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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Mas é inacreditável!... Isso só é possível na nossa Botocundia aqui mesmo!


Leandro Fortes no Brasilia eu vi

Uma informação incrível, revelada graças às inconfidências do Wikileaks, circula ainda impunemente pela equipe de transição da presidente eleita Dilma Rousseff: o ministro da Defesa, Nelson Jobim, costumava almoçar com o ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil Clifford Sobel para falar mal da diplomacia brasileira e passar informes variados. Para agradar o interlocutor e se mostrar como aliado preferencial dentro do governo Lula, Jobim, ministro de Estado, menosprezava o Itamaraty, apresentado como cidadela antiamericana, e denunciava um colega de governo, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, como militante antiyankee. Segundo o relato produzido por Clifford Sobel, divulgado pelo Wikileaks, Jobim disse que Guimarães “odeia os EUA” e trabalha para “criar problemas” na relação entre os dois países.

Para quem não sabe, Samuel Pinheiro Guimarães, vice-chanceler do Brasil na época em que Jobim participava de convescotes na embaixada americana em Brasília, é o atual ministro-chefe da Secretaria Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE). O Ministério da Defesa e a SAE são corresponsáveis pela Estratégia Nacional de Defesa , um documento de Estado montado por Jobim e pelo antecessor de Samuel Guimarães, o advogado Mangabeira Unger – com quem, aliás, Jobim parecia se dar muito bem. Talvez porque Unger, professor em Harvard, é quase um americano, com sotaque e tudo.

Após a divulgação dos telegramas de Sobel ao Departamento de Estado dos EUA, Jobim foi obrigado a se pronunciar a respeito. Em nota oficial, admitiu que realmente “em algum momento” (qual?) conversou sobre Pinheiro com o embaixador americano, mas, na oportunidade, afirma tê-lo mencionado “com respeito”. Para Jobim, o ministro da SAE é “um nacionalista, um homem que ama profundamente o Brasil”, e que Sobel o interpretou mal. Como a chefe do Departamento de Estado dos EUA, Hillary Clinton, decretou silêncio mundial sobre o tema e iniciou uma cruzada contra o Wikileaks, é bem provável que ainda vamos demorar um bocado até ouvir a versão de Mr. Sobel sobre o verdadeiro teor das conversas com Jobim. Por ora, temos apenas a certeza, confirmada pelo ministro brasileiro, de que elas ocorreram “em algum momento”.

Mais adiante, em outro informe recolhido no WikiLeaks, descobrimos que o solícito Nelson Jobim outra vez atuou como diligente informante do embaixador Sobel para tratar da saúde de um notório desafeto dos EUA na América do Sul, o presidente da Bolívia, Evo Morales. Por meio de Jobim, o embaixador Sobel foi informado que Morales teria um “grave tumor” localizado na cabeça. Jobim soube da novidade em 15 de janeiro de 2009, durante uma reunião realizada em La Paz, onde esteve com o presidente Lula. Uma semana depois, em 22 de janeiro, Sobel telegrafava ao Departamento de Estado, em Washington, exultante com a fofoca.

No despacho, Sobel revela que Jobim foi além do simples papel de informante. Teceu, por assim dizer, considerações altamente pertinentes. Jobim revelou ao embaixador americano que Lula tinha oferecido a Morales exame e tratamento em um hospital em São Paulo. A oferta, revela Sobel no telegrama a Washington, com base nas informações de Jobim, acabou protelada porque a Bolívia passava por um “delicado momento político”, o referendo, realizado em 25 de janeiro do ano passado, que aprovou a nova Constituição do país. “O tumor poderia explicar por que Morales demonstrou estar desconcentrado nessa e em outras reuniões recentes”, avisou Jobim, segundo o amigo embaixador.

Não por outra razão, Nelson Jobim é classificado pelo embaixador Clifford Sobel como “talvez um dos mais confiáveis líderes no Brasil”. Não é difícil, à luz do Wikileaks, compreender tamanha admiração. Resta saber se, depois da divulgação desses telegramas, a presidente eleita Dilma Rousseff ainda terá argumentos para manter Jobim na pasta da Defesa, mesmo que por indicação de Lula. Há outros e piores precedentes em questão.

Jobim está no centro da farsa que derrubou o delegado Paulo Lacerda da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), acusado de grampear o ministro Gilmar Mendes, do STF. Jobim apresentou a Lula provas falsas da existência de equipamentos de escutas que teriam sido usados por Lacerda para investigar Mendes. Foi desmentido pelo Exército. Mas, incrivelmente, continuou no cargo. Em seguida, Jobim deu guarida aos comandantes das forças armadas e ameaçou renunciar ao cargo junto com eles caso o governo mantivesse no texto do Plano Nacional de Direitos Humanos a idéia (!) da instalação da Comissão da Verdade para investigar as torturas e os assassinatos durante a ditadura militar. Lula cedeu à chantagem e manteve Jobim no cargo.

Agora, Nelson Jobim, ministro da Defesa do Brasil, foi pego servindo de informante da Embaixada dos Estados Unidos. Isso depois de Lula ter consolidado, à custa de enorme esforço do Itamaraty e da diplomacia brasileira, uma imagem internacional independente e corajosa, justamente em contraponto à política anterior, formalizada no governo FHC, de absoluta subserviência aos interesses dos EUA.

Foi preciso oito anos para o país se livrar da imagem infame do ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer tirando os sapatos no aeroporto de Miami, em dezembro de 2002, para ser revistado por seguranças americanos.

De certa forma, os telegramas de Clifford Sobel nos deixaram, outra vez, descalços no quintal do império.



Nota botocuda

O ministro Jobim, um tucano mal disfarçado cometeu um desserviço ao Governo, pra não dizer uma temeridade e uma deslealdade indizível para com o Brasil e todo o povo brasileiro. Fornecer informações de bastidores do Governo a um diplomata-espião estrangeiro é um descalabro imperdoável.

