O fim do jornalismo fácil Por Alberto Dines no Observatório da Imprensa | |
A mídia ainda não conseguiu ajustar-se ao estilo de Dilma Rousseff, que terça-feira (1/2) completa o primeiro mês do seu mandato. Na verdade, a mídia não conseguiu desencarnar do estilo, rotinas e parâmetros estabelecidos pelo antecessor. Com Lula na presidência era fácil fazer jornalismo, ou pelo menos o tipo de jornalismo mais tosco, declaratório: bastava acompanhar os seus pronunciamentos quase diários, ouvir os descontentes e dali saía obrigatoriamente a manchete do dia seguinte. Dilma Rousseff enfrentou o maior desastre já ocorrido no país enquanto administrava o habitual assalto do PMDB a cargos e verbas em troca de apoio e, nos intervalos entre os paroxismos, está oferecendo indícios de um tipo de atuação em clave baixa, com simbologias sutis, porém nítidas, que uma mídia destreinada ainda não está sabendo identificar. Nem analisar. Hora de reciclar O adiamento da escolha dos caças da FAB não foi uma evasiva, foi uma decisão clara diante das pressões das centrais sindicais por um aumento do salário mínimo acima do previsto no orçamento da União. Para ela, o equilíbrio fiscal é prioritário, a gastança precisa ser contida, porque a alternativa é uma inflação desembestada. Para acalmar os militares, escolhe a Argentina como destino da primeira viagem ao exterior para acertar uma parceria na área nuclear. Na terceira saída de Brasília (depois da visita à região serrana do Rio devastada pelas chuvas e da homenagem ao ex-vice José Alencar, no dia da sua fundação de São Paulo), a presidente foi a Porto Alegre para participar de uma discreta cerimônia para lembrar as vítimas do Holocausto: acendeu velas e fez um pequeno discurso contra ditaduras e em favor dos direitos humanos. A velha mídia nacional comeu mosca, mal registrou o evento, mas a mídia internacional soube perceber a mensagem subliminar embutida no gesto – um tranco no tiranete iraniano Mahmoud Ahmadinejad, campeão mundial em negar o Holocausto. Os porteiros das redações e os formadores de opinião carecem de uma reciclagem urgente. Se ficarem à espera de grandes proclamações no velho estilo Lula vão morrer de tédio. |
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
As vezes o velho Dines acerta na mosca
sábado, 29 de janeiro de 2011
Não há brasões para as famílias de São Bento
texto de meu amigo Henrique Luiz Fendrich, em seu ótimo blog São Bento no passado
Antes de gastar um dinheiro desnecessário com pessoas não muito compromissadas com a exatidão dos fatos, é preciso ter algumas coisas em mente. A primeira delas é que brasão de família não existe. Um brasão não pode servir para todos os Fendrich na face da terra, assim como não pode servir para todos os Pscheidt, nem todos os Grossl, e nem mesmo a todos os Weiss – enfim, a todos os sobrenomes “estrangeiros” de São Bento.
Isso porque os brasões são símbolos de nobreza e, assim sendo, só podem ser ostentados pelos legítimos descendentes de quem o recebeu por primeiro. Se você é da família Schreiner e encontra um brasão da família Schreiner, isso não significa que ele serve pra você – servirá apenas se você conseguir provar, de forma genealógica, que é descendente do primeiro portador do brasão. Uma tarefa, convenhamos, que não é das mais fáceis.
Sem a comprovação genealógica, o brasão, quando verdadeiro, é apenas uma figura decorativa que mostra a coincidência que há entre você e a pessoa que foi agraciada com o título de nobreza – ambos com o mesmo sobrenome. É como se eu resolvesse colocar na parede do meu quarto um disco de platina do Rainhard Fendrich, aquele popular cantor austríaco. Você há de concordar que eu não tive mérito na conquista desse possível parente.
Mas vamos imaginar que alguém está disposto a encontrar uma ligação genealógica que justifique o uso do brasão em sua família. No caso dos imigrantes de São Bento do Sul, é quase impossível que venha a conseguir. Nossos ancestrais eram honrados plebeus que estavam acostumado com a pobreza, e geralmente eram explorados por seus patrões na Europa. Não são o tipo de pessoas de quem se esperaria ancestrais nobres – no máximo, um espírito nobre.
Assim sendo, é preciso abrir mão do desejo de arrumar um brasão para tornar a nossa família mais “especial”. Garanto que na história da sua família há coisas suficientes para deixar você orgulhoso. Talvez elas não sejam tão visíveis como um brasão, e provavelmente até mostrem que seus ancestrais não foram dos mais ilustres. Mas elas te oferecem o seu passado, com todas as suas virtudes e os seus defeitos, e esse legado, até agora, não depende de autorização do rei.
Dedico esse texto à memória do pedreiro Carlos Giese, do sapateiro Frederico Fendrich, do faz-tudo Anton Zipperer e de todos os nobres colonos lavradores da cidade.
O gauchismo posto em xeque - para meus amigos gauchescos aqui de São Bento
A Disneylandia de bombachas
Max Weber dizia que ninguém nasce religioso, mas torna-se religioso. Simone de Beauvoir sustentou que não se nasce mulher, mas torna-se mulher. Parafraseando os dois, diremos que, igualmente, ninguém nasce gaúcho, alguns se tornam gaúchos.
O gaúcho, segundo a mitificação tradicionalista, é o cálculo acumulado de uma imposição cultural inventada e cevada no ideário rude de uma certa elite do Rio Grande do Sul. Mendes Fradique escreveu, no início do século XX, a História do Brasil pelo método confuso, pois a sabedoria “gauchista” tentou arremedá-lo contando a história do Rio Grande do Sul. A confusão, e não o método, inspirou a plataforma do tradicionalismo de fancaria.
