. Também está no páreo a Águas do Brasil – que opera os serviços em Niterói e Petrópolis – tem entre suas principais acionistas as construtoras Carioca Engenharia e Queiroz Galvão. Já a Aegea, outra forte candidata, é um caso à parte. A empresa tem como sócios um grupo brasileiro, o fundo soberano de Cingapura e a International Finance Corporation (IFC), instituição do Banco Mundial criada para apoiar o setor privado nos países em desenvolvimento. Procurado pela Poli, o escritório do Banco Mundial no Brasil informou que, em 2012, a IFC concedeu um empréstimo à Aegea para ajudá-la em sua expansão pelo país, inclusive nas regiões Norte e Nordeste e que, desde então, a IFC e o Fundo Global de Infraestrutura da IFC injetaram mais de US$ 84 milhões por meio de empréstimos e de investimentos em participação acionária na empresa.<br />
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Os movimentos internacionais contrários à privatização do saneamento têm feito cobranças públicas ao Banco Mundial por conta da atuação da IFC. Historicamente, o organismo financeiro foi acusado de conceder empréstimos a países dando como contrapartida a privatização dos serviços. No debate brasileiro recente, um argumento usado com frequência por entidades que lutam contra as privatizações é o de que o Banco Mundial defendeu no passado a privatização, mas agora reviu esse posicionamento. Thadeu Abicalil, especialista de água e saneamento do Banco no país, esclarece que, para a instituição, não importa a natureza jurídica da prestação do serviço. “Desde que seja prestado de forma eficiente e equânime, chegue aos mais pobres. Esse é o ponto que a gente sempre quer passar, seja público ou privado”. E acrescenta: “No Brasil, nós estamos, no Banco Mundial, bastante convencidos de que o setor público sozinho não será capaz de alcançar esse nível de investimento nessa infraestrutura, precisará de parceria”.<br />
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Alexandre Pessoa acredita que, tendo como pano de fundo a falência do estado, se criou uma grande oportunidade para privatizar sem os ‘embaraços’ democráticos, como o espaço para o contraditório. “Não lembro de ter visto uma lógica tão perversa porque ela interdita qualquer debate sobre a concepção do saneamento, sobre o que realmente deve ser discutido como objetivo do saneamento: a saúde pública. Esses aspectos, que já foram discutidos no passado, não entraram na pauta desta vez porque o processo está envolto em uma aura de chantagem”, avalia o engenheiro sanitarista. Ele lembra que em 2010, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou a água limpa e segura e o saneamento como direitos humanos essenciais. “Garantir direitos essenciais é uma função do Estado, estamos falando em serviços de natureza pública em que há um claro conflito de interesses. A lógica da rentabilidade se choca com a necessidade de atender a uma demanda reprimida não só de expansão do sistema de saneamento mas também da qualidade desse atendimento”.<br />
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Trabalhadores, movimentos sociais e partidos da oposição se uniram num esforço póstumo de tentar barrar a privatização da Cedae. Na esfera judicial, a sorte foi lançada no dia 29 de março, quando chegou ao STF uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) que questiona a validade do rito legislativo que autorizou a privatização da estatal. Os partidos Psol e Rede – autores da Adin – argumentam que a aprovação feriu o princípio da deliberação suficiente. Entre os argumentos, eles citam que nenhum dos 64 municípios que serão afetados pela decisão foram consultados e que um tema estratégico não deveria ter sido submetido ao regime de urgência.<br />
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“Alterações profundas no regime jurídico da prestação dos serviços públicos de água e esgoto não podem ser feitas com fundamento apenas em preocupações de caráter orçamentário”, diz o texto da Adin, que continua: “Não houve no curso do processo legislativo qualquer exame sério quanto à aptidão de a Cedae prestar adequadamente os serviços públicos de distribuição de água e de esgotamento sanitário após a privatização. Desconsiderou-se, por completo, a experiência internacional recente, que tem demonstrado que as empresas privadas tendem a maximizar a sua margem de lucro, dando preferência aos investimentos em áreas com melhor retorno financeiro, em detrimento do atendimento de toda a população”. O texto se refere às 235 cidades que, desde 2000, retomaram a gestão do tratamento e fornecimento de água das mãos de empresas privadas. A lista inclui grandes capitais como Berlim, Buenos Aires e Paris, onde as duas maiores empresas privadas de água do mundo – as francesas Suez e Veolia – foram dispensadas pela prefeitura. Dentre as razões que levaram às reestatizações, estão investimento insuficiente, descumprimento de metas contratuais, aumento nas tarifas, pouca transparência e políticas de exclusão de populações mais pobres.<br />
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Além da Adin, uma proposta de plebiscito foi assinada por oito lideranças partidárias na Alerj. O projeto está na mesa do presidente da Assembleia. A proposta que tem mais chances de vingar vem do legislativo da capital. O vereador Renato Cinco (Psol) planeja a realização de uma assembleia popular para debater a privatização da Cedae no mês de junho. Contudo, até agora, a única dor de cabeça infligida ao governo estadual não veio dessas iniciativas, mas do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), que anunciou que poderia criar uma empresa municipal de água e esgoto. “A Cedae só existe devido a dois Rios: o Rio Guandu, que fornece a água, e o Rio de Janeiro, que é o maior cliente”, disse em fevereiro. Questionada pela Poli se mantém a ideia de criar a companhia, a prefeitura do Rio enviou nota afirmando que “defende que o município seja ouvido no processo de privatização da Cedae, uma vez que a cidade é responsável pela maior parte do faturamento da companhia” pois “é necessário saber quais benefícios esta transação trará”.<br />
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As companhias estaduais de saneamento funcionam com subsídio cruzado: os superávits das cidades maiores tampam os déficits dos municípios menores ou onde a implantação do serviço foi muito cara. Esse equilíbrio é o que permite a empresa atuar em um número maior de cidades. “Se o Crivella endurece e toma o Rio ele quebra a Cedae porque o que sobra não é o suficiente para fazê-la funcionar”, diz Luiz Roberto Moraes. A capital responde por 87% da receita da Cedae. O engenheiro explica que a Constituição diz que cabe ao município a atribuição de organizar e prestar diretamente o serviço de saneamento ou conceder a terceiros essa prestação. “Os municípios são os titulares, os donos do serviço. A Cedae é uma simples prestadora. E como dono, o município pode endurecer, não dar autorização, gerar conflito”. De acordo com Moraes, a pressão agora deve ser feita localmente porque para a privatização vingar será necessária a autorização das câmaras de vereadores. “Eles vão tentar cooptar os prefeitos, os vereadores, mas se a sociedade reagir eu acho que muita água pode rolar daqui para frente”. </div>
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<b>Velho Chico, novos problemas</b><br />
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Nem mesmo a transposição do rio São Francisco ficou incólume à agenda de privatizações do governo federal. Desde outubro do ano passado, o Ministério da Integração Nacional noticia a intenção de criar parcerias público-privadas para a gestão dos canais que levarão as águas do Velho Chico para o semiárido nordestino. Em nota enviada à Poli, a pasta afirmou que já havia solicitado ao BNDES “estudos de viabilidade de parceria com ente privado para operação e manutenção dos canais” e acrescentou que havia recebido, por sua vez, uma solicitação da Secretaria Especial do PPI (que tem status de ministério) para prestar informações sobre o Projeto de Integração do Rio São Francisco, nome oficial das obras de transposição.<br />
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Com 477 quilômetros de extensão em dois eixos de transferência de água, o empreendimento promete abastecer 12 milhões de pessoas em 390 municípios nos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. O Eixo Norte vai do município de Cabrobó (PE) até Cajazeiras (PB), mede 260 quilômetros e, segundo o governo federal, deve ficar pronto no segundo semestre. No dia 10 de março, uma parte do Eixo Leste foi inaugurado. Com 217 quilômetros, o canal vai de Floresta (PE) até Monteiro (PB). As obras começaram em 2007, no segundo mandato do presidente Lula, com previsão de conclusão em 2012, já no governo Dilma Rousseff, que foi afastada do Planalto com aproximadamente 90% dos canais concluídos.<br />
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“Atualmente, a Codevasf [Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco] é a responsável pela gestão dessas águas. Mas isso ficou muito tempo indefinido e até hoje não há nenhum desenho de como seria essa gestão. Agora entra a discussão da privatização das águas da transposição. Com isso, você acha que essas águas vão para quem? Para acabar com a sede da população do Nordeste é que não”, avalia o engenheiro André Monteiro, do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM/Fiocruz Pernambuco).<br />
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Segundo o pesquisador, que se dedica a estudar os conflitos por água decorrentes das obras da transposição, o acesso à água no semiárido historicamente se baseou na concentração do recurso natural na mão de poucos e poderosos. A região tem 70% da sua geologia cristalina, ou seja, as rochas que dão origem ao solo estão praticamente na superfície. Quando chove, pouca água se infiltra no subsolo e há um escoamento muito intenso. Desde o Império, a estratégia foi tentar ‘segurar’ a água que escoava pelo solo através do represamento. Os grandes açudes construídos pelo poder público ou eram instalados dentro das terras de fazendeiros ou, depois de prontos, eram apropriadas por eles. A promessa do fim da sede foi, desde sempre, o motor da chamada ‘indústria da seca’ – um dos sustentáculos do coronelismo.<br />
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“Hoje a transposição é fato consumado. E a grande questão – tornada invisível de propósito – continua sendo discutir os projetos em disputa. Essa água vai para onde e será usada para qual fim? A vazão disponível será suficiente para tudo?”, questiona Monteiro. Segundo ele, uma pista foi dada pela Federação das Indústrias da Paraíba. Em fevereiro, a entidade promoveu um seminário sobre “gestão estratégica das águas”. O caso de ‘sucesso’ apresentado no evento foi a transposição do rio Colorado, nos Estados Unidos. Feita entre as décadas de 1930 e 1950, a obra serviu como impulso para a expansão da fronteira agrícola na região, que concentra grandes latifúndios monocultores. “A Federação deixou claro que está se articulando para transformar o semiárido num Colorado. É um projeto que tem tudo para conjugar concentração de água, de terra e de poder”, alerta o pesquisador.<br />
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Uma parte da conclusão de que a transposição do São Francisco é uma obra feita principalmente para atender a interesses econômicos se deve ao histórico do projeto. Sempre que entrevistado, o engenheiro João Suassuna, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), retoma o ano de 2004, quando os debates estimulados pelo governo Lula levaram a recomendações técnicas que desagradaram Brasília. “O presidente queria saber como o São Francisco poderia contribuir para solucionar o problema de abastecimento de água no semiárido nordestino. Quarenta expoentes da hidrologia nacional passaram três dias em Recife em um evento que a SBPC [Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência] promoveu para discutir a transposição. Dessa reunião saiu uma proposta: o governo deveria investir na construção de uma infraestrutura que integrasse as diversas represas e açudes que existem no interior do Nordeste. Essa proposta considerava o São Francisco como uma fonte de abastecimento complementar e a transposição como uma decisão que deveria ser tomada somente após a conclusão dessas obras, quando haveria uma nova avaliação do déficit de água na região”, conta.<br />
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Isso porque, desde aquela época, já se sabia que o São Francisco tinha limitações hídricas. O máximo de vazão que o projeto pode fornecer são 127m3/s, que podem ser retirados quando a represa de Sobradinho estiver com 94% do seu volume preenchido. “Mas a cada dez anos, Sobradinho enche apenas quatro. Investiram até agora R$ 10 bilhões em um projeto que irá funcionar em sua plenitude 40% do tempo. É muito pouco”, constata Suassuna. A transposição hoje está retirando do rio 26,4 m3/s. E a situação se agravou: Sobradinho está com 15% do seu volume preenchido quando no final de abril, mês em que se encerra o período chuvoso, esse volume precisa ser de 60% no mínimo. Segundo o pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, a perspectiva é que Sobradinho atinja seu volume morto no final de novembro.<br />
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Esses números estavam no centro do diagnóstico do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF). Os comitês de bacia são organismos colegiados em que representantes do governo, dos usuários e da sociedade civil arbitram conflitos pelo uso da água, dentre outras prerrogativas. Em 2004, o CBHSF impôs uma condição para aprovar a obra: que as águas da transposição fossem destinadas somente para o abastecimento humano e dessedentação animal – usos prioritários de acordo com a Lei de Águas. “Infelizmente essa deliberação foi literalmente tratorada no âmbito do Sistema Nacional dos Recursos Hídricos e aprovada no estilo do rolo compressor pelo governo à época, ameaçando reproduzir novo elefante branco em nossa megalômana cultura de grandes e problemáticas obras”, critica Anivaldo Miranda, atual presidente do Comitê, onde representa a ONG Instituto Ecoengenho. Ele informou que também em relação à decisão de privatizar a gestão dos canais o CBHSF não foi consultado.<br />
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“Quando as discussões começaram e o governo federal viu que a água da transposição ia ser usada apenas para abastecimento humano e dessedentação animal, levou o plano para análise em Brasília. Para surpresa de todos, o parecer voltou nos seguintes termos: o governo não aceitava apenas esses usos e aquela discussão não deveria ser feita no âmbito do Comitê de Bacia mas pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos onde, não por acaso, o governo tem a maioria dos assentos. E assim passou o projeto da transposição incluindo o uso para o agronegócio”, conta Suassuna.Outro órgão que faz parte dessa história é a Agência Nacional de Águas (ANA). João Suassuna conta que partiu de lá uma proposta em sintonia com o que já tinha sido sugerido pela SBPC. O Atlas Nordeste de Abastecimento Urbano de Água, de 2006, mapeou várias fontes hídricas e propôs que se fizesse sua interligação. “Essa alternativa tinha uma abrangência de 34 milhões de pessoas. Já a proposta da transposição visa o abastecimento de 12 milhões. A proposta da ANA custava, em 2006, R$ 3,3 bilhões. A transposição naquela época custava o dobro – R$ 6,6 bilhões –, valor que hoje bate os R$ 10 bilhões. Quando essas propostas foram apresentadas ao PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] para buscar financiamento venceu a proposta mais cara, a que atinge menos pessoas. A gente lamenta – e lamenta muito – porque, visivelmente, a transposição do São Francisco não foi feita para abastecer populações”, diz o engenheiro.<br />
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Especialista em convivência com o semiárido, Suassuna cita outros elementos que corroboram essa conclusão. Já foi construído um canal que liga o Porto de Pecém à represa do Castanhão, que vai receber as águas do São Francisco. “Para quê? Estão construindo uma siderúrgica em Pecém, a Ceará Steel, que sozinha consome tanta água quanto um município de 90 mil habitantes”, cita ele. Já André Monteiro lembra que ao longo dos canais, existem 160 sistemas de abastecimento de água de comunidades urbanas que estão a cinco quilômetros de cada margem. “Se houver uma comunidade a seis quilômetros, ela não vai receber água. E a população difusa, espalhada pelo interior, não tem nem compromisso [do governo] de que vai acessar essa água”, diz.<br />
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A região Nordeste enfrenta a maior crise hídrica de sua história. A estiagem, que já dura seis anos, é potencializada pela falta de planejamento e uso predatório do recurso natural. “O que está acontecendo hoje? Quando se constrói uma grande represa no Nordeste, a primeira coisa que se faz é uma irrigação desenfreada no seu entorno. Vazamentos acontecem e ninguém liga. Além disso, a demanda cresce: há 10 anos, a represa do Boqueirão abastecia Campina Grande e oito municípios. Hoje ela abastece 18 municípios além de Campina Grande. Boqueirão está com 2% apenas. Campina Grande está sendo atendida por frotas de caminhão pipa”, lamenta Suassuna. Em meio a tudo isso, a solução apresentada é trazer água do São Francisco. “Mas essa água vem de uma parte do rio que também já está praticamente seca. E quando chegar à represa, ela vai continuar sendo mal gerida”, aponta ele, que defende que o governo faça um levantamento das demandas de água para beber na região que está recebendo as águas da transposição e também ao longo da Bacia do São Francisco para que se saiba exatamente qual volume do rio pode ser liberado em segurança. “Sem isso, podem estar levando um volume muito maior do que a capacidade que o rio tem de fornecê-lo. É possível que já estejam cobrindo um santo e descobrindo outro”.<br />
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Falar em água no São Francisco exige um olhar sistêmico que enxergue não apenas o rio, mas o aquífero que existe embaixo dele, as lagoas, os afluentes, a vegetação nas encostas. Desde as nascentes à foz, o rio sofre há décadas um processo de degradação agravado desde o final dos anos 1970 pela expansão do agronegócio para o oeste baiano, ponta de lança da fronteira agrícola conhecida como Matopiba, que abarca ainda Maranhão, Piauí e Tocantins. O aquífero Urucuia é responsável por mais da metade das vazões de base do rio São Francisco que chegam a Sobradinho. “Quando chove, graças à vegetação nativa a água infiltra e forma lençóis freáticos no subsolo e há um fluxo de água desses lençóis para a calha do rio São Francisco, que a gente chama de vazões de base. Esse fluxo acontece constantemente a centímetros por dia. O que está fazendo o pessoal do agronegócio? Estão cavando poços profundos e captando água diretamente do aquífero para abastecer sistemas de alto consumo, caso dos pivôs centrais de irrigação. Um pivô central pode consumir algo em torno de 2,6 mil m3 por hora. Numa região em que o fluxo d’água está acontecendo a centímetros por dia, retirar 2,6 mil m3 por hora faz com que essa vazão de base fique reduzida, ela chega ao ponto de interromper”, explica Suassuna.<br />
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“O aquífero Urucuia é o que mantém o São Francisco vivo. Ele existe graças à cobertura vegetal nativa, que é o cerrado. O cerrado brasileiro é essa grande esponja, como se fala, que abastece oito bacias hidrográficas. Mas graças ao agronegócio, o cerrado só tem atualmente 40% de cobertura vegetal, ou seja, já destruímos 60% e é por isso que alguns especialistas falam na ‘extinção inexorável do São Francisco’ [a tese é de um grupo de mais de 100 pesquisadores que fizeram um estudo coordenado pela Universidade Federal do Vale do São Francisco]. Porque sem a cobertura vegetal, não tem alimentação dos aquíferos, aí você tem uma redução da vazão. Além disso, o solo sem vegetação produz o carreamento dos sedimentos para o rio causando o assoreamento”, alerta, por sua vez, André Monteiro.<br />
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A redução do volume de água aumenta a poluição das águas do Velho Chico. O projeto da transposição previa fazer tratamento sanitário. Uma Caravana de Saneamento promovida pelos ministérios públicos estaduais da Bahia, Sergipe e Alagoas percorreu 14 cidades da bacia do São Francisco que receberam obras. Os promotores notaram que o saneamento era uma das principais variáveis em termos de degradação e que a maioria dos municípios da região não tinha plano de saneamento básico. “Nenhuma estação de tratamento de esgoto está funcionando e até aterros sanitários que foram construídos tinham se transformado em lixão. Do ponto de vista da revitalização, o impacto foi nulo até o momento”, diz Monteiro, que participou de algumas caravanas.<br />
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O foco do pesquisador da Fiocruz, no entanto, é o impacto que as obras tiveram nas vidas das pessoas. “Grandes empreendimentos produzem experiências coletivas muito violentas. Afetam o meio ambiente, as terras, os meios de produção e os modos de vida, produzindo perdas materiais e simbólicas que, em geral, levam a sofrimento e agravos. Alcoolismo, depressão, abuso de drogas, prostituição. Diversos grupos e territórios têm sofrido em decorrência das obras da transposição. São indígenas, quilombolas e pequenos produtores. É importante entender que há conflito mesmo entre as pessoas que estão recebendo as obras. É uma coisa da qual pouco se fala”, sublinha Monteiro. A etapa atual do estudo é acompanhar os conflitos por essas águas. “Já tem invasões de terra. Por exemplo, empresários de Floresta [PE] interessados na produção de celulose estão em conflito com indígenas cujo território fica ao lado de um dos canais”.<br />
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Não por acaso, a água tem sido o epicentro de uma escalada de violência no país. O relatório ‘Conflitos no Campo Brasil 2016’, divulgado em abril pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), aponta que entre 2015 e 2016, as disputas por água aumentaram 27%, somando 172 casos. Desde que começou a registrar os dados, em 2007, a CPT calcula um aumento de 97,7% nesses embates, que estão atingindo cada vez mais pessoas. Em 2007, foram 164 mil. Em 2016 esse número saltou para 222 mil, um acréscimo de 35,8%. A CPT conclui que o cenário conflagrado é um desdobramento de duas lógicas de gestão, apropriação e uso da água: a econômica, que enxerga a água como commodity, e a dos povos, que têm na água um bem essencial à reprodução das condições dignas de vida.<br />
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“A grande diferença do Brasil no mundo é sua biodiversidade e suas águas. Nós temos biomas riquíssimos que são celeiros produtores de água. Estudos mostram como a floresta amazônica produz chuva e como o cerrado produz água. Mas a partir da inserção subordinada do país na economia mundial, nossa prioridade passou a ser produzir commodities: carnes, grãos, celulose, minérios. Estamos queimando, vendendo barato os nossos biomas e as nossas águas. É preciso rever urgentemente esse modelo”, defende André Monteiro. “Água, daqui para frente, tem que ser considerada uma questão de segurança nacional. Utilizar pivô central para produzir soja e esquecer que tem gente com sede é o mesmo que decretar o sacrifício do povo em nome do superávit”, conclui João Suassuna.</div>
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<b>Mudanças no marco legal</b><br />
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De uma forma ou de outra, tanto as privatizações do saneamento quanto as apropriações da água pelo poder econômico convergem para um processo pouco conhecido que está em curso no país. Se a venda das companhias estaduais ou a concessão dos canais da transposição são as facetas visíveis da agenda federal, também faz parte dela uma face mais oculta: a flexibilização do marco legal que regula o setor. Sob a liderança da Casa Civil, o governo Temer defende uma série de mudanças normativas que visam garantir uma maior participação da iniciativa privada na prestação de serviços de água e esgoto. A movimentação mira a Lei do Saneamento (11.445), que completou 10 anos em janeiro de 2017.<br />
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Apesar de noticiar em seu site duas reuniões ministeriais feitas em outubro passado para debater ‘propostas para o saneamento’ e de confirmar à Poli a intenção de rever o marco legal, a Casa Civil não disponibiliza detalhes sobre essas alterações. Foi graças ao vazamento de uma apresentação intitulada ‘Diagnóstico Saneamento’, com a data de 14 de setembro, que associações profissionais e movimentos sociais congregados na Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental entraram em contato com o teor e a extensão da revisão.<br />
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Em sintonia com o PPI – que, não por acaso, foi lançado também em setembro –, o diagnóstico da Casa Civil fala em um “mercado de saneamento” que deve ser franqueado ao setor privado por meio de concessões, abertura de capitais e parcerias público-privadas para a construção e operação das redes de abastecimento e tratamento de água, esgoto e também resíduos sólidos. Para viabilizar as parcerias, cita a criação de linhas de crédito especiais para investimentos em saneamento no BNDES e na Caixa Econômica Federal.<br />
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O documento aponta a intenção de quebrar outras barreiras, como a lei dos consórcios públicos (11.107/05) que, segundo o texto, “favorece a assunção dos contratos por empresas públicas” e “dificulta a entrada de empresas privadas no mercado do saneamento”. E centra fogo em um dos principais resultados da Lei do Saneamento: o Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab). Feito pelo governo com a participação da sociedade, o Plansab é considerado na apresentação da Casa Civil um “plano panfleto”, “focado em investimentos públicos” do PAC e “sem participação relevante da iniciativa privada”.<br />
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“O Plansab foi uma vitória. Ele estabelece o planejamento em todas as instâncias de governo e sua elaboração deve ser feita com participação da população. O Plansab não se manteve numa lógica tecnicista e apontou que o saneamento exige ações estruturais, que são as obras, mas também ações estruturantes, que são a gestão participativa e a educação que dão sustentabilidade aos sistemas. Sem isso, as intervenções de saneamento são condenadas à má operação e a uma dissociação com o cotidiano da população. E isso ainda está em curso, não pode retroagir, então qualquer alteração na Política sem consulta pública significa desmonte”, critica Alexandre Pessoa.<br />
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De fato, a sociedade civil não consta da lista de interlocutores ouvidos pela Casa Civil para propor essas e outras mudanças. O ‘Diagnóstico Saneamento’ fala em reuniões com as seguintes entidades: Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento (Aesbe), Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Água e Esgoto (Abcon) e Instituto Trata Brasil. Este último tem entre seus apoiadores empresas como Aegea, Braskem, Tigre, Amanco, Coca-Cola.<br />
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Em nota enviada à Poli, a Casa Civil confirmou que as modificações que vem discutindo passam pela necessidade de alteração da legislação relacionada ao saneamento básico. O governo não respondeu a perguntas feitas pela reportagem a respeito das críticas feitas às privatizações no saneamento, nem deu detalhes sobre o cronograma de revisão do marco legal. A pasta se limitou a dizer que “a partir da constatação da situação do atendimento à população em saneamento básico no Brasil e dos indicadores nacionais em termos de acesso à água tratada, esgotamento sanitário, coleta de resíduos sólidos e manejo de águas pluviais (...) ouviu um amplo conjunto de atores do setor” e “elaborou um diagnóstico contemplando os principais entraves identificados para garantir o acesso da população aos serviços” e “buscar a sua universalização assim como a melhoria na qualidade da prestação dos serviços públicos”. Ainda segundo a nota, após a apresentação e validação do diagnóstico, foi constituído um Grupo de Trabalho interministerial que conta com a participação do BNDES e da Caixa.<br />
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Também em janeiro, a Lei das Águas (9.433) completou 20 anos. Ao longo do mês de março, quando se comemora o Dia Mundial da Água (22/03), foram pipocando notícias sobre alterações na legislação que deixaram os movimentos sociais em estado de alerta. O presidente da ANA, Vicente Andreu, garante, no entanto, que “não se trata de um processo de revisão” e a proposta é identificar lacunas para aperfeiçoar a Política Nacional de Recursos Hídricos. “Não tem nada a ver com a questão da mudança da lei de saneamento, muito menos com a questão da privatização”, disse ele à Poli, emendando: “Não tem nenhuma discussão de que a água vai ser um bem privado. Nenhuma relação de uma questão com a outra, a não ser a coincidência no calendário”.<br />