Por que cargas d’água Lula agüenta um vendilhão traidor desse no Ministério da Defesa?... me expliquem!... E aquele outro mercenário do Henrique Meireles no Banco Central?...

E o presidente Lula ainda quer indicar um sacana desse naipe para continuar no governo da Dilma. Esse Lula acerta uma no cravo outra na ferradura mesmo... Ó tempora... Ó mores!

Já somos 81,3 milhões


Há 3 anos, a F/Nazca faz um estudo aprofundado (F/Radar) sobre fenômenos sociais impulsionados pela popularização da Internet no país. Alguns paradigmas foram quebrados ao longo do estudo, e os dados falam por si só.

A pesquisa é quantitativa e abrangente: compreende todos os brasileiros acima de 12 anos, em 143 municípios de todo o Brasil, e tem margem de erro estatístico de dois pontos percentuais. O campo é realizado pelo Datafolha. Seguem alguns pontos mais polêmicos da última leitura (segundo semestre de 2010):

- Universalidade e democratização relativa

O país tem hoje 54% de pessoas acima de 12 anos que costumam acessar a Internet. A penetração é de 84% na classe AB, 51% na C e 23% nas classes DE. Noventa e um por cento dos jovens de 12 a 15 anos costumam acessar a Internet, sendo que esse número cai sucessivamente nas outras faixas etárias.

No entanto, se podemos nos surpreender com a extrema rapidez do “hábito de acesso” (diferente de “ter acesso”), a penetração em casa segue em patamares baixos: apenas 27% dos brasileiros possuem conexão com banda larga em casa e 6% com conexão discada.

O acesso em casa determina uma série de comportamentos diferenciados quando comparados com o acesso fora de casa e consubstancia uma fronteira social: 73% da classe AB possui acesso em casa, enquanto que na classe C são apenas 24%. Vale salientar ainda que a posse de Internet tem um crescimento pífio nas classes CDE.

O acesso em casa é, por exemplo, o principal gargalo para a popularização do comércio online. Apenas 25% dos brasileiros costumam fazer compras online e há uma relação direta entre classe social e compras online.

- A Internet é um dos principais fatores de emancipação cultural

Apesar dos rumores alarmistas que correm na mídia e que dão conta do excesso de informação, distração, superficialidade cultural e patologia social, a Internet é vista pelos brasileiros como uma chave para a vida moderna.

Noventa e três por cento dos brasileiros se consideram mais informados, 89% mais práticos, 88% mais comunicativos, 88% mais conectados, 88% mais instruídos e 60% mais independentes, desde que começaram a usar a Internet. A Internet só é vista como negativa por uma pequena minoria dos brasileiros.

- Colaboração na Internet é relacionamento e identidade.

Quando perguntado sobre colaboração voluntária e “autoral” na Internet, 57% dos brasileiros afirmam que “costumam colocar algum conteúdo feito por si próprio na Internet”. Esse percentual vem crescendo à base de 5% por semestre.

Os principais conteúdos são fotos (52%), textos (20%) e vídeos (19%), e a principal motivação é relacionar-se com alguém (30%) e ilustrar ou contar algo sobre a vida pessoal (20%).

- Colaboração na Internet chama-se Orkut

Cinquenta e cinco por cento das pessoas que costumam acessar a Internet de forma ativa dizem fazê-lo por meio de seu perfil ou por meio de comunidades no Orkut (40% e 15% respectivamente).

As demais (e ruidosas) redes são incipientes. Apesar de terem taxas de crescimento significativas, o Twitter e o Facebook só respondem por 7% e 4%, respectivamente, das menções a “colaboração online”.

- Mídia de informação se chama Google

A única mídia de informação que mantém relevância estável em todas as faixas etárias são as ferramentas de busca (leia-se Google), mantendo-se em torno de 50% para todas as faixas etárias.

O comportamento de consumo de notícias do brasileiro possui, no entanto, uma enorme diferença em função da faixa etária.

Embora a televisão continue sendo a mídia de consumo de informação preferida (45%), seguida pela Internet (40%), pelo rádio (7%), pelo jornal impresso (4%) e pela revista (2%), os jovens de 12 a 24 anos se informam prioritariamente nas suas redes sociais (80% entre 12 e 15 anos, 60% entre 16 e 24 anos) e nas ferramentas de busca (55% de 12 a 15 anos e 52% entre 16 e 24 anos).

Os portais, sites de mídia impressa e blogs só possuem relevância para os mais velhos.

- Jogar: uma mania nacional, mas uma mania gratuita ou pirateada

Quarenta e dois por cento da população brasileira costuma jogar através de algum dispositivo (29% pelo celular, 27% pelo computador, 23% por videogame tradicional e 6% por videogame portátil).

Esse número tem evidentemente penetração muito maior entre os mais jovens (90% de 12 a 14 anos e 70% de 16 a 24 anos), e os jogos mais populares são disparadamente os de futebol (27%).

No entanto, quando perguntado onde obtêm seus jogos, 81% dos brasileiros que jogam o fazem gratuitamente: 36% através daqueles obtidos das operadoras de celular gratuitamente, 29% emprestados de amigos, 22% baixados sem pagar em sites de compartilhamento de arquivos e 19% entrando sem pagar em sites de jogos em rede. Apenas 19% afirmam comprar seus jogos, sendo que um terço destes compra jogos em camelôs e banquinhas de rua (leia-se piratas).

fonte: F/Nazca Saatchi & Saatchi

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Brujas vistas el otro dia


Texto primoroso de Cynara Menezes (como gostaria de ter sido EU que tivesse escrito isto – concordo com cada palavra) na Carta Capital

Há uma revelação, entre as tantas que estão vindo à tona com a divulgação dos telegramas confidenciais das embaixadas dos Estados Unidos no mundo pelo site WikiLeaks, que me deixou particularmente satisfeita. Trata-se da admissão oficial pela diplomacia americana de que o que viveu Honduras em junho do ano passado foi um golpe de Estado. G-O-L-P-E, em português claro, como escrevemos em Carta Capital. Em inglês usa-se a palavra francesa “coup”. Ninguém utilizou o eufemismo “deposição constitucional” a não ser os pseudodemocratas locupletados em setores da mídia no Brasil.

