Texto de Idelber Avelar, na revista Forum
Na mais longa ocupação colonial da era moderna (Palestina, 1967-), as coisas se mantêm iguais e sempre pioram. A aparente contradição não é difícil de se entender: as atrocidades acontecem seguindo uma mesma sintaxe, com passos que se repetem com macabra previsibilidade. O grau de violação das leis internacionais e a brutalidade, no entanto, vão se intensificando com o tempo. Quem acompanha o assunto, conhece as etapas de cor:
- Israel massacra uma população civil – palestina ou não –, cometendo crime classicamente caracterizável como terrorismo de Estado;
- O Conselho de Segurança da ONU propõe uma resolução condenando a agressão (conforme o caso: bombardeios, assassinatos ou, agora, pirataria seguida de execuções, encarceramentos ilegais e espancamentos);
- Os Estados Unidos vetam a resolução no Conselho de Segurança da ONU, acrescentando (ou não) que é preciso “investigar a tragédia”, ressalva quase sempre acompanhada da observação de que “Israel tem o direito de se defender”;
- Israel anuncia uma investigação, que invariavelmente não pune ninguém;
- O assunto morre, a mídia o esquece, e algumas semanas ou meses depois o ciclo volta a se repetir.
A Europa assiste, presa à sua má consciência, enquanto os Estados Unidos, com uma política interna dominada pelo lobby pró-Israel, continuam financiando, apoiando e possibilitando o circo de horrores. Como a barbaridade e o descaso com as leis internacionais vão se intensificando, mas a validação dos EUA se mantém idêntica, o circo de horrores causado pelo banditismo de Israel não é bem um círculo. Trata-se, mais exatamente, de uma espiral: um desenho no qual a sequência – planejamento, execução e justificativa da atrocidade – se repete, mas em grau intensificado, produzindo um movimento do qual, hoje, não seria exagerado dizer que tende ao abismo, a uma catástrofe de grandes proporções.
O bombardeio a Gaza entre 2008 e 2009, com mais de 1.300 mortos, e o recente ataque a barcos de ajuda humanitária que navegavam em águas internacionais, com 9 mortos e dezenas de feridos, representam mais um salto no banditismo e na violação das leis internacionais por parte de Israel. Não há dúvidas de que a totalidade dessas duas ações, do começo ao fim, se encaixam em qualquer definição razoável de terrorismo de Estado. Ambos foram ataques militares a populações civis, estrangeiras, situadas além das fronteiras legais do Estado em questão, com deliberado intento de matar.
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