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O Banco Mundial foi convidado para participar da avaliação da Lei de Águas pela ANA e integra o grupo que inclui ainda a Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente. Segundo Andreu, a participação do Banco se dá no âmbito de um programa da Agência chamado ‘Diálogos’, voltado para a realização de diagnósticos. Ainda de acordo com ele, a discussão acontece até novembro desse ano. Os resultados serão apresentados no 8º Fórum Mundial da Água, que será realizado em março de 2018 no Brasil, evento que, segundo o presidente da ANA, motivou a revisão. “Nós entendemos que é o momento propício para se fazer essa discussão. O evento pode servir para conseguir apoio no Congresso, já que uma boa parte [das mudanças] pode exigir uma nova legislação a respeito, um aperfeiçoamento da legislação”, diz Andreu.</div>
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<b><br />Líquido e certo</b><br />
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O Brasil detém as maiores reservas de água doce do planeta. Tanto na superfície, com seus rios e lagos, quanto embaixo da terra. Em 2013, pesquisadores da Universidade Federal do Pará descobriram o Saga, sigla para Sistema Aquífero Grande Amazônia, principal reservatório subterrâneo de água do mundo. O subsolo do país abriga também o segundo maior manancial, o conhecido aquífero Guarani, que volta e meia aparece, em boatos na internet, sob ameaça de privatização do governo federal. A ANA esclareceu à Poli que os aquíferos são bens dos estados, que podem outorgar a captação de água a empresas, como acontece no oeste baiano. “Para que o poder Executivo conceda a exploração de águas subterrâneas à iniciativa privada, seria necessário a aprovação de uma emenda constitucional pelo Congresso”, disse a Agência em nota.<br />
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“O uso privado de água subterrânea no Brasil já existe. Agora, privatizar um aquífero, ou seja, você vender aquele volume de água para um terceiro, não é permitido. O que você pode fazer é estimular o uso privado, inclusive, por empresas estrangeiras. Vivemos um momento de expropriação dos recursos naturais e a água é um desses recursos”, sita Otávio Leão, professor de hidrologia da Universidade do Rio de Janeiro (Uerj). Seja para engarrafar água mineral, seja para produzir commodities, ele explica que a água é estratégica para a circulação de bens no capitalismo global. “E o Brasil tem muita água. Quando o Brasil está exportando soja, carne, enfim, as commodities de modo geral, na verdade é a água que possibilitou aquela produção. Então, por exemplo, a China economiza a água dela porque ela importa grãos do Brasil. A mesma coisa a Europa e vários países do mundo. Ou seja, quando o Brasil exporta a sua safra agrícola, que é recorde, ele está exportando a sua água. A água brasileira produz mercadorias que têm valor e são comercializadas no mercado global”.<br />
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A expectativa dos movimentos sociais cresce na medida em que se aproxima a 8a edição do Fórum Mundial da Água. Será a primeira vez que o evento acontece na América Latina. “O Fórum é dos abutres que querem se apropriar dos bens comuns”, afirma Oscar Oliveira, liderança da Guerra da Água que aconteceu em Cochabamba na Bolívia no ano 2000. O episódio, conhecido no mundo todo, serve como síntese do curto-circuito gerado pela entrada da lógica econômica na gestão do recurso natural. Isso porque o contrato que concedia à empresa Águas de Tunari – consórcio que tinha entre seus acionistas multinacionais – a operação do sistema de água e esgoto permitiu à empresa um aumento de 100% na tarifa. Além disso, o poder público simplesmente proibiu a população de captar água da chuva, deixando sem alternativas milhares de camponeses.<br />
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“Acredito que o processo de privatização no Brasil é similar ao de Cochabamba. O Banco Mundial impôs a privatização da água na Bolívia como condição para conceder um empréstimo de US$ 160 milhões para que o governo boliviano pagasse dívidas. Essa conduta continua. É uma forma muito dissimulada de impor à população a venda de um patrimônio público para pagar dívidas que o povo não contraiu”, comparou Oliveira, que participou em março de eventos contra a privatização da Cedae, no Rio. Para ele, o fato de o Brasil sediar o Fórum significa um grande desafio, na medida que é cada vez mais necessário visibilizar as lutas contra as transnacionais da água e do saneamento e as políticas privatistas. Ao mesmo tempo em que o evento oficial acontece, os movimentos sociais estão planejando um fórum paralelo para pautar as discussões da sociedade e denunciar as propostas empresariais.<br />
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“O Fórum é o atacadão da água doce. O mundo inteiro virá aqui fazer lobby e pressão. E ano que vem teremos eleições acontecendo com todo esse pano de fundo dos obstáculos ao financiamento privado de campanhas. Minha aposta é que eles vão jogar pesado para alinhar candidatos do Legislativo e do Executivo aos interesses deles”, diz Luiz Roberto Moraes, que alerta: “Esses grupos de fora estão chegando e se associando a grupos daqui com uma agenda: ampliar e dominar o mercado. Aí você bota à venda 18 companhias estaduais de água e esgoto. Esses grupos vão ver o que tem de filé mignon em cada uma delas, pegar os municípios rentáveis e deixar os deficitários para trás. E que deles se ocupem o poder público”. O pesquisador caracteriza o cenário como preocupante: “É um desastre porque o público não tem mais aquelas cidades que dão lucro e fazem o equilíbrio financeiro porque elas foram para a mão dos grupos privados. Vai ser um prejuízo líquido e certo para a sociedade brasileira, e quem está no poder não está nem um pouco preocupado com isso”.</div>
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Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-73968727764592328532017-05-30T23:04:00.000-03:002017-05-30T23:26:06.797-03:00Economia Verde – o subprime ambiental - mais sobre o velho embuste, reload 2017<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzgOJIgas8TU4m9rHsVs39bqXrigXOcswBFvE1lLHi2s0uxU7RlxATI6N3H0qzt0rfDQrj0y8i2oBvG32T7XUshI5TxjURV1H5mEjM2ry_bOSsaOU9QU6lEpvS4_3jp17W2qKD2oOniEI/s1600/economia+verde.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1600" height="216" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzgOJIgas8TU4m9rHsVs39bqXrigXOcswBFvE1lLHi2s0uxU7RlxATI6N3H0qzt0rfDQrj0y8i2oBvG32T7XUshI5TxjURV1H5mEjM2ry_bOSsaOU9QU6lEpvS4_3jp17W2qKD2oOniEI/s320/economia+verde.jpg" width="320" /></a></div>
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<i>por Amyra El Khalili, no <a href="http://www.correiocidadania.com.br/2-uncategorised/12595-economia-verde-o-subprime-ambiental" rel="nofollow" target="_blank"><b>Correio da Cidadania </b></a></i><br />
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<i><b>Nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo estado de consciência que o criou. É preciso ir mais longe. Eu penso 99 vezes e nada descubro. Deixo de pensar, mergulho num grande silêncio e a verdade me é revelada. </b>(Albert Einstein) </i></div>
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O sistema financeiro internacional está em crise, enfrentando sérios problemas de credibilidade por fraudes e corrupções denunciadas desde 2008 com o escândalo do subprime, com a quebra do Banco Lehman Brothers, operações pirâmide, com a demissão de executivos de bancos por manipularem os cálculos da Taxa Libor (2012), entre outras especulações. <br />
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A Cúpula dos Povos, movimento paralelo à RIO+20, não se posicionou contra esse modelo neoliberal exclusivamente por questões ideológicas, mas por fatos comprovados à exaustão e suas consequências trágicas contra povos indígenas, povos tradicionais, campesinos e vulneráveis, e contra a degradação e a devastação ambiental. <br />
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Se foi esse modelo neoliberal, enraizado no capitalismo selvagem, o responsável pela crise ambiental e a exclusão social, como pode esse mesmo modelo ser a solução do problema?<br />
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O teórico Roger Babson, em setembro de 1929, cunhou o célebre vaticínio — “mais cedo ou mais tarde o crash virá, e poderá ser tremendo” — e foi ironizado, desacreditado e assacado pelos guardiões de Wall Street. Em outubro de 1929, os jornais estamparam a seguinte manchete: “QUEBROU! Uma irrefreável onda de vendas derruba o preço das ações, causa pânico na Bolsa de Nova York e leva milionários à bancarrota. Para onde vai a economia do país mais rico do mundo?”<br />
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O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, no artigo “Geringonças teóricas” (Carta Capital, 2012), analisou: “nos anos 1980 e 1990, na academia e no debate público, eram poucos os que ousavam discordar das virtudes da liberalização e da desregulamentação financeira, apresentadas como a forma mais eficiente de alocar os recursos. Quase em uníssono, os economistas acusavam o perecimento das velharias e ineficiências das políticas intervencionistas nos mercados de crédito e de capitais”.<br />
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Quando apostadores assinam contratos com corretoras de valores e de mercadorias, concordam com as cláusulas contratuais; entre elas, a de que estão cientes de estar negociando em mercados de risco. Nem há como alegarem depois que foram “enganados”, pois os contratos são rigorosamente padronizados para evitar qualquer possibilidade de se repassarem aos agentes financeiros possíveis perdas.<br />
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Nos mercados derivativos (derivados de ativos), as operações são instantâneas e, em muitos casos, para minimizar riscos, necessitam travar (comprar e vender contratos) com outros ativos. Surgem daí as complexas geringonças financeiras.<br />
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O mercado de derivativos no Brasil é relativamente novo, tendo trinta anos, iniciado em 1986 pela Bolsa de Mercadorias & de Futuros (BM&F). Comecei com o primeiro tijolo da BM&F até chegar aos mercados de ativos ambientais. Hoje, sou extremamente crítica em relação à financeirização das economias mundiais desencadeada pelos derivativos.<br />
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Financiar faz parte de uma política econômica que permite empreender negócios, comprar ou produzir bens e serviços, pagando sua dívida em longo prazo. Diferentemente das economias dos países desenvolvidos, neste continente latino-americano e caribenho, nos digladiamos com altas taxas de juros, considerando que a calculadora, por aqui, soma, diminui, multiplica, divide e exponencia, ou seja, faz cinco operações matemáticas. Usamos juros compostos quando a calculadora dos capitalistas do lado abastado do planeta usa apenas quatro operações e trabalha com taxas lineares (juros simples).<br />
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Este é o princípio da “financeirização” – somem-se a essa conta outros apetrechos, como taxas de seguros, análises de risco, consultorias de portfólios, corretagens, emolumentos das bolsas, contabilidades, impostos -, juntando ainda as taxas de juros com a sopa de letrinhas. A isso tudo chamam de “gestão financeira da coisa”. Desta forma, o custo do financiamento é encarecido para sustentar toda a indústria construída em torno da “financeirização”, sem contar com a estrutura de creditação, validação, certificação e consultorias de projetos ambientais pirotecnicamente complicados.<br />
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Afinal, indígenas, ribeirinhos, caiçaras, quilombolas, pobres e vulneráveis não têm competência para cuidar daquilo que lhes é peculiar: seu meio natural. Quem está preparado para a difícil tarefa de fazer a “gestão financeira da coisa”, com a parafernália em torno destas novas formas de garantir o aporte de recursos e captações para implementar as tais políticas públicas ambientais, além dos banqueiros e seus indicados consultores e pesquisadores, aparelhados com suas conclusões por encomenda, são algumas ONGs.<br />
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A “financeirização” demonstra a complexidade com que são desenvolvidos projetos financistas socioambientais veementemente defendidos pela doutrina da Economia Verde como a única alternativa capaz de salvar a natureza das ganâncias humanas. E por isso também foi duramente criticada pela Cúpula dos Povos durante a RIO+20.<br />
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Existem relatórios de experts em finanças internacionais, como o <i>Munden Project,</i> que concluiu que, entre outros fatores, os agentes intermediários serão os maiores beneficiários do mercado de carbono replicado com o REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação) e suas variáveis, muito mais do que as comunidades a serem atendidas com a proteção da natureza. Há diversos relatórios do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM) que, didaticamente, esclarecem como funciona e por que é controvertido o mercado de carbono nos países do Norte e suas consequências para as comunidades locais e povos das florestas.<br />
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A Interpol (polícia internacional) publicou, em junho de 2013, o “<i>Guide to carbon crime</i>”, um guia alertando investidores sobre fraudes e estelionatos nestes emergentes mercados de ativos ambientais. Entre os crimes mais frequentes estão: manipulação fraudulenta de medições para conseguir mais créditos; venda de créditos que não existem ou que pertencem a outras pessoas; divulgação de informações falsas sobre possíveis benefícios ambientais e financeiros; fraude fiscal; roubo de créditos pela Internet e lavagem de dinheiro. <br />
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Considere-se também o roubo de terras indígenas como uma evolução da engenharia do crime contra os povos e o patrimônio ambiental e cultural da humanidade. O site <i>Redd Monitor</i> acompanha e registra os fatos mais controvertidos que proliferam com a voracidade de ganhar dinheiro fácil por estes mecanismos de finanças.<br />
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Portanto, ao rebaterem os críticos do pacote financeiro, que chamam de “Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA)”, com seus instrumentos econômicos correlatos, alegando não saberem (os críticos) como as coisas funcionam e não entenderem de nada versus nada, tentam, na verdade, esconder, como o avestruz que enterra a cabeça, o tamanho do corpulento rombo que se prenuncia com a embromação da Economia Verde.<br />
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Há também outros relatórios que mostram os infelizes resultados com estas polêmicas políticas públicas adotadas por alguns governos, atropelando a etapa anterior à de legislar, ou seja, a de consultar a sociedade para saber se concorda ou não com tal política pública. Digo, a legítima consulta pública. Não essa prática costumeira que convoca reuniões de última hora e, de preferência, com a conclusão já devidamente costurada com algumas ONGs, com os territórios a serem explorados previamente combinados e acertados os valores.<br />
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Depois, não resta ao povo desavisado senão assinar embaixo e ai de quem criticar! Este não sabe nada, não entende nada e não participou de nada. Por outro lado, os conhecidos picaretas do mercado financeiro chamam a crítica de “inconsistência conceitual”, confundindo, propositadamente, alhos com bugalhos através da prática do assédio conceitual sub-reptício. Quando se apropriam de ideias alheias, esvaziam-nas em seu conteúdo original e as preenchem com conteúdo espúrio.<br />
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Mas, por favor, sejamos honestos: o mercado de carbono se sofisticou de tal forma que inspirou, a reboque e nos mesmos moldes, a formação de outros mercados, como os de compensações, de reserva legal, de créditos recebíveis, de passivos transformados em ativos, entre outras impressionantes criatividades. Coisa complicada até para quem conhece profundamente o mercado de commodities e derivativos. Parece algo muito inteligente, mas não vamos nos iludir: trata-se de um “tapa-buracos” do prejuízo amargado em outros mercados internacionais. Para tentar conter a bolha financeira que desencadeou as operações de subprime e derivados, buscam novas formas de captação de recursos. <br />
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Há uma série de empresas vendendo créditos de carbono e de compensações de áreas do Brasil e de toda a América Latino-caribenha no exterior. O bioma amazônico, em toda a sua extensão, é o mais cobiçado pela atração e o fascínio que exerce na mente dos povos estrangeiros e de potenciais investidores de terras, por suas riquezas florestais, por sua biodiversidade, por seus minérios, águas doces e subterrâneas. Suspeitamos, pelos milhões de hectares de terra ofertados no exterior, que alguns estados já foram vendidos, sem exagero, bastando apenas contabilizar e entregar. <br />
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Este tipo de negócio chama-se “venda a descoberto” (<i>short sale</i>). É quando se vende no mercado de commodities e derivativos sem ter o ativo para entrega futura. Depois, sai-se correndo para comprar no mercado <i>spot </i>(à vista) para honrar as operações. Quando isto ocorre, o movimento é chamado de <i>corner </i>(o que significa encurralar, colocar num canto). <br />
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O vendedor (<i>short</i>) é obrigado a comprar pagando o preço que estiver sendo ofertado no mercado; mesmo assim, não consegue encontrar liquidez para comprar o que vendeu sem ter para entregar. Concomitantemente, alguns governos, mais preocupados com eleições do que com os riscos e resultados desastrosos destes acordos, os seguem assinando com instituições financeiras internacionais e empresas estrangeiras. <br />
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Assim é que vão produzindo uma espécie de “subprime ambiental”: empacotando as dívidas, os créditos bons com os ruins, transformando passivos (poluição, lixo químico, tóxicos, entre outros) em ativos ambientais e empurrando a conta dos “recebíveis” para pagamento das futuras gerações.<br />
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Não por acaso a Constituição brasileira está sendo desmantelada para viabilizar essa ofensiva fundiária, enquanto, simultaneamente, se espalham bases militares de potências imperialistas neste continente e proliferam os conflitos pela posse das terras com enfrentamentos e assassinatos de ativistas, lideranças comunitárias e jornalistas de resistência.<br />
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Por esses motivos, estamos investigando possíveis fraudes em anúncios de vendas destes créditos. Agimos para apurar denúncias e seguir cobrando rigorosamente do poder público e dos órgãos fiscalizadores, a despeito dos que rebatem nossas críticas. Até por que não sabemos nada, não entendemos nada e não participamos de nada!<br />
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Neste sentido – no do ganho de dinheiro com o serviço alheio (a natureza), militarizando-a e financeirizando-a, assim produzindo este novo “subprime ambiental” -, eles de fato são pioneiros!<br />
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<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-57595377616282238452016-08-22T00:18:00.001-03:002016-08-22T00:18:27.913-03:00Touradas, Tititica e o que nos espera<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlkRgDMvkwWlEA8jyjoY7ytnUHDoYJ0ZW1wXX8rvhJd-XWtJ96t5CEXV7kys4ZMkcC5fe1wUTLA1nEX8fLmh4Wi4DPAu2-eleGZQMcPJmOqa2D0lXhO4xkj-NPJzxAnmyKaD_nPNIkB_g/s1600/tiririca.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="336" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlkRgDMvkwWlEA8jyjoY7ytnUHDoYJ0ZW1wXX8rvhJd-XWtJ96t5CEXV7kys4ZMkcC5fe1wUTLA1nEX8fLmh4Wi4DPAu2-eleGZQMcPJmOqa2D0lXhO4xkj-NPJzxAnmyKaD_nPNIkB_g/s640/tiririca.jpg" width="640" /></a></div>
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<i><span style="color: #e06666;"><span style="font-size: large;"><b>NOTA - </b></span></span>Tenho postado pouco aqui no bloguinho, mas esse ensaio aqui eu quero compartilhar a guisa de manter como um libelo, para poder ser apreciado daqui a um tempinho, quando a merdeira se consolidar e não haver mais volta!...</i><br />
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<i>******** </i><br />
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<i>por Wilson Ramos Filho, no <b><a href="http://jornalggn.com.br/noticia/golpistas-tiriricas-e-chifradas-por-wilson-ramos-filho" target="_blank">blog do Nassif</a> ,</b> excerto inédito do livro<b> <a href="http://jornalggn.com.br/noticia/intelectuais-lancam-livro-%E2%80%9Cresistencia-internacional-ao-golpe-de-2016%E2%80%9D" target="_blank">Resistencia Intenacional ao Golpe de 2016</a></b></i><br />
<i><b> </b></i><br /> <br />Na Espanha há aficcionados por touradas que sabem histórias, narram corridas antológicas, veneram toureiros e admiram touros <i>valientes</i>, os que lutam bastante antes do golpe final. <br /> <br />Durante o período de "instrução" da farsa do impeachment no Senado brasileiro, no início de julho de 2016, um toureiro desconhecido entrou para a história: ao invés de matar, morreu em Teruel, Aragon. Levou uma violenta cornada no peito e verteu sangue na areia tantas vezes lambuzada, há séculos, pelo viscoso e rubro sangue de miúras. O touro de Teruel, anônimo até então, também entrou para a história. <br /> <br />Muito provavelmente ninguém de fora de Teruel, ainda que fã da tauromaquia, saberia quem era o tal Victor Barrio que entrou para a história da pior maneira possível para um toureiro: foi corneado e estrebuchou na arena à vista de todos, de quem estava ao sol e dos que, à sombra, ensaiavam olés e bravos um pouco melhor acomodados. <br /> <br />Muitos dos que são contra touradas festejaram a morte de Victor Barrio; quem o conhecia passou a admirá-lo (mais pela morte que pela pouca vida de touradas medíocres, é verdade), pois também na Espanha defuntos costumam ser indultados pelos defeitos reais ou presumidos que lhes são atribuídos. <br /> <br />O certo é que o valente miúra que, morto, provavelmente teria suas duas orelhas oferecidas à autoridade presente, foi sacrificado nas cocheiras, como reza a tradição, sem qualquer pompa. Quem confiaria em quem mete chifres, corneia, usurpa o protagonismo que não lhe cabe? Passado o momento do aplauso, vem a sentença, inequívoca e severa: morrerá como uma vaca, suas orelhas não serão disputadas como troféu, nenhum taxidermista empalhará sua cabeça, ninguém reivindicará seu robusto rabo para guisar a tradicional cola de toro, tão mais saborosa quanto mais brigador for o touro. A dele foi uma morte sem glamour, sem memorização, uma expiração, nada mais, virou carcaça. <br /> <br />A morte do toureiro que entrou para a história como não pretendia, na conjuntura brasileira em que se desenvolve um Golpe de Estado, convida à reflexão. O Brasil tem uma elite econômica medíocre. Os políticos financiados por essa gente não são menos desprezíveis. Financiadores e financiados são como tiriricas, nome de uma praga que infesta plantações com raízes profundas que dificultam sua erradicação. Empresários corruptos e corruptores tramaram o Golpe de Estado por intermédio de um fraudulento processo de impeachment conduzido pela pior composição que o Parlamento brasileiro já teve. <br /> <br />Um palhaço, por profissão, chamado Tiririca, foi eleito Deputado Federal na atual legislatura. As elites econômicas e uma significativa parcela do estrato síntese da nova pequena-burguesia barnabé meritocrata, que sempre ridicularizaram o Deputado Tiririca por seu suposto analfabetismo, o aplaudiram quando - ao contrário do que havia anteriormente anunciado - resolveu apoiar o Golpe Parlamentar. Ignorante, Tiririca pensa que agora sim, agora será finalmente aceito por seus pares e pelas classes médias que até a semana passada dele desdenhavam. Barnabés incautos, espelhando-se no empresariado que tanto admiram, como Tiririca, baliram "fora Dilma" pensando que "agora sim" com o golpista entronado teriam seus holerites fornidos. <br /> <br />Sempre achei que Tiririca não destoava na Câmara dos Deputados. Conheço alguns deputados de raciocínio tão primário quanto o dele. Devo confessar, contudo, que nem nos meus piores pesadelos imaginaria a quantidade de tiriricas que infestou o Congresso Nacional nas últimas eleições. A falta de compostura daqueles tiriricas, acabrunhado admito, envergonhou-me quando tive acesso aos melhores jornais internacionais depois daquela memorável tarde de domingo, em que mais de trezentos corruptos autorizaram a abertura do processo de cassação da vontade popular. <br /> <br />Os empresários presos na “Operação Lava Jato”, de igual modo, não destoam da maioria do empresariado brasileiro. São aquilo: querem benefícios do Estado e defendem o livre mercado, consideram "normal" sonegar impostos e direitos aos seus empregados. Esses tiriricas que conspiraram para que sua ideologia chegasse ao governo, com o Golpe, desde há muito infestam a história de nosso país e nos envergonham. <br /> <br />O Brasil, por culpa desses tiriricas, foi ridicularizado mundialmente. E não por conta do Deputado Tiririca, nem sabem que ele existe. A imprensa de vários países preferiu destacar os votos criminosos dos irmãos Bolsonaro fazendo apologia da tortura, daqueles desqualificados da "bancada cristã", invocando um deus tão venal quanto eles (promete o paraíso e a salvação a quem pagar adiantado com sua fé e com seu dízimo), dos hipócritas que votaram "pela família", além de outras bizarrices que foram citadas com cruel ironia. Um vexame de proporções globalizadas. O mundo capitalista reconheceu o triste episódio em que o Brasil, por seus tiriricas, igualou-se a uma republiqueta: a bolsa de valores despencou e o dólar subiu. Os bregas que adoram "maiame" ficaram decepcionados, pois não vai dar para "toda hora comprar ternos", mal cortados, na meca dos medíocres. <br /> <br />As empresas viram despencar seus ganhos depois que o usurpador assumiu o governo temporário. Os barnabés que bateram panelas e desfilaram com a camiseta da CBF, apesar de seus déficits cognitivos decorrentes da ideologia meritocrata, já começam a desconfiar que militaram contra seus próprios mesquinhos interesses. Esses e outros tiriricas que conspiraram para o Golpe que, ao final, só beneficiou o capital financeiro e as grandes indústrias, como Victor Barrio, foram corneados. <br /> <br />Não nos enganemos, todavia, não são todos tiriricas. Entre os golpistas há ainda os traidores mau-caráter (entre os quais os que até ontem detinham cargos no governo à custa de chantagens diversas) e há aqueles, muito piores, ideológicos, que conduziram os tiriricas à efêmera fama no teatro de horrores do dia 17 de abril e que passaram a ser os principais agraciados em um "novo" governo, muito parecido com os que tivemos até 2002. Estes são a minoria que conduz os tiriricas. Com tristeza reconheço que a imensa maioria dos deputados e deputadas que envergonharam o Brasil não é diferente do estrato social a quem eles representam. <br /> <br />Há milhares de tiriricas que, mesmo sabendo que estariam elegendo um mau-caráter traidor que teria por "vice" um escroque, estufaram o peito para gritar "fora PT" com um ódio irracional, digamos, típico do PSTU, mesmo sabendo que o oposto da socialdemocracia (petista) seria o neoliberalismo que reduz gastos públicos, que reduz a massa salarial, a quantidade de dinheiro que circula na economia. Foram centenas de milhares os que desfraldaram as bandeiras que a brisa do Brasil beija e balança, tangidos por uma onda fascista que objetivou acabar com as políticas públicas para pobres, para coletivos vulneráveis de populações campesinas, LGTB, indígenas, negros e deserdados de um modo geral. <br /> <br />Esse ódio é de classe, bem verdade, mas é também transversal: milhares de gays, de negros, de pobres, de funcionários públicos, de bolsistas do PROUNI e do FIES, de marginalizados historicamente pelo capitalismo brasileiro, contaminados pelo ódio difuso, no dia seguinte do afastamento da Presidenta festejaram a "vitória" contra o "governo do PT". Conheço vários que teriam todos os motivos racionais para serem contra o rompimento da ordem institucional e que se aliaram aos golpistas. São todos tiriricas. Nas eleições passadas vários candidatos se apresentaram como "renovação" empunhando causas específicas como a "do povo cristão contra a degradação dos costumes", a do "190 km/h é crime", a dos deficientes, a dos ciclistas, a dos "corretores de seguro", a "do povo assembleísta", entre outras. <br /> <br />Alguns foram eleitos e no espetáculo televisionado prestaram homenagem aos tiriricas que votaram neles. Muita gente inteligente que por motivos diversos havia votado naqueles deputados tiriricas se remoeu de raiva, de remorso. Esses não são tiriricas, só entraram na "moda pós-moderna" dos "reconhecimentos" de identidades quase tribais, sempre parciais e de grupos e estamentos. Doravante, antes de votar para deputado ou para vereador, se perguntarão a que classe social pretende servir o candidato. Aprenderam da maneira mais difícil. O slogan de campanha do Deputado que sintetiza o padrão intelectual e ético da atual composição do parlamento brasileiro era "vote em Tiririca, pior que tá não fica" e com ele teve uma votação assombrosa. Pois é. Ficou. O slogan "não vou pagar o pato" do grande empresariado paulista vingou. Com o Golpe e com a ideologia que o sustenta já aumentou a concentração de renda, o desemprego e a miséria. Para isso deram o Golpe. <br /> <br />Os demais, os pequenos empresários que dependem da renda dos trabalhadores para vender seus serviços ou produtos, os funcionários públicos, os profissionais liberais, todos perderam. Alguns já se deram conta disso. Outros, leitores da Veja, mais lentos, tardarão um pouco mais. Os intelectuais a soldo e os ultravaidosos que imaginavam ficar famosos aderindo aos golpistas, os que rasgaram suas biografias deixando de se contrapor frontalmente ao Golpe, como Victor Barrio, entraram para a história, mas não como pretendiam. Haverá quem festeje quando forem passados por inevitáveis chifres (quem confiaria em trânsfugas?), outros tentarão sem sucesso perdoar-lhes o golpismo, conclamando à temperança e à concórdia. <br /> <br />O Brasil passa uma enorme vergonha internacional por causa dos tiriricas que ainda estão comemorando, avoados, o prenúncio do que - se não houvesse a resistência - poderia ser um desastre para os Direitos Sociais, para as políticas públicas para pobres e para os Direitos dos Trabalhadores. O governo do Usurpador e as cúpulas dos partidos que representam a maioria tiririca dos deputados já descartaram o Tiririca e o escroque que presidiu a abertura do processo de impeachment. O empresariado delinquente que conduziu o Golpe descartará parte dos tiriricas que infestam o Congresso. Como o touro que corneou o medíocre toureiro em Aragon, estes e outros tiriricas, inclusive o camisa preta que por enquanto ainda é incensado, serão oportunamente sacrificados, sem honras. Os golpistas não terão tanta sorte. <br /> <br />Sobreviverão para escutar, pelo resto de suas vidas, que são golpistas e serão responsabilizados pelos retrocessos sociais que não conseguirmos evitar. Entraram para a história como o toureiro de Teruel, da pior maneira possível. <br /> <br /><i>*Wilson Ramos Filho, doutor, professor de Direito do Trabalho na UFPR (Curitiba) e no Doctorado en Derechos Humanos, Interculturalidad y Desarrollo na UPO (Sevilha), advogado de sindicatos e movimentos sociais.</i>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-87276523192953880452016-07-14T16:56:00.000-03:002016-07-14T16:56:03.830-03:00Pivatização boa dá nisso!... quero ver agora!?!...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAsM2Qwz3D3X6z19mh0guojL8KbVsWK2c44Ls08HgKDMD_lZ2yDBqqe76juesAmqDgH79PR5BFiqzgVSx7WCmmu8GhMnclUUuYQd-iZxVxtSLcff1BDuL55bnlS8kxgEfBLCE9ZXcYRzk/s1600/privatiz_oi.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="228" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAsM2Qwz3D3X6z19mh0guojL8KbVsWK2c44Ls08HgKDMD_lZ2yDBqqe76juesAmqDgH79PR5BFiqzgVSx7WCmmu8GhMnclUUuYQd-iZxVxtSLcff1BDuL55bnlS8kxgEfBLCE9ZXcYRzk/s400/privatiz_oi.jpg" width="400" /></a></div>