É a mesma gente que, quando o governo Lula fala da intenção de regular a mídia, vem com o papo furado de que está se querendo cercear a liberdade de expressão. É o mesmo pessoal que ataca cotidianamente um líder democraticamente eleito e reeleito com palavras vis, mas que, ao menor sinal de revide verbal, protesta com denúncias ao suposto “autoritarismo”do presidente. Jornalistas, vejam só, capazes de ir lamber as botas dos militares em seus clubes sob a escusa de que a democracia se encontra “ameaçada” em nosso país.

Pois estes baluartes da liberdade de imprensa e de expressão no Brasil foram capazes de apoiar um regime conquistado pela força a pouca distância de nós, na América Central. Quando Honduras sofreu o golpe, estes falsos democratas saíram em campo para saudar o auto-empossado novo presidente Roberto Micheletti, que mandou expulsar o eleito Manuel Zelaya do país, de pijamas. Dizem-se democratas, mas espinafraram Lula e seu ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, por se recusarem a reconhecer um governo golpista. Quem é e quem não é democrata nessa história toda?

Não se engane, leitor. Disfarçados de defensores da democracia, estes “formadores de opinião” são na verdade carpideiras do regime militar. Choram às escondidas de saudades dos generais. Quando se colocam nas trincheiras da “liberdade de expressão” contra o governo, na verdade estão a tentar salvaguardar o monopólio midiático de seus patrões, não por acaso beneficiados pela ditadura. Dizem-se paladinos da imprensa livre, desde que seja aquela cevada pelas graças do regime militar. Não à toa, elogiam quem morreu do lado dos generais e difamam quem foi torturado e desapareceu lutando contra a ditadura.

As carpideiras do golpe se disfarçam sob a máscara dos bons moços, cheios de senso de humor “mordaz” (alguns humoristas de profissão, inclusive) e pretensamente bem formados intelectualmente. Mas não é difícil identificá-las: fique de olho em gente que diz que “todo político é igual”, que despreza o brasileiro com declarações do tipo “somos todos Tiriricas” e que prega o voto nulo nas eleições. Repare bem: prescindir do voto é abrir mão de ser cidadão. Na ditadura, não se votava, lembra? As carpideiras do regime militar tentam se conter, mas volta e meia se traem.

É mais fácil reconhecer uma carpideira dos milicos em tempos de guerra do que de paz. Durante as eleições, foi só surgir a polêmica sobre a descriminalização do aborto que elas mostraram a verdadeira face, erguendo a bandeira da ala mais obscurantista da igreja católica. Com a invasão policial dos morros cariocas no fim de semana, a mais “tchutchuca” entre todas as carpideiras da ditadura teve a desfaçatez de postar no twitter: “E se o BOPE, a Polícia e as Forças Armadas, depois da operação no Rio, fossem limpar o Congresso Nacional?” Nenhum respeito às instituições: é dessa matéria que se fazem os golpistas.

Se foram capazes de colocar o presidente Lula, do alto de sua popularidade, em capa de revista com a marca de um pé no traseiro, é de se presumir que as carpideiras do regime militar não darão trégua a Dilma Rousseff. Já começaram por escarafunchar seu passado de guerrilheira. Que ninguém se engane, as carpideiras estão à espreita. Esperam um deslize qualquer de Dilma para tentar defenestrá-la. Estão louquinhas por uma “deposição constitucional” como a que houve em Honduras, porque jamais admitirão ser o que são: groupies de ditadores. Os papéis do Wikileaks deixam claro, porém, que nem os Estados Unidos se enganam mais com golpistas.

Alemanha vai socorrer a cidade de Nápoles


A cidade de Nápoles, Itália, está vivendo agora um drama humano, sanitário e social. Está soterrada por toneladas de lixo: nas ruas, na porta de escolas, monumentos, praças, igrejas.

A Região toda, por quase 20 anos, foi LIXÃO das industrias do Norte da Itália e, parece, de parte da Europa também.Era um lucrativo negócio controlado pela Máfia local, a Camorra.

Boa parte do interior do Sul da Itália foi destino do lixo tóxico de industrias, hospitais, gráficas, etc. a partir dos anos 90, quando houve a proibição de enviar o lixo tóxico para a África. Em muitos casos, no passado, o lixo tóxico foi descarregado na África com a autorização dos Governos Africanos, em troca de armas para as inúmeras guerras civis.

Agora a Alemanha pode lucrar com esse problema italiano. Cidades alemãs que adotaram medidas efetivas de destinação de lixo, como incineração com fins energérticos, gaseificação e outros métodos modernos de transformação de lixo, vão cobrar para resolver a questão e destinar corretamente esse passivo a uma taxa de € 235 a tonelada. Mas quem vai pagar essa conta vai ser o cidadão italiano comum, pois a Camorra dificilmente vai comparecer nessa hora.

Chavez disse que os EUA espionam Deus e todo mundo


O WikiLeaks começou neste domingo (28/11) a divulgar um lote das 250 mil mensagens secretas que dispõe, enviadas por diplomatas dos Estados Unidos ao governo central e órgãos de segurança daquele país.

Até agora, o WikiLeaks publicou em seu site algumas centenas de 251.287 documentos, descritos como cabos (ou cabogramas) - como são chamadas as comunicações entre instituições diplomáticas.

O site entregou antecipadamente os arquivos em sua íntegra a cinco grupos de mídia, entre eles os jornais "New York Times", americano, "Guardian", britânico, à revista alemã "Der Spiegel" e ao "El Pais", espanhol.

