por Paulo Henrique Amorim, no Conversa Afiada
O primeiro suspeito é a empresa, a Band, que autoriza seus profissionais a assumir riscos que nenhum jornalista deve assumir. Jornalista não é policial.
O segundo suspeito é o diretor de jornalismo da Band, que, provavelmente, não fez seguro de vida para a família do cinegrafista.
O terceiro suspeito é, de novo, o diretor de jornalismo da Band, que permite transformar jornalistas em protagonistas: jornalista não compete com policial nem com traficante pelo protagonismo de uma reportagem.
Além do mais, para o espectador, que diferença faz se as imagens de um tiroteio com traficantes são do cinegrafista da Band ou da própria polícia ?
E mais: por que novas imagens de tiroteio com traficantes ?
Que novidade têm ?
Que informação adicional dá ao espectador ?
Qual a diferença entre o tiroteio de ontem e o tiroteio de hoje ?
Por que os cinegrafistas só filmam da perspectiva da polícia para os traficantes e, não, dos traficantes para a Polícia ?
Porque o jornalismo brasileiro não sobe o morro.
Só entra na favela com a cobertura da Polícia. O que se passa lá dentro – para o bem ou para mal – não interessa.
O quarto suspeito é o policial que autorizou três equipes de televisão a acompanhar um tiroteio com traficantes.
O quinto suspeito é o Comandante da PM que permitiu que um policial admitisse que três equipes de televisão acompanhassem um tiroteio com traficantes.
O sexto suspeito é o Secretário de Segurança do Rio, que permite que uma ação policial se transforme numa reportagem espetaculosa.
Para o Bom (?) Dia Brasil da TV Globo, porém, num mau passo do Chico Pinheiro, a morte do cinegrafista da Band é uma restrição à liberdade de imprensa.
O tom da cobertura do Bom (?) Dia Brasil foi o de incriminar a política de segurança do Rio. Como se sabe, a política de segurança do Rio é exemplar. Combate o tráfico como nenhuma outra do Brasil – como se sabe, São Paulo consome mais carro, geladeira e viagens a Disney que o Rio, mas, cocaína, isso o Rio consome mais. O projeto pioneiro das UPPs é um sucesso.
Mas, a política de segurança do Rio tem um grave defeito para o jornalismo dirigido pelo Ali Kamel, esse baluarte da liberdade de imprensa para divulgar atentados com bolinhas. A segurança do Rio não é a do Governo Carlos Lacerda. Nos bons tempos do Lacerda, o Secretário de Segurança Ardovino Barbosa mandava bater em jornalistas. Como os do jornal A Noite, na Cinelândia, em 1961, na crise da Legalidade.
Quem matou o cinegrafista foi o cara que puxou o gatilho. E matou junto a pobre ilusão que o Rio, "aliado" do petismo, é o paraíso e SP é o inferno.
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