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<i>por Luis Nassif, <a href="http://jornalggn.com.br/noticia/o-desafio-de-desapropriar-a-oi-telemar" target="_blank"><b>no seu blog</b></a></i><br />
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<i><b> </b></i><br />
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<br />Compete a um governo interino, vulnerável, suscetível a qualquer forma de pressão, propenso a grandes negócios, o desafio empresarial da década: a intervenção na Oi-Telemar. <br /><br />E não haverá como afastar de si esse cálice. Cerca de 2.500 municípios dependem da Oi-Telemar não apenas para a telefonia fixa, mas também celular. Seus sistemas de interconexão são fundamentais para o tráfego de celulares. Portanto, torna-se um caso de segurança nacional. <br /><br />A Lei Geral das Comunicações prevê a intervenção. Mas a Oi-Telemar está nas mãos de fundos abutres e de acionistas especializados em chantagem. São investidores que compram ações de empresas em dificuldades, especialmente aquelas penduradas no sistema bancário, e depois criam dificuldades para qualquer forma de ajuste, visando valorizar sua participação. Acabam lucrando não com a valorização das ações, mas com o poder de chantagem. <br /><br />Chega ao fim o maior golpe já aplicado contra o serviço público brasileiro, graças a dois governos consecutivos: FHC e Lula. <br /><br />FHC amparou Daniel Dantas nas jogadas da privatização. Permitiu que parte das Teles fosse leiloada a investidores que não se dispunham nem a aportar capitais nem a correr riscos. <br /><br />Grupos como o Opportunity, o GP (na era Lehman), Andrade Gutierrez, grupo Jereissatti, Inepar, assumiram o controle de Teles e passaram a resolver seus problemas financeiros exaurindo seu caixa. <br /><br />No governo FHC, Dantas conseguiu o controle da Brasil Telecom com menos de 1% do capital. <br /><br />Valendo-se do boom "ponto.com" da Nasdaq, Esses grupos empurraram para a Oi-Telemar por preços exorbitantes empresas de Internet, como o IG e a HpG, datacenters, empresas de fibras óticas, em jogadas escandalosas. Um a um os grupos fizeram fortunas em cima da empresa. No governo Lula, o Opportunity deve ter ganhado R$ 7 bilhões, o mais caro cala-boca da história. Atrás dele, todos os demais grupos procederam à jogadas à custa da empresa. <br /><br />No governo Dilma, o então Ministro das Comunicações Paulo Bernardo transformou uma multa de cerca de R$ 2,5 bilhões em novos investimentos - que teriam que ser feitos independentemente da multa. <br /><br />A aventura final foi com o grupo português da Ongoing e da Portugal Telecom. Montou-se uma fusão mal explicada, vendendo a ideia de que nasceria uma supertele para conquistar os mercados da América Latina e África. Foi a última grande tacada em cima da Oi-Telemar, a aquisição de US$ 700 milhões em bônus do Grupo Espírito Santo, português, que já estava quebrado. <br /><br />Agora se tem essa armadilha, com a empresa refém de fundos abutres e de chantagistas. A operação exigirá competência técnica, isenção, idoneidade e espírito público das pessoas que serão incumbidas da operação. <br /><br />Não se tenha dúvida que Moreira Franco emprestará sua conhecida idoneidade e competência para resolver o problema. E, ciente da relevância patriótica da operação, outros varões de Plutarco, como Eliseu Padilha e Romero Jucá, não irão perder a oportunidade de ajudar o país.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-76846907902427537072016-06-17T10:21:00.001-03:002016-06-17T10:24:07.863-03:00Agreste Psicodélico - o disco maldito de Lula Côrtes e Zé Ramalho<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/uUyvtwSV6A8" width="420"></iframe><br />
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0:00 Trilha de Sumé/Culto à Terra/Bailado das Muscarias<br />
13:06 Harpa dos Ares<br />
17:01 Não Existe Molhado Igual ao Pranto<br />
24:24 Omm<br />
30:19 Raga dos Raios<br />
32:49 Nas Paredes da Pedra Encantada, Os Segredos Talhados Por Sumé<br />
40:14 Maracás de Fogo<br />
42:40 Louvação à Iemanjá/Regato da montanha<br />
47:52 Beira mar<br />
49:26 Pedra Tempo Animal<br />
53:35 Sumé<br />
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<i><b>A trilha em busca das origens de Paêbirú, o disco maldito de Lula Côrtes e Zé Ramalho, hoje o vinil mais caro do Brasil. </b></i></div>
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<i>por Cristiano Bastos</i><br />
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No dia 29 de dezembro de 1598, os soldados liderados pelo capitão-mor da Paraíba, Feliciano Coelho de Carvalho, encalçavam índios potiguares quando, em meio à caatinga, nas fraldas da Serra da Copaoba (Planalto de Borborema), um imponente registro de ancestralidade pré-histórica se impôs à tropa. Às margens do leito seco do rio Araçoajipe, um enorme monólito revelava, aos estupefatos recrutas, estranhos desenhos esculpidos na rocha cristalina. O painel rupestre se encontrava nas paredes internas de uma furna (formada pela sobreposição de três rochas), e exibia, em baixo-relevo, caracteres deixados por uma cultura há muito extinta. Os sinais agrupavam-se às representações de espirais, cruzes e círculos talhados, também, na plataforma inferior do abrigo rochoso.<br />
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Inquietado com a descoberta, Feliciano ordenou minuciosa medição, mandando copiar todos os caracteres. A ocorrência está descrita em Diálogos das Grandezas do Brasil, obra editada em 1618. O autor, Ambrósio Fernandes Brandão (para quem Feliciano Coelho confiou seu relato), interpretou os símbolos como "figurativos de coisas vindouras".<br />
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Não se enganara. O padre francês Teodoro de Lucé descobriu, em 1678, no território paraibano, um segundo monólito, ao se dirigir em missão jesuítica para o arraial de Carnoió. Seus relatos foram registrados em Relação de uma Missão do rio São Francisco, escrito pelo frei Martinho de Nantes, em 1706.<br />
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Em 1974, quase 400 anos depois da descoberta do capitão-mor da Paraíba, os tais "símbolos de coisas vindouras" regressariam. Dessa vez, no formato e silhueta arredondada de um disco de vinil. A mais ambiciosa e fantástica incursão psicodélica da música brasileira - o LP Paêbirú: Caminho da Montanha do Sol, gravado de outubro a dezembro daquele ano por Lula Côrtes e Zé Ramalho, nos estúdios da gravadora recifense Rozemblit.<br />
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Contar a história do álbum, longe da amálgama das pessoas, vertentes sonoras e, especialmente, da chamada Pedra do Ingá que o inspirou, é impossível. Irônico é que o LP original de Paêbirú também tenha se convertido em "achado arqueológico", assim como a pedra, 33 anos depois de seu lançamento. As histórias sobre a produção do disco, como naufragou na enchente que submergiu Recife, em 1975 e, por fim, se salvara, são fascinantes.<br />
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A prensagem de Paêbirú foi única: 1.300 cópias. Mil delas, literalmente, foram por água abaixo. A calamidade levou junto a fita master do disco para que a tragédia ficasse quase completa. Milagrosamente a salvos ficaram somente 300 exemplares. Bem conservado, o vinil original de Paêbirú (o selo inglês Mr Bongo o relançou em vinil este ano) está atualmente avaliado em mais de R$ 4 mil. É o álbum mais caro da música brasileira. Desbanca, em parâmetros monetários (e sonoros: é discutível), o "inatingível" Roberto Carlos. O Rei amarga segundo lugar com Louco por Você, primeiro de sua carreira, avaliado na metade do preço do "excêntrico" Paêbirú.<br />
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A expedição no rastro dos mistérios e fábulas de Paêbirú se inicia em Olinda (Pernambuco). O artista plástico paraibano Raul Córdula me recebe em seu ateliêr. Na parede do sobrado histórico, uma cobra pictográfica serpenteia no quadro pintado por ele. A insígnia foi decalcada da mesma inscrição que, há milênios, permanece entalhada na Pedra do Ingá. No mesmo ano de Louco por Você, 1961, o professor de geografia Leon Clerot apresentou o monumento a Córdula. O professor fizera o convite: "Me acompanhe, e verás algo que jamais se esquecerá".<br />
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Uma década depois, 1972, Raul Córdula se tornou amigo de José Ramalho Neto, o jovem Zé Ramalho da Paraíba. Os conterrâneos se conheceram no bar Asa Branca, que Córdula tinha na capital, João Pessoa: "O único boteco que ficava aberto na Paraíba inteira depois das oito horas da noite, à base de 'mensalão' pago à polícia". O Zé Ramalho compositor, atesta, nascera no Asa Branca. Córdula quis mostrar a Ramalho "algo que conhecera", e organizou uma ida ao município de Ingá do Bacamarte, localidade conhecida antigamente como Vila do Imperador, por causa da passagem de Dom Pedro II por lá.<br />
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A localização de Ingá do Bacamarte é a 85 km de João Pessoa, caatinga litorânea, na zona de transição do Agreste para o Sertão. Para "fazer a viagem", Córdula também convidou o artista recifense Lula Côrtes - jovem homem que já vivera muitas aventuras. Mas aquela, proposta por Raul, ainda não. Nenhuma surpresa foi para o guia o fato de Côrtes e Ramalho ficarem tão maravilhados com a rocha lavrada quanto os expedicionários do capitão-mor da Paraíba.<br />
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A charada talhada na parede de pedra lançava-lhes o provocante desafio: como decifrariam tais arcanos - nunca compreendidos e tão majestosos - numa música que, se não codificasse, ao menos devesse tributar à remota ancestralidade brasileira? Fora essa a centelha que incendiara as idéias. Acampados na caatinga sertaneja, frente a frente com a Pedra do Ingá, Ramalho e Côrtes se decidiram pela produção de um "álbum conceitual". O único jeito de conhecer lula Côrtes é ir visitá-lo no seu habitat: o ateliêr em Jaboatão dos Guararapes. "A Pátria Nasceu Aqui", divulga a enorme placa na divisa com a capital, Recife. O apartamento onde mora, pinta e compõe com a atual banda, Má Companhia, tem vista frontal para o Oceano Atlântico. É no primeiro apertar de mão que Côrtes deixa patente quem é: "espírito indômito". Solta a frase para se pensar: "O mar e eu somos uma coisa só desde menino".<br />
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Aos 60 anos, sua voz é profunda e roufenha. A cabeça alva, um dia revestida de pretos cabelos mouriscos. E a magra, porém resistente, compleição física remete ao obstinado homem de O Velho e o Mar. Lula tem o velho de Ernst Hemingway, entretanto, como "altruísta demais". Mais impressionado ficou com o nietzscheniano capitão Lobo Harsen, de O Lobo do Mar, romance de Jack London. Os arquétipos marítimos de London, de fato, combinam mais com ele: "Nasci à beira do mar. Ele me despertou para o cumprimento das fantasias. Nele, um dia, cacei baleias", conta, jubiloso.<br />
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É esse homem que segue narrando a mais homérica jornada de sua vida, até agora: a concepção do álbum Paêbirú. Guiados pelo parceiro mais velho, Raul Córdula, Zé Ramalho e Lula Côrtes, recém-amigos, logo de cara perceberam a fantástica mística que as inscrições da Pedra do Ingá exerciam sobre a população às cercanias do sítio arqueológico. Foi por intermédio da arquiteta, hoje cineasta, Kátia Mesel, sua companheira na época, que Lula Côrtes veio a conhecer Zé Ramalho. Junto, o casal abriu o selo Abrakadabra, pioneiro na produção de música independente no Brasil.<br />
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A "sede" do selo ficava nas dependências de um prédio pertencente ao pai de Kátia, que, nos tempos da escravatura, fora uma senzala de escravos. Para se mergulhar na saga de produção que foi Paêbirú, é obrigatório antes se falar da simplicidade do instrumental Satwa - o álbum gerido, um ano antes, por Côrtes e o violonista Lailson de Holanda. É o début do selo Abrakadabra. Lula faz a estréia fonográfica da sua cítara popular marroquina, o tricórdio, instrumento que trouxera da recente viagem ao Marrocos com Kátia.<br />
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Em Satwa, o violão nordestino de 12 cordas de Lailson dialoga em perfeita legibilidade com o linguajar oriental do tricórdio de Lula. É, provavelmente, o encontro mais fino entre o folk e a psicodelia do qual se tem registro gravado na música brasileira. Lailson, premiado cartunista, traduz: "Satwa é expressão do sânscrito: quer dizer 'interface e equilíbrio'". Em 2005, a norte-americana gravadora <i>Time-Lag Records</i> reeditou Satwa, a partir da master original. Só o nome, na realidade, foi remodelado: <i>Satwa World Edition</i>.<br />
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Como previsto, a edição esgotou como mágica. Após Satwa, Lula tinha aprimorado suas concepções musicais. Achava-se apto para o grande projeto que andara tramando com o parceiro Zé Ramalho desde a visita à "pedra encantada". Não perderam tempo e investiram em sérias pesquisas nas imediações. Eles caçavam a interpretação local, folclórica, mitológica sobre o admirável monólito escrito.<br />
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Nas adjacências vivia um grupo de índios cariris. Os músicos foram até eles, atrás da peculiaridade do seu tipo de música. Ouvindo, descobriram que os traços de uma cultura africana tinham se fundido à sonoridade dos indígenas. Se fundamentado em registros arqueológicos, Zé Ramalho e Lula Côrtes concordaram que, a partir daquele ponto, haveria um caminho, que partia de São Tomé das Letras (onde existem registros da mesma escrita rupestre traçada na Pedra do Ingá) e conduzia até Machu Picchu, no Peru. A trilha que os Cariris chamavam de "Peabirú".<br />
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Chegar à mística Pedra do Ingá, hoje em dia, é fácil. Seguindo pela BR 101, no trecho Recife - Paraíba, as condições de tráfego são admissíveis, mesmo sem via duplicada. Pela estrada federal, as pequenas localidades vão se cruzando: Abreu e Lima, Goiana, Itambé, Jupiranga, Itabaiana, Mojeiro. Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Pedra do Ingá (Pedra Lavrada, ou Itaticoara) é um dos sítios arqueológicos mais soberbos do mundo. O arqueólogo Vanderley de Britto, da Sociedade Paraibana de Arqueologia, já aguarda, no local, minha chegada. Segundo ele, as inscrições são originárias de sociedades pré-históricas, nativos anteriores aos encontrados no Brasil pelos europeus. "Certamente, essas gravuras" , diz, apontando o imenso painel de rocha, "são obra de sacerdotes ou pajés. Visavam ritos mágico-religiosos que visavam sortilégios para tribo", Brito explica, com sua proficiência.<br />
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Próximo à pedra, sem ter de tocá-la, o arqueólogo continua sua explanação: "As representações registram o canto mágico solfejado pelos sacerdotes nas cerimônias", prega. A pedra, na opinião do arqueólogo, seria, para os nativos, um "meio de comunicação" com os deuses (ou deusas) da natureza. A estimativa da ciência é a de que as gravações já estejam ali por volta de três a seis mil anos. "Datação exata não é possível, porque o monólito está em meio ao riacho", esclarece o professor. Vestígios, por ventura, deixados pelos gravadores, ao cinzelar a pedra, foram arrastados no trespassar das águas do ancião Araçoajipe.<br />
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Dinossauros, o arqueólogo também confirma, habitaram a região. A probabilidade - nada prosaica - de me banhar no regato que, num dia qualquer da pré-história um tiranossauro rex sorvera metros cúbicos de água, passa agora de jornalismo a uma aventura que, com prazer, obrigo-me pôr em prática. A água é morna. A sensação, arrepiante. "Animais de grande porte, como a preguiça e o tatu-gigante, no período mezosóico, habitaram a região: mastodontes, cavalos nativos e outros mega-animais também circulavam por aqui", ele lembra. Submerso na tepidez do plácido regato pré-histórico, um túnel do tempo dentro de minha cabeça fazia a imaginação vagar por mundos arcaicos desaparecidos na vastidão temporal.<br />
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De frente para o mar, lula Côrtes gosta de acreditar na epopéia interplanetária narrada em "Trilha de Sumé", a abertura de Paêbirú. "As gravações na Pedra do Ingá foram feitas com raio laser mesmo", afiança o artista, que cantarola a introdução da música, o alinhamento dos planetas: "Mercúrio/Vênus/Terra/Marte/Júpiter/Saturno/Urano/Netuno e Plutão".<br />
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Os versos seguintes cantam a saga de Sumé, "viajante lunar que desceu num raio laser e, com a barba vermelha, desenhou no peito a Pedra do Ingá". A cada descoberta que faziam com suas explorações, Côrtes e Ramalho notavam, na variedade de lendas, que todas eram sobre Sumé - entidade mitológica que teria transmitido conhecimentos aos índios antes da chegada dos colonizadores. "Todos os indícios levavam a Sumé. Até as palmeiras da região, por lá, são chamadas de 'sumalenses'", observa Lula. Para "libertar" os indígenas da crença pagã, os jesuítas pontificaram Sumé como "santidade": virou São Tomé. O que explica, no Nordeste, o fato de muitos lugarejos terem sido batizados de São Tomé. "Aqui é o lugar de São Tomé!", os padres costumavam anunciar, ao chegar numa região nova.<br />
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Na Paraíba, resta uma cidade chamada Sumé. "Seja lá quem tenha sido Sumé, o que mais se sabe, no entanto, é que muito andou por essas bandas", brinca Raul Córdula. A despeito da evangelização católica, a memória do Sumé indígena segue viva em todo o Nordeste. A crença indígena diz que, quando o pacifista Sumé se foi embora, expulso pelos guerreiros tupinambás daquelas terras, deixou uma série de rastros talhados em pedras no meio do caminho. Os índios acreditam que Sumé teria ido de norte a sul, mata adentro, descerrando a milenar trilha "Peabirú" - em tupi-guarani, "O Caminho da Montanha do Sol".<br />
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O historiador Eduardo Bueno, que passou anos de sua vida "veraneando" na praia de Naufragados, no sul da ilha de Santa Catarina, conta que tomou conhecimento da trilha lendo a aventura de Aleixo Garcia, o qual, após um tempo vivendo naquela praia, fora informado da existência de uma "estrada indígena" que conduzia até o Peru. Após muitos verões chuvosos contemplando o lugar de onde o bravo Garcia havia partido em sua jornada épica, Bueno decidiu acompanhá-lo - mas na mente: "Mergulhei em todas as fontes que traziam relatos de sua viagem. Ficção não era. Tais fontes, embora, eventualmente, contraditórias entre si, eram da melhor qualidade". O resumo mais interessante da história, diz, é o que define Peabirú como "um ramal da majestosa Trilha Inca, que ligava Cuzco a Quito e, por sua vez, outra corruptela - de 'Apé Biru'".<br />
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Em tupi-guarani, Apé significa "caminho", ou "trilha", e Biru é o nome original do Peru. Portanto, Peabirú significaria "Caminho para o Peru". Havia três inícios principais desse caminho: um, partindo de Cananéia (litoral sul de São Paulo) e, outro, da foz do rio Itapucu, nas proximidades da ilha de São Francisco do Sul (litoral norte de Santa Catarina). Um terceiro saia da Praça da Sé, em São Paulo, seguia pela rua Direita, dava na Praça da República, subia a Consolação, descia a Rebouças, cruzava o Rio Pinheiros e... chegava no Peru. "Fico pensando porque nos roubaram o prazer de desfrutar essa história no colégio", brinca Bueno. "Pensando bem, não foi esse o único prazer que nos roubaram, foi?" Muitas vezes procurado, Zé Ramalho declarou que "não quer mais falar sobre o assunto Paêbirú" - para ele, encerrado. Em algumas entrevistas, no entanto, coteja Paêbirú à Tropicália.<br />
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Um dos comentários é sobre o jeito artesanal, "como se costurado à mão", que o álbum foi feito. Agendo uma "audição comentada" de Paêbirú no ateliêr de Lula Côrtes. Enquanto, pacientemente, pinta o quadro de um farol, vai me explicando como tornaram possível (e viável) a engenhosa gravação do disco.<br />
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O álbum - duplo - é dividido em quatro lados, de acordo com os elementos Terra, Ar, Fogo e Água. Em "Terra", o resultado "telúrico" foi conseguido com tambores, flautas em sol e dó, congas e sax alto. "Simulamos, com onomatopéias, 'aves do céu', 'pássaros em vôo' e adicionamos o berimbau, além do tricórdio", ele conta.<br />
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Contrariando a prática dos "encartes vazios", a gama de instrumentos utilizados está descrita na ficha técnica de Paêbirú. Efeitos de estúdio, nem pensar: "Só havia as pessoas, vozes e instrumentos", comenta o artista. Certos efeitos, como o rasgar da folha de um coqueiro, por exemplo, muitos pensaram serem eletrônicos. No lado "Ar", além de "conversas", "risadas" e "suspiros", selecionaram-se harpas e violas sopros para músicas como "Harpa dos Hares", "Não Existe Molhado Igual ao Pranto" e "Omm".<br />
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Em "Água", as músicas têm fundo sonoro de água corrente. No mesmo lado, cantos africanos, louvações à Iemanjá e a outras entidades representativas do elemento. Na mais dançante, o baião lisérgico "Pedra Templo Animal", Lula Côrtes toca "trompas marinhas". Zé Ramalho pilota o okulelê. "Fogo", como adverte o nome, é a faceta incendiária de Paêbirú. A mais roqueira também. Entram sons trovejantes: o wha-wha distorcido do tricórdio e a psicopatia do órgão Farfisa em "Nas Paredes da Pedra Encantada". "Raga dos Raios" conserva-se, mais de 30 anos depois, como a melhor peça de guitarra fuzz gravada no rock nacional: "Guitarreira elétrica & nervosa de Dom Tronxo", diz a ficha técnica. Onde andará Dom Tronxo?<br />
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O encarte sofisticado de Paêbirú é obra de Kátia Mesel. Além de designer, ela fez a produção executiva do álbum. "São mais de 20 pessoas tocando no disco - basicamente, toda a cena pernambucana e boa parte da paraibana", a cineasta enumera. O disco só deu certo, na opinião de Kátia, porque foi feito com a alma e a criatividade soltas. "Num estúdio de dois canais, baby? Era o playback do playback do playback! A gente se consolava: 'Se os Stones gravaram na Jamaica em dois canais, por que a gente não?'<br />
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Em 'Trilha de Sumé', Alceu Valença toca pente com papel celofane. [O disco] tem desses requintes", graceja. Foi o zelo de Kátia, na realidade, que garantiu o salvamento de 300 cópias de Paêbirú da enchente de 1975. Ela guardara parte da tiragem na Casa de Beberibe, onde o casal morava - o ambiente em que muitas canções foram, gradualmente, tomando forma. "A sorte é que eu tinha deixado os discos no andar de cima. São esses que, atualmente, valem uma fortuna mundo afora", pontua Kátia. Naquele tempo, Ramalho praticamente morava com o casal na Casa de Beberibe.<br />
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A concepção gráfica do álbum foi obtida após muitas idas do trio à Pedra do Ingá. Na verdade, um quarteto, já que o irmão de Kátia, o fotógrafo Fred Mesel, seguia junto em algumas viagens. "Eu filmava em Super 8 e Fred tirava fotos da pedra com filme infravermelho", ela conta. A técnica fotográfica explica a tonalidade azul-cítrica da capa e da parte interior de Paêbirú. Especial atenção foi dada à ficha técnica.<br />
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No encarte central, fotos de todas as pessoas que participaram das gravações. Um detalhe é que todos os títulos foram montados à mão, um a um, em letra set. A diferença é que, a essa altura, Kátia era mais experiente: além de Satwa, também produzira a arte do único álbum de Marconi Notaro, No Sub Reino dos Metazoá-rios (1973). "Para lançar Paêbirú, criamos o selo Solar", acrescenta. As substâncias psicodélicas, obviamente, foram muito importantes durante o processo de composição. Para Lula Côrtes, no entanto, só de estar perto da Pedra do Ingá, é possível sentir o xamanismo emanando do monumento rochoso: "Comíamos cogumelos mais como 'licença poé-tica mental'", justifica o artista. <i> </i><br />
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<i>Crosby, Stills and Nash, T-Rex, Captain Beefheart, Grand Funk Railroad e The Byrds</i> eram as bandas mais ouvidas pelo grupo na época. Em meados da década de 1970, a maquiagem do <i>glitter rock</i> já estava borrada e, nos Estados Unidos, a semente punk aflorava nos buracos sujos de Nova York. A disco music ensaiava os primeiros passos de dança. Psicodelia, no mundo, era coisa ultrapassada: encapsulara-se nos remotos anos 60. Zé da Flauta tinha 18 anos quando conheceu Lula e Kátia. No auge da repressão, a Casa de Beberibe era o templo da liberdade e da contracultura. "Aprendi muito sobre arte. Lá se conversava sobre tudo, inclusive se fumava muita maconha", confirma Zé. Ele tocou sax na vigorosa "Nas Paredes da Pedra Encantada". "Jamais me esquecerei, aliás: foi a primeira vez que entrei num estúdio e gravei profissionalmente como músico."<br />