Sobre o Brasil também publicaram vários documentos, onde se nota que a preocupação parece que se concentra na Tríplice Fronteira BR/AR/PY, em Foz do Iguaçu, por sua grande comunidade árabe e possíveis focos de terroristas muçulmanos. Proximamente pretendem disponibilizar alguns documentos traduzidos, de acordo com a intro em português que fazem sobre essa documentação.

Mas, como não poderia deixar de ser, o esforçado jornalismo da Folha de São Paulo já encontrou material para meter Dilma Rousseff nesse imbróglio dos documentos que já apareceram.

A Folha afirma ter lido seis documentos, o que você também pode fazer na page do WikiLeaks, aqui.

Agora quero ver como ficam os eternos detratores do belzebu Hugo Chavez, que sempre afirmou, com todas as letras, de que os EUA espionavam Deus e todo mundo, e babões sempre diziam que era puro delírio antiamericano.


Nota botocuda – atualizado em 30/11

O embaixador norte-americano em Honduras manifestou sua opinião (visível em documentos vazados neste fim de semana pelo WikiLeaks) a respeito do Golpe de 2008 lá.

Ele afirma (pode ser visto na matéria do Opera Mundi/UOL) que o golpe foi ilegal e inconstitucional. Para o embaixador americano Hugo Llorens, todas as alegações contra Zelaya eram abertamente falsas ou baseadas em meras suposições. Ele afirma ainda que os golpistas nunca apresentaram qualquer documento ou argumento válido. Trata-se então de conspiração e golpe mesmo, daqueles que os supostos "defensores" da democracia gostam de executar nas democracias de fato.

Aqui no Brasil a mídia golpista, e de resto toda a direitona reacionária, trompeteou e tocou bumbo todo o tempo conta a política do ministro Amorim e do governo Lula na questão hondurenha.

domingo, 28 de novembro de 2010

Ocupado o QG do Comando Vermelho. Algo vai mudar?


Carlos Amorim em seu blog

Às oito horas da manhã do domingo 28 de novembro – uma data histórica -, três mil policiais, soldados da Brigada Paraquedista do Exército, além de fuzileiros navais com 15 blindados leves, mais helicópteros de combate, invadiram o quartel-general do Comando Vermelho: o Morro do Alemão, no centro de um complexo de 14 favelas e quase meio milhão de moradores. Até as cinco horas da tarde, quando a ocupação se completava, a força de ocupação ainda se impressionava com a calma aparente no bairro. Esperava enfrentar 600 traficantes fortemente armados, mas esse grande confronto, que resultaria em dezenas de mortos, simplesmente não aconteceu.

Utilizando a velha tática das guerrilhas, os bandidos se dispersaram e sumiram em meio à população. Deixaram para trás toneladas de maconha e cocaína, armas de guerra, dinheiro (60 mil dólares só numa mochila apreendida com um garoto) e as casas luxuosas dos gerentes do tráfico. Quase uma centena de pessoas foram presas, a maioria inocentes. A ocupação do Morro do Alemão encerra uma semana de violência desmedida no Rio de Janeiro. No domingo anterior, bandos armados começaram a queimar ônibus e carros por toda a cidade, num total de quase 100 veículos, semeando o pânico. No enfrentamento entre os criminosos e a polícia, 36 pessoas morreram e não há conta do número de feridos.

A batalha – e este é apenas um episódio numa guerra que levará décadas – produziu três resultados inéditos e surpreendentes: a reação solidária de todos os níveis de governo, com o governador aceitando a intervenção de tropas federais; a resposta indignada da população carioca, que colaborou com a força-tarefa inclusive nas favelas; a unificação das facções criminosas. A pergunta que se coloca é a seguinte: por que os bandidos tomaram a iniciativa do confronto, com a queima dos veículos, provocando abertamente o poder público? A explicação oficial é a de que eles estavam perdendo territórios para as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Difícil de acreditar, porque essas unidades existem apenas em 12 (agora 13) das mais de mil favelas cariocas – uma gota no oceano. Outra explicação: os bandidos estariam reagindo contra a transferência de suas lideranças para presídios de segurança em outros estados. Essa pode ser. Mas, como eles foram transferidos há muito tempo, soa estranho. A minha tese é a de que os ataques visavam criar uma moeda de troca para uma trégua na Copa do Mundo e nas Olimpíadas.

Todas as vezes em que o crime organizado promoveu esses levantes armados – e foram várias -, havia sempre uma pauta de reivindicações por trás dos atentados. Foi assim com os ataques do CV nos anos 1980 e 1990; com o PCC paulista em 2001, 2003 e 2006; com a Organização Plataforma Armada (OPA), em Salvador, em 2008. Quase sempre as reivindicações se destinavam a melhorar as condições carcerárias, especialmente porque tais facções agem de dentro para fora das prisões. Toda a chefia desses grupos está presa – e do lado de fora das celas os novos comandantes são da terceira geração do tráfico de drogas, jovens e cruéis, que não têm o mesmo senso de convivência comunitária que seus antigos líderes pregavam.

Esses movimentos reivindicatórios sempre foram mantidos em segredo pelos governantes, tratados em gabinetes, distantes da imprensa e da opinião pública. E quase sempre resultaram em acordos benéficos para o crime. Um exemplo escandaloso foi o de uma comissão do governo paulista que foi até o presídio de Presidente Bernardes se encontrar com o suposto chefe do PCC, Marcos Herbas Camacho, o Marcola, em plena onda de atentados de 2006. Vou repetir: muitas das exigências das facções criminosas (visitas íntimas, aumento do banho de sol, fim dos espancamentos e dos castigos, melhoria da comida, transferência de presos doentes) foram atendidas, porque esses confrontos cobram alto preço político, particularmente com as rebeliões prisionais banhadas a sangue, como no caso do Carandiru, o mais emblemático de todos.

