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sábado, 26 de fevereiro de 2011

Muito modernista


Por John Thackara, em Doors of Perception

Não gosto muito da palavra “glocal”. É um expressão feia e de mau gosto usada por pensadores cheios de atitude para apimentar outra palavra, “local”, que eles acham tediosa por si.

Também não gosto da palavra "criativo", pois tende a ser usada
por pessoas sem criatividade para descrever pessoas como elas próprias.
O filho bastardo desse vocabulo, "cultural criativo", é duas vezes pior
porque ... bem, você sabe...

Ai não deveria me surpeender que mais uma palavra tenha surgido para me incomodar: " Sustentismo” (advém de sustentar ou sustentabilidade – outro feijão com arroz). Ela adorna um livro recém lançado (1) que celebra o “glocal” e o “criativo”. Isso não começa bem!

A palavra " Sustentismo” (2) foi inventada por duas eminências do design holandês, Michiel Schwarz e Joost Elffers. Eles criaram a nova palavra como um substituto para “modernismo".

Sustentismo como uma nova “era cultural” é descrito no livro de duas maneiras: a primeira é uma série de citações e adágios, dois ou três por página. Palavras familiares serpenteiam por todas as folhas: conectado, local, digital, ecologia, comunidades, interfaces, colaboração, crossover social, e assim por diante.

O segundo canal do livro, se podemos chamar assim, é um
confete de logotipos coloridos [inclusive os que ilustram esse post].
Estes intercalam os aforismos. O efeito é visualmente agradável - o livro me faz lembrar de um diário ilustrado que eu tinha quando criança - mas eu cheguei ao final do livro com a impressão de que tinha lido uma lista de coisas, mas não um conteúdo propriamente dito.

A idéia, dizem os seus autores/designers, é que os "aforismos graficamente dinâmicos, citações e símbolos" no Sustentismo capturam o espírito (Zeitgeist) da nossa cultura “em nome de uma nova era". (3)

‘sei não!... A palavra sustentar, mesmo acrescida de “ismo” ou “habilidade”, me soa como tratar de salvar uma canoa furada que corre desgovernada diretamente para o abismo de uma cachoeira. É preciso tentar, mas não é nada fácil.

Sustentismo é como uma coleção de bolboletas. Muitas delas são espécimes conhecidas, algumas são lindas, mas estão – como colocar isso delicadamente?... Sem vida!

Sustentismo (o livro), dessa maneira, atinge o oposto de sua ambição: é um livro muito “Modernista”.

tradução - henry Henkels


Notas e comentários botocudos

(1) o livro - Sustainism Is the New Modernism: A Cultural Manifesto for the Sustainist Era - Michiel Schwarz and Joost Elffers, publicado por Distributed Art Publishers.

(2) Traduzi “Sustainism” como “Sustentismo” por minha conta, visto que é uma expressão que ainda não faz parte no nosso vernáculo.

(3) Não li o livro (nem mesmo pretendo lê-lo), mas pela analise do autor do post, os designers batavos viajaram legal... fumaram muito cigarrinho-do-diabo por certo.

2 comentários:

  1. Tem que ver que o cigarrinho esquisito é natural e plantado com carinho por agricultores artesanais, enquanto o cigarro de tabaco é produzido pelas malvadas corporações!

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  2. See our "reply" to Thackara's blog in our post to Design Observer:
    Like the Word or Not, the Era of "Sustainism" Is Here http://observersroom.designobserver.com/oblog/entry.html?entry=24858

    Michiel Schwarz

    contact@sustainism.com

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