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Outro que teve "participação relâmpago" foi o paraibano Hugo Leão, o Huguinho. Ele vinha das bandas The Gentlemen e os Quatro Loucos, nas quais Zé Ramalho tocava guitarra. Ramalho o chamou para participar como tecladista do "ousado projeto". Sua atuação ficou imortalizada no disco. São dele os riffs de órgão Farfisa em "Nas Paredes..." Para assumir a bateria, Ramalho recrutou Carmelo Guedes, outro parceiro seu nos Gentlemen. A mágica, lembra Huguinho, começou logo que entraram no estúdio.<br />
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As bases foram criadas na hora, como num susto: "Cravei um tom maior: Mi! O sonho começara. Os segredos da Pedra do Ingá, finalmente, pareciam que seriam desvendados. A guinada sonora ainda ecoa pelo espaço", acredita. Em minha jornada, sigo para a capital paraibana. Em João Pessoa, Telma Ramalho, a prima mais jovem de Zé Ramalho, diz não esquecer uma passagem da pré-adolescência: a mãe, Teresinha de Jesus Ramalho Pordeus, professora de História, conversava com o sobrinho em seu escritório: "Zé contava a ela como se desenrolavam as gravações de Paêbirú".Uma lembrança viva é ter ouvido o disco aos 12 anos: "Não entendi nada. Só lembro de 'Pedra Templo Animal' e 'Trilha de Sumé', as mais pop", diverte-se.<br />
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Outra memória é ter apresentado uma réplica da Pedra do Ingá na feira de ciências do colégio. A trilha sonora foi Paêbirú. "Levei a vitrolinha e botei para rodar." Telma faz a contundente revelação: "Tive caixas de Paêbirú em casa. Uma verdadeira fortuna cultural e financeira". Para Cristhian Ramalho, filho de Zé Ramalho e afilhado de Lula Côrtes, Paêbirú também tem significação especial: "Meu pai me levava à Pedra do Ingá quando criança. Ele ia para achar inspiração". Sem dúvida, diz Cristhian, Paêbirú e a Pedra ainda exercem influência sobre a sua obra. "Em 1975, ele escreveu uma poesia muito bonita, que diz: 'Venho de uma dessas pedras rolantes'. Houve, por parte dele, grande misticismo envolvido na minha chegada", conta, orgulhoso, o filho.<br />
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Uma das pessoas que, na época do lançamento, compraram o álbum foi a arquiteta Terêsa Pimentel. Aos 14 anos, em 1974, ela não sabia ao certo o que procurava na sua vida. Apesar disso, sabia "o que não queria". "Ouvíamos os locais: Ave Sangria, Marconi Notaro, Flaviola & O Bando do Sol, Aristides Guimarães, o 'udigrudi' nordestino. Vendi minha bicicleta Caloi verde-água para comprar Paêbirú. Hoje, sou feliz por ter vendido a bicicleta e ter adolescido naquela atmosfera", conta. Terêsa é irmã do músico Lenine, ao qual Lula Côrtes presenteou com sua última cópia de Paêbirú, há alguns anos. "Para tirar uns samplers", diz Lula.<br />
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De Jaboatão dos Guararapes, eu e Lula seguimos para a casa de Alceu Valença, no centro histórico de Olinda. Lula bate à porta do casarão. Festa quando Valença cruza o amplo saguão para saudar Lula, velho parceiro em Molhado de Suor, um dos seus primeiros discos. "A gente tocou em 'Danado para Catende', que depois virou 'Trem de Catende'", Alceu conta. "Até então Lula só compunha, mas não cantava. Fiz a cabeça do pessoal da Ariola: 'O cara é o máximo!' Na gravadora, ninguém tinha a menor idéia de quem era o cara, muito menos que fizera algo como Paêbirú." Souberam, no entanto, quando o álbum Gosto Novo da Vida, de Lula Côrtes, foi premiado como "a melhor venda do ano da gravadora Ariola", em 1981. Em três meses, vendeu 32 mil cópias. Depois, teve sua reedição emperrada por causa de um processo movido pela Rozemblit, que alegava plágio em uma música. "Foi o primeiro artista que vi fumar no palco, no Teatro João Alcântara", diz Alceu. Ambos riem. Lula acende um cigarro. "Participei de Paêbirú. Dei uns gritos lá", resume Alceu. "Foi na reza de 'Não Existe Molhado Igual ao Pranto'", Lula emenda. "O estúdio da Rozemblit tinha acústica maravilhosa. Era o ambiente mais natural possível: cheguei e fui me deitando num canto. A banda tocava. Sonolento, me espreguicei: 'Ommmmmmmm...'." "Foi como num mantra. Quando Alceu começou, todo mundo veio atrás e não parou mais", conclui Lula. É nessa tradição do "livre espírito" que Paêbirú foi realizado.<br />
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No texto homônimo - uma raridade datilografada só encontrada no interior dos LPs sobreviventes da cheia e escrito depois da ingestão de cogumelos colhidos no meio do caminho -, Lula Côrtes nos dá uma última idéia da grande aventura que foi Paêbirú: "Nós caçávamos o passado, e os corações se encheram de esperança com aquela visão. O caminho que havíamos abandonado mais atrás era o das Pedra de Fogo, outro pequeno aglomerado quase sem nenhuma chance de vida. A água é muito escassa. Conversávamos sobre as pedras. E ao longo, no horizonte, o lombo prateado da Borborema desenha curvas leves, demonstrativas de sua imensa idade. Os nativos tinham mapas nos rostos, o sol lhes rachou os lábios como racha a terra, as pedras duras e afiadas que dificultavam a caminhada lhes endureceu o riso. A informação parecia estar correta. Achamos o regato e acompanhamos o sentido. A água era clara e bastante salgada. A irrealidade se apossava cada vez mais dos nossos corpos e mentes, e toda a lenda que nos havia enchido os ouvidos, até aquele dia, parecia florar de tudo."Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-9227855481741075452016-06-17T07:54:00.001-03:002016-06-17T07:54:59.487-03:00O desmonte da legislação de agrotóxicos e as ameaças para o povo brasileiro<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRcuYpYJHWUnLnHt_p2AfxI6vvTSBUtke_NPxJLBkWQmrCtnPxrh1nOFD9kGdnLTvkleGT65TfAGzobfKRELQO6ML_khvC5xhDo_QOM_2JsOnJfA0GOMK5_rzJIPnDJhOSAPbNmjTu998/s1600/arrozcaveira1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRcuYpYJHWUnLnHt_p2AfxI6vvTSBUtke_NPxJLBkWQmrCtnPxrh1nOFD9kGdnLTvkleGT65TfAGzobfKRELQO6ML_khvC5xhDo_QOM_2JsOnJfA0GOMK5_rzJIPnDJhOSAPbNmjTu998/s1600/arrozcaveira1.jpg" /></a></div>
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<i>por Cleber A. R. Folgado*, no <a href="https://www.ecodebate.com.br/2016/06/15/o-desmonte-da-legislacao-de-agrotoxicos-e-as-ameacas-para-o-campo/" target="_blank"><b>EcoDebate</b></a></i><br />
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Na atual conjuntura temos visto a afirmação – da qual concordo – de que impeachment sem crime é golpe. Os áudios divulgados recentemente apontam para a existência de uma complexa trama, com intencionalidade clara, em torno da construção deste golpe. Há que se atentar, porém, para o fato de que existem outras tramas curso. Portanto não é apenas a democracia que se encontra ameaçada, mas um conjunto de outros direitos historicamente conquistados pelo povo brasileiro. O Projeto de Lei 3200/15 e o Projeto de Lei 1687/15 são alguns dos instrumentos da trama em curso que aponta para o desmonte da legislação de agrotóxicos, o que em outras palavras significa a ameaça de direitos sociais. <br /><br />Antes de adentrar nos retrocessos que propõem o PL 3200/15 e o PL 1687/15, façamos um breve resgate histórico sobre como se formou a atual legislação de agrotóxicos.<br />
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<br /> <span style="color: #e06666;"><span style="font-size: large;"><b>Histórico de construção da lei de agrotóxicos </b></span></span><br /><br />O sistema normativo de agrotóxicos brasileiro tem como pedra angular a Lei 7.802 de 11 de julho de 1989. Antes dessa lei, os agrotóxicos eram regulados por um conjunto disperso de normas que tinham como base principal o Decreto 24.114 de, 12 de abril de 1934, que tratava da defesa sanitária vegetal. Em virtude dessa dispersão de normas e da limitação das próprias normas em si, o sistema normativo de agrotóxicos da época era extremamente frágil. Essa fragilidade normativa somada aos programas de incentivo governamental para adoção do pacote tecnológico químico-dependente da revolução verde foram elementos fundamentais para que se consolidasse o uso de agrotóxicos como prática hegemônica nos processos produtivos no Brasil. <br /><br />Na medida em que o ciclo vicioso de uso de agrotóxicos se consolidava no campo brasileiro, as contradições do modelo também iam aparecendo, de modo passa-se a identificar contaminações de mananciais de água, animais, pessoas, etc. Infelizmente a capacidade legislativa de criar normas de proteção a saúde e ao meio ambiente não acompanhava a velocidade com que os venenos se proliferavam na prática produtiva agrícola. <br /><br />Fruto dessas contradições, no ano de 1982, descobre-se que as águas do Rio Guaíba, principal fonte de abastecimento de água potável da capital gaúcha – Porto Alegre – estavam contaminadas por resíduos de agrotóxicos, tais como heptacloro, endosulfan e outros produtos da família dos organoclorados, amplamente utilizados na produção agrícola da região. Este fato possibilitou que um conjunto de organizações, liderados pela Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN) se mobilizassem e a partir de um longo processo de luta e pressão social aos parlamentares, fosse aprovada no dia 02 de dezembro de 1982 a lei estadual de agrotóxicos, que só viria a ser publicada no Diário Oficial do estado em 22 de dezembro de 1082 com a descrição de Lei nº 7.747. O texto sancionado pelo governador Amaral de Souza apresentava cinco vetos, que foram derrubados em votação no dia 14 de abril de 1983, mantendo-se na íntegra o texto aprovado. <br /><br />Após a aprovação da Lei Estadual de Agrotóxicos do Rio Grande do Sul, vários outros estados da federação seguiram o exemplo e construíram suas legislações estaduais, tendo por base a Lei gaúcha. Dentre elas podemos citar: a Lei Paranaense nº 7.827, de 29 de dezembro de 1983; a Lei Paulista nº 4.002, de 05 de janeiro de 1984 (2); a Lei nº 6.452, de 19 de novembro de 1984, do Estado de Santa Catarina (3); as Leis Estaduais do Rio de Janeiro nº 801, de 20 de novembro de 1984, e nº 1.027, de 06 de agosto de 1986 (4); a Lei Estadual do Mato Grosso nº 4.638, de 10 de janeiro de 1984 (5); a Lei Estadual de Minas Gerais nº 9.121, de 30 de dezembro de 1985; dentre outras. <br /><br />Diante da pressão social através da construção de leis estaduais para legislar especificamente os agrotóxicos, o governo federal se vê acuado e realiza a primeira tentativa de criar uma lei federal em 1986, quando o então Presidente José Sarney nomeou Pedro Simon como Ministro da Agricultura. O novo ministro tratou de reunir uma comissão especial afim de construir um anteprojeto que pudesse substituir o Decreto 24.114/1934. O Decreto nº 91.633, de 09 de setembro de 1985, criou a Comissão Especial composta por 27 membros, que tinham a tarefa de em 60 dias construir o anteprojeto de lei para os agrotóxicos. A comissão cumpriu o prazo e em ato solene, no dia 9 de janeiro de 1986, pelas mãos professor Flavio Lewgoy, decano representante da AGAPAN, entregou o anteprojeto ao Ministro Pedro Simon que o encaminhou a Casa Civil. Alegando vícios de constitucionalidade, a Casa Civil tentou devolver o anteprojeto à comissão que já havia se extinguido. <br /><br />Logo em seguida Pedro Simon foi substituído no Ministério da Agricultura por Íris Resende, que aceitou a volta do anteprojeto para o Ministério da Agricultura, e autorizou, mesmo sob forte manifestação contrária de ex-integrantes da comissão especial, que alterações fossem feitas no anteprojeto. As alterações no anteprojeto atendiam com as pressões exercidas pelos representantes da indústria de agrotóxicos, no entanto, o anteprojeto ficaria parado no palácio por quatro anos, sem nenhuma movimentação para sua aprovação. <br /><br />Apenas em 1989, devido a pressões sociais em torno da questão ambiental, incluindo o ainda recente assassinato de Chico Mendes em 1988, é que o anteprojeto da lei de agrotóxicos é retomado no âmbito do Programa Nossa Natureza. Em 24 de abril de 1989 ele é submetido pelo Poder Executivo ao reexame do Congresso Nacional, onde recebeu a caracterização de PL nº 1.924. Como o projeto foi enviado em regime de emergência, este teria então apenas 45 dias para sua apreciação, e caso não fosse apreciado, seria aprovado automaticamente por decurso de prazo e sancionado. <br /><br />Durante o processo de tramitação o PL 1.924 recebeu 28 emendas parlamentares que em geral buscavam contribuir com a redação do texto, sem alterações de conteúdo, com exceção apenas do substitutivo proposto pelo Deputado Federal Jonas Pinheiro, que propôs um novo PL que ao tramitar foi recusado por todas as comissões que o apreciou. <br /><br />Nas comissões em que tramitou o PL 1924, foram propostos três substitutivos. Frente as três propostas de substitutivo, acordou-se pela construção de uma única redação, afinal havia a necessidade de se chegar a um texto comum, haja visto que o prazo para apreciação parlamentar estava por exaurir-se, o que se ocorresse sem que os parlamentares tivessem aprovado teor consensual, o projeto inicial enviado pelo Poder Executivo é que terminaria por ser sancionado. <br /><br />Assim, considerando as apreciações feitas durante o processo de tramitação, tais como as propostas de emendas e substitutivos, chegou-se a um texto comum para o Projeto de Lei 1.924, que por sua vez foi aprovado no dia 15 de junho de 1989 pela Câmara dos Deputados e enviado ao Senado, que o apreciou em caráter revisório e o aprovou no dia 06 de julho de 1989 sem nenhuma alteração. Assim, apenas cinco dias depois, o PL 1.924, já devidamente aprovado, foi sancionado pelo Presidente José Sarney como Lei Federal nº 7.802, de 11 de julho de 1989, tornando-se assim, a primeira Lei de caráter amplo e específica sobre os agrotóxicos, inaugurando uma nova concepção regulamentar sobre o tema e orientando a formação de um novo sistema normativo para agrotóxicos no Brasil. <br /><br />Feito esse resgate, que aqui tem como objetivo demonstrar que a Lei 7.802/89 é fruto de um longo processo de luta social, das quais várias demandas estão incorporadas no texto de tal lei, vejamos do que se trata o PL 3200/15 e o PL 1687/15.<br />
<br /><br /><span style="color: #e06666;"><b><span style="font-size: large;">O desmonte da lei de agrotóxicos e o golpe dentro do golpe </span></b></span><br /><br />Projeto de Lei 1687/15, é a numeração que recebeu na Câmara Federal o Projeto de Lei 679, protocolado no Senado Federal pela então Senadora Ana Rita, no dia 10 de novembro de 2011. O PLS 679/11 tinha como proposta alterar a Lei 7.802/89, para incorporar Art. 21-A na lei de agrotóxicos, criando a Política Nacional de Apoio ao Agrotóxico Natural, com o objetivo de estimular as pesquisas, a produção e o uso de agrotóxicos não sintéticos de origem natural. <br /><br />No processo de tramitação do PLS 679, foram feitas três propostas de textos substitutivos que por sua vez alteram completamente o horizonte da proposta apresentada, de modo que ao invés de se construir uma política para incentivar a produção de verdadeiros defensivos naturais, o texto final garante mais investimentos para a produção de agrotóxicos e a destinação de recursos públicos para as empresas, repetindo assim, o que já foi feito no passado com a criação do Programa Nacional de Defensivos Agrícolas, em 1975, no âmbito do II Plano Nacional de Desenvolvimento. <br /><br />Após os substitutivos, o texto final aprovado no Senado e encaminhado à Câmara, recebendo o número de PL 1687/15, dentre outras coisas, cria o art. 12-B para instituir a instituir a Política Nacional de Apoio aos Agrotóxicos e Afins de Baixa Periculosidade. Desse modo, é possível perceber que o processo legislativo no Senado alterou de forma drástica a proposta inicial do PLS 679, transformando-o num instrumento de incentivo para as empresas de produção de agrotóxicos, que já gozam de várias benefícios, tais como as isenções de impostos. <br /><br />Tramitam no Congresso Nacional mais de 50 Projetos de Lei que apontam para algum tipo de alteração na Lei 7.802/89 (lei de agrotóxicos), em sua grande maioria tais PLs buscam desmontar o sistema normativo de agrotóxicos, flexibilizando a legislação existente e garantindo benefícios aos setores que defendem os venenos. <br /><br /><span style="color: #e06666;"><span style="font-size: large;"><b>O famigerado PL3200 </b></span></span><br /><br />No dia 06 de outubro de 2015 foi protocolado pelo Deputado Federal Covatti Filho (PP/RS) o PL3200/15 que dispõe sobre a Política Nacional de Defensivos Fitossanitários e de Produtos de Controle Ambiental, seus Componentes e Afins, bem como sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de defensivos fitossanitários e de produtos de controle ambiental, seus componentes e afins, e dá outras providências. <br /><br />O PL 3200 desmonta por completo a legislação atual de agrotóxicos, tornando-a frágil e permissiva, de modo que vários direitos sociais são atropelados pelo texto proposto. Em ato da presidência da Câmara dos Deputados, no dia 24 de fevereiro foi criada uma Comissão Especial para analisar o PL3200. Esta comissão aprovou vários requerimentos para a realização de audiências públicas acerca do tema. Todavia, no último dia 23 de maio, foi deferido requerimento determinando a apensação do PL 3200 ao PL 1687/15, que por sua vez encabeçará o bloco dos PLs em apreciação. Isso além de alterar o nome da comissão, que passa a constar como “Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 1687, de 2015, do Senado Federal, que “altera a Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989, para instituir a Política Nacional de Apoio aos Agrotóxicos e Afins de Baixa Periculosidade”, e apensado (PL 3200/15)”, também determinou que o projeto de lei tramite em regime de prioridade, ou seja, os prazos até então vislumbrados serão reduzidos. <br /><br />Trata-se de uma manobra legislativa que acelera a tramitação de ambos os PLs, inviabilizando ainda mais a participação da sociedade no processo de discussão. Além disso, invisibilizam o PL3200, visto que ele é o pior, pois propõe a revogação da Lei 7.802/89. Dentre as propostas deste Projeto de Lei, destacamos algumas: <br /><br />a) Os agrotóxicos passam a ser chamados de “produtos defensivos fitossanitários e de controle ambiental”. Essa é uma manobra que tem como objetivo esconder o perigo dessas substâncias tóxicas. Agrotóxicos são biocidas, ou seja, são feitos para matar a vida. É inadmissível que voltemos a utilizar uma nomenclatura da década de 1930, quando muitos dos efeitos dessas substâncias não eram conhecidos como hoje. Agrotóxicos não são defensivos, são venenos que ameaçam a vida das pessoas e contaminam o meio ambiente. <br /><br />b) Cria a Comissão Técnica Nacional de Fitossanitários (CTNFito), que funcionará nos moldes da CTNBio. Será competência desta Comissão a edição e alteração de atos normativos referentes aos agrotóxicos; avaliação e homologação de relatórios de avaliação de risco de novo produto ou de novos usos em ingrediente ativo; avaliar os pleitos de registro de novos produtos técnicos, dos respectivos produtos formulados, pré-misturas e afins; emitir pareceres técnicos conclusivos nos campos da agronomia, toxicologia e ecotoxicologia sobre os pedidos de aprovação de registros de produtos, bem como as medidas de segurança que deverão ser adotadas;estabelecer as diretrizes para a avaliação agronômica, avaliação e classificação toxicológica e ambiental de produtos;promover, mediante pedido ou de ofício, a reavaliação de produtos, e de propor a sistemática de incorporação de tecnologia de ponta nos processos de análise, controle e fiscalização e em outras atividades cometidas aos órgãos registrante; etc. <br /><br />A CTNFito ficaria alocada no MAPA e passaria a ser um super-órgão a quem compete quase tudo que diz respeito aos agrotóxicos, assumindo para si o que hoje é competência tripartite da ANVISA, IBAMA e MAPA. A composição proposta para a CTNFito é de 23 membros efetivos e respectivos suplentes, designados pelo MAPA. A divisão da composição é de 15 especialistas de notório saber científico e técnico, das áreas de química, biologia, produção agrícola, fitossanidade, controle ambiental, saúde humana e toxicologia. Além desses, completa a equipe representantes de cinco ministérios (Agricultura; Desenvolvimento, Indústria e Comércio; Meio Ambiente; Saúde e; Ciência, Tecnologia e Inovação) e representantes de órgão legalmente constituído de proteção à saúde do trabalhador; de órgão legalmente constituído representativo do produtor rural (muito provavelmente este representante será da CNA) e ainda um representante de associações legalmente constituídas de produtores de defensivos fitossanitários (diga-se representante das empresas). <br /><br />c) Cria-se a possibilidade de prescrição de receita agronômica para aplicação de agrotóxicos antes da ocorrência da praga, ou seja, de forma preventiva, supostamente visando o controle de alvos biológicos que necessitam de aplicação de produto. Sem dúvidas este mecanismo vem para resolver a recorrência de emissão do que se conhece popularmente por “receituário de gaveta”, ou seja, quando o profissional emite a receita agronômica sem sequer ter pisado na lavoura para diagnosticar o problema. Essa é uma prática muito comum e extremamente perigosa, atualmente proibida por lei. <br /><br />d) Para efeito de registro, passa-se a admitir um grau de risco aceitável em relação às características teratogênicas, carcinogênicas ou mutagênicas dos agrotóxicos. Atualmente isso é expressamente proibido pela art. 3º, parágrafo 6º, da Lei 7.802/89. Trata-se de uma ameaça ao direito à saúde, que coloca em risco a vida das pessoas, em especial das populações camponesas. <br /><br />e) Será permitido também que o registro de um produto técnico possa ser feito por equivalência, com base nas diretrizes definidas pela CTNFito. <br /><br />f) Passa-se a permitir o uso de agrotóxicos já registrados para uma determinada cultura, numa outra cultura para o qual ele não foi registrado. Trata-se do que estão chamando de “culturas com suporte fitossanitário insuficiente – CSFI”, em outras palavras, são os minorcrops. <br /><br />g) Limita-se a competência dos Estados, Distrito Federal e Municípios no que diz respeito a legislar sobre os agrotóxicos. A competência para controlar e fiscalizar o transporte interestadual torna-se exclusividade da União, e aos Estados, DF e Municípios compete legislar supletivamente sobre o uso, o comércio e o armazenamento, bem como fiscalizar o uso, o armazenamento e o transporte interno.Em relação ao texto da lei atual, é suprimido o mecanismo normativo que permitia os Estados e o DF legislar sobre a produção, bem como fiscalizar o consumo e o comércio de tais produtos. Aos Estados, o DF e os Municípios é vedado explicitamente a possibilidade de restringir o alcance do registro federal. Trata-se, portanto, de uma centralização das competências em nível federal, diminuindo o alcance das pressões sociais que com muita luta conseguiram aprovar leis estaduais e municipais, em alguns aspectos mais avançadas que a legislação federal. <br /><br />h) As decisões dos órgãos registrantes de agrotóxicos (ANVISA, IBAMA e MAPA) passam a ser vinculadas aos pareceres da CTNFito, ou seja, os pareceres da comissão serão de cumprimento obrigatório por tais órgãos. <br /><br />i) Passa a ser facultativa ao usuário a devolução das embalagens vazias de agrotóxicos, ou seja, ele devolve se quiser. Isso configura um enorme retrocesso no que se refere a proteção ambiental, visto que a devolução dessas embalagens para a reciclagem é um importante avanço, ainda obviamente, que acreditamos que devemos nos preocupar mais com o produto venenoso que havia dentro daquela embalagem, do que necessariamente com a embalagem em si. <br /><br />Estes são alguns dos retrocessos que estão previstos no PL3200/15, que quando vinculado ao PL1687/15, representam enormes riscos e perigos para o campo brasileiro. Dentre os diversos problemas possíveis, caso estes PLs sejam aprovados, destacamos as seguintes ameaças ao campo brasileiro: <br /><br />1- Haverá um aumento de circulação de agrotóxicos com maior teor toxicológico, ou seja, produtos cada vez mais perigosos estarão sendo usados no campo. Isso além de contaminar os alimentos, trará como consequência uma maior contaminação do ambiente, dos animais e das pessoas que trabalham no campo. Os assalariados rurais dos grandes empreendimentos do agronegócio, provavelmente serão as principais vítimas; <br /><br />2- Como boa parte dos agrotóxicos são pulverizados por avião, e visto que 70% daquilo que se joga de avião nas lavouras torna-se deriva técnica, ou seja, é levado pelo vento e não atinge o alvo desejado, as populações que vivem próximas de áreas que usam pulverização aérea de agrotóxicos, serão extremamente afetadas com contaminação desses agrotóxicos cada vez mais perigosos; <br /><br />3- O meio ambiente que atualmente já sofre as consequências do uso de venenos na agricultura, também ficará ainda mais vulnerável, de modo que problemas tais como o extermínio das populações de abelhas, mutações em peixes, contaminação dos lençóis freáticos, e até das águas das chuvas, dentre outras – situações estas que já são recorrentes – irão se tornar ainda mais frequentes e com níveis de contaminação ainda maior; <br /><br />Em síntese, os dois PLs em questão além de desmontar o atual sistema normativo de agrotóxicos, irão consolidar uma legislação extremamente permissiva que representa apenas os interesses das grandes corporações do ramo dos agrotóxicos e aos grandes latifundiários do agronegócio. A população brasileira em seu conjunto será afetada, seja diretamente ou indiretamente. No campo brasileiro irá se concentrar os principais problemas, tais como a contaminação das pessoas e do ambiente, porém, o meio urbano também será vítima desse processo, visto que os alimentos que chegam aos centros urbanos estarão contaminados com venenos cada vez mais tóxicos. <br /><br />Mobilizar-se contra esta trama em curso é uma tarefa histórica que cabe a toda a sociedade. Não podemos deixar com que golpes e retrocessos extingam direitos historicamente conquistados com muita luta pelo povo brasileiro. <br /><br />*<i>Cleber Folgado é integrante do Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA e da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida. Graduando em Direito pela Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS. </i><br /><br />(2) A Lei Estadual de São Paulo sofreu algumas alterações através da Lei nº 5.032 de 15/04/86. <br /><br />(3 ) Revogada pela Lei nº 11.069, de 29 de dezembro de 1998, atualmente em vigor. <br /><br />(4) Ambas revogadas pela Lei nº 3.972, de 24 de setembro de 2002. <br /><br />(5) Revogada pela Lei nº 5.850, de 22 de outubro de 1991.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-17425323985436371612016-05-28T20:10:00.002-03:002016-06-08T07:50:28.479-03:00Bioeconomia: perspectivas e desafios numa economia baseada em biomassa<br />
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<i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdD6wSEoqjQ9twZE3NdmvKY-eIa0ftHCkwuTRWwn0bkzla8mRcfsYnja_1QLLc8vOOXbBMBGBd0ObhCTEfXLGJ59_t-MBFFpZDoRv2pkcWV9t_AhB8LHaS9G4QTKeNx0BQ_F5h2agFtQY/s1600/energia-da-biomassa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="324" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdD6wSEoqjQ9twZE3NdmvKY-eIa0ftHCkwuTRWwn0bkzla8mRcfsYnja_1QLLc8vOOXbBMBGBd0ObhCTEfXLGJ59_t-MBFFpZDoRv2pkcWV9t_AhB8LHaS9G4QTKeNx0BQ_F5h2agFtQY/s640/energia-da-biomassa.jpg" width="640" /></a></i></div>
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<i>adaptado do<b> <a href="http://portalclubedeengenharia.org.br/info/bioeconomia-perspectivas-e-desafios-para-uma-nova-economia-baseada-em-biomassa" target="_blank">portal do Clube de Engenharia</a></b> - resenha de uma palestra proferida em 19 de maio de 2016 por José Vitor Bomtempo Martins, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro</i><br />
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Embora o tema pareça novo, a bioindústria tem sido testada em todo o mundo. Atualmente, vêm trabalhando com biomassa e bioeconomia <i>start-ups</i> de base tecnológica, investidores de risco e empresas estabelecidas de diferentes indústrias, como energia, petróleo e gás, química, biotecnologia, agroindústria, alimentos, papel e celulose... inúmeras empresas já utilizam materiais como resíduos urbanos, bio-óleo, gases de exaustão fermentados e algas em sua produção. Este modelo de indústria, embora ainda não definido, representa, sem dúvida, uma oportunidade para novos competidores, empresas e países: cada iniciativa é inovadora. <br />
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<span style="color: #e06666;"><span style="font-size: large;"><b>Para além dos biocombustíveis </b></span></span><br />
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A porta de entrada do tema da biomassa foram os biocombustíveis, como o etanol. A possível estruturação de uma indústria derivada da biomassa é um assunto que inclui os biocombustíveis, mas vai além. Por ser incipiente, existem diversas definições de bioeconomia. Uma definição canadense, por exemplo, inclui um compromisso de sustentabilidade. Outra, americana, sugere uma transição industrial. Na definição da Confederação Nacional da Indústria (CNI), de 2014, a bioeconomia “está relacionada à invenção, desenvolvimento e uso de produtos e processos biológicos nas áreas da biotecnologia industrial, da saúde humana e da produtividade agrícola e pecuária”. A CNI propõe ainda diminuir a dependência do petróleo, dispor de opções tecnológicas com menor impacto ambiental, transformar processos industriais e aumentar a produtividade agrícola. <br />
