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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Sapiência Global - Perdemos, playboy!...


adaptação temporal botocuda do texto do Flávio Gomes, em seu blog

Os mais astutos devem ter notado no ultimo final de semana Galvão Bueno não narrou nem o treino de classificação nem a corrida de Formula 1 de Abu Dhabi, pela Globo. Não é a primeira vez, claro. Isso já aconteceu muitas vezes quando o locutor oficial foi escalado para algum outro evento importante, como jogos da seleção brasileira, finais de Copa do Mundo, competições em Olimpíadas, talvez nos Jogos Pan-americanos do Rio de 2007.

Mas, essa vez, não... não foi futebol, olimpíada, vôlei. Galvão foi narrar uma luta UFC. Não sei direito o que significa isso. E, por isso, ficou fora da F-1 no fim de semana.

Isso tem enorme significado. Considerações sobre Galvão à parte — há os que gostam, os que não gostam, os que não suportam, os que amam, isso não importa —, a escalação do principal narrador da maior emissora de TV do país para fazer uma luta em vez de uma corrida significa que a F-1 morreu.

Isso mesmo, camaradas: morreu!...

A Globo é pautada pela babaquice geral das cabeças que se acham pensantes em sua direção. Algum gênio, em algum dia no passado, decretou que esporte bom é esporte que tem brasileiro ganhando. Graças a tal dogma estabelecido, imutável, pétreo, ganhamos, nas manhãs de domingo, campeonatos mundiais de futebol de areia, torneios interplanetários de peteca na praia, desafios internacionais de futebol de salão, competições de natação em rios amazônicos e provas de pedestrianismo em Belo Horizonte criados e elaborados com um único objetivo: para que atletas e/ou times brasileiros vençam, para que a vinhetinha Brasil-sil-sil possa ser executada à exaustão, para que a patuleia, por volta do meio-dia, se sinta a mais vitoriosa do planeta e possa mandar servir o espaguete e abrir a brahma.

Ayrton Senna se prestou muito bem a esse papel durante anos, e não é por acaso que a Globo sempre o amou de paixão. Mas morreu, e os que vieram depois dele não conseguiram grande coisa. Daí o nascimento dessas patetadas que durante algum tempo foram chamados até de Jogos Mundiais de Verão.

(Felipe) Massa esboçou alegrar nossas manhãs de domingo Brasil-sil-sil na F-1 em 2008, mas já ficou claro que não é ele o cara, assim como não foi Barrichello e, lamento, Bruno (Senna) pode carregar o sobrenome, o capacete e o preto e o dourado, mas será no máximo um piloto para compor grid durante algum tempo, enquanto houver quem o patrocine e quem lhe ofereça um carro, depois mais nada...

Daí que a Globo (magnanime) acabou de eleger então a nova paixão brasileira, trocando apenas as manhãs de domingo pelas noites de sábado, e essa nova paixão — agradeçamos nossos guias! — é esta merda de luta livre, essa pancadaria desenfreada que estimula a molecada a lutar jiu-jítsu e sair pelas ruas espancando gays, pobres, negros, nordestinos, tudo revestido com um ar profissional e chique, feérico, luminoso, “ultimate”, “fighting”, palavras em inglês, combates em ginásios, gente de smoking na plateia, uma releitura cafona e caricata do que foi o boxe em algum lugar do passado, boxe devidamente morto e enterrado pelo MMA, uma sigla que significa algo como artes marciais múltiplas, sei lá se é isso. Arte é o cacete, briga não é arte, assim como o boxe nunca foi a “nobre arte”, como diziam os antigos, embora, diante desse vale-tudo de cotoveladas e chutes na cara, o boxe pareça mesmo uma arte — praticada, diga-se, por personagens muito, mas muito mais interessantes que esses tontos que se fingem de inteligentes e lutam num negócio chamado octógono.

Galvão narrou a luta de UFC na madrugada de sabado para domingo (ou luta de MMA? Afinal, qual é o esporte, UFC ou MMA? Puta bosta, isso) e como não podia deixar de ser, fez elogios rasgados à modalidade, ao seu crescimento, à sua popularidade, ao dinheiro que movimenta, ao profissionalismo, à idolatria pelos lutadores, aos incríveis brasileiros que dominam o octógono (o brasileiro de Caçador SC venceu espetacularmente no 1º minuto) e que daqui por diante nem poderão mais andar na rua sem dar autógrafos... serão celebridades.... que são demais... Brasil-sil-sil...

Daqui a algum tempo a luta vai estar nas TVs dos bares e dos lares, e os melhores momentos estarão no “Fantástico” e no “Jornal Nacional”, além de todos os programas de esportes da emissora que falarão dessa luta dia após dia, e vamos virar a pátria do MMA e do UFC, como se já não houvesse violência bastante por aí para dispensar porradas na cara, dentes quebrados, sangue jorrando, gente urrando em horário nobre, para milhões, milhões de telespectadores retardados que acham legal tudo que a Globo coloca no ar.

Não sei nem quem vai lutar daqui pra frente... Minotauro?... Touro Sentado?... Fantomas?... Poderoso Hulk?... Ted Boy Marino?... Electra?... Aquiles, o Matador?... Barba Negra?... Verdugo?... (já morreu!...) Múmia?... Tigre Paraguaio?...

Minotauro, vá lá. Faz algum sentido. Mas os lutadores agora têm nome e sobrenome e são levados a sério.

Até nisso o Telecatch Montilla era melhor. Ninguém levava porra nenhuma a sério.

O mundo acabou, bebê!...

2 comentários:

  1. Qual pode ser a graça de uma corrida que não tem nem ultrapassagem nem porrada? :)

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  2. Porrada!... Porrada!... Porrada!... é verdade, antigamente qdo comecei a acompanhar a F1, por volta de 1970/71, morria uma porção de pilotos durante a temporada. Só em 1971/72 morreram Jo Siffert, Pedro Rodriguez, François Cevert e uma pá de outros. Agora o último piloto da F1 que morreu, se ñ me engano, foi o Senna, e isso já foi há 17 anos, em 1994. Perdeu a graça, né?... e agora a tendencia de a coisa ficar ainda mais chata por conta da dominação do Vettel por uns bons anos.

    É, o negócio vai ser ter que ver porrada do MMA, mas acho que uma volta do telecatch Montilla seria mais legal. Aqueles caras eram um barato.

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