Os primeiros esboços desse constructo mental que procura representar o tipo ideal dos indivíduos nascidos na região mais meridional do Brasil foram dados por jovens líderes políticos republicanos, ainda no final do século XIX, todos seguidores do positivismo de Auguste Comte. Júlio Prates de Castilhos, fundador do Partido Republicano Rio-grandense (1882), foi um dos que passaram a fazer uma lenta e continuada apropriação dos despojos da Revolução Farroupilha (1835-1845). A modernização conservadora que propugnavam, e depois levaram a efeito na Província do Rio Grande do Sul, através dos governos de Castilhos e Borges de Medeiros, e mais tarde no resto do Brasil, com Getúlio Vargas, vinha a cavalo e estava adornada de toda a memória heróica dos revoltosos farroupilhas, ainda que respingado pelo sangue coagulado da escravidão.
A influência do positivismo
O pensamento comtiano curiosamente vicejou no pastoril cenário austral brasileiro. Embora positivista e reacionário no plano geral da modernidade, numa província xucra e áspera como o Rio Grande do Sul, o comtismo representava um verniz de civilidade e institucionalização republicana. Havia, pelo menos, algum pensamento. Basta saber que, ainda no período 1893-95, na chamada Revolução Federalista, foram mortos mais de 10 mil pessoas, entre civis e militares de ocasião, numa Província que contava com 1 milhão de almas, onde a secção da carótida por lâmina branca (degola) de prisioneiros era prática comum em ambos os lados - liberais e republicanos. Joseph Love chega a afirmar que, no Rio Grande, no final do século XIX, ainda vagavam “hordas semibárbaras egressas do regime agro-pastoril”. Pelear era um meio de vida e de morte; especialmente, onde não havia trabalho assalariado regular no campo.
Comte, um dos tantos pensadores positivistas, concebia um mundo republicano, positivo (em relação ao ideal burguês da Revolução Francesa), organicista, não-estático, em evolução através de estágios civilizatórios, e com valores dispostos numa hierarquia. Havia o dogma da superioridade do amor sobre a razão. As mulheres eram superiores aos homens, por diversas razões, mas a principal era a do suposto predomínio dos sentimentos afetivos sobre os valores da razão, na alma feminina. Os negros eram superiores aos brancos. Os latinos eram superiores aos anglo-saxões. Todos pelas mesmas imaginadas razões altruísticas e de valoração puramente moral.
Uma mitologia do mundo rural
O segundo e definidor impulso do tradicionalismo crioulo foi dado somente a partir de 1947, por jovens de classe média do grêmio estudantil do colégio estadual Júlio de Castilhos, em Porto Alegre. Um movimento urbano, estudantil, pequeno-burguês, reivindicando e propondo uma mitologia do mundo rural, cuja unidade econômica era o universo da estância latifundiária agro-pastoril, seus símbolos, sua oligarquia militarizada, suas relações objetivas de trabalho, onde a acumulação primitiva estava fundada na escravatura, no abigeato, em terras havidas pela força das armas, pelo bandoleirismo, pelo saque, pelas vantagens da fronteira móvel, pela ausência do Estado, e pelo contrabando de mão-dupla; na esfera subjetiva, a estância foi matriz de relações de trabalho com conflitos não-manifestos, onde a relação patrão-peão estava dissimulada por laços de sociabilidade marcados pela mútua convivência em peleias contra os “castelhanos” ou contra facções políticas rivais. Relações de trabalho economicamente opostas, ainda não agudizada pelas contradições de classe, naqueles perdidos confins de coxilhas, ventos e horizontes sem curvas como o mar, mas que, no plano subjetivo é fator de solidariedade, coesão social e que tende a favorecer a unidade política.
Barbosa Lessa e Glaucus Saraiva acabam sendo os intelectuais orgânicos do chamado movimento tradicionalista gaúcho. Um oxímoro: “movimento tradicionalista”. São palavras de sentido oposto: tradicionalismo pressupõe algo fixo no tempo; logo, não há movimento. Assim foi, e é. Eles, primeiro, recuperam o vocábulo “gaúcho” que sempre teve qualificação negativa, sendo sinônimo de desajustado social, um desclassificado teatino, guacho, peão andarilho, etc. Antes do re-cozimento da história, é preciso apresentar identidades, heróis, um verniz cultural, uma bravura, própria das solenidades da origem, na luz sem sombra da primeira manhã. Entretecer as narrativas que montarão o imaginário da “pequena pátria” (Comte) carente de identidade. Ao fazê-lo, emprestam-lhe um passado heróico de glórias infinitas, cujas ilustrações vivas, que o saber histórico não deixa mentir, são as revoluções por causas nobres e justas. Sendo a principal delas a Revolução Farroupilha de 1835 a 1845, com seus personagens míticos, sua bandeira republicana e autonomista, mesmo escondendo a ausência de uma consigna abolicionista.
A história como lenda
Escondem, aliás, tudo que possa cheirar a povo, à autenticidade das manifestações populares, seja do branco despossuído, do negro, do índio e da mulher. É carimbado com o selo do tradicionalismo somente a memória do regime patrimonialista latifundiário ou da história convertida em lenda das revoluções sulinas. Com isso, a história transforma-se numa redução narrativa degradada. Já não é mais história, mas fábula, lenda, alegoria. O passado é cuidadosamente recortado numa seletiva representação de fatos deformados ou exagerados. A invenção da tradição, como cálculo político de identidade e dominação, agora é um mosaico de fatos positivos prontos para serem exibidos como espetáculo, esquecendo os aspectos sempre revolucionários do republicanismo e dos elementos modernos do comtismo, como o respeito à mulher e ao negro.