E agora, neste episódio do Rio de Janeiro, silêncio total as autoridades e da mídia. O governador Sérgio Cabral tomou a atitude corajosa de partir para cima do crime organizado. Alguns anos atrás, chegou a admitir que o Rio “vive um estado de guerra”. E Cabral foi tão longe, que já não tem caminho de volta. A briga vai ser feia mesmo. Aliás, comente-se que a mídia aderiu completamente, sem qualquer tipo de questionamento. A capa da Veja, com foto de um soldado do Bope apontando uma arma, dizia: “o dia em que o Brasil começou a vencer o crime”. Parece mais um desejo do que uma realidade.

O Brasil, que vive uma democracia avançada e de plenas liberdades, com um partido popular no poder, agora se equiparou ao México, onde o narcotráfico está vencendo a guerra, e à Colômbia, onde há uma guerra civil que já dura 56 anos e que resultou até agora em quase um milhão de mortos. Lamentavelmente, adentramos o perigoso pântano de uma guerra urbana de verdade. (Ver o artigo “As UPPs e o Estado de Direito”, neste site.) Num dos meus livros, escrevi: “não quero ver a minha cidade ocupada por fuzileiros navais e paraquedistas – assim como não quero vê-la ocupada pelos meninos do tráfico”. Poucos anos depois, o pesadelo chegou. (E o que aconteceria se o PCC aderisse ao levante?)

Outra questão que me preocupa: comemorando 25 anos de liberdades, podemos conviver com ocupações militares, com pequenos Estados de Sítio? É isso que a população quer? Certamente, é isso que a classe média, a maior vítima da violência, deseja – assim como é o mesmo que deseja a elite consumidora de drogas e cínica. Vamos também erguer uma força-tarefa para pegar os bandidos da Esplanada dos Ministérios e da Avenida Paulista? E os traficantes da orla de luxo do Rio, do Guarujá, Floripa, Vitória ou Salvador? Aparentemente, o braço armado do Estado vai continuar caindo sobre as “classes perigosas”, os pobres em geral.

Quem acha que a batalha do Alemão vai acabar com o tráfico ou o crime, está enganado. O Comando Vermelho ocupava aquela área há quase 30 anos, inclusive com hotéis para receber seus fornecedores estrangeiros e seus sócios do PCC. Quanto tempo os militares ficarão por lá? Nossos governantes nem sabem direito o que é crime organizado. Os chefes do tráfico de drogas e de armas, da pirataria e do contrabando, não moram em favelas e não serão presos. O tráfico no Rio movimenta 100 toneladas de drogas por ano, com um faturamento de aproximadamente 700 milhões de reais. Quem vocês acham que são os agentes financeiros de toda essa grana, só no Rio?

Por que o governador Sérgio Cabral não aproveitou a ofensiva contra o crime organizado para atacar também as milícias, bandos armados formados por policiais e ex-policiais, que ocupam quase 100 favelas na cidade? Esses grupos paramilitares agem como forças auxiliares da polícia. A mais famosa dessas milícias – a “Liga da Justiça”, da zona oeste – é comandada por um deputado e uma vereadora – pelo menos é isso o que garante o Ministério Público e a imprensa carioca. Mais uma: porque não aproveitou o momento de mobilização para anunciar um plano de reforma do aparelho policial e combate à corrupção entre as forças da lei? Estava na hora de fazer tudo isso? Não! Essa hora já passou há muito tempo! Depois do calor das emoções, tudo isso escorrega para o silêncio.

Ou seja: dispersada a pólvora e a fumaça, vai começar tudo de novo.

sábado, 27 de novembro de 2010

Adivinhem o que é isso?

O obscuro consultor Francisco Vivoni comprou a propriedade que pertenceu ao ex-dono da Vasp, Wagner Canhedo. Mas sua empresa e a origem dos seus recursos são um mistério absoluto

Por Eduardo Savanachi em IstoÉ dinheiro


O diálogo abaixo foi travado no fim da tarde da quarta-feira 24, instantes depois que o consultor agrícola Francisco Vivoni, num lance único, no valor de R$ 436 milhões, adquiriu uma das maiores propriedades rurais do Brasil, a Fazenda Piratininga, que pertenceu ao ex-dono da Vasp, Wagner Canhedo:


– Alô, eu gostaria de falar com o Francisco Vivoni. Aqui é da revista Istoé DINHEIRO.
– É ele.
– Soube que o sr. comprou a fazenda do Wagner Canhedo.
– Isso.
– Quais são suas atividades?
– Temos várias empresas. Está tudo lá no site da Conagro.
– Eu entrei, vi que são 11 empresas, mas só tem fotos de bois, frangos, porcos, plantações e nenhuma informação efetiva sobre faturamento, local das atividades...
– Somos uma empresa de capital fechado, não temos que prestar informações financeiras.
– Mas é estranho. Vocês dizem que têm frigoríficos, empresas de bioenergia, de higiene e limpeza, companhias de papel e celulose...
– Nós vamos dominar toda a cadeia do agronegócio.
– A empresa não foi criada especificamente para este negócio da fazenda?
– Ela existe desde 2005.
– Fazendo o quê?
– Foi criada lá fora.
– É uma multinacional, então?
– Tem um escritório em Londres para captar dinheiro de investidores estrangeiros.
– Quem são os investidores?
– É uma empresa fechada.
– Onde é o escritório de vocês?
– Estamos chegando em São Paulo, mas eu fico também em Brasília.
– Seu cartão diz que é na (avenida) Faria Lima o escritório.
– Isso, lá perto do Largo da Batata, não sei direito o nome do prédio.
– Qual era sua atividade antes desse negócio? O sr. trabalhou em alguma empresa rural?
– Sempre mexendo com terra, com fazenda.

Francisco Vivoni é tão misterioso quanto o grupo que comanda. Ele se diz presidente da Conagro, um grupo de 11 empresas, com atuação em alimentos, frigoríficos, higiene e limpeza, pecuária, bioenergia, logística, armazéns-gerais, sementes, celulose e papel, fertilizantes e agricultura.