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A premissa é usar a biomassa vegetal ou animal para produtos químicos e industriais, que sejam sustentáveis, na transição industrial para o uso de biomassa. No caso do Brasil, o país carrega o histórico com os biocombustíveis, um conhecimento que agora vai se estruturando: “É fundamental entender essa atividade como uma estrutura industrial emergente”. <br />
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<span style="color: #e06666;"><b><span style="font-size: large;">Inovação e competitividade </span></b></span><br />
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Sem estrutura industrial definida, a bioeconomia é um setor com dinâmica de concorrência baseada em inovação. A previsão é que se criem cada vez mais políticas que a incentivem, na busca de estruturar novas empresas, com um novo modelo de negócio. A área coloca biotecnologia avançada e industrial à disposição para indústrias que não faziam tal uso. A visão da bioeconomia é uma visão de mudança, segundo o professor: muda a matéria-prima da indústria, dos combustíveis fósseis, para a biomassa. <br />
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A estruturação da bioeconomia depende da co-evolução de cinco dimensões-chave: matérias-primas; tecnologias de conversão; produtos; modelos de negócio e, envolvendo tudo isso, uma paisagem sócio técnica propícia. Incluindo instituições, regulações e tendências da sociedade. Para a indústria química, por exemplo, é complicado mudar a matéria-prima utilizada, pois esta está baseada na localização geográfica da indústria, a quantidade necessária e demais escalas.<br />
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<span style="color: #e06666;"><span style="font-size: large;"><b>Desafios das matérias primas renováveis </b></span></span><br />
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Existem questões quanto ao uso de matérias primas renováveis. Se vindas diretamente da natureza, a extração deve ser baseada em conhecimento de como se explorar aquele bem. Outro aspecto que perpassa é a sazonalidade: um fruto, por exemplo, tem safras. No período de entressafra não tem produção. É preciso, ainda, saber lidar com os resíduos. No caso de carvão e petróleo, os resíduos servem a indústrias alheias à de energia. Para a biomassa, portanto, é preciso também descobrir fins para os resíduos das matérias-primas renováveis e organizar um processo de disponibilidade para, a partir daí, estruturar a indústria. A mudança para a bioeconomia deve representar sustentabilidade. <br />
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Mesmo que a matéria-prima seja abundante, como o esgoto, por exemplo, a grande dificuldade é como estruturar o projeto industrial. Em 2005, quando surgiu o Mapa do Biodiesel, este mostrava uma infinidade de elementos que poderiam ser biodiesel, mas ao longo do tempo só duas foram desenvolvidas com esse fim: soja e sebo (gordura animal). Diversas outras questões, da produção industrial, cercam o assunto da biomassa. Além da principal dúvida - que matéria-prima utilizar? -, é preciso pensar em processos de conversão, biotecnologia a ser utilizada, processos químicos, etc. As empresas continuam testando as diversas rotas para chegar aos produtos. <br />
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A primeira geração de biocombustíveis foi de um produto substituto “imperfeito”, o etanol, que apresentou alguns obstáculos como adaptação dos motores, e se apresentou com uma estrutura muito cara, mas que nos anos 80 era necessário, afirmou. E há os produtos substitutos “perfeitos”, como os biohidrocarbonetos, o polietileno verde (da empresa Braskem) e os combustíveis de aviação. Mas é preciso descobrir que produtos podem se tornar efetivamente competitivos nas biorrefinarias, com uso eficiente da biomassa. Além do uso para o funcionamento da indústria, buscam-se novas embalagens sustentáveis. Um exemplo seria o <i>polyethylene-furanoate</i>, chamado de PEF, e uma nova versão do PET: o PET renovável a partir de <i>p-xileno</i> renovável.<br />
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<span style="color: #3d85c6;"><b><span style="font-size: large;"><br />Sim, rever o tamanho do SUS: Para Maior!... </span></b></span><br />
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<i>por Alexandre Padilha (ex-Ministro da Saúde), no <a href="http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Sim-rever-o-tamanho-do-SUS-Para-Maior-Mais-Acesso-e-Mais-Qualidade/4/36122" target="_blank"><b>Carta Maior</b></a></i><br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5HJdzjNRQ3ZCDSbcRRbiqq6Qzty4XRn_s8d31qmRQKQVNarp1-l0TTfl1Zk3MoxrK0qEDlrsMR2EOaARhwJ38Ly9t_n207N49ampCaF5MrOrH2voYsNxo92EwC3FqCV5W5_Z6muuWoEA/s1600/SUS_logo.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="248" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5HJdzjNRQ3ZCDSbcRRbiqq6Qzty4XRn_s8d31qmRQKQVNarp1-l0TTfl1Zk3MoxrK0qEDlrsMR2EOaARhwJ38Ly9t_n207N49ampCaF5MrOrH2voYsNxo92EwC3FqCV5W5_Z6muuWoEA/s400/SUS_logo.jpg" width="400" /></a></div>
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Fruto da luta democrática e da capacidade de construir consensos institucionais a partir de necessidades simbólicas do nosso povo, o Brasil assumiu um compromisso inédito para um país de mais de 200 milhões com a criação do SUS: estabelece que a Saúde é um Direito de Todos e um dever do Estado.<br /> <br />Ao longo da sua história, esse Direito vem sofrendo ataques sistemáticos. De um lado por interesses privados e corporativos, no seio de um mercado de produtos, tecnologias e serviços gerado pelo esforço de acesso universal a 200 milhões de pessoas. Do outro, por aqueles que não admitem um Estado que garanta direitos e, sim, defendem um Estado que apenas garanta as condições para os interesses de mercado, incluindo aí apenas as politicas compensatórias necessárias para garantir a sobrevivência dos seus consumidores e um ambiente político de estabilidade. <br /> <br />Esta disputa constante ao longo dos seus mais de 25 anos foi repleta de avanços e recuos, mantendo inconclusos seus desafios estruturantes como: um financiamento sustentável compatível com o esforço realizado por outros países com sistemas universais, responsabilidade sanitária dos 3 entes federativos e consolidar um modelo de atenção humanizado em que a medicalização e a hospitalização não sejam a tônica. <br /> <br />No período mais recente, dois baques para a consolidação do SUS foram a retirada da CPMF, imposto que incidia sobre a parcela mais rica do pais e combatia a sonegação, e as tentativas bem sucedidas subsequentes de reduzir os recursos vinculados.<br />
<br /><br /><br /><br />Apesar disso, avançamos no enfrentamento:<br /> <br />1) de interesses de algumas corporações no debate e implementação do Mais Médicos e todas as medidas de fortalecimento da Atenção Básica; <br /> <br />2) de interesses exclusivos do mercado, com a Lei que estabelece regras para incorporacão de medicamentos e tecnologias (criando a Comissão nacional de Incorporação tecnológica no Sus) e no início da implementação do ressarcimento ao SUS pelos planos de Saúde; <br /> <br />3) de interesses pautados pelo obscurantismo com a ampliação de uma rede de atenção Psicosocial não manicomial, com o nome social no cartão SUS, com a lei que obriga os serviços de saúde a garantirem a atenção integral as mulheres vítimas de violência (profilaxia contra gravidez indesejável, contra DSTs e registro de provas para denúncia à justiça no próprio serviço de saúde ) <br /> <br />4) de superação do modelo hospital e médico centrado com a expansao da urgência pré-hospitalar, da atenção domiciliar e dos consultórios na rua, por exemplo. <br /> <br />É alarmante, neste cenário, que a direção apontada pela autoridade máxima do SUS é em reduzí-lo e não enfrentar os desafios para a busca constante do seu fortalecimento. Em um momento em que o país precisa discutir e se mobilizar para reduzir a carga tributária sobre seus trabalhadores e ampliar a participação tributária dos setores mais ricos, dos proprietários de helicópteros, iates e aviões, das grandes heranças, das movimentações financeiras, dos bônus e dividendos não tributados para manter e ampliar o SUS. Um sistema de saúde que, cada vez mais, se depara com o subfinanciamento e os novos custos decorrentes do envelhecimento e da nossa realidade urbana, falar em redução do SUS é um sinal absolutamente contrário aos nosso desafios. <br /> <br />Apesar dos avanços, nossos números não permitem qualquer afirmação no sentido de reduzir o tamanho do SUS . O acesso à saúde ainda é muito desigual. Mesmo com o passo decisivo do Mais Médicos, que garantiu médicos compondo equipes na atenção primária para mais de 60 milhões de habitantes, ainda estamos longe de parâmetros de cobertura similares aos Sistemas universais europeus que nos inspiraram na Europa. <br /> <br />Em 2003, simplesmente inexistiam serviços na rede pública que ofereciam diagnóstico e tratamento integral de alta complexidade em cardiologia, neurologia e oncologia fora das capitais de mais da metade dos estados da federação do país e na quase totalidade dos estados do Norte e Nordeste, por exemplo. E onde existiam, havia uma profunda concentração relacionada ao mercado privado de saúde. <br /> <br />Iniciamos o caminho para superar esta desigualdadede de acesso com os governo Lula e Dilma. Foram políticas de expansão das redes de urgência e emergência, a criação e implantação do SAMU, planos nacionais de expansão de cuidados especializados da Saúde integral da mulher, de rede oncológica, unidades do trauma e cardiologia, expansão dos programas de formação de especialistas, mas o país ainda é muito desigual. Por exemplo, o Brasil é dividido em 436 regiões de saúde . Dessas, 103 possuem serviços de atendimento integral a mulheres com câncer de mama, apenas 15 Unidades federativas têm serviços especializados para todos os procedimentos cirúrgicos de tratamento para coluna e 21 estados têm serviços especializados para todos os tratamentos de cardiologia. Mais acesso ao SUS é um dos desafios cruciais para reduzir a desigualdade social e regional no Brasil.<br /> <br />Não basta crescer, é necessário crescer junto com os que mais precisam, mais vulneráveis. O envelhecimento populacional; características de populações vulneráveis: como aqueles que vivem em situações rua, aqueles que ocupam os espaços rurais, aqueles cuja atividade profissionais ou modos de viver nas cidades tornam seus horários incompatíveis com o uso regular das unidades, contrastes culturais como a população indígena e imigrantes exigem não apenas um SUS maior, mas mais próximo dos modos diversos de vida dos 200 milhões de brasileiros. O SUS precisa crescer em tamanho e em diversidade .<br /> <br />Um compromisso de um SUS maior e com mais acesso não significa compactuar com o que existe de desperdício, de desvio e de gastos excessivos travestidos de acesso universal. Mas é preciso ficar bem claro que os gastos excessivos não tem qualquer relação com as diretrizes do SUS, pelo contrário, são frutos ou de interesses privados não republicanos ou da persistência de um modelo que supervaloriza a subespecialidade ou a incorporação tecnológica critica. O combate ao desperdício ou custos excessivos exigem Mais SUS e não Menos SUS. <br /> <br />Na cidade de São Paulo, o esforço do Prefeito Fernando Haddad em reconstruir a Atenção Básica mostrou uma parte deste caminho. Em 2012, de cada 100 consultas na atenção básica, 24 demandavam encaminhamento para especialistas. Em 2015, além de ofertar 1 milhão a mais de consultas na atenção básica,de cada 100 apenas 12 demandaram encaminhamento para especialistas. No Brasil, o enfrentamento feito pelo Minisitério da Saúde em relação a máfia de órteses e próteses revelou que não é entregando ao privado que se reduzirá o desperdício. <br /> <br />Assim como na cobertura da imprensa internacional sobre o golpe, muitas vezes, a luz da vivência de outros países nos fazem valorizar os avanços que conseguimos com muita luta. Na última semana, dois fatos que vivenciei na batalha em buscar mais qualidade para a saúde da cidade de São Paulo evidenciam o quanto não podemos permitir qualquer passo atrás, naquilo que já foi conquistado na busca de um sistema universal. Um deles, durante o lançamento da nossa política de Saúde para população imigrante, as expressões de defesa do SUS de quem já viveu as exclusões de direitos em outros países. O outro, durante a visita de 14 cidades chilenas à nossa rede, cientes das nossas dificuldades, mas espantados de como garantimos um conjunto de atendimentos e procedimentos aparentemente básicos gratuitamente no SUS -- algo que só ocorre com pagamento no Chile. <br /> <br />A agenda inicial daqueles que assumiram o governo federal sem voto é exatamente aquela que foi sucessivamente derrotada nas urnas em 2002, 2006, 2010 e 2014. Isto só torna cada vez mais cristalino que a chamada "ponte para o futuro" mais parece um episódio da série daquele blockbuster "De volta para o futuro", em que a tal máquina do tempo levava seus personagens ao passado, ao invés do futuro. Para enfrentá-la não há nenhuma máquina produzida pela ficção, mas a realidade concreta consolidada ao longo da história: a luta nas ruas, nas redes e nos espaços institucionais, resistência e muita articulação política para ampliarmos a aliança com a sociedade na defesa dos seus direitos seriamente ameaçados. É uma oportunidade única para todos aqueles que se referenciam na esquerda, que defendem o mínimo de desigualdade e o máximo de diversidade que influenciará nas nossas escolhas do presente e nos caminhos do futuro. Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-64081735020114471562016-05-17T01:05:00.000-03:002016-05-17T01:05:03.151-03:00A agricultura convencional e a transdisciplinaridade<br />
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<i><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHZmwcsb1U6QZG0Y35Nwb0CJhbdLgwV8TUPcuUMBMauYnEGjTD2iC1xb8RrkFHJpBxa3mqTvLdB7NzbB6OCjGV194va5b-UgJdSTZefeztoKx-EUYv6nu9pmW7WX3DXDAomohdY545WCY/s1600/transdiscipl_otrosmundos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHZmwcsb1U6QZG0Y35Nwb0CJhbdLgwV8TUPcuUMBMauYnEGjTD2iC1xb8RrkFHJpBxa3mqTvLdB7NzbB6OCjGV194va5b-UgJdSTZefeztoKx-EUYv6nu9pmW7WX3DXDAomohdY545WCY/s640/transdiscipl_otrosmundos.jpg" width="523" /></a></i></div>
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<i>Entrevista com </i>Antonio Donato Nobre<i>, cientista do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – CCST/Inpe, conduzida pelo <a href="http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/555083-quando-a-tecnociencia-ve-um-pixel-mas-ignora-a-paisagem-a-agricultura-convencional-mata-o-solo-entrevista-especial-com-antonio-donato-nobre" target="_blank"><strong>IHU On-Line</strong></a></i><br />
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<br /><br /><i><b>IHU On-Line - </b>Quais os impactos da produção agrícola nas mudanças climáticas? Quais os riscos que o modelo do agronegócio (baseado nas grandes propriedades e produção em larga escala de uma só cultura por vez) representa? </i><br /><br /><b>Antonio Donato Nobre </b>- A ocupação desordenada das paisagens produz pesados impactos no funcionamento do sistema de suporte à vida na Terra. A expansão das atividades agrícolas — quase sempre associada à devastação das florestas que têm maior importância na regulação climática — tem consequências que se fazem sentir cada vez mais, e serão devastadoras se não mudarmos a prática da agricultura. <br /><br />A natureza, ao longo de bilhões de anos, evoluiu um sofisticadíssimo sistema vivo de condicionamento do conforto ambiental. Biodiversidade é o outro nome para competência tecnológica na regulação climática. A maior parte da agricultura tecnificada adotada pelo agronegócio é pobre em relação à complexidade natural. Ela elimina de saída a capacidade dos organismos manejados de interferir beneficamente no ambiente, introduzindo desequilíbrios e produzindo danos em muitos níveis.<br />
<br /><br /><i>Como aliar agricultura e pecuária à preservação de florestas e outros ecossistemas? Como o novo Código Florestal brasileiro se insere nesse contexto? </i><br /><br /><b>Antonio Donato Nobre</b> - Extensa literatura científica mostra muitos caminhos para unir com vantagens agricultura, criação de animais e a preservação das florestas e de outros importantes ecossistemas. Esse conhecimento disponível assevera não haver conflito legítimo entre proteção dos ecossistemas e produção agrícola. Muito ao contrário, a melhor ciência demonstra a dependência umbilical da agricultura aos serviços ambientais providos pelos ecossistemas nativos. <br /><br />Em 2012, contrariando a vontade da sociedade, o congresso revogou o código florestal de 1965. A introdução de uma nova lei florestal lasciva e juridicamente confusa já está produzindo efeitos danosos, como aumentos intoleráveis no desmatamento e a eliminação da exigência, ou o estímulo à procrastinação, no que se refere à recuperação de áreas degradadas. Mas a proteção e recuperação de florestas tem direto impacto sobre o regime de chuvas. <br /><br />Incrível, portanto, que a agricultura, atividade que primeiro sofrerá com o clima inóspito que já bate às portas do Brasil, tenha sido justamente aquela que destruiu e continua destruindo os ecossistemas produtores de clima amigo. Enquanto estiver em vigor essa irresponsável e inconstitucional nova lei florestal, a degradação ambiental somente vai piorar.<br />
<br /><br /><i>De que forma o conhecimento mais detalhado sobre as formas de vida, e a relação entre elas, em florestas, como a amazônica, pode inspirar formas mais eficientes de produção de alimentos e, ao mesmo tempo, minimizar impactos ambientais? </i><br /><br /><b>Antonio Donato Nobre</b> - A biomimética é uma nova área da tecnologia que copia e adapta soluções engenhosas encontradas pelos organismos para resolver desafios existenciais. Janine Benyus, a pioneira popularizadora desse saber, antes ignorado, costuma dizer que os designs encontrados na natureza são resultados de 3,8 bilhões de anos de evolução tecnológica. Durante esse tempo, somente subsistiram soluções efetivas e eficazes, que de saída determinaram a superioridade da tecnologia natural. <br /><br />Ora, a agricultura precisa redescobrir a potência sustentável e produtiva que é o manejo inteligente de agroecossistemas inspirados nos ecossistemas naturais, ao invés de se divorciar deste vasto campo de conhecimento e soluções, como fez com seus agrossistemas empobrecidos, envenenados e que exploram organismos geneticamente aberrantes. <br /><br /><i>Qual o papel do solo na “composição da equação do clima” no planeta? Em que medida o desequilíbrio do solo pode influenciar nas mudanças climáticas? </i><br /><br /><b>Antonio Donato Nobre</b> - Microrganismos e plantas têm incrível capacidade para adaptar-se ao substrato, seja solo, sedimento ou mesmo rocha. Essa adaptação gera simultaneamente uma formação e condicionamento do substrato, o que o torna fértil para a vida vicejar ali. O metabolismo dos ecossistemas, incluindo sua relação com o substrato, tem íntima relação com os ciclos globais de elementos químicos. A composição e funcionamento da atmosfera depende, para sua estabilidade dinâmica, portanto, para o conforto e favorecimento da própria vida, do funcionamento ótimo dos ecossistemas naturais. <br /><br />Na equação do clima, os ecossistemas são os órgãos indispensáveis que geram a homeostase ou equilíbrio planetário. A agricultura convencional extermina aquela vida que tem capacidade regulatória, mata o solo, fator chave para sua própria sustentação, e introduz de forma reducionista e irresponsável nutrientes hipersolúveis, substâncias tóxicas desconhecidas da natureza e organismos que podem ser chamados de Frankensteins genéticos. <br /><br />Todos estes insumos tornam as monoculturas do agronegócio sem qualquer função reguladora para o clima, e muito pior, devido à pesada emissão de gases-estufa e perturbações as mais variadas nos ciclos globais de nutrientes, a agricultura tecnificada é extremamente prejudicial para a estabilidade climática.<br />
<br /><br /><i>Desde a perspectiva do antropoceno , como avalia a relação do ser humano com as demais formas de vida do planeta hoje? Qual o papel da tecnologia e da ciência nessa relação? </i><br /><br /><b>Antonio Donato Nobre</b> - Esta nova era foi batizada de antropoceno porque os seres humanos tornaram-se capazes de alterações massivas na delgada película esférica que nos permitiu a existência e nos dá abrigo. O maior drama da ocupação humana do ambiente superficial da Terra é que tal capacidade está destruindo o sistema de suporte à vida, sistema esse dependente 100% de todas demais espécies as quais o ser humano tem massacrado em sua expansão explosiva. <br /><br />Infelizmente, na expansão do antropoceno, o conhecimento científico tem sido apropriado de forma gananciosa por mentes limitadas e arrogantes, e empregado no desenvolvimento sinistro de tecnologias e engenharias que por absoluta ignorância tornaram-se incapazes de valorizar o capital natural da Terra. Este comportamento autodestrutivo tem direta relação com a visão de ganho em curto prazo e a ilusão de poder auferida na aplicação autista de agulhas tecnológicas.<br />
<br /><br /><i>Em que medida a aproximação entre ciência e saberes indígenas pode contribuir para um novo caminho em termos de preservação do planeta e produção de alimentos? </i><br /><br /><b>Antonio Donato Nobre</b> - Cada pesquisador sincero, inteligente e com mente aberta deve reconhecer a máxima milenar da sabedoria socrática: "somente sei que nada sei". O conhecimento verdadeiro e sem limites internos impõe uma postura sóbria e humilde diante da enormidade da complexidade do mundo e da natureza. Hoje, a ciência mais avançada dá inteiro e detalhado suporte ao saber ancestral de sociedades tribais, que perduraram por milênios. Descer do salto alto da arrogância que fermentou graças ao individualismo permitirá reconhecer essa sabedoria básica de sustentabilidade, preservada no saber indígena. <br /><br />Para a ciência, a aprender com o saber nativo está a veneração pela sabedoria da Mãe Terra; a intuição despretensiosa que capta o essencial da complexidade em princípios simples e elegantes; e sua capacidade holística e lúdica de articular a miríade de componentes do ambiente em uma constelação coerente e funcional de elos significativos.<br />
<br /><br /><i>De que forma a tecnociência e a tecnocracia impactam na forma de observar o planeta? O que isso significa para a humanidade? </i><br /><b>Antonio Donato Nobre</b> - A ciência é esta fascinante aventura humana na busca do conhecimento, evoluída aceleradamente a partir do renascimento na Europa. Muitas são suas virtudes e incríveis suas aplicações. No entanto, tais brilhos parecem infelizmente vir acompanhados quase sempre de alucinantes danos colaterais, nem sempre reconhecidos como tal. Na ciência, que gera o conhecimento básico; na tecnologia, que aplica criativamente esse conhecimento; e na engenharia, que transforma conhecimento em realidade, grassa uma anomalia reducionista que permite a hipertrofia de soluções pontuais, desconectadas entre si e do conjunto. <br /><br />Tal abordagem gera soluções autistas que não se comunicam, tumores exuberantes cuja expansão danifica tudo que está em volta. Assim, a tecnociência olha o mundo com um microscópio grudado em seus olhos, vê pixel, mas ignora a paisagem. Abre caminhos para que ânimos restritos se apropriem de conhecimentos parciais e destruam o mundo. É preciso remover os microscópios dos olhos, olhar o conjunto, perceber as conexões e, assim, aplicar o conhecimento de forma sábia e benéfica.<br />
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<br /><i>De que forma conceitos como a Ecologia Integral, presentes na Encíclica <b><a href="https://medium.com/instituto-humanitas-unisinos/laudato-si-sobre-o-cuidado-da-casa-comum-d08ccd9d4dc7#.k1m5ja468">Laudato Si’</a></b> , do papa Francisco, contribuem para o desenvolvimento de uma visão sistêmica do ser humano sobre o planeta? Qual a importância de uma perspectiva multidisciplinar acerca da temática ambiental? </i><br /><br /><b>Antonio Donato Nobre </b>- Ecologia Integral deve significar o que o nome diz. Aliás, se não for integral não pode ser denominada ecologia. Isso porque na natureza não existe isolamento, cada partícula, cada componente, cada organismo e cada sistema interage com os demais, sob o sábio comando das leis fundamentais. Por isso a ação humana pode gerar um acorde harmonioso na grande sinfonia universal, ou — se desrespeitar as leis — tornar-se fonte de perturbação e destruição. <br /><br />Mais importante do que ser multidisciplinar é ser não-disciplinar, isto é, integrar e dissolver as "disciplinas" em um saber amplo e articulado, sem fronteiras artificiais e domínios de egos. A ciência verdadeira é aquela oriunda do livre pensar, do profundo sentir e do intuir espontâneo. A busca da verdade está ao alcance de todas as pessoas, não é nem deveria ser território exclusivo dos iniciados na ciência. Todos somos dotados da capacidade de inquirir e temos como promessa de realização o dom da consciência. Cientistas são facilitadores, e como tal deveriam servir aos semelhantes com boa vontade, iluminando o caminho do conhecimento, guiando na direção do saber.<br />
<br /><br /><i>Como avalia a agroecologia no Brasil hoje? O que a ciência e a tecnologia oferecem em termos de avanços para esse campo? </i><br /><br /><b>Antonio Donato Nobre</b> - Agroecologia, agrofloresta sintrópica, sistemas agroflorestais, agricultura biodinâmica, trofobiose, agricultura orgânica, agricultura sustentável etc. compõem um rico repertório de abordagens que convergem na aspiração de emular em agroecossistemas a riqueza e funcionamento dos ecossistemas naturais. Uma parte dos desenvolvimentos científicos e tecnológicos autistas de até então pode ser aproveitada para essa nova era de agricultura produtiva, iluminada, respeitadora, harmônica e saudável. <br /><br />É preciso, porém, que o isolamento acabe, que os conhecimentos sejam transparentes, integrados, articulados, simplificados e recolocados em perspectiva. Se as agulhas tecnológicas foram danosas, como os transgênicos, por exemplo, ainda assim serão úteis para sabermos o que "não" fazer. Na compreensão em detalhe das bases moleculares da vida, abrindo portais para consciência sobre a complexidade astronômica existente e atuante em todos os organismos, a humanidade terá finalmente a prova irrefutável para o acerto das abordagens holísticas e ecológicas.<br />
<br /><br /><i>Deseja acrescentar algo? </i><br /><br /><b>Antonio Donato Nobre </b>- É preciso iluminar e revelar a imensa teia de mentiras criada em torno da revolução verde com seus exuberantes tumores tecnológicos. As falsidades suportadas por corporações, governos, mídia e educação bitoladora desde a mais tenra idade, implantaram um sistema mundial de dominação que, literalmente, enfia goela abaixo da humanidade um menu infernal de alimentos portadores de doenças. <br /><br />Esse triunfante modelo de negócio não se contenta em somente alimentar mal, o faz via quantidades crescentes de produtos animais, os quais requerem imensas áreas e grandes quantidades de água e outros insumos para serem produzidos. <br /><br />Com isso a pegada humana no planeta torna-se destrutiva e insuportável, e a consequência já se faz sentir no clima como falência múltipla de órgãos. Apesar disso, creio que ainda temos uma pequena chance de evitar o pior se, como humanidade, dermos apoio irrestrito para a busca da verdade. <br /><br />Precisamos de uma operação Lava Jato no campo, e a ciência tem todas as ferramentas para apoiar esse esforço de sobrevivência.<br /><br /> Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-16693439485184490422016-05-13T17:06:00.002-03:002016-05-13T17:06:56.623-03:00Registro para a História - estrutura da sacanagem 2005-2016<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhe47eUYaxMy6stib2k4bNZ7Ip3Z9oPLJGWET74LCummhosAjWWTMIMwj9epn3tu5FYoRBZQR4Pa4cjF4zENBqoBZ2Sc4l_k-QKHS_ghNrvvGCjHKQcNyQbbprDUT9fB1sk7r7LFHWuj6A/s1600/gilmau_monstro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="438" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhe47eUYaxMy6stib2k4bNZ7Ip3Z9oPLJGWET74LCummhosAjWWTMIMwj9epn3tu5FYoRBZQR4Pa4cjF4zENBqoBZ2Sc4l_k-QKHS_ghNrvvGCjHKQcNyQbbprDUT9fB1sk7r7LFHWuj6A/s640/gilmau_monstro.jpg" width="640" /></a></div>
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<i>por Maria Ines Nassif, na <a href="http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/O-golpe-usou-a-toga/4/36105" target="_blank"><b>Carta Maior</b></a></i><br />