Eles operaram com um pau de dois bicos: de um lado, uma expropriação da história; de outro, a montagem de uma representação histórica. Paixão Côrtes, um dos idealizadores do tradicionalismo de espetáculo, admite que “o Rio Grande do Sul é um dos Estados brasileiros mais pobres em folclore”, e confirma: “o que assistimos é o culto das nossas tradições e não a vivência do folclore” (in jornal ZH, 22.08.1977). O tradicionalismo de espetáculo - inventado e curado nas charqueadas da ignorância - substituiu o folclore como fonte autêntica de manifestação popular na arte, na música, na poesia, nas cantigas e jogos infantis, na dança de perdidas origens, no artesanato, nas narrativas orais das tantas etnias que cimentam a cultura meridional do Brasil, como os povos europeus, o judeu, o libanês, o palestino, o negro de diversas extrações africanas, e os indígenas que tem uma história riquíssima de vida pré-colombiana e depois com a experiência das reduções jesuíticas, na região missioneira.
O estereótipo do tradicionalismo
A cultura do Rio Grande do Sul é muito mais rica do que o estereótipo do tradicionalismo fetichizado. O tradicionalismo crioulo é excludente e autoritário, sufoca todas as outras manifestações culturais de um Estado múltiplo, colorido de etnias, artes, linguagens e imaginários, parecendo-se com um corredor que se recusa a esperar sua alma. Uma das provas desse fenômeno nocivo da hegemonia unidimensional do tradicionalismo é o da culinária, onde o churrasco parece ser o monarca das mesas sulinas. Existe até uma lei estadual que o consagra como “comida oficial do Estado”. Nada mais inútil e tolo. E as ricas e saborosas culinárias das tantas etnias que temperam a mesa sulina? Numa região que teve nas charqueadas a base da sua economia, por longos decênios do século 19 e 20, o saboroso charque é pobremente servido de uma única forma, o “arroz de carreteiro”.
O tradicionalismo unidimensional e monotemático é um fator de inibição da criatividade e da livre manifestação de tantas culturas em um solo generoso e multitudinário. Uma prova da má consciência do tradicionalista de espetáculo é a relação difícil e conflituosa que sempre tiveram com os intelectuais sulinos. Ignoram, por exemplo, Érico Veríssimo, o escritor que construiu a maior e melhor narrativa literária de uma região brasileira, teceu tipos inesquecíveis e que vivem entre nós como se fossem de carne e osso, tamanha a sua sensibilidade, força artística e exemplo ético. Ignoram Pedro Weingärtner, José Franz Lutzenberger e Vasco Prado, para citar alguns artistas plásticos de épocas diferentes, mas que tiveram como temática pictórica e escultural o homem e a alma do Rio Grande, nos cenários da querência pampeana, missioneira e serrana, nos utensílios, no vestuário, nos instrumentos de trabalho, nos hábitos, no cavalo, nas vacarias, nos aperos, etc., mas sem convergir para o fantasioso mundo artificial do tradicionalismo de espetáculo.
O uso da bombacha tem a sua introdução nos Pampas (seja brasileiro, argentino ou uruguaio) por uma dessas ironias do destino (e do oportunismo comercial dos ingleses): conta o pesquisador uruguaio, Fernando Assunção, que durante a guerra da Criméia (1854-56), as fábricas inglesas produziram um grande excedente de uniformes para o exército da Turquia, o qual era ornado pelas tais calças bufantes, e como o conflito teve curta duração, os comerciantes ingleses resolveram desová-las para as tropas da Tríplice Aliança na guerra contra Solano Lopez, do Paraguai.
A "ideologia do gauchismo"
Alguns críticos do tradicionalismo de espetáculo exageram ao classificá-lo como uma “ideologia do gauchismo”. Não é nesse brevíssimo artigo que se debaterá a interessante polêmica, mas, desde já, não adotaríamos tal categoria para tais propósitos. Trata-se de uma mitologia tão pobre e mal ajambrada que seria elogioso classificá-lo como “ideologia”, de resto, uma categoria com múltiplas noções. Mas, sem dúvida, funciona como uma usina de produção de verdades, que preenche o vazio do desencantamento do mundo, fortalecendo o senso comum em detrimento do senso crítico. Cumpre a função de cobrir as lacunas e buracos de um imaginário popular que tem as ilusões cada vez mais erodidas pela pós-modernidade. Se não é um partido político na forma, milita politicamente em favor de uma “ordem” para todos, e um “progresso” para os eleitos.
Num mundo fetichizado pela miséria da mercadoria, os espelhos são inutilizados a tantos quadros por segundo. O homem, já sem espelho, auto-imagem, auto-referência, não se reconhece no mundo das coisas. É quando o tradicionalismo de espetáculo providencialmente estende espelhos simbólicos que oferecem um conforto identificador, um repouso ôntico, ao homem-multidão. Agora ele reconhece-se, agora ele identifica-se, ainda que na fantasia pilchada de uma ilusão galponeira. Tivesse bala na agulha, ousadia, empreendedorismo, o movimento tradicionalista gaúcho (MTG) poderia associar-se à Walt Disney Corporation no sentido de negociar o direito de ser objeto da dramaturgia materializada em parques temáticos e embalsamar mitologias e histórias. Uma mega Disneylandia de bombachas é a aspiração mais legítima do tradicionalismo de espetáculo. A estância-fetiche como sagração da vida boa, e o gaúcho, qual quixote temporão, se defendendo na coxilha da vida com um peleguinho já deslanado e a ferrugenta espada do tradicionalismo.