Mas a empresa não faz parte de nenhuma associação de classe do agronegócio e o site da companhia, finalizado neste ano, traz apenas fotos genéricas de vários setores do agronegócio.

Seu cartão de visitas indica um endereço em São Paulo (um edifício na avenida Faria Lima, 628, sem indicação do andar ou do número da sala), com telefones de Brasília. E o condomínio localizado naquele endereço diz não conhecer nenhuma Conagro. “Nunca ouvi falar”, diz o porteiro do edifício.

O mistério em relação ao grupo comprador é mais um capítulo de um leilão cercado de batalhas judiciais e marcado por cenas inusitadas. Embora os leiloeiros que organizaram a venda demonstrassem confiança na conclusão do negócio, do lado de fora do auditório do Fórum Trabalhista de São Paulo, era difícil encontrar alguém que mantivesse o mesmo otimismo.

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O leilão, determinado pela justiça e vencido por Vivoni (direita), foi para pagar as dívidas de Canhedo (esquerda)

Quando já se preparavam para encerrar o evento, eis que Vivoni, timidamente, ergue o braço e arremata a propriedade. “Estamos acompanhando esse caso já há algum tempo e achamos uma ótima oportunidade de negócios”, afirmou Vivoni.

Até mesmo os leiloeiros se mostravam surpresos com os compradores. “Recebemos várias consultas de grandes grupos e esperávamos até uma disputa maior”, comentou o leiloeiro Antonio Carlos Seavanes. “As pendências jurídicas foram resolvidas e podíamos ter vendido por um valor maior”, lamenta.

Já o empresário Wagner Canhedo, cujas dívidas com a falência da Vasp somam cerca de R$ 1 bilhão, por meio de seu advogado, Carlos Campanha, disse que não iria se manifestar sobre a venda. Campanha, aliás, protagonizou uma das cenas mais tensas do evento, ao se aproximar dos compradores da fazenda, para dizer que havia uma liminar que suspendia os efeitos do leilão. “Vocês podem comprar, mas não vão levar até que se tramite o processo. Espero que estejam bem assessorados juridicamente”, disse. Mal acabou a frase, e a juíza Elisa Andreoni ameaçou dar voz de prisão ao advogado. “O senhor não pode tumultuar o leilão”, bradou. Vitorioso, o empresário Francisco Vivoni se declara otimista. “A fazenda voltará a ser uma das mais produtivas do Brasil”, diz ele.

Mas será que Vivoni, desconhecido por todas as lideranças do agronegócio e dono de uma empresa que hoje possui apenas um website construído às pressas, comprou mesmo a fazenda em seu nome? Uma pergunta que não foi respondida no misterioso leilão da fazenda de Wagner Canhedo.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A batalha do Rio (2): a farsa e a geopolítica do crime


Por José Cláudio Souza Alves* na coluna do leitor da Carta Capital

Nós que sabemos que o “inimigo é outro”, na expressão padilhesca, não podemos acreditar na farsa que a mídia e a estrutura de poder dominante no Rio querem nos empurrar.

Achar que as várias operações criminosas que vem se abatendo sobre a Região Metropolitana nos últimos dias, fazem parte de uma guerra entre o bem, representado pelas forças publicas de segurança, e o mal, personificado pelos traficantes, é ignorar que nem mesmo a ficção do Tropa de Elite 2 consegue sustentar tal versão.

O processo de reconfiguração da geopolítica do crime no Rio de Janeiro vem ocorrendo nos últimos 5 anos.

De um lado Milícias, aliadas a uma das facções criminosas, do outro a facção criminosa que agora reage à perda da hegemonia.

Exemplifico. Em Vigário Geral a polícia sempre atuou matando membros de uma facção criminosa e, assim, favorecendo a invasão da facção rival de Parada de Lucas. Há 4 anos, o mesmo processo se deu. Unificadas, as duas favelas se pacificaram pela ausência de disputas. Posteriormente, o líder da facção hegemônica foi assassinado pela Milícia. Hoje, a Milícia aluga as duas favelas para a facção criminosa hegemônica.

Processos semelhantes a estes foram ocorrendo em várias favelas. Sabemos que as milícias não interromperam o tráfico de drogas, apenas o incluíram na listas dos seus negócios juntamente com gato net, transporte clandestino, distribuição de terras, venda de bujões de gás, venda de voto e venda de “segurança”.

Sabemos igualmente que as UPPs não terminaram com o tráfico e sim com os conflitos. O tráfico passa a ser operado por outros grupos: milicianos, facção hegemônica ou mesmo a facção que agora tenta impedir sua derrocada, dependendo dos acordos.

Estes acordos passam por miríades de variáveis: grupos políticos hegemônicos na comunidade, acordos com associações de moradores, voto, montante de dinheiro destinado ao aparado que ocupa militarmente, etc.

Assim, ao invés de imitarmos a população estadunidense que deu apoio às tropas que invadiram o Iraque contra o inimigo Sadan Husein, e depois, viu a farsa da inexistência de nenhum dos motivos que levaram Bush a fazer tal atrocidade, devemos nos perguntar: qual é a verdadeira guerra que está ocorrendo?

Ela é simplesmente uma guerra pela hegemonia no cenário geopolítico do crime na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

As ações ocorrem no eixo ferroviário Central do Brasil e Leopoldina, expressão da compressão de uma das facções criminosas para fora da Zona Sul, que vem sendo saneada, ao menos na imagem, para as Olimpíadas.

Justificar massacres, como o de 2007, nas vésperas dos Jogos Pan Americanos, no complexo do Alemão, no qual ficou comprovada, pelo laudo da equipe da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, a existência de várias execuções sumárias é apenas uma cortina de fumaça que nos faz sustentar uma guerra ao terror em nome de um terror maior ainda, porque oculto e hegemônico.

Ônibus e carros queimados, com pouquíssimas vítimas, são expressões simbólicas do desagrado da facção que perde sua hegemonia buscando um novo acordo, que permita sua sobrevivência, afinal, eles não querem destruir a relação com o mercado que o sustenta.

