Passei a noite trabalhando no post anterior. Um trabalho hercúleo, como vocês poderão ver. Mesmo com muita vontade de fazê-lo, não tive tempo de escrever algo sobre a guerra do Irã. É, agora chamarei assim. Guerra do Irã. Porque a batalha já começou. Sempre tem início dessa forma, com um duelo de versões e contraversões. A guerra da informação é a primeira etapa nas guerras da modernidade.
Tenho a impressão, no entanto, que os EUA latiram alto demais, afoitamente demais, e sua voz deu em falsete. Tenho ainda sérias dúvidas sobre se as sanções serão aprovadas; e se forem, se serão respeitadas, ou compreendidas. O mundo quer paz. Lula mandou um sinal que atravessou os oceanos e está reverberando profundamente no coração de seis bilhões de macacos falantes.
Eu até comecei a vasculhar a mídia internacional. No site do governo chinês, encontrei um inteligente editorial elogiando o acordo. Neste outro, respeitável site americano, topei com um elogio eufórico.
O editorial (se pedirem cadastro, leiam por aqui) do Financial Times de ontem igualmente elogiou o esforço do Brasil como um corajoso gesto em favor da paz, explicando que, mesmo em caso de não dar resultado, terá valido a pena.
Quão diferentes são essas manifestações do sarcasmo mesquinho, leviano, com que um Arnaldo Jabor e toda a turma do Globo estão tratando os esforços diplomáticos brasileiros!
Eu queria ter tempo e habilidade (inclusive até tentei, mas apanhei muito; talvez tente novamente hj à noite) para legendar essa entrevista de Lula à rede Al Jazeera, feita há pouco, em que ele explica as razões que o levaram a se meter nesse imbróglio.
Temos os falcões da guerra nos Estados Unidos, e por aqui temos os urubus da guerra.
Agora mais que nunca é importante derrotar Serra, porque ele vai ajudar o Dick Cheney e a Hillary Clinton a patrocinarem outro massacre no oriente médio. É uma pena que Obama não ponha logo uma focinheira nos pitbulls da Casa Branca.
De qualquer forma, os urubus daqui estão subestimando ridiculamente o impacto que a façanha brasileira causou no mundo. Eles se apegam somente a manifestações da Mrs. Clinton, que representa justamente os interesses que o Brasil deliberadamente contrariou.
Peço-vos uma coisa, mais uma vez. Sei que vocês já sabem. Mesmo assim, repito: cuidado com a desinformação. Na guerra do Iraque, eu assisti a imprensa enganar toda a comunidade intelectual americana, inclusive a blogosfera de esquerda. Todo mundo comeu na mão de figurinhas sinistras como Paul Wolfowitz. O poder de comunicação do lobby armamentista e petroleiro é impressionante. Passados dez anos de guerra, já fizeram trocentos filmes sobre o tema, quase sempre tergiversando sobre a injustiça que cometeram. Este ano deram Oscar para um filme que glorifica um idiota que desarma bombas...
Incrível também o poder de convencimento sobre a juventude alienada. Ontem à noite viajei um pouco no Twitter atrás de informações sobre o Irã, e me deparei com várias manifestações grotescas como essa:
Os iranianos viraram terroristas! As pessoas ficam totalmente desequilibradas nesses momentos de adrenalina guerreira. Há um aspecto maligno na natureza humana que gosta de sangue, de guerra, de violência. Até pouco tempo, todo mundo sentia compaixão pelos iranianos, por causa de seus problemas políticos, agora as mesmas pessoas os consideram terroristas e defendem sanções que levarão sofrimento e miséria para milhões de seres humanos.
O assunto promete muitas emoções nos próximos dias. Eu estarei aqui, guerreiro liliputiano, enfiando minha lança verbal, freneticamente, no pé desse Leviatã medonho, que não desiste de destruir o mundo.
Opinião do LeMonde,Fr, a respeito desse imbroglio, já a luz da reação raivosa dos falcões de guerra dos EUA
ResponderExcluirhttp://www.lemonde.fr/opinions/article/2010/05/19/nucleaire-iranien-le-sud-emergent-veut-sa-place-dans-la-negociation_1353888_3232.html