1964 em São Bento do Sul – desdobramentos (Parte 3)
Mas apesar de inocentado o vereador Vitor Vidal dos Santos, a Câmara Municipal de São Bento do Sul fez corpo mole e não moveu uma palha para reconduzir o mesmo ao cargo perdido. Na verdade estavam todos apavorados e não sabiam direito o que fazer.
No dia 30 de agosto, o vereador cassado requereu mandado de segurança ao Juiz de Direito desta Comarca através do advogado Carlos Adauto Viera. A Câmara Municipal foi intimada a contestar. Mesmo assim os políticos locais deixaram o barco correr e nenhuma providencia foi tomada, a Câmara nem mesmo contestou em juízo.
Em sua edição de 25 de outubro de 1964 o jornal Tribuna da Serra estampa a manchete principal em letras garrafais:
“Juiz concedeu segurança impetrada por Vitor Vidal :
... o parecer do representante do Ministério Publico, Dr. Paulo Huascar Viana, pronunciou favorável à concessão da segurança, detendo-se nos aspectos do cerceamento da defesa... O Dr Maximiliano Morgenstern, Juiz de Direito da Comarca, concedeu a segurança impetrada. Não se sabe se a Câmara vai recorrer...”
O que aconteceu então é um pastelão tragicômico dos mais divertidos da historia política de São Bento do Sul.
Fatos que narro a seguir são os ocorridos em 03 de novembro de 1964. Em sua edição seguinte (08/11/1964) o jornal Tribuna da Serra resolveu responsabilizar o presidente da Câmara de Vereadores, Darcy Moldenhauer, por toda a trapalhada, pois que “ ...decidiu conformar-se com a decisão (judicial, de reconduzir o vereador cassado), deixando de reunir a Câmara para examinar providencias que deveriam ser tomadas. Exorbitou assim de suas funções surpreendendo os seus pares com uma atitude pessoal, como vem sendo o seu feitio no exercício da presidência da casa. Deixou de constituir advogado para agravar a sentença”.
Logo se vê que o jornal continuava inconformado com o desdobramento do caso. Noticia assim os acontecimentos do dia 03 de novembro: “ Na abertura da sessão ordinária o Presidente convidou o vereador Vitor Vidal dos Santos a tomar assento, antes mesmo de trazer a comunicação oficial do ato judiciário, que se dispôs a cumprir sem protesto.”
Ai tocou o rebú! Indignados, os outros vereadores se amotinaram. Houve a renuncia incontinenti de três deles. “O primeiro a se manifestar foi o vereador Carlos Zipperer Sob., vice-presidente da Câmara, renunciando ao cargo para o qual havia sido eleito por seus pares”. Se referia à renuncia ao cargo de vice-presidente da casa.
Mas ai chegou o outro: “Seguiu-se o vereador Octavio Maia, que adotou posição mais radical: renunciando ao mandato! A platéia não se conteve e prorrompeu em aplausos à atitude do representante do PSD. Voltando à tribuna o vereador Carlos Zipperer Sob. anunciou que renunciava também ao seu mandato e retirou-se do recinto. Essa decisão foi seguida por seu companheiro da UDN, Leopoldo Weiss. Novas e entusiásticas manifestações da assistência aplaudindo o novo gesto dos vereadores. No mesmo instante retirou-se da sessão o vereador Ernesto Diener, da bancada do PSD.”
“Não havia mais quorum regimental para a sessão. Restavam no recinto apenas o presidente Darcy Moldenhauer e o Sr. Vitor Vidal dos Santos. Mesmo assim o presidente Moldenhauer mandou procurar nas imediações o vereador Ernesto Diener, que deu como pretexto o motivo de moléstia, mas que voltou ao recinto para buscar uma pasta que esquecera, recusando-se entretanto a explicar o motivo de sua saída”.
O jornal defende “a dignidade e respeito à majestade de suas funções, a enérgica decisão dos vereadores Carlos Zipperer Sob, Leopoldo Weiss e Octavio Maia”. [em itálico extraído de TdS 08/11/1964]
Na reunião seguinte, em 09/11/1964, nova confusão. Decorrente das renuncias dos vereadores na sessão anterior convocaram-se os suplentes João Pscheidt e Rudolfo Denk, pela UDN e Carlos Weiss Sob., pelo PSD. João Pscheidt, que estava presente, imediatamente pediu licença por um período de 60 dias. Em seu lugar foi convocado Durvaldo Hantschel, que também presente, igualmente requereu licença de 60 dias, sendo convocado então Arthur Pfützenreuter.
