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terça-feira, 17 de abril de 2012

O embuste da Veja


por Luis Nassif, em seu blog

A tentativa da Veja e do PT de contrapor a julgamento do “mensalão” à CPI de Cachoeira interessa apenas a ambos, não ao conjunto da opinião pública e, principalmente, aos poderes constituídos – Judiciário (incluindo Ministério Público), Legislativo.
O “mensalão” já são cartas dadas. Já houve o impacto político em 2006, as investigações,  um inquérito volumoso que já está no STF (Supremo Tribunal Federal). Provavelmente a maioria dos ministros tem opinião formada e não vai se deixar influenciar pelo noticiário.
Daí o inusitado da capa da revista Veja, insinuando que a CPI de Cachoeira visa jogar cortina de fumaça sobre o “mensalão”.
Na verdade, o que está em jogo é algo suprapartidário e muito mais grave do que denúncias políticas: a parceria entre Veja e o bicheiro Carlinhos Cachoeira, ao longo dos últimos oito anos.

Na matéria de capa, Veja compara-se ao promotor que propõe ao réu a “delação premiada”. Trata-se de um instituto, previsto em lei, pelo qual o réu tem abrandamento de pena se se dispuser a entregar escalões mais altos da organização criminosa.
No caso de Cachoeira, tal não ocorria. As matérias fornecidas pelo bicheiro serviam para detonar quadrilhas rivais, fortalecendo seu poder. Mais que isso, juntos, Cachoeira e Veja transformaram o senador Demóstenes Torres no político mais influente da oposição. Graças ao prestígio bancado pela revista, Demóstenes conseguia penetrar nos diversos departamentos da administração pública, defendendo pleitos do bicheiro.
A revista sustenta que a parceria com o bicheiro visou levantar denúncias que permitissem limpar o país.
A história não mostra isso.
No caso do grampo sobre a propina dos Correios, houve o claro propósito de beneficiar Cachoeira. O diretor da revista supervisionou pessoalmente o grampo, até julgar que estava eficiente. Depois disso, segurou a notícia por um mês, dando tempo ao esquema Cachoeira fazer o uso que bem quisesse. Publicada a denúncia, conseguiu-se o afastamento do esquema Roberto Jefferson dos Correios, e seu lugar ocupado novamente por esquema ligado ao próprio Cachoeira – que, dois anos depois, foi desbaratado pela Polícia Federal.
No episódio Satiagraha a revista usou os mesmos métodos. Para paralisar as investigações – que levariam inevitavelmente a Daniel Dantas -, a revista soltou uma série de matérias montadas.
Foi assim com a capa “O país do grampo”, \ que juntava um conjunto de informações desconexas, para passar a impressão que a Polícia Federal estaria grampeando meio mundo. Na verdade, a usina de grampos era do próprio Cachoeira.
O mesmo ocorreu com o “grampo sem áudio” – o falso grampo que teria interceptado uma conversa entre o Ministro Gilmar Mendes, do STF, e o senador Demóstenes Torres.
A falta de limites era tal que a revista publicou um dossiê contra o Ministro Edson Vidigal, do Superior Tribunal de Justiça, que havia dado uma sentença contra Dantas.
Era uma armação tão descarada, que a reportagem anunciava uma representação de uma ONG junto ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça), contra Vidigal. A representação baseava-se na própria reportagem da revista – que ainda nem tinha sido publicada.

ATUALIZAÇÃO

excerto do blog de Jorge Furtado

Menos divertido, ao contrário, como momentos comoventes, o esforço de alguns jornalistas – de alertar o distinto público sobre o que há de vir na CPI, mais detalhes sobre a relação de (outros) maus jornalistas com o crime organizado.
Uma coisa é ouvir um bandido sobre o crime, avisando ao leitor que a informação foi dada por um bandido, isso todos fazem e devem, precisam fazer.
Outra, muito diferente, é ser sócio do bandido, publicando o que ele quer, quando quer, sobre quem quer, anos a fio, e sem contar para ninguém que ele é um bandido, com interesse direto, financeiro, na publicação daquilo que ele chama de "reportagem investigativa".
O modus operandi da quadrilha é simples e fica muito claro pelo que já se conhece das investigações. Na maior parte das vezes, se trata de arapongagem, grampos e gravações ilegais onde o bandido oferece suborno (o que é crime) ou, sabendo que está sendo gravado e seu interlocutor não, envolve a vítima (desonesta ou não) em conversas cabeludas que, bem editadas, podem destruir reputações. De posse destas gravações e com acesso direto às manchetes, a quadrilha arma suas chantagens, ameaçando adversários e desafetos, cobrando para publicar ou não publicar informações.

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