O artigo seguinte, já na introdução, descreve diversas situações do transito na capital paulista, que por certo não é a minha seára catarineta. Essa ótima analise é da clarividente blogueira Maria Frô, e tem muito em comum com o post anterior, o dos grileiros do litoral, de modo que resolvi reproduzi-lo . O original da Maria Frô ainda se aprofunda mais no tema, com um texto adicional do Mino Carta, e está aqui.
O que essa gente pensa?
Sábado fui buscar e levar minha filha para realizar a a prova da OBM (Olimpíada Brasileira de Matemática).
No percurso passamos por uma escola de elite nas proximidades do Parque Villa Lobos/Panamericana.
Para quem vai pela marginal sentido Jaguaré e entra à direita há uma via larga com passagem para pelo menos dois carros, mesmo que haja carros estacionados na via. A outra mão da avenida é, igualmente, larga e na altura do portão daquela escola os motoristas podem atravessar para ter acesso ao portão.
Pois bem, era sábado, antes das nove horas da manhã, manhã bastante fria e com chuvisco, o que de algum modo impele o paulistano a ficar em casa e o trânsito fluir. Menos na frente do portão da dita escola.
Os pais com seus SUVs (*) 4X4, todos como se vivessem no Texas, dão um nó absoluto no cruzamento, ninguém cede passagem ao outro e ficam brigando por milímetros para avançar. Ninguém anda cerca de 20 metros à frente do portão para que seu filho desça e não seja necessário ficar em fila dupla, tripla. Não, ninguém faz o mínimo para que a vida do outro e dele próprio torne-se menos infernal no trânsito já caótico da cidade. Resultado? Se você tem de passar em frente a escola para seguir para Lapa, Villa Lobos ou Panamericana, você perderá pelo menos uns 15 minutos para percorrer menos de 100 metros até que consiga atravessar a manada de SUVs 4X4 em disputa pelo território. Mesmo que você não faça parte da manada, mesmo que você não tenha nada a ver com esta gente, você é engolido pela má-educação desses ferozes bichos em suas carapaças metálicas.
Diante da falta de lógica, qualquer pessoa com um mínimo de sensatez se pergunta: qual o propósito desta gente?
Ao chegar em casa leio um artigo publicado no Estadão cujo autor, bastante conservador, compara Lula a Hitler! e a uma infinidade de ditadores; resmunga sobre o fato de Lula ter perdoado a dívida de uma série de países pobres africanos, de ter contribuir para alguns projetos sociais naqueles países como criar uma fábrica de AZT em Moçambique, um país pobre, destruído pela guerra colonial e depois pela guerra civil e que qualquer ajuda significa não permitir que mais pessoas morram de aids, ou malária.
O autor prosseguia e repudiava com veemência o fato de nossa política externa respeitar os vizinhos latino-americanos e contribuir para o desenvolvimento de nossa vizinhança para que o Brasil não vire uma África do Sul.
Para quem não conhece minimamente a realidade da África do Sul, pós-apartheid, trata-se de um país que ainda continua com grande concentração de terra, onde os negros ainda têm um grande percurso de lutas pra conseguir diminuir desigualdades entre brancos e negros. É um país que atrai muitos imigrantes do Zimbábue, Malaui, Moçambique. Os negros sulafricanos convivem de modo pouco pacífico com cerca de 5 milhões de imigrantes, já que enfrentam em seu próprio país uma taxa de desemprego de cerca de 25% e vê os imigrantes como concorrentes.
As poucas medidas de ações afirmativas da África do Sul ainda estão longe de tornar aquele país um lugar de oportunidades semelhantes para negros e brancos.
Enfim, o que a política externa de Lula faz em relação aos vizinhos latino-americanos diminui bastante a possibilidade de transformarmos o nosso próprio país na panela de pressão que é a África do Sul: um pólo de atração de destituídos, vivendo em condições subumanas e competindo com os locais desempregados.
Havia mais bobagens comparativas no texto do membro do Tea Party tupiniquim, mas o que mais me chamava atenção é que o autor criticava absolutamente todos os acertos do governo Lula, acertos que renderam a ele várias homenagens ao longo de 2009, várias capas dos principais jornais e revistas do mundo, vários prêmios e uma aprovação pessoal e de governo recordes na história do país, após dois mandatos.
Essa gente não tem a menor idéia do que é democracia. É uma elite perversa, mal informada, egoísta, individualista a ponto de não respeitar a si própria em suas SUVs 4X4 na frente de um espaço que deveria ser um lugar de exemplo: é feio demais você ser mal-educado defronte de uma escola, que suas crianças frequentam. Falta a esta gente privilegiada ao extremo deixar de agir como criança mimada e entender que nunca teremos um país de fato desenvolvido se ela não compreender que desenvolvimento de verdade pressupõe o bem-estar da maioria da população.
Ao analisar o comportamento desta elite insana no trânsito, acho que ela deveria ao menos agradecer o fato de termos algumas leis ainda em funcionamento neste país, pois esta manada de SUVs 4X4 é nociva a ela mesma e se lhe fosse permitido agir de acordo com seus instintos, possivelmente seria bicho em extinção: seus membros comeriam-se uns aos outros. Nossa elite é antropofágica: explora o país, explora seus semelhantes e não suporta ela mesma, haja Prosac pra uma gente tão sem sonhos ou cujo único desejo se restringe a consumir todo planeta.
(*) SUV - Sport Utility Vehicle
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