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domingo, 13 de novembro de 2011

Se fosse a Petrobras…Mas é a Chevron

Sobre o inexplicável fenômeno de o PiG não dar a menor bola para o vazamento da Chevron na costa brasileira. Por que será?...



texto de Fernando Brito, no Tijolaço do Brizola Neto

PARTE 1

Ainda não se pode dizer quais são as causas do acidente que provocou o vazamento de, ao que parece, uma pequena quantidade de petróleo no campo de Frade, operado pela petroleira norteamericana Chevron, a 350 km do litoral fluminense.

Mas algumas coisa já se pode dizer, sim.

A primeira é que a empresa demorou pelo menos 24 horas a admitir o problema e, quando o fez, foi por uma nota marota, dizendo que se tinha detectado o vazamento “entre o campo de Frade e o de Roncador – que é operado pela Petrobras - quando, na verdade, ele se deu bem próximo de uma de suas plataformas de perfuração, a Sedco706, da Transocean, a mesma proprietária da Deepwater Horizon, que provocou o acidente no Golfo do México, segundo informações do Valor Econômico.

A segunda é que esta história de falha geológica é algo que precisa ser muito bem apurado, pois não é provável que falhas geológicas capazes de provocar um derramamento no mar – e que, portanto, não podem ser em grande profundidade na rocha do subsolo, porque haveria, neste caso, um provável tamponamento natural – possam deixar de ser percebidas nos detalhados estudos sísmicos que precedem a perfuração.

A terceira, e mais importante, é que não houve um tratamento escandaloso do assunto pela mídia, como certamente haveria se o campo em questão fosse operado pela Petrobras. A esta altura, até os peixes do oceano estariam dando declarações contra e empresa. Aliás, mesmo com o vazamento da Chevron, o destaque nos jornais é para a queda de 26% no lucro da Petrobras, mesmo sabendo que essa queda é essencialmente contábil , pela desvalorização cambial ocorrida desde agosto e que não se repetirá no último trimestre, dando à empresa um lucro recorde em sua história.

Por isso, foi extremamente acertada a posição da presidenta Dilma Rousseff de determinar a investigação rigorosa do caso. O petróleo de nosso litoral pode ser explorado sem danos ao meio ambiente e deve se-lo, qualquer que seja a empresa a fazê-lo.

E a imprensa, tão zelosa e meticulosa quando se trata da nossa Petrobras, certamente não está dando pouca importância ao caso por se tratar da Chevron, uma multi com boas reações de diálogo com o senhor José Serra, como revelou o Wikileaks.

É importante que se apure, porque um acidente no leito oceânico é imensamente mais grave que um provocado por um desengate de mangueira ou rompimento de duto. Estes, assim que se fecham as válvulas, cessa, mesmo que tenha sido grande. Um vazamento no leito oceânico, no poço ou na estrutura geológica que o rodeia é mais sério, pois exige, como se viu no Golfo, complicadíssimos e demorados procedimentos de vedação para ser detido.

Por sorte, parece ter sido de pouca monta. Mas a sorte é um elemento com que não se pode contar neste tipo de atividade.


PARTE 2

O que está acontecendo no vazamento de óleo junto ao poço da Chevron, no Campo de Frade, ao largo do Rio de Janeiro tornou-se, como ontem determinou a presidenta Dilma Rousseff, um caso de investigação e de duras providências.

Ontem, a gente já destacava que a história tem muitos pontos estranhos.

O Campo de Frade, um dos mais produtivos do Brasil, foi descoberto pela Petrobras em 1986, mas só declarado comercial pela ANP em 1998, um ano antes de seu controle ser transferido, numa operação conhecida como “farm-in” , para a Chevron.

Lá, o petróleo ocorre em profundidades de cerca de 3 mil metros e, mesmo estes, tiveram de ser desviados, durante suas perfurações, e o estudo de impacto ambiental previa que todos eles seriam revestidos durante a perfuração, para evitar a penetração do óleo nas falhas geológicas.

Elas estão registradas aqui, no relatório apresentado pela Chevron ao Ibama: "o poço 3-TXCO (Texaco-Chevron)-3D foi perfurado contíguo com o 4-TXCO-2D. Devido às
dificuldades técnicas e à proximidade da falha, foram perfurados 3 desvios(sidetracks) neste poço".

Por que a Crevon, com um horizonte de perfuração bem sucedido a 3 mil metros contratou uma sonda com capacidade de perfurar até 7.600 metros de profundidade, alugando por US$ 315 mil dólares dia?... Muito abaixo do preço das modernas sondas...

O Wall Street Journal descreve, em 2008, a plataforma Sedco 706, que opera na área do acidente em Frade e tem hoje 35 anos de idade, como um equipamento que “não era adequado para modernas perfurações em águas profundas. Não era mesmo para ser mais utilizado para perfurar. Ela estava atracada no Mar do Norte, ligada a outro equipamento por uma passarela. Foi um quarto de dormir flutuante para os trabalhadores do petróleo, uma espécie de motel marinho”.

Até agora não temos informações básicas, sobre a profundidade em que se fazia a perfuração e sobre o que está sendo feito para deter o vazamento.

Ou a empresa estava fazendo uma prospecção na camada do pré-sal e aconteceu a infiltração no solo dos reservatórios superiores do pós-sal ali presentes?...

Só o que se sabe é que a Chevrom depois de ter minimizado o episódio – e dizer que ele seria um fenômeno natural - a quantidade de admitida pela empresa agora chega a 100 mil litros de óleo - ou 104 metros cúbicos – o que já não é nenhuma “gotinha”, sobretudo se considerarmos que, vindo o vazamento do solo ocêanico, a mais de um quilômetro de profundidade, o derramamento vai exigir dias para ser detido.

A história está mal-contadíssima e não parece haver sinais de que teremos aqui empenho da imprensa em esclarecer.

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