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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Yes, in my backyard!



Regina Scharf no Pagina 22


Ficou famoso um episódio ocorrido durante a primeira conferência da ONU sobre questões ambientais, em Estocolmo, em 1972. Com o intuito de atrair capital estrangeiro, o representante do governo militar brasileiro, o ministro João Paulo dos Reis Veloso convidou os países ricos a trazerem a sua poluição para o país. Com o passar do tempo e a expansão da consciência ambiental, ficou claro que importar os problemas dos outros não era uma boa idéia. Em boa parte do mundo, comunidades passaram a evitar a instalação de presídios, aterros sanitários e indústrias que considerassem particularmente poluidoras. Em muitos casos, essas mesmas comunidades acham que o serviço em questão é relevante para a sociedade – mas ele que vá para bem longe daqui.


É o chamado efeito NIMBY (acrônimo do inglês “Not in my backyard”, que pode ser traduzido como “No meu quintal não”).

Agora, na contracorrente dessa tendência, diversos países têm anunciado que querem sim importar os problemas alheios. A revista Foreign Policy acaba de publicar um relatório muito interessante a respeito.

Ela cita, por exemplo, a Rússia, que anunciou planos ambiciosos de ampliação da sua capacidade de enriquecimento de urânio para consumo próprio e de terceiros. O país tem importado combustível nuclear exaurido desde 2001, uma iniciativa que já movimentou mais de US$ 20 bilhões.

Dentre seus fornecedores estão diversos países do Leste Europeu, a França, a Alemanha, a Holanda e a Líbia. Apenas uma pequena porcentagem desse material retorna aos países de origem. Segundo a Foreign Policy, cerca de 700 mil toneladas de resíduos de urânio radioativo (parte deles oriunda das importações) estão sendo armazenadas em Mayak na Sibéria. Parte desses lixo nuclear é mantida em contêineres enferrujados deixados ao ar livre. Detalhe: a usina de reprocessamento foi palco de um grande acidente nuclear nos anos 50.

O governo de Gana, na África, também está se especializando na importação de resíduos perigosos. Desde 2008, ele está trabalhando num plano para receber e incinerar lixo vindo da Europa e do Canadá que é então incinerado para geração energética.

Inspirado pelo slogan “Resíduos Sólidos: Grande Problema! Grande Oportunidade!”, o governo ganês pretende gerar 50 megawatts nos próximos 15 anos. O país também tem recebido conteiners de celulares, televisores e computadores quebrados e obsoletos, descartados pelos países europeus – os conteiners são caracterizados como sendo doações de caridade. Assim, podem driblar uma resolução da Comunidade Europeia que impede a exportação de resíduos perigosos. Segundo a Foreign Policy, os eletrônicos são descartados num lixão visitado por crianças que quebram e queimam os equipamentos em busca de metais que possam ser vendidos.

A Holanda é citada como parte dessa tendência por estar recebendo presidiários da vizinha Bélgica, já que esta não dispõe de vagas carcerárias suficientes para responder a um aumento da criminalidade. Os holandeses, por sua vez, vivem um declínio da violência e, por isso, tiveram de fechar oito penitenciárias e cortar mais de mil vagas de emprego no sistema correcional. Juntou-se a fome e a vontade de comer. Segundo a reportagem, o governo belga está planejando pagar US$ 38 milhões anuais pelo aluguel de 500 celas da prisão holandesa de Tilburg, hoje basicamente desocupada.

Nota Botocuda

Essa solução é muito precária. Na verdade o que ainda acontece realmente em Gana é isto que se vê no vídeo:

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