<i><b> </b></i><br /><br />A estratégia do golpe institucional, em 2016, com papel ativo do baixo clero do Legislativo e de instâncias judiciárias (o juiz de primeira instância Sérgio Moro e o Supremo Tribunal Federal), e ação publicitária dos meios de comunicação tradicionais (TV Globo e a chamada grande imprensa) começou a ser desenhada em 2005 no chamado Escândalo do Mensalão.<br />
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Um ano antes das eleições presidenciais que dariam mais um mandato ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o país foi sacudido por revelações de que o PT usara dinheiro de caixa dois de empresas para pagar as dívidas das campanhas das eleições municipais do ano anterior, suas e de partidos aliados. O tesoureiro do partido, Delúbio Soares, era o agente do partido junto a empresários e a uma lavanderia que até então operava com o PSDB de Minas, a agência de publicidade DNA, de Marcos Valério. Delúbio tornou-se réu confesso. Outro dirigente do partido, Sílvio Pereira, foi condenado por receber um Land Rover de presente de um empresário. <br /> <br />Em torno do episódio – crime de captação de caixa dois pelo partido que está no governo e recebimento de presentes em troca de favores – se iniciaria a maior ofensiva institucional contra um partido político jamais ocorrida em períodos democráticos do país. Toda a máquina midiática tradicional foi colocada a serviço de provar – com fatos amplificados, versões ou falsificações – que o governo de Lula estava corroído pela corrupção, que o PT aparelhara a máquina pública para auferir ganhos desonestos para o partido ou para os seus aliados, que o governo corrompera os aliados – ironia das ironias, os “corrompidos”, os partidos da base aliada, eram o PMDB, o PTB, o PP, o PR.... – com mesadas para os parlamentares, destinadas a garantir as maiorias em plenário necessárias para aprovar matérias de interesse do Executivo.<br />
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O termo “mensalão” foi criado nessa jogada de marketing, destinada a transformar um escândalo de caixa dois, no qual todos os partidos estavam envolvidos (a lavanderia de Marcos Valério não tinha restrições ideológicas à adesão de qualquer um deles), em um modo peculiar de corrupção do PT, a compra direta do parlamentar, sem que em nenhum momento houvesse sido provado o pagamento regular a deputados e senadores da base aliada. Afinal, o dinheiro da lavanderia de Marcos Valério foi direto para o caixa dois de outros partidos políticos, no período pós-eleições municipais – e o “denunciador” do mensalão, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, chegou a confessar, quando se viu em tribunal, que dinheiro era para pagamento de dívidas de campanha.<br />
<br />Para ser corrupção, todavia, era preciso que se caracterizasse o dinheiro do caixa dois como originário dos cofres públicos. O Ministério Público, então presidido pelo procurador Antônio Fernando de Souza, hoje advogado do deputado tardiamente afastado da presidência da Câmara, Eduardo Cunha, inventaria a ficção de um dinheiro desviado da empresa Visanet pelo diretor de Marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolatto. A Visanet era uma empresa privada, do grupo internacional Visa, e esse dinheiro foi tratado indevidamente como produto de desvios do Banco do Brasil, estatal, num julgamento na maior instância judiciária do país, que não poderia se dar ao luxo de um erro deste tamanho.<br />
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Pizzolatto não tinha autonomia para assinar uma única ação de marketing sozinho. A “prova” que Souza apresentaria contra ele, aceita pelo relator Joaquim Barbosa, do STF, foi assinada por outras três pessoas e submetida a um comitê, e depois à diretoria de um banco – a ação publicitária, ao final, fora autorizada por mais de uma dezena de pessoas. Não existia possibilidade de que Pizzolatto tivesse desviado o dinheiro: para isso, teria que ter mais de dez cúmplices, e ainda assim atuaria sobre dinheiro privado, que não era do Banco do Brasil.<br /> <br />O Supremo Tribunal Federal, nas vésperas da eleição de 2014, julgou midiaticamente o caso e perpetrou barbaridades jurídicas nunca antes vistas na história desse país. O relatório do ministro Joaquim Barbosa transformou um crime de captação de caixa dois em desvio de dinheiro público, e jogou as provas de que o dinheiro definitivamente não havia sido desviado do Banco do Brasil para um inquérito paralelo. Por fim, decretou segredo de Justiça. Sequer os advogados de defesa tiveram acesso a elas. Também não tiveram acesso a provas da origem do dinheiro lavado por Marcos Valério: a transferência de fartos recursos do caixa de um empresário interessado em decisões de governo (que não foram tomadas, inclusive por oposição do ministro José Dirceu, condenado sem provas), repassados aos partidos da base aliada. O empresário em questão chegou a aparecer no início do escândalo na mídia e sumiu como um fantasma das páginas dos jornais e dos inquéritos policiais e judiciais. <br /> <br />Com a opinião pública dominada por uma campanha diária de nove anos, o STF legitimou sua decisão de avalizar as conclusões de Barbosa, acatou o estranho instrumento do “domínio do fato” e, a partir disso, a pretexto de ouvir a voz das ruas, aceitou as barbaridades que seriam praticadas pelo Ministério Público e pela justiça de primeira instância na Operação Lava Jato, nos últimos três anos.<br /> <br />O STF transformou um crime de caixa dois em crime de corrupção, de formação de quadrilha, etc. etc. sem provas. Dos réus que foram condenados, alguns cometeram crimes, mas não os que os levaram para a prisão; outros eram inocentes de quaisquer crimes e foram condenados assim mesmo. Poucos foram condenados por crimes que efetivamente cometeram. A Agência DNA foi punida por atuar como lavanderia do PT e dos partidos aliados, mas tardiamente responsabilizada pelo Mensalão do PSDB (que vai deixar todos os implicados soltos até a prescrição do crime, o mesmo que levou o PT e seus aliados à cadeia). O deputado José Genoíno, então presidente do PT, foi preso por um empréstimo efetivamente feito pelo partido e quitado no prazo estipulado em contrato.<br />
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Dirceu foi eleito o vilão nacional e encarcerado – e de novo encarcerado no Lava Jato – sem nenhuma prova contra si. E Pizzolatto, depois de uma fuga sensacional, amarga cadeia porque, junto com um comitê de dezenas de pessoas, autorizou uma campanha publicitária do Banco do Brasil paga pela Visa Internacional. Alguns membros do mesmo comitê respondem a um processo na primeira instância que está esquecido na gaveta de um juiz da capital federal. <br /> <br />Desde então, o Ministério Público Federal e o Supremo Tribunal Federal se constituem em peças fundamentais nas articulações contra os governos petistas, iniciadas em 2005 e que tiveram desfecho no golpe institucional deste 2016. Eduardo Cunha e Michel Temer não existiriam sem a cumplicidade das duas instituições e a inexplicável ingenuidade do PT: o mesmo partido que em determinado momento se dispôs a jogar com as armas da política tradicional, indo à cata de dinheiro de caixa dois das empresas para financiar campanhas eleitorais, não entendeu a natureza da elite que o financiava, nem a impossibilidade de acordo com a política tradicional e com instituições de vocação conservadora que mantiveram seu perfil conservador e corporativo, apesar de seus membros terem sido majoritariamente escolhidos pelos presidentes petistas.<br />
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O PT não entendeu que jogava as suas fichas, a nível institucional, numa política de conciliação de classes num quadro onde as próprias políticas do governo davam as bases para uma acirrada luta de classes, que se tornou explícita quando o golpe começou a mostrar sua cara. Essa foi uma contradição inerente aos governos petistas.<br />
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Na campanha eleitoral de 2014, a presidenta Dilma Rousseff venceu no segundo turno porque rapidamente as forças de esquerda se articularam em torno dela, em reação à onda de comoção criada pela direita, que se utilizou do clima proporcionado pelo julgamento político levado a termo pelo Supremo Tribunal Federal (STF) poucos meses antes do início do processo eleitoral, no chamado caso do mensalão; e pela entrada em cena do juiz de primeira instância Sérgio Moro que, aproveitando-se das licenças jurídicas a que se permitiu o STF em 2013, fez o seu próprio tribunal político, fechando o cerco ao PT por um esquema de corrupção na Petrobras que – basta ler com atenção as delações premiadas – era enraizado na empresa e mantinha em diretorias protegidos de partidos que estavam aliados aos governos petistas depois de 2002, mas igualmente aos governos anteriores, do PSDB e do PMDB e do governo Collor.<br /> <br />Já são 11 anos de massacre, com armações com grande similaridade.<br />
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O Ministério Público encontra um escândalo qualquer e começa a investigar, considerando provas basicamente de um lado. Sem consistência para pedir um inquérito, vaza os dados para um órgão de imprensa, que os publica como grande escândalo, desconhecendo o fato de que as provas não existem. Imediatamente, a matéria do jornal, baseada em vazamentos do próprio MPF, vira o indício que o MPF usa para pedir ao juiz – a Moro, ou ao STF, ou a algum outro – para abrir o inquérito.<br />
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No caso de Moro, seguem-se prisões sem base legal e coações à delação premiada. Chovem no Youtube reproduções de interrogatórios presididos pelo próprio juiz Moro onde ele deixa claro ao interrogado – normalmente um velho com problemas de saúde -- que será libertado apenas se delatar; e de advogados protestando contra ele por não considerar sequer uma prova apresentada pela defesa antes de condenar um implicado. Nesses vídeos, é claro que Moro está investido da intenção de condenar antes de ouvir a defesa. Para ele, não existem inocentes em um campo político. No outro campo político, suas intenções são dóceis. O justiceiro é bastante permissivo com o campo político da direita.<br /> <br />Nada justifica que um juiz de um tribunal de exceção sobreviva numa democracia com amplos poderes, acima daqueles que a Constituição lhe confere, sem a aquiescência da maior instância judiciária. Moro existe e faz o que quer porque o sistema jurídico está contaminado pelo partidarismo. Moro não existiria sem um Barbosa que o precedesse. Moro não existiria sem o ministro Gilmar Mendes, que impunemente transformou o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em palanques contra os governos do PT. Não existiria sem o ministro Dias Toffoli, que se tornou moleque de recados de Mendes; sem a tibieza das duas ministras mulheres; sem o conservadorismo ideológico de Teori Zavascki (que contamina o seu discernimento jurídico); sem a falsa objetividade jurídica de Celso Melo; sem a frouxidão de Edson Fachin; sem a excessiva timidez de Ricardo Lewandowisk.<br />
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A Justiça não evitou o golpe porque é parte do golpe. O Ministério Público não reagiu ao golpe porque era um dos conspiradores.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-74819225398865496092016-05-03T23:51:00.001-03:002016-05-03T23:51:37.323-03:00Realidade fundiária e estrangeirização de terras no Brasil <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCbhTaG7A9cN-36yCoSzo5dRs9TOPXfT79GbIAxk6qe5M4rEG69M0iFCeppLata2Ngh7ww_R06e-qL9uV2Fp41BMoxGFWu_9e42AXS8ovES8NNstZSTyDDLcApB3hzz-kfwU-t5L-wJzo/s1600/futuro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="548" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCbhTaG7A9cN-36yCoSzo5dRs9TOPXfT79GbIAxk6qe5M4rEG69M0iFCeppLata2Ngh7ww_R06e-qL9uV2Fp41BMoxGFWu_9e42AXS8ovES8NNstZSTyDDLcApB3hzz-kfwU-t5L-wJzo/s640/futuro.jpg" width="640" /></a></div>
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<em>entrevista de Bernardo Mançano Fernandes (*) à Leslie Chaves e Patricia Fachin, do <a href="http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/554368-falta-de-informacoes-sobre-estrutura-fundiaria-e-estrangeirizacao-e-intencional-entrevista-especial-com-bernardo-mancano-fernandes" target="_blank"><b>IHU</b></a></em><br />
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<br /><br />
<i><b>IHU On-Line</b> – Fazendo um balanço histórico dos dados dos relatórios DATALUTA produzidos ao longo de 16 anos, quais mudanças destacaria como mais significativas em relação à composição da estrutura fundiária brasileira? </i><br /><br /><b>Bernardo Mançano Fernandes </b>- É muito difícil analisar as mudanças na estrutura fundiária brasileira porque as duas fontes que temos trazem dados indefinidos. A tabela 6 do relatório DATALUTA mostra que, entre 1998 e 2014, a área das propriedades rurais saltou de 415 para 740 milhões de hectares. E o índice de Gini aumentou de 0.838 para 0.860. Estes números necessitam ser conferidos para que possamos conhecer a verdadeira área dessas propriedades. O <b><a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-arquivadas/27276-ibge-admite-erro-no-censo-agropecuario-recuo-pequeno-na-concentracao-de-terras">censo agropecuário</a></b> de 2006 informa que há uma área de mais de 300 milhões de hectares com outras ocupações, sem definir quais. Quando o Estado não tem informações bem definidas sobre seu território, configura-se uma situação de precariedade dos registros que impede análises mais aprofundadas da questão fundiária e, portanto, da questão agrária. A minha hipótese é que a manutenção desta precariedade é intencional, porque gerar a indefinição é uma forma de impedir o conhecimento mais aprofundado da estrutura fundiária e a criação de políticas de desconcentração da terra. Esta indefinição, com relação ao número real de propriedades e seus usos, produz questões que precisam ser respondidas para que tenhamos controle sobre o território nacional onde estão os territórios ocupados pelo latifúndio, pelo agronegócio, pelo campesinato e as terras em poder do Estado. <br /><br />Por exemplo, por que as experiências de reforma agrária no Brasil não modificaram a estrutura fundiária? Inclusive, alguns estudiosos dizem que não há reforma agrária no Brasil, porque partem do pressuposto que a reforma agrária tem que desconcentrar a estrutura fundiária. Mas esta premissa pode impedir a compreensão num país como o Brasil, que tem uma estrutura fundiária indefinida. O relatório DATALUTA mostra que entre 1979 e 2014 nada menos que 81.950.074 hectares foram destinados à criação de 9.337 assentamentos, onde estão assentadas 1.110.753 famílias. A área total dos assentamentos representa 9,5% do território brasileiro. Há vários fatores que explicam por que este montante não impactou a estrutura fundiária: 1) a maior parte das terras destinadas aos assentamentos é resultado de regularização fundiária e não de desapropriação; 2) a fronteira agrícola ainda está aberta, portanto continua a expansão de áreas agrícolas sobre áreas de florestas; 3) o <b><a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/531269-car-antes-tarde-do-que-nunca">cadastro de terras</a></b> é declaratório e não há fiscalização, o que dificulta saber o quanto representa de fato; 4) o censo agropecuário não conseguiu até o momento captar as áreas reformadas de fato, o que seria uma possibilidade de análise pelos estabelecimentos rurais.<br />
<br /><br /><span style="font-size: large;"><span style="color: #e06666;"><b>Campesinato brasileiro </b></span></span><br /><br />Estes números revelam que nos últimos 35 anos o campesinato brasileiro conquistou mais de 80 milhões de hectares. Não há estudos sobre outros países onde o campesinato tivesse conseguido resultado similar. Isto coloca o Brasil num patamar diferenciado, pois não permitiu a diminuição da participação da agricultura camponesa no desenvolvimento territorial em disputa com o agronegócio. Por meio da luta pela terra, os movimentos socioterritoriais têm mantido o controle territorial em torno de 26% das terras agrícolas. Muito diferente de Argentina e Chile, onde o campesinato foi quase exterminado, onde controlam algo em torno de 5% das terras, ou de Peru, Bolívia e Equador, onde o campesinato indígena controla a maior parte das terras agriculturáveis. <br /><br />Mas o que significa esta conquista no Brasil? Aqui também alguns estudiosos questionam os resultados do desenvolvimento da agricultura camponesa, como por exemplo: produção, renda, tecnologia, etc. O problema desses críticos é que eles usam como referência o modelo do agronegócio, que é hegemônico e controla a política de desenvolvimento no campo em todo o mundo, para analisar o modelo de produção camponês, que não tem estas características. É essencial enfatizar que as corporações transnacionais controlam os governos que não têm autonomia para definir os programas de desenvolvimento agrícola. Resta aos camponeses um papel essencial, mas subalterno. Essencial porque eles produzem os principais alimentos da nossa mesa, mas recebem muito pouco e, portanto, continuam pobres. Mesmo entre os camponeses, a produção também é concentrada, em torno de 15% produzem 80% do valor bruto da produção, enquanto 85% produzem o resto. <br /><br />A situação de pobreza do campesinato como resultado da subalternidade ao mercado capitalista precisa ser superada para o desenvolvimento da agricultura brasileira. Para o desenvolvimento do campesinato, é fundamental construir políticas de formação agroecológica, aproveitando ao máximo as experiências em construção e a ampliação de mercados institucionais, além da criação de cotas do mercado convencional para a agricultura familiar, investimento em pesquisa e tecnologia para agricultura camponesa, criação de infraestrutura, etc. Sem essas condições, a agricultura camponesa continuará subalterna ao agronegócio. Evidente que o agronegócio não tem interesse na superação da subordinação do campesinato, portanto o Estado é a única instituição capaz de criar políticas que garantam a autonomia da agricultura familiar. <br /><br /><i><b>IHU On-Line</b> – Quais são as dimensões das desigualdades socioterritoriais atualmente? Como os movimentos do campo têm se mobilizado? </i><br /><br /><b>Bernardo Mançano Fernandes</b> - As dimensões da desigualdade atingem o desenvolvimento em sua totalidade. Por exemplo, a <b><a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/515770-classe-c-ja-representa-mais-de-35-da-populacao-rural">população rural</a></b> é mais pobre que a urbana, por conseguinte tem menos acesso à educação, saúde, moradia, transporte, infraestrutura, equipamentos, serviços, etc. A inexistência dessas condições está associada a uma compreensão de que para acessá-las é preciso ir para a cidade. Os movimentos do campo têm se mobilizado para mudar esta visão e reivindicam todas as dimensões do desenvolvimento. Para qualificar e aumentar a produção agropecuária, é necessário mais moradias, escolas, universidades, mercados, indústrias, pequenos hospitais, transporte, as condições básicas para a dignidade da população do campo. Mas estes recursos têm que estar no campo para o desenvolvimento territorial rural, reafirmando que o campo não é somente lugar da produção agropecuária, é espaço de vida na sua plenitude, assim como a cidade.<br />
<br /><br /><span style="color: #e06666;"><span style="font-size: large;"><b>Gestão dos interesses </b></span></span><br /><br />Para construir essas condições, o governo precisa ter controle sobre o cadastro da estrutura fundiária, sobre as políticas agropecuárias e criar um conjunto de políticas públicas que atendam todas as dimensões do desenvolvimento territorial. Isso significa uma gestão a partir de interesses mais amplos que os interesses do agronegócio. Construir essa compreensão é fundamental para superar a situação de pobreza dos pequenos agricultores e acelerar a reforma agrária. A falsa compreensão que se tem hoje é que os interesses do agronegócio são os mesmos do campesinato. O agronegócio não é somente uma palavra, é o modelo de desenvolvimento da agricultura capitalista. Os interesses dos camponeses fazem parte de um modelo de desenvolvimento que não inclui a produção monocultora para exportação e tampouco o uso de agrotóxicos. O agronegócio não tem interesse em que as pessoas tenham terra e vivam no campo. Esta condição é vista como situação de atraso. <br /><br />O <b><a href="http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/542336-dossie-abrasco-o-grito-contra-o-silencio-opressivo-do-agronegocio-entrevista-especial-com-fernando-carneiro">agronegócio</a></b> acredita que pode controlar toda a produção agropecuária e eliminar o campesinato. Ele quase eliminou o campesinato em países como a Inglaterra, Argentina e Chile. A eliminação do campesinato significa que a fonte dos alimentos será somente as grandes corporações. Esta condição é inviável. Tanto na Europa como na América do Norte, a população tem se organizado para produzir seu próprio alimento, com qualidade, livre de venenos. Acredito que a disputa pela comida está se tornando tão forte quanto a disputa pela terra. E o agronegócio domina estas duas frentes, mas o campesinato, que não é tão poderoso quanto ele, é capaz de criar outro modelo para se contrapor. Ao mesmo tempo que o agronegócio é poderoso, tem seu ponto fraco em seu próprio modelo de produção: ele não consegue produzir sem o uso intensivo de veneno. E cada vez mais fica refém de seu próprio veneno. A mobilização dos movimentos camponeses tem que ser então pela agroecologia. Este é seu ponto forte. Não há dúvidas que, cada vez mais, a população vai preferir comida saudável do que comida envenenada. <br /><br />Portanto, mesmo com a precariedade de dados e as imensas desigualdades, a perspectiva é positiva, porque tratar da terra e da comida é tratar da vida, do futuro. Temos que fomentar o debate sobre a qualidade de vida, da comida e da terra. Isto é parte da questão agrária. É isto que o capitalismo agrário não quer debater. Porque o agronegócio não consegue produzir comida saudável e acabar com as desigualdades. Estes são temas estranhos a ele. O máximo que o agronegócio pode fazer é explorar o campesinato através da subordinação da produção, como o fumo, a laranja, a soja, a cana, etc. E explora porque o campesinato tem a terra, e o agronegócio não tem interesse em produzir determinadas culturas. Quando controla a terra e tem interesse, o agronegócio verticaliza a produção e elimina o campesinato. <br /><br />A dimensão que está na essência da produção da desigualdade é a renda capitalizada da terra, incorporada pelo capitalismo quando o agricultor vende sua produção para as corporações. Embora esta seja a questão central da desigualdade, os capitalistas não querem debater, porque este processo é da natureza do capitalismo. Logo, não há saída para o campesinato dentro do mercado capitalista. Por esta razão o campesinato vem sendo exterminado lentamente em todo o mundo. Ele resiste, se recria, como é o caso do Brasil, mas continua sendo destruído. A criação de mercados institucionais como o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA e o Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE foi um alento para muitos camponeses brasileiros. Estas políticas tiveram efeito positivo e serviram de inspiração para países da América Latina e África. <br /><br /><i><b>IHU On-Line</b> – De que forma a violência no campo está atrelada à estrutura fundiária brasileira? </i><br /><br /><b>Bernardo Mançano Fernandes</b> - A classe mais atrasada do Brasil é a latifundiária. Mas também é uma das mais poderosas. Uma forma de sua materialização é a <b><a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/550984-odio-e-violencia-contra-indigenas-tem-relacao-com-bancada-ruralista-no-congresso">bancada ruralista</a></b> no Congresso Nacional. Outra expressão foi a União Democrática Ruralista – UDR, que em nome da defesa da propriedade privada articulou recursos que foram utilizados na defesa armada na intensificação dos conflitos fundiários nas décadas de 1980 e 1990. A UDR não morreu, ela está em quarentena e pode ressurgir a qualquer momento. Um país com estrutura fundiária concentrada e aumento das desigualdades tem como resultado a luta pela terra como forma de sobrevivência. Com o crescimento do número de ocupações, aumenta a violência. Temos assim dois tipos de violência: enquanto a renda capitalizada da terra é a forma econômica, a estrutura fundiária concentrada é a forma territorial de violência contra o campesinato. Estou me referindo a diferentes tipos de camponeses, como os posseiros e os sem-terra, que lutam cotidianamente para ter acesso à terra. São eles que estão morrendo na infinita luta pela terra. Embora a concentração da estrutura fundiária seja secular, não se tem construído possibilidades de solução, porque os ruralistas controlam os três poderes. Quando me refiro aos ruralistas, não estou me limitando à classe latifundiária, estou incluindo também a classe capitalista. <br /><br />O agronegócio aliou latifúndio e capital. Uma expressão desta aliança é a <b><a href="http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/539201-depois-da-estagnacao-na-reforma-agraria-indicacao-de-katia-abreu-reforca-opcao-do-governo-dilma-pelo-agronegocio-entrevista-especial-com-gerson-teixeira">Kátia Abreu</a></b> como ministra da Agricultura. Esta coligação começou em meados do século XX nos Estados Unidos e continua se expandido pelo hemisfério Sul, tornando-o um conjunto de repúblicas de commodities: banana, soja, cana-de-açúcar, laranja, etc. A produção de commodities é feita em grande escala com intenso uso de <b><a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/553469-agrotoxicos-o-veneno-que-o-brasil-ainda-te-incentiva-a-consumir">agrotóxico</a></b>, para exportação, denominada secularmente de plantation. É, ao mesmo tempo, uma forma intensiva de exploração dos recursos naturais, como terra, água, florestas, por meio do controle da concentração fundiária e de eliminação dos povos indígenas, quilombolas, camponeses. É uma forma de atrelar a violência da concentração da estrutura fundiária (forma territorial) com a violência do capital (forma econômica). Portanto, não há diferença entre a violência praticada pelo latifúndio e a praticada pelo agronegócio: ambos matam e aniquilam os povos que resistem à sua territorialização. Este processo de desterritorialização dos povos do campo e das florestas está se intensificando em todo o mundo.<br />
<br /><br /><span style="color: #e06666;"><span style="font-size: large;"><b>A questão agrária no século XXI </b></span></span><br /><br />O século XXI trouxe novos elementos da questão agrária: a mudança da matriz energética tem levado à expansão da produção de agrocombustíveis e à crise alimentar. Árabes, chineses, indianos, argentinos e brasileiros se somaram aos norte-americanos e europeus na disputa por territórios no hemisfério Sul para a produção de commodities energéticas, fibras e alimentares. Este processo consolida o modelo do agronegócio que unificou um complexo de sistemas: agrícola, pecuário, industrial, comercial, financeiro, tecnológico e ideológico. Esta consolidação coloca o latifúndio como um aliado fundamental, pois é a base territorial do processo. As terras ociosas tornam-se altamente produtivas no mundo da competitividade e do empreendedorismo. Terras griladas na região do Pontal do Paranapanema, em São Paulo, são usadas para a produção de cana-de-açúcar pela <b><a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-arquivadas/29949-odebrecht-compra-usina-e-cria-gigante-do-etanol">Odebrecht</a></b>, recém chegada ao agronegócio. E denomina a usina de álcool de “Conquista do Pontal”, numa clara provocação ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, que tem atuado na região disputando as terras griladas. <br /><br />Há estudiosos que defendem que não é mais necessário desconcentrar a estrutura fundiária para o desenvolvimento da agricultura, pois o modelo do agronegócio necessita de grandes extensões de terra. Naturaliza-se a concentração da terra na defesa de um projeto de desenvolvimento hegemônico. O poder dos latifundiários e dos empresários capitalistas que fazem parte do agronegócio determina as eleições e as políticas governamentais em todas as escalas. Nos governos Lula e Dilma foram criadas políticas públicas que escaparam a este modelo. Não foi uma concessão do agronegócio, foi uma disputa por modelos de desenvolvimento. A criação de um projeto de desenvolvimento do campesinato, a partir das suas referências e modos de produção, está em construção no Brasil através da Via Campesina e é a principal forma de resistência contra o poder violento do agronegócio. <br /><br /><i><b>IHU On-Line </b>– Neste ano foram incluídos no relatório DATALUTA dados sobre a estrangeirização de terras. Que papel a estrangeirização de terras tem ocupado na estrutura fundiária brasileira? Qual é a importância de inclusão desta categoria no relatório? </i><br /><br /><b>Bernardo Mançano Fernandes</b> - A importância de incluir a categoria estrangeirização no relatório está na necessidade de atualizar os conhecimentos sobre a questão agrária. Quando começamos as pesquisas, em 1998, as ocupações de terra eram a categoria central da questão agrária. Depois fomos incorporando outras categorias, como os movimentos e as manifestações. Estamos pesquisando a estrangeirização há sete anos para conhecer como tem impactado a estrutura fundiária brasileira, mas, como salientamos, não há dados sistematizados para essa análise. Estamos construindo uma metodologia de pesquisa para poder organizar este banco de dados. <br /><br /><b><a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/542560-conglomerados-economicos-compram-vastas-areas-de-terra-apta-para-a-agricultura">Estrangeirização de terra</a></b> não é um processo recente, mas se intensificou a partir da primeira década deste século. Estrangeirização da terra significa o controle de extensões territoriais e seus recursos naturais, por empresas e governos estrangeiros, para a produção de commodities visando atender aos interesses dos investidores em detrimento dos interesses e necessidades da população impactada. É um novo elemento da questão agrária do século XXI. Muitos dos investidores são fundos de pensão de países ricos que procuram reproduzir o capital por meio da produção de commodities. A geração de riqueza para um grupo social de um país rico é feita no território de um país pobre que tem sua população expropriada e ou impedida de usar esse território.<br />
