extraido e adaptado do NovoJornal, aqui
Vamos tentar entender por que Cachoeira atemoriza tanta
gente, mesmo isolado numa pequena cela do presídio federal de Mossoró, Rio
Grande do Norte. Existem relatos de um esquema milionário que abasteceu o caixa
2 de diferentes partidos por muitos anos. Os pagamentos eram acertados pelo
próprio Cachoeira com os arrecadadores de campanha. E o que mais provoca temor
entre favorecidos e comparsas: a maioria dessas negociatas foi devidamente
registrada pelo capo da jogatina.
Comenta-se que em pouco mais de uma década, o bicheiro
acumulou um vasto e explosivo acervo de áudio e vídeo capaz de comprometer
muita gente graúda, em Brasilia e muitos estados da federação. Na operação de
busca e apreensão na casa de Cachoeira no início do mês, a PF encontrou dentro
de um cofre cinco CDs avulsos. No entanto, outra parte do material – ainda mais
explosivo – estava escondida em outro lugar, uma chácara em Anápolis (GO). O
local sempre serviu como espécie de quartel-general para reuniões do clã
Cachoeira, além de esconderijo preferencial para seu acervo de gravações e
documentos.
Existem vídeos que ainda estão em poder de Cachoeira em que
não constam apenas reuniões políticas ou pagamentos de propina, há registros de
festinhas e rega-bofes patrocinadas por ele com a presença de empresários e
políticos de todas as tribus. Uma artilharia capaz de constranger o mais
desinibido dos parlamentares. Flagrado em conversas nada republicanas com o
contraventor, o senador Demóstenes Torres deixou a liderança do DEM no Senado e
debandou do partido.
Cachoeira tinha um auxiliar de confiança, seu braço
direito, de nome Lenine Araújo de Souza, o "Baixinho", também contratou arapongas
bastante conhecidos em Brasília, como Jairo Martins, o sargento Dadá e o
ex-delegado Onésimo de Souza. Consta do inquérito da PF que pelo menos 43
agentes públicos serviam a Cachoeira.“Quem detém informação tem o poder”, dizia
o bicheiro.
Antes de ser preso, recebia mensalmente gravações e um
relatório dos monitoramentos dos alvos dava novas diretrizes de ação, inclusive
a elaboração de perfis de autoridades de interesse. Boa parte disso está
guardada em seu QG, a chácara em Anápolis. Este mês, dois novos vídeos
circularam pela imprensa da capital
federal. Neles, o bicheiro conversa com o deputado federal Rubens Otoni (PT-
GO) sobre pagamentos para a campanha do petista.
Até agora, Otoni não se explicou. A divulgação da conversa
com Otoni, porém, foi uma pequena amostra do poder de persuasão. Apenas um dos
vários recados que ele enviou a Brasília desde que foi preso em fevereiro.
Pessoas próximas a Cachoeira dizem que ele ainda tem muita munição para
queimar. As mensagens foram captadas pela cúpula petista, que acionou o
ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. Ele reuniu-se com a mulher de
Cachoeira, Andressa, no último dia 21, e pediu que convencesse o marido a se
controlar, com a promessa de que conseguiria retirá-lo da cadeia em breve.
Andressa voou para Mossoró e deu o recado de Thomaz Bastos ao bicheiro. Desde
então, ele silenciou à espera do habeas corpus.
Ao mesmo tempo, porém, Carlinhos Cachoeira mandou espalhar
que possui gravações contra políticos de um amplo espectro partidário. É o
caso, por exemplo, dos integrantes da chamada bancada do jogo que defendia a
regularização dos bingos no País. Além do deputado goiano Jovair Arantes (PTB),
arrolado no inquérito da Operação Monte Carlo, mantinham contatos freqüentes
com Cachoeira os deputados Cândido Vaccarezza (PT-SP), Arnaldo Faria de Sá
(PTB-SP), Lincoln Portela (PR-MG), Sandro Mabel (PR-GO), João Campos (PSDB-GO)
e Darcísio Perondi (PMDB-RS). Todos têm mantido silêncio absoluto sobre a
prisão de Cachoeira.
A lei do silêncio foi seguida também pelo senador Demóstenes
a principio, que, além de presentes, teria recebido pelo menos R$ 1 milhão do
esquema do bicheiro. Para investigar essas e outras, Demóstenes teve seu sigilo
bancário quebrado pelo STF na quinta-feira (29).
Outro que em breve terá de se explicar é o governador de
Goiás, o tucano Marconi Perillo. Segundo o inquérito da PF, Cachoeira indicava
pessoas para cargos de confiança no governo Perillo. A PF suspeita ainda que o
dinheiro repassado por Cachoeira às campanhas de vários políticos viria não só
da contravenção, mas de contratos entregues a empreiteiras para quem o bicheiro
serviu de intermediário.
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