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domingo, 15 de agosto de 2010

Major Egon Schneider – o escroque que enganou toda a cidade


1964 em São Bento do Sul – desdobramentos (Parte 5)


Por volta de maio ou junho de 1964, apareceu aqui na cidade um personagem bem apessoado e bem falante que se apresentou como adido militar, delegado pelo comando da revolução para a cidade. De idade indefinida, por volta de uns 35 anos talvez. Seu nome, segundo ele, Egon Schneider, e se dizia Major do Exercito Brasileiro. Se auto intitulou, segundo o linguajar da época, “Delegado da Revolução em São Bento”.

Isso de saída já o catapultou a uma condição de aceitação plena nos círculos mais respeitáveis da crédula elite sãobentense, quase todos entusiastas da “revolução” que livrou o Brasil do jugo “comunista”.

As circunstancias exatas de como o dito major se insinuou e se infiltrou nos círculos mais refinados da sociedade local não é fácil de estabelecer, pois por muitos e muitos anos, décadas até, ninguém na cidade queria comentar o acontecido, de como foram todos estupidamente tapeados. Além disso o período em que se desenrolavam esses fatos foi justamente no intervalo em que o único jornal da cidade, a Tribuna da Serra, deixou de circular por causa da transferência da sua oficina gráfica de Mafra para São Bento do Sul, assunto descrito no post anterior.

Aparentemente o major era uma pessoa relativamente culta, fluente em diversos assuntos, até falava um pouco de alemão. Isso conta alguns pontos nos círculos cultivados de São Bento. Sua cultura era de Seleções do Reader's Digest, de onde talvez possa ter copiado o modelo, de um famoso impostor americano da década de 1920 chamado Stanley Clifford Weyman. As estripulias de Weyman foram descritas detalhadamente pela revista panfletária americanófila, de onde pode ter se inspirado.

Major Schneider, como passou a ser conhecido, foi rapidamente aceito pela elite empresarial da cidade e passou a circular com desenvoltura. Além disso a sua apresentação pessoal era impecável, muito bem vestido, terno bem talhado, boas gravatas, embora nunca tivesse envergado uma farda do exercito, que dizia representar. Proeminentes figuras da sociedade local chegam a disputar a honra de convida-lo para toda a sorte de eventos sociais, jantares e reuniões. Inclusive figuras notáveis do judiciário como o Juiz de Direito da comarca.

Nosso personagem era um freqüentador fortuito do Fury’s Bar, uma choparia, na época o “point” da cidade. O proprietário desse estabelecimento, meu amigo Aldo Emilio “Furis” Jungton, me disse que o nosso herói jamais pagou uma conta lá, que sempre eram patrocinadas pelos bem sucedidos empresários e autoridades locais. 

Não há registro de que tenha chegado a aplicar algum golpe que tenha lesado financeiramente algum cidadão sãobentense. No máximo, imagina-se, tenha ficado devendo a despesa das diárias no hotel (Stelter) em que ficou hospedado no período que por aqui circulava.

Por outro lado, é de se supor que a “importante figura” – de expressão da revolução brasileira – logo passou a ser assediado pela ala feminina do jet set local. Teve acesso facilitado a moças, moçoilas, senhoritas, senhoras e damas. O quanto aproveitou-se dessas facilidades é coisa que temos que relacionar no rol das conjecturas, pois esse também é um dos motivos que tornaram esse um assunto proibido por muito tempo na cidade, um tabu interdito.

As coisas correram bem para o Major, que se regalava confortavelmente nas benesses que se lhe proporcionava, por uns dois meses. Mas, em principio de agosto de 1964, um personagem local, que fazia as vezes de informante secundário do exército, ficou intrigado com o tal major: Paulo Dalvio Mallon, que havia prestado o serviço militar na PE – Policia do Exército, do Rio de Janeiro e que tinha um contato muito estreito com o Coronel Ventura (ver o primeiro post dessa série) resolveu investigar. A pergunta a ser respondida era: a quem estava realmente ligado esse Major Egon Schneider?...

Nada mais do que dois ou três telefonemas interurbanos para descobrir o embuste. Mesmo assim era uma operação mais complicada do que seria hoje em dia. Naquele tempo as ligações interurbanas eram feitas na base de telefonistas, que espetavam aqueles pinos-banana na mesa da central telefônica da cidade para conectar uma das cinco linhas externas disponíveis. A central telefônica de interurbanos só funcionava de dia, no horário comercial. Se alguém quisesse fazer uma ligação interurbana a noite, só em caso de emergência e indo chamar uma operadora para abrir a agencia e fazer a ligação, como de fato aconteceu nesse caso.

O próprio autor da descoberta, Dalvio Mallon, fez questão de participar, talvez liderar, a operação de prender o farsante. Juntou uma pequena comitiva, com o delegado de policia e autuaram o falso major. Foi encaminhado ao Batalhão do Exercito de Rio Negro, no Paraná. Ficou detido alguns dias ali e depois liberado, pois não se produziram provas contundentes contra o acusado. Nada havia. Ninguém fora lesado, não há provas que tenha se passado por um oficial do exército de fato... nada.

Ruim... ruim... Silencio! O jornal Tribuna da Serra havia voltado a circular por aqueles dias, em sua edição de 09 de agosto de 1964 publicou a lacônica nota “Pássaro na gaiola”, reproduzida abaixo.


Continua amanhã – (Parte 6) A volta do Major Schneider 

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Um comentário:

  1. O Osny Vasconcellos cita vagamente o episódio, se não me engano ainda na introdução do seu livro. Foi para ele que ligaram lá no Rio de Janeiro para desvendar o rolo. Essa história é quase tão absurda como a do cônsul que não veio. Temos duas grandes histórias de primeiro de abril em SBS.

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