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
De como se engana a opinião publica em São Bento do Sul - o caso do Consórcio Quiriri
MISTIFICAÇÃO
O texto abaixo corresponde ao artigo publicado na revista eletrônica Cidades do Brasil em abril de 2001 – que pode ser visto em sua edição gráfica e ilustrado em
http://cidadesdobrasil.com.br/cgi-cn/news.cgi?cl=099105100097100101098114&arecod=19&newcod=452
As notas numeradas sobre os absurdos relatados no artigo (destacados em amarelo) são de fevereiro de 2006. Acompanhem pois como se engana a opinião pública e os próprios atores responsáveis pelas políticas públicas:
Consórcio Quiriri
Quatro municípios do interior de Santa Catarina reunidos em torno do objetivo de preservação da Bacia Hidrográfica do Alto Rio Negro
Abril/2001
Edição 19
O Consórcio Quiriri organiza mutirões para limpeza de encostas e
nascentes em áreas de conservação, a fim de garantir a qualidade da água e a sobrevivência da flora e fauna aquáticas (1)
Desconsiderando os limites geográficos e político-partidários e considerando apenas a extensão de seus municípios como uma só, em 28 de setembro de 1997, era assinado o Ato de Constituição do Consórcio Inter-municipal da Bacia Hidrográfica do Alto Rio Negro Catarinense, o Consórcio Quiriri, com a participação dos municípios de Campo Alegre, São Bento do Sul e Rio Negrinho. Dois anos depois se unia ao projeto o município de Corupá, todos com um objetivo comum: preservar a bacia hidrográfica rica em belezas naturais e com uma surpreendente biodiversidade.
O Consórcio Quiriri trouxe uma visão moderna para solução dos problemas ambientais, onde não só o poder público, as autoridades que participam, mas principalmente a comunidade fazem parte do empreendimento que atua em várias frentes.
O Programa de Tratamento Participativo de Resíduos Sólidos busca soluções para o grave problema relacionado ao lixo e seu destino final, englobando os projetos de resíduos contaminados, domiciliares e industriais.
O Programa de Unidades de Conservação visa estimular a criação de áreas de preservação legal junto aos setores públicos e privados.
O consórcio desenvolve ainda programas de Educação Ambiental (2) e o Projeto de Turismo Ecológico (3).
A partir destes programas, várias ações já foram realizadas as quais propiciaram ganhos ambientais a estes municípios e a outros da região, embora não consorciados. Foram criadas as APAs (Áreas de Proteção Ambiental), um modelo de unidade de conservação que possibilita a integração sócio-econômica-cultural da região preservada.
É uma visão moderna para a solução
dos problemas ambientais
Hoje já existem a APA do Alto Rio Turvo e a APA dos Campos do Quiriri, em Campo Alegre; APA do Rio Vermelho/Humbold, em São Bento do Sul, APA do Rio dos Bugres e APA da Represa do Alto Rio Negro, em Rio Negrinho. (4)
Em parceria com empresas recicladoras da região, a atuação do Consórgio Quiriri já conseguiu diminuir sensivelmente a quantidade de lixo depositada nos aterros dos municípios, através do estímulo à coleta seletiva e reciclagem. O consórcio recicla atualmente 25% do total do lixo antes destinado ao lixão. (5)
Essa média de lixo reciclável que retorna ao processo produtivo supera em muito a média nacional, por volta de 12% e coloca essas cidades em situação privilegiada em termos de políticas de resíduos sólidos.
O programa atinge principalmente indústrias e escolas através da APAE's. O lixo doméstico que é direcionado às recicladoras atinge a média de 400 toneladas/mês e 10.000 litros de solventes industriais reciclados. (6)
Várias ações já foram realizadas
proporcionando ganhos aos municípios
A reestruturação do Aterro Sanitário Controlado de São Bento do Sul já é uma realidade (7) e outros projetos em Rio Negrinho (8) e Campo Alegre encontram-se em fase adiantada de planejamento. (9)
Foram criados Condomínios Empresariais de Resíduos Sólidos na área de Aterro de São Bento do Sul onde serão instaladas as indústrias de separação e reciclagem que atendem a região, proporcionando assim maior segurança e racionalidade a estes serviços. (10) É importante destacar que 100% do lixo infectante produzido nos municípios através da coleta especial é incinerado. (11)
Através do Programa Planalto Norte Limpo, é feita a coleta e reciclagem das embalagens de agrotóxicos de 15 municípios do Planalto Norte Catarinense, sob o gerenciamento do Consórcio Quiriri. (12)
Participam do programa os municípios de Bela Vista do Toldo, Campo Alegre, Canoinhas, Corupá, Irineópolis, Itaiópolis, Mafra, Major Vieira, Monte Castelo, Papanduva, Porto União, Rio Negrinho, Santa Terezinha e Três Barras.
Com uma central de recebimento, separação e prensagem construída em Mafra, as embalagens plásticas triplamente lavadas são encaminhadas às indústrias recicladoras e após processa- mento adequado, são transformadas em conduites para distribuição de rede elétrica, na construção civil.
Além de resolver o problema do destino das embalagens de agrotóxicos, existe a vantagem da conscientização quanto ao uso racional destes produtos químicos junto à comunidade rural, aliado ao aproveitamento total do produto através da tríplice lavagem.
O programa também permite o controle e o uso racional de agrotóxicos nas lavouras, a conscientização ecológica do lavrador e um ganho ambiental importante para toda a região.
O consórcio recicla 25% do total do
lixo antes destinado aos lixões
A parceria entre o Consórcio Quiriri, o poder público municipal e a Caixa Econômica Federal viabilizou a transformação do Lixão de São Bento do Sul em Aterro Sanitário Controlado e através de um convênio de cooperação técnica firmado com a Universidade Federal de Santa Catarina, técnicos fazem um monitoramento mensal e controle das lagoas de estabilização do chorume para evitar a contaminação dos mananciais hídricos. (13)
O Selo de Qualidade para Produtos Artesanais de Origem Vegetal caminha a passos largos para que o pequeno produtor rural agregue valores aos seus produtos. (14)
O caráter inédito da proposta do Consórcio Quiriri tem atraído diversos organismos afins, de vários pontos do Brasil interessados em conhecer o projeto e colher subsídios para a implantação de seus próprios consórcios. Esta busca de informações e o interesse cada vez maior das universidades em tornarem-se parceiras dos projetos; o apoio oferecido por organismos federais, entre eles a Caixa Econômica Federal dão a certeza de que o caminho é certo. (15) Muito ainda há para ser feito: novos projetos, melhorias nas estruturas, adesões de mais municípios, extensão dos programas.
