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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O caso do vereador Vitor Vidal dos Santos



1964 em São Bento do Sul – desdobramentos (Parte 2)

Na câmara municipal de São Bento do Sul, em fevereiro de 1964 são escolhidos os vereadores Darcy Moldenhauer (PDC) e Carlos Zipperer Sob.(eleito pelo PDC, depois passou para UDN) respectivamente presidente e vice-presidente da casa. O vereador Vitor Vidal dos Santos (PTB) foi indicado como secretário.

Na semana imediata depois do golpe militar, aqui em São Bento do Sul são detidas, acusadas de subversivas, quatro pessoas. São elas: os líderes sindicalistas Vitor Vidal dos Santos, este também vereador e secretário da câmara; Ricardo Martins, ambos do Sindicato dos Trabalhadores do Mobiliário; Vitor Mafra, do Sindicato de Trabalhadores na Industria Têxtil e um funcionário da ACARESC lotado aqui na cidade, o agrônomo Francisco A. Gillen.

Na reunião da Câmara do dia 06 de abril de 1964, já entrou um pedido, protocolado pelo vereador Octavio Maia (PSD), pedindo a cassação do mandato do vereador Vitor Vidal do Santos(PTB), detido na semana passada pelas autoridades policiais por suspeita de exercer atividades subversivas. O vereador Carlos Zipperer Sob.(UDN) manifestou-se solidário com o vereador Octávio. Disse que se soubesse da posição ideológica do vereador Vitor, não teria contribuído para sua eleição para a secretaria da Câmara. O presidente Darcy Moldenhauer fez a defesa dos postulados democráticos. Propôs que fosse constituída uma comissão pra iniciar as investigações necessárias, mas mesmo assim solidarizou-se com o vereador Octavio Maia” - de acordo com o jornal Tribuna da Serra, edição de 12/04/64. O presidente ficou em cima do muro, pois não? A comissão provisória foi formada e composta pelos protagonistas em pauta: os vereadores Darcy Moldenhauer,Carlos Zipperer Sob. e Octavio Maia.

O vereador petebista ficou detido por poucos dias, primeiro no quartel do 13° BC – Batalhão de Caçadores, de Joinville (hoje 62º BI – Batalhão de Infantaria), sendo depois encaminhado para Florianópolis mas logo libertado por falta de fundamentos para sua prisão.

Mas, duas semanas depois, na reunião de 20 de abril de 1964, o cidadão Francisco Paulo Kaesemodel apresenta novos “documentos” que incriminam o vereador citado – Vitor Vidal do Santos – por participar em movimentos subversivos. F. Paulo Kaesemodel era um político que circulava com desenvoltura nos círculos PSDistas de Florianópolis, graças ao prestigio de seu pai, falecido seis anos antes, Antonio Kaesemodel.

O jornal Tribuna da Serra assinala “A câmara municipal cassou Vitor Vidal dos Santos em 20 de abril, de acordo com o parecer da Comissão Especial composta pelos vereadores Osvaldo Zipperer, Carlos Zipperer Sob., e Darcy Moldenhauer, de acordo com os artigos 25º e 26º do Regimento Interno.” Na justificativa publicada na mesma edição do jornal consta que “... não se cogita nos dois parágrafos do trabalho, de assegurar defesa do acusado como parece que entendiam alguns membros da câmara. Independente do processo revolucionário, em cuja fase aguda nos encontramos irmanados pelo anseio de contribuir com a salvação nacional [SIC], comprometida pelo governo deposto, como assinala o ato institucional (AI-1, de 9 de abril de 1964) do supremo comando da revolução, já o nosso regimento previa para os casos de perda de mandato, o processo sumário sem as prerrogativas de ampla defesa de que trata em casos diferentes submetidos à comissão de justiça...”

Notem caros leitores a arrogância dos vereadores, que se julgavam certamente porta-vozes do poder estabelecido. Nada de defesa para o acusado, nada de contraditório. A votação pela cassação do vereador incriminado como “subversivo” foi secreta, entretanto. O jornal não indica o teor da votação, provavelmente a câmara não forneceu o resultado.

Em agosto de 1964 o vereador Vitor Vidal dos Santos foi declarado isento de qualquer culpa em documento assinado pelo Capitão do Exercito Ismael do Amaral, e ratificado pelo comando do 13º BC, de Joinville. O jornal sãobentense, ou seu redator e editor, claramente contra o vereador cassado não se dá por vencido, assinala “...a câmara verificará junto ao DOPS se existe algum processo contra o vereador. Se não encontrar nada, a Câmara Municipal de São Bento do Sul anulará a resolução de cassação pois o PTB e a UDN já se declararam favoráveis a isso. [TdS 09/08/1964]


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