– Eu nunca vi uma empresa começar o projeto dela pelos armazéns. Começa pela fábrica, pela produção, não é? A infraestrutura vem depois – diz, sobre a tese de que os gargalos estruturais um dia vão impedir o crescimento brasileiro.
Mas tanto pragmatismo, aprendido desde os 17 anos, quando largou os estudos para se dedicar às empresas da família, tem um preço. A JBS, principal empresa da holding J&F comandada por Joesley, foi acusada de crescer a taxas de dois dígitos graças ao dinheiro do sócio BNDES. E também de gerar mais empregos nos EUA do que no Brasil.
As respostas estão na ponta da língua. Confira nesta entrevista exclusiva concedida ao DC.
Diário Catarinense – Quando esteve no Brasil, o presidente Barack Obama disse que somos o país do presente, não do futuro. Esse futuro já chegou aos negócios?
Joesley Batista – Nós operamos em vários mercados emergentes e não tem nenhum que se compare ao Brasil. Somos o emergente mais ocidental, mais capitalista e mais regulamentado entre todos. É o mais “Primeiro Mundo” dos países do Bric (Brasil, China, Índia e Rússia). Os outros têm enormes desafios institucionais, de governança, de consolidação da democracia. Estamos quilômetros à frente deles.
DC – Então, por que a sua empresa aposta tanto nos EUA?
Joseley – Nós temos uma melhor percepção sobre a economia americana comparada com a média de mercado. Por isso, chegamos a 25% do mercado de carne bovina lá, além de 12% da carne de porco e 22% do frango. Apostamos muito nos EUA porque acreditamos que seremos, nós e eles, o celeiro do mundo daqui para a frente. Brasil e EUA são as duas plataformas com mais condições de dar a resposta necessária à demanda mundial por proteína. A food inflation (inflação da comida), que faz os preços subirem no mundo todo, se dá justamente pela demanda. E quem tem água, sol e terra são Brasil e EUA.
DC – Quais reformas o Brasil precisa fazer para confirmar esse novo patamar? O que nos falta?
Joesley – Não falta nada. Estamos cada dia mais produtivos. A economia está crescendo 7% ao ano, a ponto de o governo ter de segurar. Hoje, estamos sofrendo de todos os bons problemas que uma economia pode sofrer. Está faltando aeroporto, está faltando estrada. Por quê? Porque temos movimento.
DC – Mas temos uma carga tributária alta...
Joesley – Não é alta, não...
DC – Isso porque paga impostos nos EUA e na Europa...
Joesley – Lá é muito pior. O Imposto de Renda nos Estados Unidos é de 50%. Aqui ainda é de 30%. É que existem alguns jargões que não fazem mais parte da história brasileira, sabe? Por exemplo, isso de carga tributária. Hoje, a gente empresta dinheiro ao FMI. Inflação? Isso é coisa do passado.
DC – Mas nossa inflação está crescendo...
Joesley – Crescendo nada. É que nos EUA eles usam o core inflation (metodologia de cálculo que expurga do índice aumentos sazonais, especialmente alimentos), que é uma outra medida. Se medir o core aqui no Brasil, vamos ter 2%, 3% de inflação. A inflação de comida é no mundo todo, não só no Brasil. O que é um bom problema, porque o povo está comendo mais. Tem demanda. O Brasil, hoje, sofre de um monte de bons problemas. Falta aeroporto? Que maravilha! Cheio de gente voando. O duro era o outro problema: sobrando aeroporto sem passageiro. Hoje não tem passagem? Isso é um ótimo problema. Tem cem navios na fila do porto de Santos? Que bom!
DC – Esses gargalos de infraestrutura não podem ser um problema para o nosso crescimento?
Joesley – Não tem nada de gargalo. Eu discordo desse negócio de que falta infraestrutura no Brasil. Eu nunca vi uma empresa começar o projeto dela pelos armazéns. Começa pela fábrica, pela produção, não é? A infraestrutura vem depois. O país é como uma empresa: primeiro a gente tem de vender. A infraestrutura vem depois. O Brasil tem só 25 anos de democracia. Mesmo assim, cresce 7% ao ano, tem uma das menores relações PIB/dívida do mundo, inflação na casa de 4%, 5% ao ano. Hoje, estamos construindo mais portos no Brasil do que nos últimos cem anos. Alguém vai investir em porto antes de ter cem navios na fila? Não vai.
DC – E como o senhor vê este início de governo no Brasil?
Joesley – O Brasil é um país privilegiado. Tem dado muita sorte com seus governantes. A presidente Dilma é uma executiva da mais alta qualidade. A equipe dela é de pessoas capazes. O Brasil não está onde está por sorte. Não é apenas uma coincidência. É reflexo, é resultado.
DC – O risco é o motor da expansão que o senhor liderou, inclusive em relação à internacionalização do grupo?
Joesley – Se eu gosto de risco? Eu acho que temos um bom apetite por risco, sim, mas, por outro lado, quanto mais audacioso, mais cuidadoso. Quanto mais disposto a tomar risco, mais cauteloso tem de ser. É quase uma contradição: quanto mais cuidadoso você for, mais você pode correr, não é?
DC – Como se transforma os desafios em oportunidade?
Joesley – O que a gente faz melhor é administrar empresas. Então, gostamos de nos envolver em negócios nos quais achamos que podemos fazer alguma diferença. Se a empresa é ótima, lucrativa, com pessoal de primeira, então não precisa de nós. Em uma empresa com problemas, nós somos úteis.
DC – Os senhores imaginavam que poderiam chegar aonde chegaram?
Joesley – Não. Nem nunca imaginamos o que seria, nem tampouco imaginamos como será daqui a cinco anos. Eu não faço a menor ideia.
DC – Mas o grupo seria tão grande sem a mão do BNDES?
Joesley – Seguramente, o apoio do BNDES foi, e continua sendo, bastante relevante. Mas isso está no nascedouro do próprio banco. Assim como para todas as grandes empresas brasileiras, o BNDES sempre foi um ator importante porque deu crédito. É um banco público, está aí para todos. No mundo inteiro, somos um case de sucesso. No Brasil, questionam o apoio do BNDES. Construímos, consolidamos, nos tornamos os maiores do mundo, tomamos a liderança dos americanos, somos uma empresa de capital aberto. Estamos ajudando a arrumar o setor. Por que ninguém observa que o boi saiu de US$ 20 para US$ 60 a arroba? Hoje, o boi brasileiro é um dos mais valorizados do mundo. Será que é uma coincidência? Não é. Isso somos nós. Isso é a JBS.
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