Eu não gosto desse projeto “ficha limpa” aprovado provisoriamente na Câmara Federal, pois tem conteúdo moralista raso, que não resolve uma porção de coisas, à começar pelo problema da indústria de recursos no judiciário, que é uma indústria que beneficia as elites corruptas e os advogados em geral.
O primeiro ponto a considerar é que muitos dos corruptos brasileiros possuem “ficha limpa” – especialmente os mais “espertos”, que não deixam rastros.
A segunda coisa importante nisso tudo é que o próprio judiciário com seu crescente (e agora já escancarado) envolvimento na vida partidária vai favorecer que mais e mais candidato em portencial fiquem impedidos, processados e com processos mantidos num andamento de cágado, só para que não possam concorrer, pois a proposta que é que mesmo sem tramitar em julgado o cidadão já fica fora. A presunção de inocência, clausula pétrea na nossa constituição vai para o espaço e vai tolher a exigibilidade do cidadão mesmo sendo inocente. Essa ferramenta é muito boa para selecionar só os do nosso lado.
Outro ponto difícil de contornar é como é que vai separar “crimes políticos” com crimes de corrupção, de improbidade administrativa – roubo, malversação de dinheiro público, e outros?
Seria uma injustiça contra a luta digna de Nelson Mandela, para pegar um exemplo emblemático.
Outro engodo é fazer essa falacia toda parecer que se esteja falando de uma reforma politica, tão falada mas nunca implementada.
Mas a ameaça mais grave, e menos visível imediatamente, e que não pode ficar fora desse debate é a incessante campanha de demonização dos políticos e da atividade política, impulsionada quase que religiosamente pela mídia brasileira, o nefasto PIG. A mídia babona que demoniza a política para que ela própria perpetuar sua influencia.
A mídia incute um crescente descrédito na população em relação à política e aos políticos de um modo geral. Investe maciçamente na imagem que coloca a classe política e a atividade política em uma esfera de desconfiança e perda de legitimidade. A estratégia é jogar todos os partidos e políticos numa mesma vala comum de oportunistas e aproveitadores mas isso inegavelmente representa um perigo para a sobrevivência da própria democracia.
Outro exemplo internacional para que possamos ter uma idéia da coisa é o que aconteceu na Itália. Depois de anos de luta e operações “mãos-limpas” cujo mote inicial era afastar a influencia do crime mafioso da política, mas que acabou arruinando a democracia italiana como um todo, mesmo a polarização ideológica entre democratas cristãos e comunistas. O que aconteceu?... no fim desaguou na eleição de um Bersusconi. Seria como aqui no Brasil o Roberto Marinho vencer uma eleição com uma claque de torcida verde-amarela (a la copa do mundo – O Brasil é tetra!... O Brasil é tetra!...) patrocinada pela Globosta. Modelito fascista puro.
Essa coisa não está boa... Nada, nada...
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