Dura e sofrida foi a vitória do Presidente Barack Obama pela reforma do sistema americano de saúde, depois de uma luta que vem se dando nos EUA pelo menos desde a presidência de Theodore Roosevelt (1901-1909), passando por Franklin Roosevelt em 1933, Truman no pós-guerra, Lyndon Jonhson no final dos anos 60 e Clinton na década de 90.
No governo de Johnson, sob o impacto das grandes mobilizações pelos direitos civis, foram criados os Medicaid (assistência médica aos pobres) e Medicare (Saúde para os idosos) mas o sistema sempre foi refém das companhias seguradoras, grandes redes particulares de hospitais e da industria farmacêutica, os mesmo que mobilizaram todas seus recursos - lícitos e ilícitos - para tentar barrar a tentativa de Obama de mudar isso. Os republicanos abraçaram a causa dos cartéis alegremente.
Depois da vitória de domingo à noite, o cineasta Michel Moore, que é um gozador de marca maior, numa bem humorada “Carta aos Republicanos”, assinalou os avanços parciais obtidos com a reforma:
Aos meus prezados concidadãos republicanos
Graças à votação de ontem à noite, o filho de 23 anos de vocês, que um dia será atropelado por um motorista bêbado e passará seis meses em recuperação no hospital, agora não irá à falência porque você será capaz de mantê-lo no seu plano de saúde. Sim, meus amigos republicanos, mesmo que tenham se oposto a essa lei da Saúde, temos a certeza que serão cobertos, também, na sua hora de necessidade.
Sei que vocês provavelmente acham que, se fossem dizimados por uma doença, ou desalojados de suas casas por causa de uma falência médica, de alguma forma vocês se levantariam por seus próprios esforços e sobreviveriam e, se fosse vivo, até John Wayne certamente transformaria isso em filme.
A realidade é que essas empresas de seguro-saúde só têm uma missão: tirar o máximo de dinheiro de vocês que puderem - e depois trabalharem como demônios para negar-lhes cobertura e auxílio se vocês ficarem doentes.
Então, quando vocês se descobrirem algum dia violentamente atacados por uma doença fatal, talvez agradeçam a esses Socialistas-rosa-choque, Democratas-que-amam-o-Canadá e independentes por aquilo que fizeram no domingo à noite.
Se servir de consolo, os ladrões que comandam as seguradoras de saúde ainda vão poder negar cobertura a adultos com doenças pré-existentes nos próximos quatro anos, o prazo de transição previsto na lei que ainda ficou.
Ainda estamos muito longe de uma assistência universal à saúde. Mais de 15 milhões de americanos ainda ficarão sem atendimento - e isso significa que cerca de 15.000 ainda perdem suas vidas todos os anos porque eles não serão capazes de pagar para ir ao médico ou fazer uma cirurgia.
Mas outros 30.000 vão viver e se vocês não se importarem, vamos continuar ocupados tentando melhorar esta lei até que todos os americanos estejam protegidos e as mesquinhas companhias de seguro-saúde sejam postas para fora – porque a ninguém deveria ser permitido fazer a pergunta:
Quanto dinheiro nós podemos ganhar fazendo esse pobre bastardo sofrer?
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