Para quem não sabe, Samuel Pinheiro Guimarães, vice-chanceler do Brasil na época em que Jobim participava de convescotes na embaixada americana em Brasília, é o atual ministro-chefe da Secretaria Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE). O Ministério da Defesa e a SAE são corresponsáveis pela Estratégia Nacional de Defesa , um documento de Estado montado por Jobim e pelo antecessor de Samuel Guimarães, o advogado Mangabeira Unger – com quem, aliás, Jobim parecia se dar muito bem. Talvez porque Unger, professor em Harvard, é quase um americano, com sotaque e tudo.
Após a divulgação dos telegramas de Sobel ao Departamento de Estado dos EUA, Jobim foi obrigado a se pronunciar a respeito. Em nota oficial, admitiu que realmente “em algum momento” (qual?) conversou sobre Pinheiro com o embaixador americano, mas, na oportunidade, afirma tê-lo mencionado “com respeito”. Para Jobim, o ministro da SAE é “um nacionalista, um homem que ama profundamente o Brasil”, e que Sobel o interpretou mal. Como a chefe do Departamento de Estado dos EUA, Hillary Clinton, decretou silêncio mundial sobre o tema e iniciou uma cruzada contra o Wikileaks, é bem provável que ainda vamos demorar um bocado até ouvir a versão de Mr. Sobel sobre o verdadeiro teor das conversas com Jobim. Por ora, temos apenas a certeza, confirmada pelo ministro brasileiro, de que elas ocorreram “em algum momento”.
Mais adiante, em outro informe recolhido no WikiLeaks, descobrimos que o solícito Nelson Jobim outra vez atuou como diligente informante do embaixador Sobel para tratar da saúde de um notório desafeto dos EUA na América do Sul, o presidente da Bolívia, Evo Morales. Por meio de Jobim, o embaixador Sobel foi informado que Morales teria um “grave tumor” localizado na cabeça. Jobim soube da novidade em 15 de janeiro de 2009, durante uma reunião realizada em La Paz, onde esteve com o presidente Lula. Uma semana depois, em 22 de janeiro, Sobel telegrafava ao Departamento de Estado, em Washington, exultante com a fofoca.
No despacho, Sobel revela que Jobim foi além do simples papel de informante. Teceu, por assim dizer, considerações altamente pertinentes. Jobim revelou ao embaixador americano que Lula tinha oferecido a Morales exame e tratamento em um hospital em São Paulo. A oferta, revela Sobel no telegrama a Washington, com base nas informações de Jobim, acabou protelada porque a Bolívia passava por um “delicado momento político”, o referendo, realizado em 25 de janeiro do ano passado, que aprovou a nova Constituição do país. “O tumor poderia explicar por que Morales demonstrou estar desconcentrado nessa e em outras reuniões recentes”, avisou Jobim, segundo o amigo embaixador.
Não por outra razão, Nelson Jobim é classificado pelo embaixador Clifford Sobel como “talvez um dos mais confiáveis líderes no Brasil”. Não é difícil, à luz do Wikileaks, compreender tamanha admiração. Resta saber se, depois da divulgação desses telegramas, a presidente eleita Dilma Rousseff ainda terá argumentos para manter Jobim na pasta da Defesa, mesmo que por indicação de Lula. Há outros e piores precedentes em questão.
Jobim está no centro da farsa que derrubou o delegado Paulo Lacerda da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), acusado de grampear o ministro Gilmar Mendes, do STF. Jobim apresentou a Lula provas falsas da existência de equipamentos de escutas que teriam sido usados por Lacerda para investigar Mendes. Foi desmentido pelo Exército. Mas, incrivelmente, continuou no cargo. Em seguida, Jobim deu guarida aos comandantes das forças armadas e ameaçou renunciar ao cargo junto com eles caso o governo mantivesse no texto do Plano Nacional de Direitos Humanos a idéia (!) da instalação da Comissão da Verdade para investigar as torturas e os assassinatos durante a ditadura militar. Lula cedeu à chantagem e manteve Jobim no cargo.
Agora, Nelson Jobim, ministro da Defesa do Brasil, foi pego servindo de informante da Embaixada dos Estados Unidos. Isso depois de Lula ter consolidado, à custa de enorme esforço do Itamaraty e da diplomacia brasileira, uma imagem internacional independente e corajosa, justamente em contraponto à política anterior, formalizada no governo FHC, de absoluta subserviência aos interesses dos EUA.
Foi preciso oito anos para o país se livrar da imagem infame do ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer tirando os sapatos no aeroporto de Miami, em dezembro de 2002, para ser revistado por seguranças americanos.
De certa forma, os telegramas de Clifford Sobel nos deixaram, outra vez, descalços no quintal do império.
Nota botocuda
O ministro Jobim, um tucano mal disfarçado cometeu um desserviço ao Governo, pra não dizer uma temeridade e uma deslealdade indizível para com o Brasil e todo o povo brasileiro. Fornecer informações de bastidores do Governo a um diplomata-espião estrangeiro é um descalabro imperdoável.
Por que cargas d’água Lula agüenta um vendilhão traidor desse no Ministério da Defesa?... me expliquem!... E aquele outro mercenário do Henrique Meireles no Banco Central?...E o presidente Lula ainda quer indicar um sacana desse naipe para continuar no governo da Dilma. Esse Lula acerta uma no cravo outra na ferradura mesmo... Ó tempora... Ó mores!
Como eu mesmo escrevi no seu post sobre os caças Rafale (aliás, caiu mais um hoje, no Paquistão; já foram 4 desde que o Brasil deu a entender que prefere os franceses), todo mundo tá careca de saber que a diplomacia lulista muitas vezes acredita mais na ideologia do que na realidade. EUA ruinzinho, França boazinha. Quando na prática a realidade é muitas vezes "defronte" (como diz o mineiro). Se o Jobim falou isso mesmo, falou o óbvio ululante.
ResponderExcluirNo quesito quedas temos: Rafale - 4 x 3 - F18 (só no Canadá em 2010)
ResponderExcluirhttp://cavok.com.br/blog/?p=22926
Em 2008 um F18 caiu na área urbana de San Diego na Califórnia e matou uns em terra também. O outro avião, o sueco, acho que nem saiu das pranchetas do AutoCAD ainda.
Ñ estou a defender a França ou o modelo de avião francês, em detrimento do equipamento norte americano, mas as análises tem que ser completas. Queda por queda, os dois modelos tem precedentes suficientes.
O post que coloquei refere-se nem tanto à disputa entre a preferência de este ou aquele modelo de avião de caça, mas o fato de que a mais alta autoridade na área da defesa nacional ficar entregando segredinhos estratégicos para diplomatas espiões, regados a vinho chileno. Isso sim é um assinte! Um descalabro! É um lacaio lambe-botas do c......
Permite nos supor que esteja a soldo (pecuniário) dos irmãos do norte também!
Me expressei mal, colocando a disputa sendo França X EUA. Os aviões dos EUA são tão velhos quanto o padrão digital de TV deles. Sua única vantagem é ser tecnologia mais "testada", estas coisas sempre têm "bugs" quando saem novas.
ResponderExcluirPessoalmente sou fã dos aviões suecos, e a Aeronáutica também.