O vereador Osvaldo Zipperer (PSD), que era da comissão especial para analisar o caso do vereador cassado meses antes, e que não estivera presente no entrevero da sessão anterior, do dia 03 de novembro, também pede licença de 30 dias, sendo convocado Miesceslau Kaszumbowsky para assumir em seu lugar.
Finalmente o vereador Ernesto Diener levantou diversas questões de ordem, terminando por anunciar a sua retirada do recinto, em companhia dos demais componentes da bancada do PSD, menos o presidente da casa.
Na sessão de 17 de novembro mais agitação. Dois vereadores do PSD, Carlos Weiss Sob. e Miesceslau Kaszumbowsky apresentam recurso protestando pelas distorções nas atas das reuniões dos dias 03 e 09/11. Os vereadores que tinham renunciado estavam presentes, aparentemente pelo menos um deles queria reassumir... Devem ter levado uns bons cascudos do prefeito Alfredo Diener, líder da UDN, por suas atitudes intempestivas na reunião do inicio do mês.
Só para entendimento do leitor: a família Diener era majoritariamente UDNista, só Ernesto Diener, titular do cartório local e sobrinho do prefeito Alfredo Diener, que militava no PSD. Assim também Leopoldo Weiss (UDN) e Carlos Weiss Sob.(PSD), que eram irmãos mas militavam em hostes opostas. Octavio Maia era genro de Antonio Kaesemodel, portanto cunhado do Paulo Kaesemodel, que mesmo sem nenhum cargo eletivo, providenciou os “documentos” (hoje se diria Dossiê) incriminatórios contra o vereador do PTB.
Voltemos à assembléia do dia 17. Estabeleceu-se um bate-boca mostrando que a renuncia de Carlos Zipperer Sob. deveria ter sido por escrito e que renuncia verbal deveria ter sido submetida a seus pares, o que não aconteceu. Octavio Maia voltou à tribuna e descascou um manifesto verborrágico inflamado mantendo sua posição pela sua renuncia ao mandato, talvez para influenciar o recalcitrante Zipperer Sob. Tumulto!... Foram se retirando Octavio Maia, Carlos Zipperer Sob., Leopoldo Weiss. Por fim retirou-se, de novo, na sorrelfa, o vereador Ernesto Diener, sem nada declarar. Não houve quorum para uma sessão ordinária visto que a situação dos suplentes e dos renunciantes continuava indefinida. Uma bagunça.
Em 24 de novembro as coisas correram com mais vagar, embora a situação continuasse indefinida. O jornal noticia que “... a representação referente às renuncias, não formalizadas dos vereadores Carlos Zipperer Sob. e Leopoldo Weiss aos seus mandatos foi arquivada pela Câmara, sem a tramitação regimental, um dos pontos do recurso do PSD já encaminhado à Assembléia.”
A “assembléia” se encaminhou aquele recurso era a estadual, em Florianópolis.
Notem os prezados leitores que todos os personagens desse episódio agiram de maneira furtiva. O vereador Ernesto Diener escapava de fina de todas as sessões. O vereador Osvaldo Zipperer (que seria prefeito da cidade entre 1973 e 1977) estava providencialmente de licença por todo o período da agitação. Os suplentes foram pedindo licença antes mesmo de tomarem posse.
As coisas continuaram mais ou menos indefinidas, dois dos vereadores rebeldes voltaram (menos Octavio Maia) e continuaram seus mandatos precariamente sem novidades até o fim de 1965 quando acontecem novas eleições.
O jornal Tribuna da Serra passou por um período de descontinuidade justamente nessa época - inicio de 1965, visto que estava mudando de dono e suas oficinas gráficas (tipográficas de tipos moveis e impressoras Minerva) estavam sendo transferidas de Mafra para São Bento, assunto para o próximo capitulo.
Continua amanhã – (Parte 4) Tribuna da Serra - o jornal
hahahaha... caramba! E eu lendo a Legalidade achava que coisas assim aconteciam só no final do século XIX. Bem se vê que continuaram acontecendo, e certamente acontecem hoje em dia. Mas (in)felizmente os nossos jornais perderam esse ar divertido ao contar os fatos =).
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