Em fins de 1998 o Brasil estava quebrado, sem dólares para honrar os compromissos. Fosse um cliente normal de banco, ambos – cliente e banco – sentariam para negociar. A dívida seria adaptada à capacidade de pagamento do país.
Mas, na imensa esbórnia que marcou os jogos especulativos dos anos 90 em diante, havia um emprestador de última instância, o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Em geral há dois riscos que os credores correm, quando emprestam quando especulam contra países. O primeiro é o risco cambial. Há uma corrida para retirar os dólares que provoca uma desvalorização da moeda nacional. Na hora de converter seus dólares, o investidor terá uma perda proporcional à desvalorização da moeda nacional no período.
O segundo risco é o da impossibilidade de pagamento do país. O FMI entrava para amenizar esses dois riscos. Monta-se um acordo com o país quebrado, consegue-se uma série de medidas – em geral, de cunho recessivo -, uma série de concessões (entre as concessões propostas pelo Brasil incluía-se até a venda das grandes estatais - algumas efetivamente entregues). Empresta-se o dinheiro que servirá exclusivamente para permitir aos credores (grandes bancos internacionais) e especuladores (grandes fundos internacionais) saírem sem grandes perdas.
Em países sem moeda conversível – como é o caso do Brasil - um dos grandes riscos do especulador é uma maxidesvalorização da moeda do país atacado. Na hora de converter os reais em dólares, para tirá-los do país, o especulador sofreria uma perda proporcional à desvalorização da moeda no período.
A oferta de dólares, criando-se uma rede de "seguro-empréstimo" do FMI, [facilitava a vida] para o especulador. Essa rede de segurança foi a principal responsável pela imprudência dos especuladores nas grandes crises cambiais do período, ao amenizar seu risco.
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O que está ocorrendo com a Grécia, hoje, é pior. Como a moeda nacional é o euro, afastou dos especuladores o risco da desvalorização cambial. Persiste o risco do calote, dada a óbvia impossibilidade da Grécia em honrar as dívidas assumidas.
Fala-se em “óbvia incapacidade” porque as projeções montadas pelo FMI e pelo Banco Central Europeu pressupõe um corte insuficiente da dívida – 53% - e um crescimento futuro relativamente robusto, para reduzir a relação dívida/PIB.
Só que os cortes exigidos nos gastos públicos matam qualquer possibilidade de crescimento, exaurem a economia nacional. Além disso, sua intensidade acaba provocando desgastes políticos irresistíveis. Na Alemanha dos anos 30, essas mesmas formas de imposição resultaram no nascimento do nazismo. Todos os sacrifícios da Grécia visam torná-la apta a receber uma ajuda de 130 bilhões de euros, que servirá apenas para que ela mantenha em dia seus compromissos.
Os dois principais partidos políticos do país ostentam índices recordes de rejeição. Há manifestações populares cada vez mais expressivas. A Grécia é apenas um pequeno país da Europa, apesar de ter grande história.
Esse vendaval já se estende pelo pequeno Portugal, pelas consideráveis economias da Espanha e da Itália. Não haverá como segurar a unidade europeia em cima de políticas cada vez menos legítimas.
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