Embalagens são transformadas em
conduites para redes elétricas
Cada vez mais horizontes se abrem, mais dificuldades surgem, porém, junto a estas, mais parceiros dedicados, interessados e envolvidos com os propósitos do consórcio.
Entre as atividades a serem desenvolvidas este ano estão a montagem e execução de um grande projeto para obter recursos do FNMA (Fundo Nacional do Meio Ambiente) para gerenciamento integrado de resíduos sólidos e implantação de aterros sanitários com instalação de indústrias de reciclagem, projeto que visa atender de forma social, econômica e ambiental as comunidades. (15)
Também está sendo planejada a criação de um viveiro de mudas nativas e a implantação de programas de conservação de áreas verdes no perímetro urbano, (16) explica o coordenador executivo do Consórcio Quiriri, Magno Bollmann.
NOTAS – Procure no texto o absurdo correspondente e se divirta com as aberrações:
(1) Desde a fundação do Consorcio Ambiental Quiriri - CAQ, em setembro de1997, só se tem notícia de uma única iniciativa de mutirão de limpeza de um bem ambiental no âmbito dos quatro municípios consorciados. Aconteceu no rio Vermelho, em 22 de março de 2002, numa visita de avaliação ambiental decorrente da proposta de captação do SAMAE sem estudo prévio de impacto ambiental, que aquela autarquia municipal se recusava a promover. O CAQ por ser refém político da PMSBS - Prefeitura Municipal de São Bento do Sul - se absteve de se posicionar quanto à essa questão. A visita de avaliação ao rio acabou por se tornar um serviço de recolhimento de centenas de quilos de resíduos do rio.
(2) (2) O programa de Educação Ambiental do CAQ funcionou só durante o ano de 2002, entrando em colapso em 2003, em parte por boicote da Secretaria Municipal de Educação de SBS e pela priorização administrativa que se imprimiu na gestão do CAQ para a preparação da Feira AMBIENTAL, que seria realizada em março de 2004, que também tinha objetivos politiqueiros, dada a eleição municipal que se realizaria em outubro daquele ano
(3) Nunca, em nenhuma época, desde 1997 até 2006, foi organizado algum projeto de turismo ecológico pelo CAQ.
(4) As APAs foram criadas todas em 1998. Até hoje, fevereiro de 2006, não foram regulamentadas, tampouco se criou Conselhos Gestores (Participativos?) ou mesmo se promoveu o início do Zoneamento Econômico Ecológico. As ações predatórias antrópicas nessas área continuam exatamente como sempre foram historicamente. Nada mudou.
(5) O CAQ teve uma participação na formação da Cooperativa de Catadores de Recicláveis de SBS nos anos 2001/2002. Hoje são somente nove cooperados que reciclam pífias 12 toneladas por mês, o que corresponde a aproximadamente 1,2 % do resíduo doméstico que se gera no município. Nunca se chegou nem perto desses 25 % alegados
(6) Não existe um levantamento confiável das quantidades de material reciclado pelos recicladores particulares (menos de 10) em SBS. De qualquer maneira trabalham independentemente do CAQ. Quanto aos solventes não se pode atinar de onde surgiu este número que se alega reciclado. Nunca foi efetuado um acompanhamento técnico nesse sentido.
(7) O Aterro de Resíduos Urbanos de SBS sofreu embargado pelo MP Estadual em maio de 2000. Em 2003 foi finalmente interditado definitivamente, quando se passou a trasladar o resíduo doméstico urbano de SBS para o município de Mafra, a um custo de 1,5 milhão de reais por ano. Em fevereiro de 2006 ainda não se vislumbra solução para este problema.
(8) Rio Negrinho, isoladamente, concluiu seu novo aterro sanitário, com todos os requisitos técnicos aceitos, em 2003 a um custo de menos de R$ 500 mil.
(9) Não existe solução para o problema do aterro para Campo Alegre, até fevereiro de 2006.
(10) Estes “Condomínios Empresariais de Resíduos Sólidos” nunca foram além da cabeça do coordenador executivo Magno Bollmann. Nunca aconteceu a mínima ação para que se concretizassem além da montagem de um esqueleto de galpão pré-moldado de uns 400 m² que não chegou a ser nem coberto.
(11) O incinerador que fazia essa função teve problemas de manutenção em 2002 e foi desativado. Nunca mais operou desde então. Hoje o lixo infectante é enviado a Florianópolis para um aterro especializado com um custo considerável aos cofres públicos. Rio Negrinho deposita seu lixo infectante em valas sépticas em seu aterro, depois de obter autorização judicial para tanto
(12) A inserção do CAQ Programa Planalto Norte Limpo se deu pela indefinição de posição da ANDEF - Associação Nacional Defesa Vegetal (nome portentoso que se deu para essa associação de vendedores (distribuidores) de agrotóxicos), para assumir a gestão do cronograma de construção do centro de triagem de embalagens usadas de agrotóxicos, que por força de lei federal teriam que ser recolhidas. Como uma empresa construtora de São Bento do Sul vencera a concorrência p/ construção do dito galpão, o CAQ assumiu o gerenciamento de implantação do projeto, tirando um ônus das costas da ANDEF e da EPAGRI. O papel do CAQ foi pouco mais que gerenciamento de construção do galpão e implantação. A iniciativa não havia partido originalmente do consórcio, que tampouco foi responsável pelo planejamento.
(13) Não existem registros de participação da UFSC na resolução dos problemas relacionados ao Aterro de SBS além de uma troca de correspondencia no ano 2000, em que a universidade (acertadamente?) se eximiu desse abacaxi. Jamais um técnico da universidade pisou no aterro de SBS para fazer qualquer tipo de inspeção. Existiu realmente um envolvimento da CEF nessa questão do aterro mas deve ter se afastado ante a problemática com o MPE-SC.