A farsa da operação de guerra e seus inevitáveis mortos, muitos dos quais sem qualquer envolvimento com os blocos que disputam a hegemonia do crime no tabuleiro geopolítico do Grande Rio, serve apenas para nos fazer acreditar que ausência de conflitos é igual à paz e ausência de crime, sem perceber que a hegemonização do crime pela aliança de grupos criminosos, muitos diretamente envolvidos com o aparato policial, como a CPI das Milícias provou, perpetua nossa eterna desgraça: a de acreditar que o mal são os outros.

Deixamos de fazer assim as velhas e relevantes perguntas: qual é a atual política de segurança do Rio de Janeiro que convive com milicianos, facções criminosas hegemônicas e área pacificadas que permanecem operando o crime? Quem são os nomes por trás de toda esta cortina de fumaça, que faturam alto com bilhões gerados pelo tráfico, roubo, outras formas de crime, controles milicianos de áreas, venda de votos e pacificações para as Olimpíadas? Quem está por trás da produção midiática, suportando as tropas da execução sumária de pobres em favelas distantes da Zona Sul? Até quando seremos tratados como estadunidenses suportando a tropa do bem na farsa de uma guerra, na qual já estamos há tanto tempo, que nos esquecemos que sua única finalidade é a hegemonia do mercado do crime no Rio de Janeiro?

Mas não se preocupem, quando restar o Iraque arrasado sempre surgirá o mercado financeiro, as empreiteiras e os grupos imobiliários a vender condomínios seguros nos Portos Maravilha da cidade.

Sempre sobrará a massa arrebanhada pela lógica da guerra ao terror, reduzida a baixos níveis de escolaridade e de renda que, somadas à classe média em desespero, elegerão seus algozes e o aplaudirão no desfile de 7 de setembro, quando o caveirão e o Bope passarem.

* José Cláudio Souza Alves e sociólogo, Pró-reitor de Extensão da UFRRJ e autor do livro: Dos Barões ao Extermínio: Uma História da Violência na Baixada Fluminense.

Não podemos esquecer


Bárbara Souza e Josmar Jozino - O Estadao de S.Paulo

Dos 564 mortos por arma de fogo no Estado de São Paulo entre 12 e 21 de maio de 2006, quando o Primeiro Comando da Capital atacou as forças de segurança, 59 eram agentes públicos. Os outros 505 eram civis. Os números fazem parte do relatório final da pesquisa Análise dos Impactos dos Ataques do PCC. O trabalho foi realizado pelo Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e coordenados pelo sociólogo Ignácio Cano.

Segundo a pesquisa, dos 505 civis mortos, 118 foram assassinados em confronto com a polícia; 50 foram vítimas de execução sumária individual; 35 de execução sumária por grupo não encapuzado; 53 por grupo encapuzado; 4 foram executados sumariamente por policiais; 10 morreram em ataques a delegacias; 6 em conflitos interindividual, 2 em acidente ou bala perdida; 21 por outros motivos e 206 por desconhecidos.

O dia mais crítico foi 14 de maio (domingo, Dia das Mães), quando 107 morreram. No dia 15 foram mortos 84 civis; no dia 16, outros 75 e no dia 17, mais 65. A maioria dos agentes públicos morreu nos três primeiros dias de ataque, sendo 10 em 12 de maio, 23 no dia 13 e 8 no dia 14.

De acordo com Cano, um dado revelador é que, enquanto os agentes públicos foram mortos nos dias 12 e 13, os civis foram assassinados, fundamentalmente, entre os dias 14 e 17. "Esse quadro reforça a suspeita de que houve uma represália às ações do PCC, uma vez que a maior parte dos civis morreu nos dias seguintes", afirmou.

Nos dois primeiros dias dos ataques, a proporção entre o número de agentes públicos mortos e o de civis foi semelhante. A partir do dia 14, para cada agente morto havia 10 civis mortos. No dia 17 , a proporção chegou à casa dos 20 mortos.

A batalha do Rio


Texto do ótimo jornalista Mauro Santayana

É um engano identificar a batalha do Rio – e de outras grandes cidades – como mero confronto entre a polícia e delinquentes, traficantes, ou não. Embora a conclusão possa chocar os bons sentimentos burgueses, e excitar a ira conservadora, é melhor entender os arrastões, a queima de veículos, os ataques a tiros contra alvos policiais, como atos de insurreição social. Durante a rebelião de São Paulo, o governador em exercício, Cláudio Lembo, considerado um político conservador, mais do que tocar na ferida, cravou-lhe o dedo, ao recomendar à elite branca que abrisse a bolsa e se desfizesse dos anéis.

O Brasil é dos países mais desiguais do mundo. Estamos cansados do diagnóstico estatístico, das análises acadêmicas e dos discursos demagógicos. Grande parcela das camadas dirigentes da sociedade não parece interessada em resolver o problema, ou seja, em trocar o egoísmo e o preconceito contra os pobres, pela prosperidade nacional, pela paz, em casa e nas ruas. Não conseguimos, até hoje (embora, do ponto de vista da lei, tenhamos avançado um pouco, nos últimos decênios) reconhecer a dignidade de todos os brasileiros, e promover a integração social dos marginalizados.

Os atuais estudiosos da Escola de Frankfurt propõem outra motivação para a revolução: o reconhecimento social. Enfim, trata-se da aceitação do direito de todos participarem da sociedade econômica e cultural de nosso tempo. O livro de Axel Honneth, atual dirigente daquele grupo (A luta pelo reconhecimento. Para uma gramática moral do conflito social) tem o mérito de se concentrar sobre o maior problema ético da sociedade contemporânea, o do reconhecimento de qualquer ser humano como cidadão.

