Breve História da Borracha - Parte 2
A história da borracha no Brasil é uma epopéia que pouco fica a dever às corridas de ouro em todas as Américas. A partir da segunda metade do século XIX até a segunda década do século XX, a borracha sustentou um dos mais importantes ciclos de desenvolvimento do Brasil. Naquela época, a revolução industrial se expandia celeremente e o mundo vivia período de prosperidade e descobertas que se refletiam em todos os setores. Automóvel, bonde, telefone, eletricidade e outras inovações mudavam paisagem e costumes nas cidades. Mercados se abriam.
Devido a suas múltiplas aplicações, principalmente na indústria automobilística em expansão, a borracha obtida a partir do látex das seringueiras tornou-se produto mundialmente valorizado. E seringueiras não faltavam na Amazônia brasileira. Isso levou a região Norte do Brasil, uma das mais pobres e desabitadas do país, a experimentar período de grande prosperidade. Interessadas na exploração dos seringais amazônicos grandes empresas e bancos estrangeiros instalam-se nas cidades de Belém e Manaus.
Manaus, a capital amazonense torna-se o centro econômico de grande expressão no país. É dotada de sistemas de abastecimento de água, luz elétrica, telefone, só comparáveis a grandes cidades na Europa. O Teatro Amazonas permanece até hoje como símbolo da riqueza advinda da borracha no final do século XIX. Milhares de imigrantes, principalmente nordestinos fugidos da seca da década de 1870, invadem a floresta para recolher o látex e transformá-lo em borracha.
O Brasil domina agora o mercado mundial de borracha natural. No ano de 1876, o inglês Henry Wickham, do Royal Botanical Garden de Londres, veio ao Brasil e colheu 70 mil sementes de seringueira. No Kew Garden, o jardim botânico de Londres, a planta foi aclimatada e dali passou para as possessões britânicas no Ceilão e às possessões holandesas em Java e para a moderna Malásia, lugares onde foi cultivada de forma sistemática. Levaria ainda algumas décadas, até o inicio do século XX, para esse fator desestabilizador se fazer sentir.
Por aqui tudo corria as mil maravilhas... isso para os grandes seringalistas, os agentes controladores do fluxo dessa importante matéria prima. Os trabalhadores continuavam na miséria, explorados quase à condição de semi-escravidão pelo endividamento, insalubridade, sistemas de saúde inexistentes, arrendamento de estradas, precariedade de abastecimento de alimentos e produtos básicos, etc.
Por volta de 1903, a borracha natural produzida no Oriente começa entrar no mercado mundial, fazendo mudar gradativamente o equilíbrio estabelecido anteriormente. Em 1900 o Brasil produzia 27 mil toneladas de borracha evoluindo para 34 mil em 1919, enquanto a Ásia passou, no mesmo período, de 3 mil para 382 mil toneladas. A indústria automobilística norte-americana vinha absorvendo grande parte dessa produção asiática.
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