<br /><br /><span style="color: #e06666;"><span style="font-size: large;"><b>Dificuldades </b></span></span><br /><br />A escassez de fontes é o principal desafio para pesquisar a estrangeirização. A metodologia que construímos até o momento permite cadastrar noventa empresas e fundos relacionados, país de origem do capital e as commodities produzidas. É uma aproximação, não temos referências do que esses dados representam do total do processo, porque não há dados que permitam esta análise. Esta escassez de dados é intencional, é uma forma de impedir o conhecimento sobre os fatos. O que implica na soberania do país, evidentemente. Enquanto o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos tem o controle sobre sua estrutura fundiária, nós precisamos consultar o Google. Neste caso o Google tornou-se uma fonte de informações. <br /><br />A Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia publicou carta aberta na qual defende que é preciso “fomentar um processo de planejamento e gestão do território brasileiro que leve em consideração a necessidade de frear o desmonte e o descrédito das bases informacionais dos principais organismos geradores de dados oficiais, a exemplo da cartografia oficial, que está cada vez mais desatualizada e com conflitos institucionais de atribuição. O Google não pode substituir a cartografia de Estado do país continental”. <br /><br />Com o banco de dados que estamos construindo, podemos saber quais são as empresas e onde elas atuam e o número de propriedades, mapeando suas presenças no território nacional. Estas empresas estão comprando ou arrendando terras para produção das seguintes commodities: cana-de-açúcar, monocultivo de árvores, soja e milho. As corporações estão predominantemente na faixa do <b><a href="http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4230&secao=382">bioma do Cerrado</a></b> e já instituíram uma região onde têm intensificado a compra de terras, que é a região do Matopiba, formada por partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. <br /><br /><i><b>IHU On-Line</b> – A estrangeirização de terras contribui para o acirramento das disputas territoriais no campo? De que modo? </i><br /><br /><b>Bernardo Mançano Fernandes</b> - Sim, as disputas territoriais no campo mudaram na última década. Agora além do latifúndio e dos sem-terra, que sempre disputaram as terras, há as corporações comprando terras e expandido a produção de commodities. Há diferentes tipos de conflitos, desde o impedimento ao acesso à terra, pela aquisição por estrangeiros, ao isolamento de comunidades que estão cercadas pelo monocultivo e são atingidas pela pulverização aérea de veneno. Para os governos, em todas as instâncias, aquisição de terras por estrangeiros significa desenvolvimento, enquanto as populações atingidas são um estorvo para a produção de commodities. A violência que estas comunidades sofrem é naturalizada em nome do agronegócio. <br /><br /><i><b>IHU On-Line</b> – Em relação aos históricos movimentos por terra, existem especificidades nas mobilizações de comunidades tradicionais e de pequenos agricultores que lutam por seu território e contra remoções forçadas para a construção de obras de infraestrutura, como as Usinas hidrelétricas? </i><br /><br /><b>Bernardo Mançano Fernandes</b> - Sim, são várias frentes de luta: resistir para não perder a terra e lutar para entrar na terra são formas territoriais de resistência. Este processo está em movimento em todo o Brasil por causa dos megaprojetos que estão sendo construídos. Temos cadastrados 126 movimentos que denominamos de movimentos socioterritoriais porque a sua existência está fundada no território. Os movimentos indígenas foram os que mais cresceram em número de ações em defesa de seus territórios. As lutas por resistência na terra têm crescido, enquanto a luta para entrar na terra tem diminuído. Este fato é resultado da estrangeirização da terra que tem desterritorializado povos indígenas e camponeses e impedido o acesso à terra. <br /><br />Outras frentes de luta são marcadas pelas mobilizações na proposição de políticas públicas para o desenvolvimento territorial. Como não há um plano governamental para os povos do campo e estes ainda não possuem um plano consolidado para o desenvolvimento de seus territórios, as manifestações que registramos revelam a fragmentação e a diversidade das reivindicações: terra, crédito, educação, moradia, infraestrutura, assistência técnica, mercado, tecnologia, etc. <br /><br /><i><b>IHU On-Line</b> – Em que consiste o trabalho da Rede DATALUTA? De que forma seus estudos têm contribuído para o tema da questão fundiária no Brasil? </i><br /><br /><b>Bernardo Mançano Fernandes</b> - A Rede DATALUTA é formada por dez grupos de pesquisa que estão presentes em todas as regiões brasileiras. Também temos projetos de pesquisa em outros países da América Latina, como a Argentina e a Colômbia. Para a manutenção deste banco de dados com diferentes categorias, é necessário o trabalho cotidiano de dezenas de pesquisadores. O trabalho em rede permite atuar em todas as escalas: local, regional, nacional e internacional e congrega pesquisadores de vários níveis: graduação, mestrado e doutorado, promovendo o intercâmbio de experiências e a criação de um método interpretativo sobre o desenvolvimento do campo. Criamos o debate paradigmático para compreender como diferentes métodos de análise possuem visões diferentes sobre o desenvolvimento da agricultura. Os paradigmas da questão agrária e do <b><a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-anteriores/12925-o-capitalismo-agrario-e-a-captura-de-rendas">capitalismo agrário</a></b> dominam os modelos interpretativos em todas as áreas do conhecimento. <br /><br />Os grupos de pesquisa da Rede DATALUTA têm uma posição definida sobre o desenvolvimento do campo, e defendemos a expansão da agricultura camponesa. Entendemos que estes agricultores possuem papel essencial para a produção de alimentos de qualidade e precisam ampliar sua participação nas disputas territoriais e por modelos de desenvolvimento. A hegemonia do agronegócio não se sustenta devido aos problemas que ele mesmo gera: aumento do uso de veneno e das desigualdades sociais. A produção do conhecimento pela Rede DATALUTA é divulgada através da publicação de artigos em revistas nacionais e internacionais, dissertações, teses, boletim DATALUTA (mensal), relatório DATALUTA (anual) e livros que contribuem, por exemplo, para compreender como a questão fundiária está associada a um fundo de pensão americano, cujos beneficiários vivem às custas da expropriação e miséria dos camponeses do hemisfério Sul; que a produção de commodities para exportação aumenta o PIB e a desigualdade, numa política de desenvolvimento dependente. <br /><br />Nossos estudos têm contribuído para mostrar que terra e território não podem ser separados porque os agricultores não existem sem terra e território. Por isso a renda da terra é uma renda territorial e a sua produção impacta na vida das pessoas. Porque as pessoas são territórios. <br /><br /><i><b>IHU On-Line</b> – A partir desses 15 anos de pesquisas sobre os temas ligados à organização fundiária brasileira, que perspectivas traça sobre a situação da questão agrária no país? </i><br /><br /><b>Bernardo Mançano Fernandes</b> – Por meio da publicação anual do relatório DATALUTA e da publicação mensal do boletim DATALUTA, temos acompanhado as mudanças conjunturais da questão agrária. Nossas pesquisas têm demonstrado que a questão agrária não é um problema que possa ser resolvido pelos governos. Quero lembrar que a estrutura fundiária concentrada é um dos componentes da questão agrária, mas há outros mais importantes, como a renda capitalizada da terra, por exemplo. Os governos podem minimizar ou intensificar as desigualdades criadas pela questão agrária através de políticas públicas. <br /><br />Fernando Henrique Cardoso, em seu primeiro governo, minimizou a questão agrária com a criação de assentamentos e de créditos agrícolas, mas no segundo governo intensificou a questão agrária com a <b><a href="http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/15553-a-criminalizacao-dos-movimentos-sociais-entrevista-especial-com-jose-carlos-moreira-da-silva-filho">criminalização da luta pela terra</a></b>. Como sociólogo filiado ao paradigma do capitalismo agrário, Fernando Henrique Cardoso acredita, ainda hoje, que é possível solucionar a questão agrária com a “integração” dos camponeses ao sistema capitalista. Este é um erro comum dos governos que acreditam que o paradigma do capitalismo agrário possa resolver a questão agrária. Não pode, tanto que este paradigma não entende a questão agrária e a nega. Na realidade, “integração” é subordinação e expropriação, que gera conflitualidades. Paradigmas são modelos teóricos interpretativos dos quais pessoas e instituições se utilizam para criar políticas que gerem as relações necessárias para a transformação das realidades. <br /><br />Temos escrito que a questão agrária é um problema estrutural do capitalismo. A produção da questão agrária é da natureza do capitalismo. Por essa razão não há solução, mas a procura permanente por solução pelos movimentos e governos e o avanço do capitalismo fazem com que tenhamos diferentes conjunturas agrárias. Tivemos um avanço na conquista da terra entre 1995 e 2010 e hoje está ocorrendo um refluxo da luta pela terra, com o acirramento da violência e aumento da estrangeirização da terra. Aprendemos nestes 15 anos que o problema agrário não é somente um problema dos camponeses, do capitalismo e do Estado, mas é sim um problema de todos nós. Estamos tratando de modelos de organização da sociedade, do ordenamento territorial, da produção de alimentos e da vida. <br /><br />A sociedade em geral terá de debater qual modelo de desenvolvimento é necessário para o nosso futuro: o agronegócio ou a agroecologia. Estamos convencidos de que eles não são compatíveis e que a conflitualidade é o modo de relação de disputas por território e recursos. Estamos certos de que este debate será feito pelas comunidades urbanas, que podem produzir e fazer parte da produção de alimentos saudáveis, rompendo com a lógica monocultora com uso de veneno, a padronização e artificialização.<br />
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<br /><br />(*) Geografo e doutor em Geografia Humana pela Universidade de
São Paulo – USP. Leciona na Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho – Unesp Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-46853264070434249112016-04-30T09:31:00.000-03:002016-04-30T09:31:00.197-03:00O que está posto: Feitiçaria, golpe e fim de ciclo<i> <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5_m2K_pEmG5A4R7_zWARcft1jT4k4KKthR-Dqj2OOtKHU0ZxcvsBGLV3FjgRDLQ-IcNIt2WBKSwGmZfmjRO6DRcSJmDbuB_zaR84A0dLV47RkmBDnQoUT_gKcq1kCRFIN74dVUBtFCb4/s1600/inferno_1260.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="446" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5_m2K_pEmG5A4R7_zWARcft1jT4k4KKthR-Dqj2OOtKHU0ZxcvsBGLV3FjgRDLQ-IcNIt2WBKSwGmZfmjRO6DRcSJmDbuB_zaR84A0dLV47RkmBDnQoUT_gKcq1kCRFIN74dVUBtFCb4/s640/inferno_1260.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b> Coppo di Marcovaldo</b>, <em>Inferno (1260-70)</em><em><b><br />
</b></em></td></tr>
</tbody></table>
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<i>por Ricardo Cavalcanti-Schiel, no <b>Outras palavras</b></i><br />
<i><b> </b></i><br /><br />O Brasil tem vivido nas últimas semanas uma intensa guerra discursiva. Na noite do último dia 17 teve lugar seu primeiro desenlace. Por impressionantes 25 votos além dos dois terços necessários do plenário, a Câmara dos Deputados aprovou a continuidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que vai agora para o Senado, casa que, conforme a Constituição, tem a “competência privativa” para julgar os presumidos “crimes de responsabilidade” imputados à presidente e destituí-la do cargo em consequência disso. No entanto, trata-se de um julgamento político, no qual o reconhecimento desses “crimes” poderia não demandar una estrita definição jurídica, como recentemente chegou a insinuar o STF, cujo presidente dirigirá a sessão de julgamento do Senado. Disso se trata a guerra discursiva, pois o casuísmo de todo o processo o torna muito próximo de um simples golpe de Estado. <br /><br />Algo similar ocorre em algumas sociedades indígenas, com o fenômeno que os antropólogos chamamos de “acusação de feitiçaria”. Não se trata, nesse caso, de comprovar a feitiçaria em si, como encadeamento causal objetivo, mas, uma vez tomada ela como pacífica, põem-se em movimento outros mecanismos sociais (outros encadeamentos lógicos) que especificarão a figura do feiticeiro, atribuindo-a a alguém em particular, seja por conta de seus defeitos éticos seja simplesmente por conta da fragilidade da sua posição social. A partir daí, vários destinos podem aguardar os eventuais feiticeiros, inclusive (como em uma das sociedades em que trabalhei) sua morte a golpes de facão. A acusação de feitiçaria é quase sempre uma maneira (talvez a mais contundente) de uma sociedade se purgar dos seus fantasmas… e se acomodar com isso. Evidentemente que a ausência de objetividade intrínseca, no caso da acusação de feitiçaria, conspira contra a episteme jurídica moderna, daí a que os ocidentais muitas vezes chamarem procedimentos dessa classe de “medievais”. Mas… e na política? pode-se tudo? inclusive em casos em que se trata de uma irremediável imbricação com a lógica jurídica, da qual um processo qualquer extrai seu próprio fundamento de legalidade? <br /><br />Mais que fragilidade, o governo Dilma parece ter chegado ao ápice da sua nulidade. Sem iniciativa política, encastelado no mito tecnocrata da suficiência da gestão, perdendo-se em iniciativas equivocadas, abraçando programas que traem tudo o que prometeu nas eleições, caçoando, enfim, dos seus próprios eleitores, o atual governo do Partido dos Trabalhadores (PT) não se parece em nada com o programa histórico que alentou essa sigla em suas duas primeiras décadas de existência. Reflexo pálido do “lulismo”, de seu programa de conciliação de classes e de uma inclusão via consumo ― sem mover uma palha nos termos da regulação da cidadania, conforme a lógica pré-existente do privilégio―, o governo Dilma pretendeu ser a governanta de una casa política em processo de ruína, uma vez ido abaixo o boom das commodities. Estabeleceu-se com ministérios provavelmente os mais inexpressivos de toda a história política brasileira e não soube (tanto quanto não quis) estabelecer canais de entendimento, seja com os movimentos sociais seja com os setores produtivos (exceto o agronegócio latifundiário ―para desespero dos ambientalistas e defensores dos direitos indígenas). Para culminar, abraçou toscamente o austericídio neoliberal e lançou o país na maior recessão econômica dos últimos cem anos. <br /><br />Por outro lado, o programa político do lulismo, sua opção maximizada pelo consumo e sua escusação da cidadania por meio da pretensa suficiência dos expedientes assistenciais, engendraram uma forma de antipolítica que esvaziou não apenas a antes pujante mediação organizativa da representação social, como também os valores do coletivo e da participação, em nome do individualismo das “oportunidades”. A miragem do lulismo consistiu na ideia de que a gestão da máquina governativa e seus programas cosméticos de distribuição seriam suficientes para proporcionar uma inclusão social que não precisaria se traduzir em ampliação de direitos e em nos valores de uma sociabilidade não excludente. A miragem do lulismo expressou-se, em último termo, como uma recusa da política, uma recusa da dimensão coletiva e da representação. A reificação da “gestão”, na figura de Dilma Rousseff, é apenas a lapidação lógica dessa miragem. <br /><br />O <a href="http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/blog-na-rede/2014/10/a-vitoria-da-nova-politica-2375.html">resultado</a>, por fim, foi a eleição, junto com o segundo mandato de Dilma, do parlamento mais conservador desde o final da ditadura; um parlamento fragmentado em 28 partidos, mas que, na prática, é dominado por um grupo de 120 deputados pessoalmente fieis ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, inimigo encarniçado da presidente, e sobre quem, há 25 anos, pesam consistentes acusações judiciais por corrupção. A renúncia do PT em fazer política por meio da mobilização social produziu esse mesmo Congresso que no último domingo assestou um pesado golpe contra o mandato da presidente. <br /><br />Ao se absolutizar o processo de impeachment como julgamento político, o que os fatos desse domingo propiciariam seria a caução da absoluta fragilidade do governo no Executivo diante da Câmara ― presumidamente, esta, uma representação mais “capilarizada” da sociedade: os representantes do povo “no varejo”. De maneira que, simbolicamente, o julgamento sobre o mandato da presidente já chegaria ao Senado em condições de desvantagem para ela. Mais uma vez, estamos em plena guerra discursiva: se se trata de uma confrontação de legitimidades ou se se trata de um golpe de força, pura e simplesmente. <br /><br />Se as acusações de feitiçaria prosperam, em parte, por conta da fragilidade daquele sobre quem é posta a carapuça de feiticeiro, por outra parte, a própria feitiçaria precisa ser pressuposta como dada, que é o que torna eficaz e inexorável a imputação. Aqui entra o discurso reducionista e messiânico sobre a corrupção, sua mágica de servir como explicação suficiente e totalizadora para a muita saúva e pouca saúde do país, como também a midiática mágica seletiva de tornar o PT o padrinho da corrupção no Brasil, silenciando, oportuna e concertadamente, sobre a aritmética óbvia que lembraria que a recente Operação Zelotes apurou, sob a forma de sonegação de impostos por bancos e grandes empresas, um desvio de 3 vezes o valor apurado como desvios da Petrobrás, e que o caso Banestado desviou para o exterior, durante os governos FHC (sobretudo em propinas da privatização das teles), entre 15 e 20 vezes o valor apurado no mesmo caso Petrobrás. Não é difícil suspeitar que até hoje as offshores tucanas financiem suas campanhas, comprem fábrica de sorvete e sabe-se lá o que mais. <br /><br />No que respeita à guerra discursiva, o esforço da direita por caracterizar, a posteriori, as manobras de compensação orçamentária do Executivo federal, usualmente praticadas pelos governos anteriores, como crime, consumando uma tentativa de retroatividade legal, impossibilita que, objetivamente, se reconheça a existência de crime de responsabilidade. Juridicamente, ninguém comete crime quando não existe reconhecimento legal do crime. A retroatividade da lei foi um recurso largamente utilizado pelo Estado nazista para culpabilizar tanto os seus indesejáveis quanto a resistência dos países ocupados, como nos lembra Costa-Gavras no clássico “Sessão Especial de Justiça” (1975). Nossos ilustres deputados, no dantesco espetáculo de mediocridade proporcionado no domingo, recusaram-se a sustentar seus votos sobre qualquer argumento processualmente objetivo. Tratava-se apenas de manejar os códigos de uma acusação de feitiçaria, na qual, curiosamente, “Deus”, tal como em processos análogos séculos atrás, foi chamado a ser um dos principais partícipes. Torna-se bastante óbvio que o processo de impeachment, sobre as bases em que se desenrola, configura um golpe de força por parte da direita, a saber, tão apenas um golpe de Estado. <br /><br />Nessa guerra, o argumento da defesa da democracia animou a oposição ao impeachment a ocupar um patamar discursivo mais universal, o da defesa de princípios elementares da convivência política, congregando toda a esquerda e a cidadania íntegra, e recusando o particularismo de uma estrita defesa do “governo Dilma” (ainda que muitos petistas, tão empedernidos quanto obtusos, assim o queiram entender); governo que hoje, claramente e por todos os seus méritos, não é defensável senão por algo como 9% da população. <br /><br />A direita, como sempre, não está nem um pouco preocupada com esses escrúpulos. Como é usual, quando se trata da lógica do privilegio, os caprichos oligárquicos não se pautam por outra coisa senão… seus caprichos mesmos. Essa sempre foi sua pragmática implacável. Aplicá-la nunca foi uma questão de necessidade ou de sobrevivência, mas meramente uma questão de oportunidade. Os governos do PT sempre estiveram cegos para isso; foram tão arrogantes em suas ingênuas verdades “republicanas” que desprezaram irresponsavelmente o inimigo. Neste momento, com seus recursos institucionais, econômicos e midiáticos, é a direita que está na dianteira. Mas a eficácia da acusação de feitiçaria que ela arremeteu não seria possível sem um Congresso venal e cínico e, sobre tudo, sem os erros e a recusa da política por parte do lulismo e da tecnocracia autoritária de Dilma Rousseff. <br /><br />É possível que o eventual (e até provável) impeachment de Dilma, dada a crescentemente flagrante ilegitimidade desse processo (aí incluída sua repercussão na imprensa internacional), acabe, por ironia, por colocar Lula, o patrimônio carismático maior do PT, em excelentes condições para fazer frente às próximas eleições presidenciais, caso não seja antes alcançado pela caçada judicial que já se espera que a direita lançará contra ele. Não obstante, a novidade de tudo isso é que, por conta do seu crônico esgotamento político, o PT se mostre incapaz de capitalizar a indignação gerada no âmbito dessa guerra discursiva, exatamente no patamar mais universal em que agora está posta ― tal como outrora, na década de 80, pôde fazê-lo ―; uma indignação que vem também lastreada como reação ao discurso de ódio propalado pela direita, a mesma que deixou escapar seus mais íntimos fantasmas: aqueles que têm como fantasia erótica dar cabo de todos os feiticeiros esquerdistas a golpes de facão. <br /><br />A esperança que resta ao PT, portanto, parece ser, cada vez mais exclusivamente, Lula; o que dobraria a aposta e a expectativa em um populismo tout court. Ou então, o que se poderia vislumbrar, a partir da esquerda, seria o começo da gestação de algo para além do progressismo petista, tal como ele se instalou, e que não parece, na atual conformação de referências, de forma alguma representado por um insípido marinismo oportunista que se basta em permanecer à espreita, alheio à guerra discursiva e às contingências que ela instaura. <br /><br />Por diferentes meios e diferentes modos, o progressismo latino-americano parece estar em refluxo nos espaços de governo (não necessariamente equivalentes a espaços do poder) que vem ocupando no continente, seja através de eleições, golpes parlamentares ou crises intermináveis. O que parece comum a todos os casos não é a existência ou legitimidade de projetos alternativos ― a direita, de sua parte, não tem outra alternativa que não reinstaurar a plenitude institucional e regulatória da lógica do privilegio ―, mas sim os impasses a que conduziram suas próprias insuficiências.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6053319663060930694.post-39014412993056012252016-04-26T10:47:00.001-03:002016-04-26T11:30:22.170-03:00O conto da franquia na internet fixa<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCngWUXh0XnokkKT4dNF7nLXjy6Qnn3Emvza5uML91Ygy1RNvoRSSyzz0bga4VlIjepWUyYWuNjRFhqnakNiuzhNJq_9bBcYppGGQGawRu3hfghXa7IEFDYr7GKf67Qha5NA0R1p2zp_Y/s1600/internet-of-things.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCngWUXh0XnokkKT4dNF7nLXjy6Qnn3Emvza5uML91Ygy1RNvoRSSyzz0bga4VlIjepWUyYWuNjRFhqnakNiuzhNJq_9bBcYppGGQGawRu3hfghXa7IEFDYr7GKf67Qha5NA0R1p2zp_Y/s1600/internet-of-things.png" /></a></div>
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<i>por Daniel Caetano, <a href="http://www.caetano.eng.br/pecado/showpost.php?post=1028" target="_blank"><b>em seu blog </b></a></i><br />
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Há um bom tempo sabemos que a qualidade do acesso à Internet oferecido no Brasil - como a da maioria dos serviços, públicos ou privados - é sofrível quando comparada à de outros países do mundo <b><span style="color: #e06666;">[1]</span></b>. E, também como sempre, o preço é totalmente "fora da casinha". Para agravar a situação, os "provedores de acesso à internet" vieram agora com a ideia da "franquia de dados" <span style="color: #e06666;"><b>[2]</b></span>, um conceito importado da telefonia que, na cabeça dos burocratas, parece fazer todo o sentido. Mas não faz. E eu me proponho a explicar aqui, por A + B, porque não faz. Mas vamos começar do começo.<br />
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<b>Um Breve Histórico </b><br />
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O acesso a Internet no Brasil sempre foi sofrível: lento e com pouca penetração. Acesso à Internet um pouco mais rápido, só nos grandes centros urbanos e a preços irreais <b><span style="color: #e06666;">[3]</span></b>. <br />
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Tendo em mente a importância da Internet para o desenvolvimento social, cultural e econômico do país - já que a rede já é uma das principais infraestruturas de oferecimento de serviços e comércio do país - tem havido incentivo pesado na expansão da rede, seja por meio de isenções tributárias na "banda larga popular" e equipamentos de acesso, seja por meio de empréstimos subsidiados para a construção de infraestrutura <span style="color: #e06666;"><b>[4]</b></span>. <br />
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A fim de que tais medidas de renúncia fiscal façam sentido para a sociedade, as mesmas vieram acompanhadas de exigências com relação às empresas que vendem o "acesso à internet". Uma das principais exigências foi a melhoria entre a "velocidade contratada" e "velocidade garantida" <span style="color: #e06666;"><b>[5]</b></span>. Quem não se lembra de assinar Internet de "10 megabits por segundo" e descobrir que, no contrato, apenas 10% dessa velocidade (1 megabit por segundo) era garantido? É praticamente um gato por lebre, não é? <br />
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Pois bem. É isso que a exigência legal atacou, obrigando que esse porcentual garantido fosse sendo elevado gradativamente até que, em algum momento no futuro, você pudesse comprar gato e levar gato (ou comprar lebre e levar lebre). As empresas reclamaram, com o argumento de que é inviável, tecnicamente, vender o serviço com a garantia exigida. Será que elas têm razão?<br />
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<b>Os limites do acesso à Internet </b><br />
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Observando que em outros países as empresas conseguem entregar o que vendem, percebe-se, de saída, que tem algo errado com a reclamação das empresas. Na realidade, o que ocorre é que elas querem fazer marketing de enganação e vender mais do que são capazes. Para entender isso, é preciso antes entender o que limita a conexão à Internet, isto é, porque não podemos ter Internet com velocidade infinita. <br />
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Sem entrar em detalhes muito técnicos, existe um limite físico para a transferência de dados entre dois pontos. Esse limite está relacionado à velocidade com que os elétrons transitam no fio de cobre (cabo UTP), a luz em uma fibra óptica ou as ondas eletromagnéticas no ar (wi-fi), além da própria técnica de codificação de informações (para entender, uma analogia simples: um ideograma japonês "codifica" uma "ideia" com um único símbolo, ao passo que, em português, o "código" para a mesma "ideia" usa vários símbolos, gastando muito mais papel) <span style="color: #e06666;"><b>[6]</b></span>. <br />
