por Costas Lapavitsas, no Financial Times (os artigos do FT são acessíveis só para quem se cadastrar no site) - tradução Viomundo
A política grega está se dividindo em dois campos para disputar a próxima eleição, um liderado pelo direitista Nova Democracia, o outro pelo esquerdista Syriza. Ambos insistem que a Grécia deve continuar na zona do euro, mas o Nova Democracia aceita o plano europeu de resgate que o Syriza rejeita. Ainda assim, a dura realidade está se impondo. Se a Grécia continuar na zona do euro, vai morrer uma morte lenta. Se sair, vai enfrentar uma crise, mas terá a oportunidade de se recuperar e de remodelar a sociedade.
A crise da zona do euro tem pouco a haver com a incompetência fiscal na Grécia ou em outro lugar. Sua verdadeira causa é a perda cumulativa de competitividade nos países periféricos, com o custo da unidade de trabalho subindo relativamente aos países do coração do euro. Grandes déficits resultaram na periferia, espelhados em grandes superávits no centro. A dívida se acumulou quando os déficits foram financiados por empréstimos no exterior e os bancos domésticos expandiram o crédito internamente. Existe um fio ininterrupto ligando a vasta dívida da periferia ao custo da unidade de trabalho, congelado na Alemanha.
A austeridade e reformas estruturais tinham como alvo resolver o problema, esmagando os salários para reduzir os custos da unidade de trabalho na periferia. Mesmo desconsiderando as consequências sociais, não dará resultado enquanto o custo da unidade de trabalho na Alemanha continuar como está. Os países periféricos teriam de diminuir salários indefinidamente para tentar se aproximar do grau de competitividade da Alemanha. A consequência mais provável seria distúrbio social e o eventual colapso da zona do euro.
Nem mesmo transferências fiscais seriam uma solução verdadeira, ainda que desejável a curto prazo. Elas aliviariam as pressões agudas dos déficits da periferia, mas não suas causas subjacentes. Na verdade, transferências poderiam piorar as coisas ao incentivar uma cultura de dependência, tornando nações inteiras distritos de países superavitários.
Uma solução verdadeira envolveria, primeiro, o aumento sustentável da produtividade em países periférios e, em segundo lugar, aumentos significativos de salários para os trabalhadores alemães. Mas isso exigiria uma Plano Marshall para a Europa e uma grande mudança no equilíbrio de poder interno da Alemanha. Vamos dizer educadamente que as chances disso acontecer são poucas.
Se a Grécia perseverar com as atuais políticas dentro da zona do euro, sua economia vai encolher e estagnar. O país vai se tornar um canto empobrecido, envelhecido e profundamente desigual da Europa, uma neocolonia em tudo, menos no nome.
A sociedade grega não vai aceitar este destino e provavelmente vai forçar uma moratória da dívida pública, em primeiro lugar. Não há outra forma de tornar a dívida gerenciável dentro de um futuro previsível. Os planos de resgate pioraram as coisas: a dívida grega aumentou, sua composição foi alterada de privada para oficial e a lei que governa a dívida deixou de ser a grega para se tornar a britânica. A moratória se tornou muito mais difícil mas, ao fim e ao cabo, a Grécia terá pouca escolha.
A moratória deverá ser acompanhada pela saída da zona do euro, livrando a Grécia da armadilha da união monetária. A saída vai inevitavelmente causar uma tempestade, que será maior por causa das políticas tolas adotadas nos dois últimos anos. A austeridade aleijou a economia. A saída do euro restauraria a competitividade, permitindo a produtores gregos a recaptura do mercado doméstico, assim como o aumento das exportações. A restauração da competitividade reduziria a taxa de desemprego, depois do choque inicial. Acima de tudo, a saída permitiria o fim da austeridade, dando à Grécia espaço para reestruturar sua economia.
O custo será severo, embora não se aproxime das estimativas grosseiras feitas pelos departamentos de pesquisa dos bancos. Haveria circulação paralela do novo drachma, do euro e talvez de outras formas de dinheiro; uma onda de litígios legais teria início depois da redenominação dos contratos; o balanço dos bancos se tornaria insuportável, com bens e obrigações denominados em euro sujeitos à jurisdição não-grega; haverá falta de petróleo, remédios e de alguns alimentos importados; e as falências de empresas aumentariam.
Nenhum destes custos transitórios justifica a morte lenta de uma permanência na zona do euro. Enfrentá-los envolveria forte intervenção estatal, incluindo a nacionalização dos bancos, controles de capital e uma série de medidas administrativas para enfrentar o desabastecimento de curto prazo. A Grécia poderia começar então o lento processo de recuperação. O país tem uma força de trabalho altamente treinada, coesa e hábil e várias vantagens naturais. A perspectiva de crescimento é forte, desde que o poder seja retirado das classes corruptas e venais que tem governado o país por décadas.
Qual será o gatilho da moratória e da saída do euro é impossível predizer, mas talvez seja uma corrida aos bancos em meio a tensões políticas. Uma vez que a Grécia tome este caminho, será uma questão de tempo até que outros países periféricos façam o mesmo. A Alemanha teria, então, de enfrentar as consequências desastrosas da união monetária, criada de maneira inadequada e governada pior ainda. Este é, naturalmente, um problema que não cabe ao povo grego resolver.
*Costas Lapavitsas é professor de economia na SOAS [Escola de estudos africanos e orientais da Universidade de Londres]
Um investidor bastante conhecido chamado Bastter sempre disse que o euro era uma furada. Tiro meu chapéu para ele agora. Nas palavras dele, a Inglaterra é que sabia melhor... (e a Suíça, acho que também manteve sua moeda, famosamente lastreada em ouro).
ResponderExcluirFoi um bom wake-up call para nós aqui do Mercosul, o pseudo-bloco, antes que entrássemos em canoa furada semelhante por motivos ideológicos.
E a propósito, os gregos têm o que merecem.
ResponderExcluirPau no c* dos gregos?!... That simple?...
ResponderExcluirEles foram safados, pura e simplesmente. Falseavam suas contas públicas até 2010. Agora devem o dobro do PIB. Se for pensar bem, no fim a única saída prática é mesmo um calote e a saída do euro. Os credores tomam o preju de curto prazo e a Grécia vai pagar os pecados no longo prazo, como o Brasil paga até hoje... Não vai rolar o resto da Europa pagar a conta e dar um tapinha nas costas. Cada país tem seus problemas e o que impediria os gregos de fazer a mesma bobagem de novo?
ResponderExcluirO outro país que falseia suas contas e acha que pode sair por cima é a Argentina. A penúltima cartada já deram (YPF), agora eles só têm mais uma na manga (Guerra das Malvinas 2.0).
Tenho um piada para te contar. Tenho um amigo tão esquerdista, que ele é apaixonado pela Cristina :)