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terça-feira, 5 de abril de 2011

Contraponto - e apologia ao agrobiz



Esqueça toda aquela cantilena altruísta de empresários que continuam investindo no Brasil, apesar dos altos impostos, apesar do juro, apesar da inflação, do governo... Joesley Batista não acredita em nada disso: investe no país, como também investe nos Estados Unidos, porque as oportunidades são boas. Carga tributária proibitiva? Conversa. Gargalos de infraestrutura? Jargão. Estado ineficiente? Coisa nenhuma. A lógica do empresário é outra – incomum e bastante ousada.

– Eu nunca vi uma empresa começar o projeto dela pelos armazéns. Começa pela fábrica, pela produção, não é? A infraestrutura vem depois – diz, sobre a tese de que os gargalos estruturais um dia vão impedir o crescimento brasileiro.

Mas tanto pragmatismo, aprendido desde os 17 anos, quando largou os estudos para se dedicar às empresas da família, tem um preço. A JBS, principal empresa da holding J&F comandada por Joesley, foi acusada de crescer a taxas de dois dígitos graças ao dinheiro do sócio BNDES. E também de gerar mais empregos nos EUA do que no Brasil.

As respostas estão na ponta da língua. Confira nesta entrevista exclusiva concedida ao DC.

Diário Catarinense – Quando esteve no Brasil, o presidente Barack Obama disse que somos o país do presente, não do futuro. Esse futuro já chegou aos negócios?

Joesley Batista – Nós operamos em vários mercados emergentes e não tem nenhum que se compare ao Brasil. Somos o emergente mais ocidental, mais capitalista e mais regulamentado entre todos. É o mais “Primeiro Mundo” dos países do Bric (Brasil, China, Índia e Rússia). Os outros têm enormes desafios institucionais, de governança, de consolidação da democracia. Estamos quilômetros à frente deles.

DC – Então, por que a sua empresa aposta tanto nos EUA?

Joseley – Nós temos uma melhor percepção sobre a economia americana comparada com a média de mercado. Por isso, chegamos a 25% do mercado de carne bovina lá, além de 12% da carne de porco e 22% do frango. Apostamos muito nos EUA porque acreditamos que seremos, nós e eles, o celeiro do mundo daqui para a frente. Brasil e EUA são as duas plataformas com mais condições de dar a resposta necessária à demanda mundial por proteína. A food inflation (inflação da comida), que faz os preços subirem no mundo todo, se dá justamente pela demanda. E quem tem água, sol e terra são Brasil e EUA.

DC – Quais reformas o Brasil precisa fazer para confirmar esse novo patamar? O que nos falta?

Joesley – Não falta nada. Estamos cada dia mais produtivos. A economia está crescendo 7% ao ano, a ponto de o governo ter de segurar. Hoje, estamos sofrendo de todos os bons problemas que uma economia pode sofrer. Está faltando aeroporto, está faltando estrada. Por quê? Porque temos movimento.

DC – Mas temos uma carga tributária alta...

Joesley – Não é alta, não...

DC – Isso porque paga impostos nos EUA e na Europa...

Joesley – Lá é muito pior. O Imposto de Renda nos Estados Unidos é de 50%. Aqui ainda é de 30%. É que existem alguns jargões que não fazem mais parte da história brasileira, sabe? Por exemplo, isso de carga tributária. Hoje, a gente empresta dinheiro ao FMI. Inflação? Isso é coisa do passado.

DC – Mas nossa inflação está crescendo...

Joesley – Crescendo nada. É que nos EUA eles usam o core inflation (metodologia de cálculo que expurga do índice aumentos sazonais, especialmente alimentos), que é uma outra medida. Se medir o core aqui no Brasil, vamos ter 2%, 3% de inflação. A inflação de comida é no mundo todo, não só no Brasil. O que é um bom problema, porque o povo está comendo mais. Tem demanda. O Brasil, hoje, sofre de um monte de bons problemas. Falta aeroporto? Que maravilha! Cheio de gente voando. O duro era o outro problema: sobrando aeroporto sem passageiro. Hoje não tem passagem? Isso é um ótimo problema. Tem cem navios na fila do porto de Santos? Que bom!

DC – Esses gargalos de infraestrutura não podem ser um problema para o nosso crescimento?

Joesley – Não tem nada de gargalo. Eu discordo desse negócio de que falta infraestrutura no Brasil. Eu nunca vi uma empresa começar o projeto dela pelos armazéns. Começa pela fábrica, pela produção, não é? A infraestrutura vem depois. O país é como uma empresa: primeiro a gente tem de vender. A infraestrutura vem depois. O Brasil tem só 25 anos de democracia. Mesmo assim, cresce 7% ao ano, tem uma das menores relações PIB/dívida do mundo, inflação na casa de 4%, 5% ao ano. Hoje, estamos construindo mais portos no Brasil do que nos últimos cem anos. Alguém vai investir em porto antes de ter cem navios na fila? Não vai.

DC – E como o senhor vê este início de governo no Brasil?

Joesley – O Brasil é um país privilegiado. Tem dado muita sorte com seus governantes. A presidente Dilma é uma executiva da mais alta qualidade. A equipe dela é de pessoas capazes. O Brasil não está onde está por sorte. Não é apenas uma coincidência. É reflexo, é resultado.

DC – O risco é o motor da expansão que o senhor liderou, inclusive em relação à internacionalização do grupo?

Joesley – Se eu gosto de risco? Eu acho que temos um bom apetite por risco, sim, mas, por outro lado, quanto mais audacioso, mais cuidadoso. Quanto mais disposto a tomar risco, mais cauteloso tem de ser. É quase uma contradição: quanto mais cuidadoso você for, mais você pode correr, não é?

DC – Como se transforma os desafios em oportunidade?

Joesley – O que a gente faz melhor é administrar empresas. Então, gostamos de nos envolver em negócios nos quais achamos que podemos fazer alguma diferença. Se a empresa é ótima, lucrativa, com pessoal de primeira, então não precisa de nós. Em uma empresa com problemas, nós somos úteis.

DC – Os senhores imaginavam que poderiam chegar aonde chegaram?

Joesley – Não. Nem nunca imaginamos o que seria, nem tampouco imaginamos como será daqui a cinco anos. Eu não faço a menor ideia.

DC – Mas o grupo seria tão grande sem a mão do BNDES?

Joesley –
Seguramente, o apoio do BNDES foi, e continua sendo, bastante relevante. Mas isso está no nascedouro do próprio banco. Assim como para todas as grandes empresas brasileiras, o BNDES sempre foi um ator importante porque deu crédito. É um banco público, está aí para todos. No mundo inteiro, somos um case de sucesso. No Brasil, questionam o apoio do BNDES. Construímos, consolidamos, nos tornamos os maiores do mundo, tomamos a liderança dos americanos, somos uma empresa de capital aberto. Estamos ajudando a arrumar o setor. Por que ninguém observa que o boi saiu de US$ 20 para US$ 60 a arroba? Hoje, o boi brasileiro é um dos mais valorizados do mundo. Será que é uma coincidência? Não é. Isso somos nós. Isso é a JBS.

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