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sábado, 9 de outubro de 2010

Entre a convicção e a responsabilidade, a realpolitik


Texto de Leonardo Sakamoto

Antes de mais nada, conto este caso porque é o que chegou até mim. Mas trocando os sinais, vale para os outros estados e para o âmbito federal. A luta pela sobrevivência não é monopólio de determinado partido, mas característica dos seres vivos.

A transição do governo-tampão de Goldman para o governo Alckmin está um pouco menos tranquila do que vem sendo divulgado pelo Palácio dos Bandeirantes.

Alckmin já mandou avisar que substituirá praticamente toda a equipe colocada lá por Serra. O que é justo – cada eleito tem o direito de montar o seu governo como bem entender e é de praxe que os atuais ocupantes coloquem seus cargos à disposição no período de transição.

As trocas serão intra-partidárias, mas muitos comissionados nas secretarias e nas empresas públicas estão com os óculos embaçados de preocupação. O medo maior é como essa mudança se dará, baseado em algo ocorrido há quatro anos. Quando Serra entrou, alguns figurões de primeiro escalão chegaram-chegando com o pé na porta (como contam servidores invisíveis de tão antigos), mandando o povo de Alckmin sair rápido e levar as suas coisinhas sem olhar para trás. Algumas cenas foram humilhantes.

Agora, como disse mais de um interlocutor, é a hora da jurupoca piar – afinal, vingança é um prato que se come frio. Pior que sair, é sair escorraçado.

Alckmin está apoiando a candidatura do correligionário, mais até do que foi imaginado por muitos no partido. Os funcionários comissionados, que hoje estão no limbo da administração estadual, esperando apenas o dia do juízo, torcem que isso contribua para uma mudança para Brasília (deles próprios) a partir do início do ano.

Há um movimento de pessoas em cargos-chave que está fazendo de tudo para garantir sua auto-preservação. O que inclui aumentar o número de ações positivas, escondendo que alguns serviços públicos, como na área de transportes, estão deliberadamente sem a solução de problemas porque não é a prioridade mexer no vespeiro neste momento. Se isso ocorresse pela preservação do projeto político, ainda assim seria condenável, mas mais “compreensível” do que algo guiado pela preservação individual.

Cada vez que vejo isso, fico imaginando o que Max Weber acharia do caso brasileiro. Invertendo o que ele propôs, entre a ética da convicção e da responsabilidade, optamos pelo pragmatismo. Impessoalidade na burocracia estatal? Esquece!


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