(14) O “Selo de Qualidade” não passava de uma etiqueta com o logo do CAQ que se colava simplesmente nos vidros de produtos agro-industrializados (conservas). Nenhum cuidado especial, sanitário ou procedimento quanto à qualidade era feito junto ao produtor rural. Só um agricultor chegou a fazer uso desse selo, entrementes não o faz mais.
(15) O aterro para resíduos sólidos urbanos de SBS continua interditado e nenhuma solução foi desenvolvida até o presente momento.
(16) Esse viveiro de mudas jamais foi além dessa promessa e/ou citação.
Nota botocuda - atualização em 2011
O post acima foi escrito em 2006, como mencionado. Hoje, janeiro de 2011, pouca coisa mudou. Recentemente (em dezembro de 2010) o Consorcio adquiriu forma jurídica de “consorcio publico” (antes era uma forma jurídica amorfa de consorcio privado, embora os entes consorciados fossem todos de natureza publica – administrações publicas municipais), mas está em estado de abandono. As prefeituras de São Bento do Sul, Rio Negrinho, Campo Alegre e Corupá não dão a mínima importância para o consórcio e não adotam nenhuma ação de política publica coletivamente utilizando essa ferramenta administrativa.
Quase todas as notas acima continuam validas em 2011. Poderíamos acrescentar adendos atualizadores às notas:
(3) Durante o ano de 2010 o CAQ participou da elaboração de um roteiro ecológico para cicloturismo, mas a execução do projeto foi de uma empresa contratada de São Paulo. Esse roteiro ainda não foi tornado publico em janeiro de 2011, embora o trabalho já esteja concluído.
(4) Em 2010 a PMSBS (isoladamente - não através do CAQ) contratou um empresa de consultoria para elaborar um plano de manejo para a APA Rio Vermelho-Humboldt, mas ainda não se conhecem os resultados disso, tampouco se promoveram audiências com os setores da sociedade interessados nessa equação. Em 2005/2006, a Prefeitura Municipal de Rio Negrinho, por imposição do MP de lá, avançou na regulamentação da APA Rio do Bugres, chegando até a elaborar um Plano de Manejo, mas tão logo as pressões vindas do MP arrefeceram o projeto também parou e até hoje nada mais ficou definido. As outras APAS, mais uma em Rio Negrinho e duas em Campo Alegre, nunca evoluiram nenhum milímetro além de sua criação, em 1998.
(5) Em 2010 a cooperativa, agora instalada em prédio próprio, reciclou uma média de 25 toneladas/mês (dados obtidos aqui), o que representa aprox. 2% do residuo urbano que se gera em SBS. Agora são 25 cooperados registrados.
(7) e (15) O aterro sanitário de SBS foi finalmente concluido em janeiro de 2009 e entrou em operação em julho de 2010. Ainda havia uma pendência judicial envolvendo o aterro naquele interregno. Está dimensionado para ter uma vida util de 10 anos.
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
O MinC e a polemica do direito autoral
da Coluna Econômica do Nassif
Na última semana estourou uma ampla polêmica na Internet envolvendo a retirada do logotipo do "creative commons" do site do Ministério da Cultura.
O CC é uma fundação norte-americana que advoga a liberação do copyright (o direito de reprodução da criação artística).
A disputa que explodiu envolveu, de um lado, as tribos da Internet, desenvolvedores, blogueiros, defensores do chamado trabalho em rede e dos softwares livres. De outro, os artistas, criadores, defendendo o direito de serem remunerados por suas criações, através do direito autoral.
***
É uma disputa complexa porque envolve a própria indústria cultural (grandes estúdios, gravadoras), acervos de artistas já falecidos. E também transcende a mera discussão conceitual, já que a expansão da Internet, na prática, derrubou muitas barreiras à difusão de produtos culturais.***
Houve uma ampla discussão no meu blog (http://bit.ly/hUNIjY).
De fato, há uma ampla diferença conceitual entre os militantes das redes de Internet, adeptos incondicionais do trabalho colaborativo, e o artista, com sua individualidade criadora. Há também a crise da indústria fonográfica com o advento de novas mídias, aguçando ainda mais o problema. Em suma, há a necessidade de se encontrar alternativas que permitam ao autor sobreviver da sua obra.
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Mesmo assim, a discussão acabou bastante enviesada.
O "creative commons" desenvolveu novas modalidades de licenciamento da obra, a critério do autor. No fundo, visa conferir ao autor instrumentos para se opor ao sistema tradicional de licenciamento, que acaba privilegiando muito mais a editora ou gravadora.
Hoje em dia, pouquíssimos autores conseguem algum recurso proveniente de direitos autorais, seja de livros ou gravações. Os direitos acabam sendo açambarcados pelas editoras e, com o tempo, após a morte dos artistas submetidos a verdadeiros leilões.
O grande embate sobre o tema se deu nos Estados Unidos, quando estava para cair o copyright de obras de Disney. No século 19, o copyright durava 15 anos após a morte do autor. No século 20, houve alterações rápidas na legislação estendendo o prazo de validade para até 70 anos após a morte do autor.
Como lembrou um dos debatedores, "escritores do século XX, como por exemplo, Monteiro Lobato, só entrarão em domínio público em 2018; a obra de Carlos Drummond de Andrade, só entrará para o domínio público em 2057; e a obra de José Saramago, apenas em 2080".
O "creative commons" faculta ao autor definir, em vida, como será o copyright das suas obras. Nesse sentido, não é impositivo.
WikiLeaks: “EUA tentaram impedir o Programa Brasileiro de Foguetes
Vida longa ao WikiLeaks, a verdade nua e crua que desmascara lobos e cordeiros da política internacional e nacional.
por Paulo Renato Lima , no Blog O Nosso Pé de Laranja Lima
Materia de O Globo
Ainda que o Senado brasileiro venha a ratificar o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas EUA-Brasil (TSA, na sigla em inglês), o governo dos Estados Unidos não quer que o Brasil tenha um programa próprio de produção de foguetes espaciais. Por isso, além de não apoiar o desenvolvimento desses veículos, as autoridades americanas pressionam parceiros do país nessa área – como a Ucrânia – a não transferir tecnologia do setor aos cientistas brasileiros.
