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sábado, 9 de outubro de 2010

O complexo de vira latas tupiniquim


Diferentemente do que se crê, o “complexo de vira-latas” que se cristalisou na nossa Botocundia de longa data, não é um problema que atinge a maior parte dos brasileiros, os mais pobres. Pelo contrário, esses nem sequer pensam ou sabem dessas coisas, e se sofrem algum efeito, é por vias indiretas, colateral.

O complexo de vira latas é um fenômeno que atinge principalmente a elite brasileira. A posição intermediária que ela ocupa, que a coloca numa situação de crer ter “alma” e cultura européia. Mas ter nascido e crescido no Brasil e, principalmente, para os olhos dos europeus serem eles sempre e para sempre “brasileiros”, dilacera seus corações.

Em outras palavras, esse elite baronesca brasileira, não se vê como “brasileira”. Como travestis que crêem serem almas femininas em corpos masculinos, se crêem “almas” européias em “corpos” brasileiros. E diante da angustia psicológica causada por essa situação intermediária esdrúxula, divididos, não encontram outra alternativa a não ser fazer ainda mais favores aos europeus (também, aos norte americanos, que jamais tiveram complexo de vira-latas eles próprios), na esperança vã e fútil de serem reconhecidos como “um deles”.

Isso ainda interage com os aspectos etnicos, a “miscigenação” das raças no Brasil. Mais uma vez, diferentemente do que aconteceu nos Estados Unidos, onde houve um conflito racial claro e aberto, culminando com a eleição de um presidente negro, no Brasil tal conflito franco nunca existiu. Pois os europeus, desde Cabral, apesar de se crerem superiores, não tiveram escrúpulos, como não tem até hoje, em copular com os exótico nativos inferiores, produzindo o “somos todos moreninhos” que “faz de conta” que não existe racismo no Brasil. Pelo contrário, esse faz de conta só serve para escamotear e amplificar o complexo de vira latas, pois o racismo no Brasil não é um racismo de pele, mas um racismo de “alma”. Somos todos moreninhos, é verdade, mas minha alma é branca, a sua não.

Em suma, a elite brasileira, boiando sobre seu complexo de vira latas, não é nem brasileira nem européia. Mais precisamente, foge de ser brasileira e almeja ser européia e no fim vira NADA!.. Ó dia... Ó dor...

No caso dos descendentes de alemães aqui no sul do Brasil (que é o meu caso – prussiano, saxão e dinamarques de 8 ascendencias e 4 costados) fica pior ainda, pois mal sabem quase todos os germanico-brazucas atuais que seus ancestrais foram escorraçados da Europa e a grande maioria não passava de uns sem-terra miseráveis, num extrato nada melhor dos atuais integrantes do MST. Mas o MST brasileiro atual é coisa de Belzebu para eles... se acham a ultima bolacha no pacote... e assim vamos.


NOTA IMPORTANTE: o cão da foto não é representativo da situação descrita no texto - esse é o MEU vira-latas, o Tintim, quando filhote. Agora já cresceu e virou um vira-latas assumido, não tem nenhum complexo.

Um comentário:

  1. Segundo o divertidíssimo blog "Classe média way of life", "ter sobrenome italiano" e "ser concurseiro" são duas características marcantes da nossa classe média :)

    Agora, esse negócio de descendência alemã etc. tem dois lados, e você delimitou apenas um.

    Uma coisa é bater continência para a Alemanha como "pátria-mãe", num reconhecimento de mão única que vai e não volta. Infelizmente há alguns de nós que fazem isto, e de fato é errado. Há um famoso empresário de Joinville que quando dá entrevista na rádio, finge ter sotaque alemão. Meu pai falou só alemão até 10 anos de idade e não tem sotaque.

    A outra coisa é um outro sabor do complexo de vira-lata, de que seríamos aliens ou um "quisto cultural", como uma professora de geografia na 7a série(*) fez questão de me dizer. Ela era carioca, eu devia ter perguntado de volta se favela era cultura genuinamente nacional. Mas ela era famosa por distribuir zeros, e eu ainda prezava pelo meu boletim.

    Eu não vejo porque não possamos nos orgulhar da nossa cultura, já que o Brasil é isso aí, uma amálgama de culturas. O índio pode (e deve) se orgulhar, o negro pode se orgulhar (e compartilha conosco o destino de imigrante forçado), nós também podemos. E uma árvore se conhece pelos frutos; considerando que as cidades colonizadas por alemães estão entre os cantinhos mais agradáveis (ou suportáveis) deste nosso Brasil, acho que temos muito a colaborar com o conjunto.

    Fora com essa coisa getulista de procurar o "brasileiro autêntico"! O que muitos chamam de genuinamente brasileiro não passa de cópia de Portugal. Que foi e continua sendo motivo de piada na Europa, é *desta* herança que temos de fugir.

    Estou para escrever um post sobre como Pomerode é, além da cidade mais alemã do Brasil, é também a mais brasileira, pois é a única onde os terrenos são cortados grandes e as ruas são largas, ou seja, são os únicos brasileiros que parecem ter notado que o País é grande e não estamos mais no Velho Continente.

    (*) É curioso como os "alemãos" aqui puxaram por osmose algumas características dos italianos, como famílias close-knit etc. A minha característica é nunca esquecer uma ofensa, para mim Don Corleone faz absolutamente todo o sentido...

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