A tese não é nova, mas atualíssima. Santo Tomás de Aquino foi radical, ao afirmar que, sem o mínimo de bens materiais, os homens estão dispensados do exercício da virtude. Quem já passou fome sabe que o mais terrível dessa situação é o sentimento de raiva, de impotência, da indignidade de não conseguir prover com seus braços o alimento do próprio corpo. Quem não come, não faz parte da comunidade da vida. E ainda “há outras fomes, e outros alimentos”, como dizia Drummond.

É o que ocorre com grande parte da população brasileira, sobretudo no Rio, em São Paulo, no Recife, em Salvador – enfim em todas as grandes metrópoles. Mesmo que comam, não se sentem integrados na sociedade nacional, falta-lhes “outro alimento”. Os ricos e os integrantes da alta classe média, que os humilham, a bordo de seus automóveis e mansões, são vistos como estrangeiros, senhores de um território ocupado. Quando bandos cometem os crimes que conhecemos (e são realmente crimes contra todos), dizem com as labaredas que tremulam como flâmulas: “Ouçam e vejam, nós existimos”.

As autoridades policiais atuam como forças de repressão, e não sabem atuar de outra forma, apesar do emplastro das UPPs.

Na Europa, conforme os analistas, cresce a sensação de que quem controla o Estado e a sociedade não são os políticos nem os partidos, escolhidos pelo voto, mas, sim, o mercado. Em nosso tempo, quem diz “mercado”, diz bancos, diz banqueiros, que dominam tudo, das universidades à grande parte da mídia, das indústrias aos bailes funk. E quando fraudam seus balanços e “quebram”, o povo paga: na Irlanda, além das demissões em massa, haverá a redução de 10% nas pensões e no salário mínimo – entre outras medidas – para salvar o sistema.

A diferença entre o que ocorre no Rio e em Paris e Londres é que, lá, o comando das manifestações é compartido entre os trabalhadores e setores da classe média, bem informados e instruídos. Aqui, os incêndios de automóveis e os ataques à polícia são realizados pelos marginalizados de tudo, até mesmo do respeito à vida. À própria vida e à vida dos outros.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A velha midia acusa o golpe da blogosfera


O recorte acima está na chamada de capa do jornal o Globo de hoje. Isso significa que a velha imprensa golpista acusou o golpe da entrevista do presidente Lula aos blogueiros sujos. Observe que O Globo mente até aqui, pois ao contrario do que afirmam de que “o palacio do Planalto escolheu...” etc., etc., o pedido da entrevista partiu do Instituto Barão de Itararé, na pessoa do blogueiro Renato Rovai. Não há registro que o palácio tenha interferido na escolha dos blogueiros que iriam.

Acompanhem o que o Rodrigo Viana (repórter escorraçado das organizações Globo por defender outros pontos de vista) escreve a respeito:


Nota: o artigo de O Globo sobre o acontecido pode ser lido aqui. O texto raivoso , molhado de baba hidrofóbica de Dora Kramer publicado no Estadão sobre o mesmo objeto está aqui

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Doi o fígado de O Globo

O jornal da família Marinho publicou chamada na capa sobre a entrevista de Lula aos blogueiros. E, numa página interna, estampou matéria de alto de página sobre a coletiva no Palácio do Planalto. O objetivo, evidentemente, era esculhambar os blogueiros e o presidente da República.

Achei muito engraçado: a turma de Ali Kamel está perdida. Passar recibo dessa forma a meia dúzia de blogueiros? Isso mostra o que? Que eles temem a blogosfera. Já não falam sozinhas. O fígado dos que dirigem as “Organizações Globo” dói por dois motivos:

- já não formam opinião como antes, e não decidem eleição (por mais que eu seja o primeiro a reconhecer que a velha mídia segue a concentrar algum poder; erra quem menospreza esse poder hoje cadente);

- já não falam sozinhos no Brasil.

Alguns amigos escreveram pra perguntar se não seria necessária uma “resposta” a “O Globo”. Outro bom amigo, o Beto Pandini, ligou logo cedo pra avisar: “você não pode deixar de ler O Globo, a cobertura deles sobre a entrevista com Lula é de rolar de rir”.

Concordo com o Beto. É engraçado”O Globo” chamar os blogueiros de “chapa-branca”.

He, he.

As “Organizações Globo” cresceram sob a ditadura, de braços dados com os militares. Depois, nomearam ACM para Ministro das Comunicações de Sarney. Na sequência, elegeram Collor. E ajudaram o país a vender suas estatais na era FHC. Essa é a história da Globo e de “O Globo”. Conheço bem, até porque lá trabalhei por 12 anos.

A história é autoexplicativa.

Globo, Folha, Abril e outros estão esperneando contra os blogueiros. É o ódio de quem já não pode ditar os rumos do país, sentado na varanda da Casa-Grande – esse tempo se foi. Ódio a Lula, ódio à mudança. Sentem ódio do país que, pouco a pouco, se torna mais democrático.

Alguns dos que estávamos sentados na sala do Palácio, a entrevistar Lula, no passado éramos vistos apenas como possíveis “empregados” da velha mídia. Hoje, podemos também ser concorrentes. Ainda que de forma modesta. Isso, eles não perdoam!

De minha parte, digo sempre: tenho lado e me orgulho disso. Sou de esquerda, e defendo as ações do governo Lula que considero favorecer a justiça social e o avanço do Brasil. Resguardo, no entanto, o direito de criticar tudo aquilo que achar necessário. E procuro não brigar com os fatos. Mas tenho lado.

“O Globo” também tem lado. Finge que não tem. E assim se torna ainda mais ridículo.

O lado em que está “O Globo” vive hoje na defensiva. Maior sinal disso é que tenha passado esse recibo gigantesco: o velho jornal carioca gastou papel, manchetes e mentiras para atacar meia dúzia de blogueiros “sujos”.

He, he. Como diz o Beto, é até engraçado. E como eu disse ontem no primeiro texto sobre a entrevista com Lula: algo se moveu no mundo das comunicações do Brasil. E “O Globo” – sem querer – ajudou a deixar isso mais claro!