Viagem de astronauta brasileiro é ironizada
Sob o título “Pegando Carona no Espaço”, um outro telegrama descreve com menosprezo o voo do primeiro astronauta brasileiro, Marcos Cesar Pontes, à Estação Espacial Internacional levado por uma nave russa ao preço de US$ 10,5 milhões – enquanto um cientista americano, Gregory Olsen, pagara à Rússia US$ 20 milhões por uma viagem idêntica.
Por José Meirelles Passos
Alguém aí se surpreendeu? Vamos refrescar a memória: Em 2003, após duas tentativas fracassadas de lançamento do Veículo Lançador de Satélites (VLS) e às vésperas da 3ª tentativa (com grandes chances de sucesso) a Base de Alcântara, foi “misteriosamente” jogada para os ares! A Aeronáutica veio correndo dizer que a possibilidade de sabotagem estava descartada
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
O homem que espalhou o deserto
Ignácio de Loyola Brandão
Quando menino, costumava apanhar a tesoura da mãe e ia para o quintal, cortando folhas das árvores. Havia mangueiras, abacateiros, ameixeiras, pessegueiros e até mesmo jabuticabeiras. Um quintal enorme, que parecia uma chácara e onde o menino passava o dia cortando folhas. A mãe gostava, assim ele não ia para a rua, não andava em más companhias. E sempre que o menino apanhava o seu caminhão de madeira (naquele tempo, ainda não havia os caminhões de plástico, felizmente) e cruzava o portão, a mãe corria com a tesoura: tome filhinho, venha brincar com as suas folhas. Ele voltava e cortava. As árvores levavam vantagem, porque eram imensas e o menino pequeno. O seu trabalho rendia pouco, apesar do dia-a-dia constante, de manhã á noite.
Mas o menino cresceu, ganhou tesouras maiores. Parecia determinado, á medida que o tempo passava, a acabar com as folhas todas. Dominado por uma estranha impulsão, ele não queria ir á escola, não queria ir ao cinema, não tinha namoradas ou amigos. Apenas tesouras, das mais diversas qualidades e tipos. Dormia com elas no quarto. Á noite, com uma pedra de amolar, afiava bem os cortes, preparando-as para as tarefas do dia seguinte. Ás vezes, deixava aberta a janela, para que o luar brilhasse nas tesouras polidas.
A mãe, muito contente, apesar do filho detestar a escola e ir mal nas letras. Todavia, era um menino comportado, não saía de casa, não andava em más companhias, não se embriagava aos sábados como os outros meninos do quarteirão. Seu único prazer eram as tesouras e o corte das folhas.
Só que, agora, ele era maior e as árvores começaram a perder. Ele demorou apenas uma semana para limpar a jabuticabeira. Quinze dias para a mangueira menor e vinte e cinco para a maior. Quarenta dias para o abacateiro que era imenso, tinha mais de cinquenta anos. E seis meses depois, quando concluiu, já a jabuticabeira tinha novas folhas e ele precisou recomeçar.
Certa noite, regressando do quintal agora silencioso, porque o desbastamento das árvores tinha afugentado pássaros e destruído ninhos, ele concluiu que de nada adiantaria podar as folhas. Elas se recomporiam sempre. É uma capacidade da natureza, morrer e reviver. Como o seu cérebro era diminuto, ele demorou meses para encontrar a solução: um machado.
Numa terça-feira, bem cedo como não era de perder tempo, começou a derrubada do abacateiro. Levou dez dias, porque não estava habituado a manejar machados, as mãos calejaram, sangraram. Adquirida a prática, limpou o quintal e descansou aliviado.
Mas insatisfeito, porque agora passava os dias a olhar aquela desolação, ele saiu de machado em punho, para os arredores da cidade. Onde encontrava árvore, matos, atacava, limpava, deixava os montes de lenha arrumadinhos para quem quisesse se servir. Os donos dos terrenos não se importavam, estavam em via de vendê-los para fábricas ou imobiliárias e precisavam de tudo limpo mesmo.
E o homem do machado descobriu que podia ganhar a vida com o seu instrumento. Onde quer que precisassem derrubar árvores, ele era chamado. Não parava. Contratou uma secretária para organizar uma agenda. Depois, auxiliares. Montou uma companhia, construiu edifícios para guardar machados, abrigar seus operários devastadores. Importou tratores e máquinas especializadas do estrangeiro. Mandou assistentes fazerem cursos nos Estados Unidos e Europa. Eles voltaram peritos de primeira linha. E trabalhavam, derrubavam. Foram dos sul ao norte, não deixando nada em pé. Onde quer que houvesse uma folha verde, lá estava uma tesoura, um machado, um aparelho eletrônico para arrasar.
E enquanto ele ficava milionário, o país se transformava num deserto, terra calcinada. E então, o governo, para remediar, mandou buscar em Israel técnicos especializados em tornar férteis as terras do deserto. E os homens mandaram plantar árvores. E enquanto as árvores eram plantadas, o homem do machado ensinava ao filho a sua profissão.
sábado, 22 de janeiro de 2011
O fabuloso gerador de Lero-Lero
Da série Porque hoje é sábado (2)
O Fabuloso Gerador de Lero-lero v2.0 é capaz de gerar qualquer quantidade de texto vazio e prolixo (só lixo?), ideal para engrossar uma tese de mestrado, impressionar seu chefe ou preparar discursos capazes de curar a insônia da platéia. Basta informar um título pomposo qualquer (nos moldes do que está sugerido aí embaixo) e a quantidade de frases desejada. Voilá! Em dois nano-segundos você terá um texto - ou mesmo um livro inteiro - pronto para impressão.