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Dado esse limite físico, um determinado conjunto de cabos, seja de cobre ou fibra, tem um limite físico de transferência, ou seja, quantos mega ou gigabytes por segundo ele consegue transmitir. Essa infraestrutura pode ser compartilhada com vários usuários simultaneamente - mais uma vez, não vou entrar em aspectos técnicos aqui - mas, grosso modo, é como uma rodovia: existe um limite de carros que podem passar lá por hora, mas podem passar ao mesmo tempo carros de várias pessoas. <br />
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Como a infraestrutura de rede é a única limitação significativa com relação à qualidade de serviço e sua expansão tem um custo relativamente alto, é exatamente o compartilhamento da infraestrutura que permite que o preço do serviço, para os usuários comuns, possa ser menor. Para deixar mais claro como funciona o compartilhamento, nada melhor que um exemplo prático.<br />
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<b>Compartilhando uma Conexão </b><br />
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Digamos, simplificadamente e a título de exemplo, que uma empresa tenha uma infraestrutura que consegue transferir 100 megabits por segundo. Dentre as diversas possibilidades de negócio, uma das formas de vender acesso seria dividir essa conexão única em 10 conexões virtuais de 10 megabits por segundo e vender cada uma delas para um cliente, totalizando 10 clientes. Nesse panorama, cada usuário teria uma conexão de 10 megabits por segundo que poderia ser usada por 24 horas por dia. Vamos chamar esses "10 megabits por segundo" de "banda". <br />
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Uma empresa resolve adotar esse modelo, mas, depois de alguns meses, ela descobre que muito raramente há mais de 1 cliente conectado simultaneamente. Isso significa que essa empresa, então, está com sua infraestrutura ociosa: na esmagadora maioria do tempo ela tem uma banda de 90 megabits por segundo "sobrando". <br />
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Inicialmente ela pensa: "bem, eu poderia vender para 100 pessoas, então, para que tivéssemos até 10 pessoas simultâneas!", mas os engenheiros avisam: "não dá... se a média de acesso for excedida e as 100 pessoas acessarem simultaneamente, não conseguiremos atender a taxa de 10 megabit por segundo para cada cliente!". <br />
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O gestor tem, então, uma ideia brilhante: "vamos vender, então, para 100 pessoas". E o engenheiro fala: "E como vamos resolver o problema?" e o gestor diz: "Vamos dizer que vendemos uma Internet de 10 megabits por segundo, mas, no contrato, iremos garantir só 10% desse valor, ou seja, 1 megabit por segundo". Cem pessoas, 1 megabit por segundo por pessoa, totaliza 100 megabits por segundo. <br />
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Como a "banda" só é consumida quando efetivamente há troca de dados - o simples fato de estar conectado não consome praticamente nada. Enquanto a troca de dados era pequena - páginas web compostas por textos e fotos em baixa resolução - a ideia funcionou e a maioria das pessoas tinha a impressão de realmente estar com um acesso de 10 megabits por segundo, mesmo quando há mais de 10 pessoas conectadas simultaneamente. <br />
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Ainda assim, considerando que os contratos são do tipo "adesão" e que, culturalmente, a grande maioria das pessoas não lê esses contratos, a prática acaba por induzir o cliente ao erro, a levar gato por lebre, configurando uma espécie de "conto do vigário". No código penal, isso se assemelha ao que é descrito no artigo 171, o famoso "estelionato", onde está claramente expressa a situação em que o agente induz ao erro mediante artifício ou ardil. <br />
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Foi exatamente por isso que uma legislação foi criada para regular esse aspecto e, ao ampliar a velocidade garantida com relação à velocidade contratada6, obrigou também as empresas a ampliar sua infraestrutura. Isso custa dinheiro, é verdade... Mas se é possível oferecer o serviço corretamente vendido a um bom preço em outros países, como aqui, mesmo com todos os incentivos, não seria possível? É claro que é, mas essa choradeira tem nome: "lucro Brasil", isto é, as empresas, no Brasil, exigem uma lucratividade muito maior que em outros lugares do mundo para se considerarem "rentáveis". Além disso, a meta, em geral, não é "lucrar o máximo possível", mas "lucrar o máximo possível com o mínimo investimento", já que essa segunda abordagem reduz significativamente os riscos do negócio. <br />
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De qualquer maneira, o fato é que, por força da lei e pressão popular, as empresas passaram a ter que se adaptar a isso. Mas elas "revidaram".<br />
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<b>A "Modulação" de Tráfego (<i>Traffic Shaping</i>)</b> <br />
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Com o passar do tempo e a evolução da sociedade moderna, o uso da rede cresceu. Tudo passou a usar a rede, que se tornou universal e onipresente. As pessoas passaram a trocar arquivos de música, fotos, assistir vídeos... tudo pela Internet. E, para garantir a banda necessária, isso obviamente exigiu - e exige - investimento por parte das empresas. E investimentos significam mais riscos e reduções, ainda que temporárias, nas margens de lucro. <br />
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Assim, na visão das empresas, algo precisava ser feito. E elas começaram a preparar novas estratégias: limitar o acesso a certos serviços, grandes consumidores de banda, como P2P, streamingde áudio e vídeo (YouTube e NetFlix, por exemplo). Essa limitação poderia se dar de duas formas: por meio de restrição de velocidade ou pela limitação completa desse acesso, o que chamaram, eufemisticamente, de "modulação de acesso" ou "modulação de tráfego" <span style="color: #e06666;"><b>[7]</b></span>. <br />
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Na prática, significaria impedir o usuário de acessar os serviços, de maneira que ficasse menos custoso, para as empresas provedoras, oferecer uma conexão "mais rápida". Pense assim: se você impedir que caminhões e ônibus passem por uma estrada, ela vai ficar menos cheia. No entanto, muitos produtos deixarão de ser entregues nas cidades cujo acesso é feito por essa estrada, limitando o acesso aos produtos por parte da população e limitando o mercado dos fornecedores dos produtos. <br />
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Ocorre que, mais uma vez, a legislação - o Marco Civil da Internet <b><span style="color: #e06666;">[8]</span></b> - impediu as empresas de adotar esse esquema, com a imposição de um "direito" que ficou conhecido como neutralidade da rede<b><span style="color: #e06666;"> [9]</span></b>, isto é, todos os serviços devem estar igualmente disponíveis a todos os usuários que compartilham uma conexão, ainda que cada um deles tenha diferentes limitações de bandas contratadas. Adicionalmente, quando houver muitos usuários conectados, por esse princípio, não é permitido que "quem paga mais tenha menos restrição", ou seja, se tem gente demais usando a conexão, ela ficará igualmente ruim para todos. <br />
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A neutralidade, indiretamente, também impediu outra "estratégia" das empresas provedoras de acesso à internet: elas queriam cobrar do YouTube, NetFlix, Google, Facebook... para que você pudesse usá-los, sob a alegação que o negócio dessas empresas gera muito tráfego de dados e oneram o sistema. Essa justificativa é absolutamente sem sentido e de completa má fé por duas razões:<br />
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a) as empresas que prestam esses serviços (YouTube, NetFlix etc.) já pagam uma infraestrutura monstruosa para ter seus servidores online;<br />
b) significaria que as empresas provedoras de acesso estariam "punindo" outras empresas por tornarem o acesso à Internet útil.<br />
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Isso é tão absurdo quanto a Rede Globo querer cobrar da Warner Bros para passar um filme dessa produtora (ao invés de pagar por ele). Ou, por exemplo, como se a Petrobrás, diante das dificuldades financeiras atuais, quisesse cobrar das montadoras de veículos porque "os carros consumem muita gasolina". <br />
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Bem, o fato é que o Marco Civil da Internet veio justamente para impedir que as empresas sacaneiem o consumidor; nesse quadro, era esperado que as empresas se resignassem a vender o serviço com a qualidade que, de fato, possam entregar... e fim da história. Mas não se resignaram. E, agora, voltaram com toda a força.<br />
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<b>A Origem da Franquia de Internet </b><br />
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Há muito tempo algumas empresas - oriundas de serviços como telefonia - inserem cláusulas em seus contratos <b><span style="color: #e06666;">[10]</span></b> indicando uma "franquia", isto é, um limite máximo de dados que pode ser transferido em um mês; se o usuário superar aquele limite, ele terá seu acesso suspenso, limitado ou, no mínimo, terá que pagar um valor adicional. <br />
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O argumento das empresas - e defendido pela ANATEL - é que se temos franquia na telefonia, podemos ter na Internet. Mas antes de a aceitarmos para a Internet, vamos ver de onde ela vem? <br />
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Embora não envolva um consumo significativo de recursos, a telefonia fixa começou com um sistema analógico, que envolvia um limite físico de conexões simultâneas <b><span style="color: #e06666;">[11]</span></b>: ainda que falar ao telefone não "consumisse" conexões, elas ficavam bloqueadas durante a conversa e, por consequência, não era possível que todos pudessem conversar ao mesmo tempo - algo parecido com a Internet, mas não igual. E por que não é igual? <br />
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Imaginemos que um sistema de telefonia analógico antigo fosse capaz de 10 conexões. Por característica da tecnologia, essas conexões não são compartilháveis. Isso significa que se 20 pessoas estiverem conversando (10 ligações), quando a 21ª pessoa tentar pegar o telefone, o mesmo indicará, com o som característico, que todas as conexões estão ocupadas. <br />
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Diferentemente do que ocorre com a tecnologia digital da Internet, não era possível, na telefonia analógica, que mais de 10 ligações fossem feitas com as 10 conexões, nem baixando a qualidade. Simplesmente não era possível. Sendo assim, para evitar que as pessoas ficassem "penduradas" no telefone, o governo estabelecia um "limite razoável" de tempo que as pessoas deveriam usar por mês e esse total era vendido como um "pacote mensal", a um preço bastante baixo por minuto, na forma de "assinatura" (ou franquia). O que a pessoa usasse além dessa franquia, custaria muito caro. <br />
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Essa franquia garantia que as pessoas não ficassem "penduradas" no telefone pois, caso precisassem ligar, gostariam de poder fazê-lo sem ter que gastar uma grana preta. Em outras palavras, manteria o sistema ocioso a maior parte do tempo possível, para evitar que quando alguém fosse usar, ele estivesse ocupado. Além disso, essa estratégia permitia que as empresas de telefonia tivessem um fluxo contínuo de recursos (as assinaturas), mesmo que as pessoas não usassem efetivamente a linha.<br />
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<b>A Farsa da Franquia de Internet </b><br />
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Se na telefonia a franquia consistia em limitar o número de minutos que o cliente poderia usar o telefone pagando um valor baixo, no caso da Internet a franquia consiste em limitar a quantidade de dados que o cliente pode transmitir ou receber pela rede; isso significa que, após assistir a uma quantidade de vídeos no YouTube ou NetFlix, ela não poderia mais assistir a vídeos ou transferir arquivos, seja porque sua conexão foi cortada ou porque a velocidade foi reduzida de maneira a dificultar a transferência de dados. <br />
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No entanto, essa medida é discutível no que tange ao acesso à Internet. Observe: diferentemente do que ocorria com o telefone, na Internet a qualidade da conexão é variável e a velocidade de conexão cai automaticamente se há muitos usuários simultâneos <span style="color: #e06666;"><b>[12]</b></span>. O caminho para manter a qualidade/velocidade boa para todos é muito simples: se a empresa não consegue atender 100 clientes, cada um deles usando 10 megabits por segundo, ela deveria vender menos megabits por segundo para cada cliente e o problema estaria resolvido, sem franquia. Como em qualquer negócio, não faz sentido vender o que não se pode entregar. <br />
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Ocorre que as empresas no Brasil já se acostumaram a vender "velocidade eventual" ao invés de "velocidade real". Isto é: eles "vendem" uma velocidade que você só consegue atingir se não tiver mais ninguém usando a Internet com você... o que, convenhamos, com as novas tecnologias, é praticamente impossível de se manter. <br />
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Como as empresas não podem modular o acesso e nem entregar muito menos velocidade do que o contratado... a estratégia foi inventar um meio artificial para que as pessoas queiram evitar usar a Internet - e observe a bizarrice: você quer vender um produto já amarrado a uma estratégia para o usuário não usar esse produto. <br />
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Curiosamente, o modelo da franquia serve como uma luva para essa necessidade. Vejamos como se dá o estelionato, nesse caso. <br />
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Uma empresa quer oferecer apenas 1 megabit por segundo, mas quer fazer propaganda que entrega 10 megabit por segundo. O que ela faz, então, já que para isso funcionar tem que manter seus usuários afastados da Internet? Simples: se o usuário ficasse conectado o tempo todo a 10 megabits por segundo, ele poderia transferir 3.160 gigabytes em um mês; se, por outro lado, ele fizesse o que a empresa quer, ou seja, usasse 1 megabit por segundo, ele iria transferir, no mês todo, cerca de 316 gigabytes. Então... o que a empresa faz? No contrato e na propaganda ela coloca, em letras garrafais: 10 megabits por segundo, mas, ao mesmo tempo, coloca uma franquia de 300 gigabytes para um mês - um valor que o usuário, em geral, não sabe avaliar se é pouco ou muito. Na prática, no entanto, isso significa que, se esse usuário de fato usar os 10 megabits por segundo, ele só vai poder usar a conexão por 3 dias! <br />
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Aí o usuário continua lendo o contrato e descobre que a empresa é muito boazinha: ela não vai cortar a internet dele quando a franquia acabar. Depois de acabar a franquia, a conexão só vai cair para 1 megabit por segundo! <br />
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Dessa maneira, eu driblo a lei que impede a empresa de vender gato por lebre e ela vende... gato por lebre! <br />
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Mas não fique feliz: é ainda pior. A maioria das empresas, para uma conexão dessas, coloca franquias ainda mais ridículas, como 8 ou 20 gigabytes... e a velocidade, após o fim da franquia, acaba sendo de uma pequena fração de megabit por segundo.<br />
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<b>Os Falsos Dilemas </b><br />
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A ANATEL vem alegando que "a Internet poderia ser cobrada como água e luz, sem franquia, mas que isso ia causar uma conta enorme no fim do mês, prejudicando os clientes"<b><span style="color: #e06666;"> [13]</span></b>. Além de ignorar que água e luz possuem franquia - o pagamento mínimo - essa afirmação é uma falácia tão grande que só pode ter duas explicações: completa inépcia ou profunda má fé. <br />
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De maneira totalmente diferente da água e luz, quando se usa a rede não há consumo significativo de recursos, salvo o irrisório consumo de energia elétrica para alimentar os sistemas. Sendo assim,não há pelo quê cobrar uma fortuna, se não pelo "aluguel" da própria infraestrutura. <br />
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Assim como quando se aluga um apartamento, a pessoa procura um que esteja dentro de suas posses e o aluga. Há apartamentos melhores, maiores... e há os piores e mais apertados. Existe ainda, sempre, a possibilidade de ter um apartamento melhor compartilhado na forma de uma república. Em um mercado capitalista, feliz ou infelizmente, esses mesmos conceitos se aplicam - ou deveriam se aplicar - à Internet. <br />
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Desta forma, deve estar disponível no mercado uma ampla gama de alternativas, com preços justos com relação ao que é oferecido. A formação de um cartel que obriga o usuário a conviver com uma limitação grosseira - ou ter de pagar um preço irreal para eliminar essa limitação - é um abuso intolerável. Estamos falando de um serviço essencial ao desenvolvimento do país e de seus cidadãos, e que já não pode mais ser tratado como algo supérfluo. <br />
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Sugestões da ANATEL como "procurar usar jogos que não usem a Internet" <span style="color: #e06666;"><b>[14]</b></span>, assim como sugestões similares que possam ser feitas - "compre DVDs e Blu Rays" ou "Vejam a Rede Goebbels de Televisão" - são tacanhas, obscurantistas até, e tentam não apenas atrasar o progresso, mas causar retrocesso. São sugestões absurdas, como se uma cidade como São Paulo, Rio de Janeiro ou Brasília não tivesse densidade de usuários de Internet suficiente para custear a infraestrutura. Mesmo com todos os subsídios governamentais. E a despeito de todos os exemplos em dezenas e dezenas de países do mundo que demonstram claramente o contrário.<br />
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<b>As Soluções </b><br />
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Não dá para negar que o "uso da Internet para tudo" impõe desafios às empresas. A demanda de transferência de dados tem crescido muito e, além do tráfego legítimo, também existe o tráfego dispensável - olá você, que já baixou uns 300 anos de músicas e filmes - e certa racionalização é necessária. Essa racionalização tem, de fato, feito com que exista certa tendência, na maior parte dos países, de haver algum limite de transferência de dados - ou seja, a malfadada franquia <span style="color: #e06666;"><b>[15]</b></span>. No entanto, um advento para promover racionalização não pode restringir o uso normal. Da mesma forma que não é razoável que todo mundo resolva fazer download na velocidade máxima 24 horas por dia, também não é admissível que se estabeleça uma franquia que impeça uma pessoa de usar a Internet normalmente - ao ponto de ouvirmos sugestões escabrosas como as propostas pela ANATEL. <br />
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Nos outros países em que é possível observar a existência de franquia, via de regra ela é muito mais generosa, mesmo considerando a telefonia celular - cuja infraestrutura costuma ser bem mais cara que a Internet "fixa". E, ainda assim, não se ouve falar de "cortar a conexão", mas sim da velocidade ser limitada a um valor mais baixo, mas ainda satisfatório para a maioria das funcionalidades. De qualquer forma, o que se observa nesses países é o uso da franquia como uma forma de coibir abusos - pessoas ou empresas que deveriam contratar uma conexão dedicada, mas contrataram uma conexão compartilhada. No entanto, para atingir esse nível de qualidade, é necessário que as empresas invistam em infraestrutura. <br />
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O fato é que, infelizmente, as empresas não estão interessadas em investir. Elas agem como uma concessionária de rodovia que, tendo construído uma estrada de faixa simples, passe a cobrar um pedágio absurdo "porque tem muita gente querendo usar a rodovia", mas jamais pense em ampliar o número de faixas. É uma situação insustentável e, pelo andar da carruagem, vai exigir ainda mais intervenção estatal - o que, em geral, não é bom... a não ser quando as empresas agem com a má fé que estamos testemunhando. <br />
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A única solução significa investimento. Investimento significa custo e, principalmente, tempo. E até lá? <br />
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Até lá as empresas precisam parar de vender sonhos. Se uma empresa não pode vender 10 megabits por segundo, venda apenas o que pode entregar. Na prática, seria uma questão de adaptar o discurso ao serviço que realmente é prestado. <br />
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Hoje se vende "conexão de 15 megabits por segundo com franquia de 80 gigabytes"... mas o que se entrega é "conexão de 0,25 megabit por segundo que, quando houver poucos usuários, pode chegar a 15 megabits por segundo" ou 16. Afinal, se você fizer as contas, verá que, em um mês, consumindo continuamente 0,25 megabit por segundo, você fará um download de 80 gigabytes! <br />
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Obviamente as empresas não querem essa mudança de discurso, pois isso mostraria o quão precário é o serviço que prestam, a um preço exorbitante - para se ter uma ideia, o plano citado no parágrafo anterior não sai por menos de R$ 90,00 <span style="color: #e06666;"><b>[16]</b></span>! <br />
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Considerando os preços e condições praticados internacionalmente, a franquia só faz sentido para coibir abusos ou para oferecer planos muito mais baratos que os atuais, visando pessoas que fazem uso eventual da Internet - muitos idosos, por exemplo. Os preços cobrados hoje, no Brasil, ao serem comparados com o de outros países, são altos até mesmo para a velocidade cheia e sem nenhum tipo de franquia. Querer impor franquia, com os valores e garantias hoje existentes, só mostra uma profunda falta de visão e desconexão do empresariado com a realidade. <br />
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É exatamente por essa razão que os "provedores de acesso à Internet" se associaram às empresas de telecomunicações, como emissoras de TV e TV a Cabo - que tem um gigantesco poder sobre os políticos e estão perdendo suas audiências para serviços mais modernos e práticos com o NetFlix <b><span style="color: #e06666;">[17]</span></b> e YouTube - para tentar impor esse modelo antiquado, lesivo ao usuário e, para piorar, que promove o atraso generalizado. <br />
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O desenvolvimento de nossa sociedade não pode ser amarrado por empresas anacrônicas como emissoras de TV aberta ou fechada. Que se adaptem à modernidade, que mudem de ramo ou que fechem suas portas. Não existe mais espaço para exigir que as pessoas aguardem acabar a "novela das oito" para assistir a um filme de quatro anos atrás; não existe mais espaço para obrigar artistas a pagarem produtoras e caríssimas distribuições físicas de CDs e DVDs; não existe mais espaço para que as pessoas sejam impedidas de fazer home office quando necessário. <br />
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A evolução é inexorável e a sociedade se recusará a retroceder à realidade do século XX. <br />
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<span style="font-size: large;"><span style="color: #e06666;"><b>[NOTAS]</b></span></span><br />
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1) Não acredite em mim... analise o <b><a href="http://veja.abril.com.br/blog/impavido-colosso/brasil-e-o-nono-pais-com-a-pior-velocidade-de-internet/">ranking da velocidade de Internet do Brasil</a></b> em 2014, da Veja. <br />
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2) Veja o que o G1 diz sobre as <b><a href="http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2016/04/franquia-de-dados-na-internet-fixa-veja-perguntas-e-respostas.html">franquias de dados</a></b>. <br />
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3) Não acredite em mim, veja a <b><a href="http://blog.hostdime.com.br/noticias/novidades/cgi-br-divulga-mapa-da-banda-larga-no-brasil/">análise do CGI.Br em 2011</a></b> e a <b><a href="http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2015/05/velocidade-da-banda-larga-no-brasil-varia-entre-taxas-de-libia-e-japao.html">análise do G1 em 2015</a></b>. Há uma<a href="http://www.tecmundo.com.br/internet/51663-internet-como-estao-as-velocidades-nos-principais-paises-infografico-.htm"> <b>análise comparativa do TecMundo, de 2014</b></a>, também. Em termos de preço, veja <b><a href="http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/05/14/banda-larga-no-brasil-e-a-2-mais-cara-entre-15-paises-diz-pesquisa.htm">análise no UOL, de 2013 ou a </a><a href="http://www.viawebsite.com.br/blogs/diferenca-entre-velocidades-de-internet-no-mundo-e-seus-precos/">análise de 2011</a></b>, da ViaWeb. Você pode sair por aí consultando os sites de empresas em outros países. Lembre-se, é claro, de dividir isso pela renda média do país... ou pelo menos comparar com o preço do BigMac. <br />
<br />
4) Não acredite em mim! Conheça o <b><a href="https://techinbrazil.com.br/visao-geral-do-programa-nacional-de-banda-larga">Plano Nacional de Banda Larga</a></b>, os <b><a href="http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2011-08-30/redes-de-fibras-oticas-para-expansao-da-internet-banda-larga-serao-desoneradas-do-pagamento-de-piscof">incentivos fiscais para expansão da rede de fibra óptica</a></b>, a <b><a href="http://www.mc.gov.br/programa-nacional-de-banda-larga-pnbl/banda-larga-popular">Banda Larga Popular</a></b> e o <b><a href="http://g1.globo.com/economia/noticia/2014/08/governo-prorroga-ate-2018-tributos-zerados-para-notebook-e-smartphone.html">incentivo ao consumo de aparelhos de acesso à internet</a></b>, como notebooks, tablets e celulares. <br />
<br />
5) Veja a <b><a href="http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalNoticias.do?acao=carregaNoticia&codigo=35544">resolução da ANATEL</a></b> que oficializa essa aproximação entre a velocidade contratada e a velocidade real. <br />
<br />
6) <b><a href="https://supportforums.cisco.com/document/7806/calculating-theoretical-cable-line-card-throughput">Esse artigo</a></b> explica um pouco mais sobre como fazer o cálculo do limite. <br />
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7) Apesar de "proibido" pelo Marco Civil da Internet, pode ser que a sua provedora pratique o traffic shaping. A <b><a href="http://www.tecmundo.com.br/banda-larga/18560-descubra-se-a-sua-operadora-faz-traffic-shaping.htm">TecMundo fala sobre isso e como verificar</a></b>. <br />
<br />
8) Conheça a <b><a href="http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm">Lei 12.965 de 2014</a></b>, que ficou conhecida como Marco Civil da Internet. <br />
<br />
9) Conheça mais sobre <b><a href="http://www.neutralidadedarede.com.br/">neutralidade da rede</a></b>. <br />
<br />
10) Não acredite em mim! Veja <b><a href="http://www.tecmundo.com.br/aumentar-desempenho/3028-banda-larga-o-que-e-franquia-de-dados-.htm?utm_source=404corrigido&utm_medium=baixaki">matéria de 2009, da TecMundo</a></b>, já falando sobre franquia de dados. <br />
<br />
11) Se tiver curiosidade, veja <b><a href="http://www.teleco.com.br/tutoriais/tutorialstfc/pagina_1.asp">como funciona a rede de telefonia comutada</a></b>. <br />
<br />
12) <a href="http://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/tecnologia/2012/08/20/gato-de-internet-wi-fi-compartilhado-entre-vizinhos-pode-render-multa-de-ate-r-10-mil.htm"><b>Esse texto fala de "gato de internet</b>"</a>, mas no quadro fala sobre a redução pelo compartilhamento... isso ocorre também com o cabo do seu provedor de internet. <br />
<br />
13) Veja só a <b><a href="http://tecnologia.ig.com.br/2016-04-18/presidente-da-anatel-compara-cobranca-de-internet-com-conta-de-luz.html">comparação esdrúxula</a></b> do presidente da ANATEL. <br />
<br />
14) Olhe a <a href="http://tecnologia.ig.com.br/2016-04-18/presidente-da-anatel-compara-cobranca-de-internet-com-conta-de-luz.html">sugestão divertida</a> do presidente da ANATEL. <br />
<br />
15) Segundo a TecMundo, <b><a href="http://www.tecmundo.com.br/internet/103922-internet-fixa-franquia-dados-realmente-tendencia-mundial.htm">franquia na Internet fixa é, realmente, uma tendência mundial</a></b>. <br />
<br />
16) Olhe, como exemplo, a <b><a href="http://www.assinenet.com.br/NET_NetVirtua_BandaLarga_15mega.html">tabela do Vírtua, da NET</a></b>. <br />
<br />
17) Não acredite em mim, veja a matéria do site <b><a href="http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-118853/">Adoro Cinema</a></b>! Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/05152648678126890129noreply@blogger.com0