Vejam um exemplo:
Agilidade decisória para os novos tempos
Por conseguinte, o novo modelo estrutural aqui preconizado auxilia a preparação e a composição das posturas dos órgãos dirigentes com relação às suas atribuições. Percebemos, cada vez mais, que a necessidade de renovação processual oferece uma interessante oportunidade para verificação dos conhecimentos estratégicos para atingir a excelência. A nível organizacional, a consulta aos diversos militantes estimula a padronização do impacto na agilidade decisória.
Todas estas questões, devidamente ponderadas, levantam dúvidas sobre se a consolidação das estruturas representa uma abertura para a melhoria dos relacionamentos verticais entre as hierarquias. O que temos que ter sempre em mente é que a contínua expansão de nossa atividade acarreta um processo de reformulação e modernização dos métodos utilizados na avaliação de resultados. Podemos já vislumbrar o modo pelo qual a hegemonia do ambiente político estende o alcance e a importância dos paradigmas corporativos. Do mesmo modo, a complexidade dos estudos efetuados maximiza as possibilidades por conta das condições inegavelmente apropriadas.
As experiências acumuladas demonstram que o comprometimento entre as equipes agrega valor ao estabelecimento das novas proposições. É importante questionar o quanto o início da atividade geral de formação de atitudes garante a contribuição de um grupo importante na determinação das direções preferenciais no sentido do progresso. Neste sentido, o consenso sobre a necessidade de qualificação faz parte de um processo de gerenciamento das regras de conduta normativas.
Por outro lado, a valorização de fatores subjetivos causa impacto indireto na reavaliação do remanejamento dos quadros funcionais. É claro que o entendimento das metas propostas promove a alavancagem do levantamento das variáveis envolvidas. Gostaria de enfatizar que a expansão dos mercados mundiais é uma das consequências do fluxo de informações. Nunca é demais lembrar o peso e o significado destes problemas, uma vez que a estrutura atual da organização apresenta tendências no sentido de aprovar a manutenção do orçamento setorial. Ainda assim, existem dúvidas a respeito de como a adoção de políticas descentralizadoras facilita a criação dos procedimentos normalmente adotados.
Assim mesmo, a mobilidade dos capitais internacionais afeta positivamente a correta previsão dos níveis de motivação departamental.
Um grande exemplo de caridade e desapego ao dinheiro
Da série: Porque hoje é sábado!
Pescado no sempre ótimo blog do professor Hariovaldo
Alvas nuvens no céu a lembrarem que as alvas flores da terra perfumam o caminho dos que andam de acordo com a trindade santa, qual seja a Fé, a Esperança e a Caridade, como faz nosso irmão e grande homem bom, Álvaro Dias, alvíssaras!!! Oh, que esperança ao vermos a inabalável fé de um homem de bem sempre disposto a fazer caridade para os necessitados, demonstrando o porquê é realmente um homem bom. Que grande desprendimento, que grande desapego ao dinheiro e aos bens materiais! Estamos todos em regozijo por tal ato vindo de tão caridoso espírito, que com certeza é um espírito rico em virtudes e sabedoria, pois o nobre senador Dias sabe que a verdadeira riqueza não está nesse mundo.
Ao requisitar para a caridade estes parcos milhões a que tem direito de fato e de moral, Álvaro Dias demonstra que seu mais profundo interesse está no bem estar do próximo, na melhoria da condição humana, sendo dever de todo homem de bem fazer caridade, lutando pelas modestas quantias que lhes são devidas para aquinhoar os mais necessitados. Sigamos pois este exemplo bendito.
Comentários:
1) Caros e digníssimos confrades e comadres,
espantou-me deveras ato tão insano de representante de tal envergadura dos Homens Bons.
Aquinhoar bens de direito como “caridade” à choldra bolchevique que certamente votou e elegeu a Bulgara Escarlate? E o ínclito Professor Hariovaldo a aplaudir tal gesto?!
Teremos perdido o norte, meu caros confrades?
É certo que a vitória forjada da seguidora do Mefisto de Garanhuns tenha nos tirado levemente dos eixos, mas isso foge a todas as regras de decoro! É uma indecência!
Terá nosso Mestre se bandeado para os Vermelhos, ou Cor de Rosas como... como Miss Daisy?… digo D. Álvaro?
Não posso concordar com semelhante atitude de D. Álvaro, mas é mandatório que concorde menos ainda com a postura de nosso Magister: D. Álvaro é apenas humano, vítima da insânia; Prof. Hariovaldo é Santo e não pode cair em semelhantes esparrelas e armadilhas morais montadas pela gentalha acostumada às bolsas isso, bolsas aquilo...
2) Filantrópico e Celebratório Mestre Hari,
Venho aqui denunciar um ato de extrema vileza que estão cometendo com nosso grande comparsa, Dr. Paulo Maluf. Bloquearam milhões de dólares que esse pio homem bom havia reservado para caridade em contas na Suíça e outros paraísos (ou seriam infernos?) fiscais.
A choldra comunista quer a todo custo impedir a generosidade dos homens de bens (e de Benz).
3) Gente, estou com muito medo! Perseguições de todo tipo, sabotagens, máscaras horríveis… A frágil democracia que construímos com tanto esforço pode ser destruída por comunistas insanos.
4) Aquinhoado meste: O nosso Ávaro Dias, justo, eficiente, aplicado e “íntegro” defensor dos homens de bens (e de Benz) faz o correto ao reivindicar seus direitos retroativos a uma merreca de pensão por ex-governador. Outro dos nossos lídimos representantes, Frei Pedro, o Simon, também o fez e já recebe tal adjutório que os cofres públicos devem e são obrigados a pagar por personalidades que frequentam de forma constante as telas de TV e páginas dos nossos mais limpinhos e cheirosos jornalões, tais como O O Globo, FSP e Estadão, vez que a Veja é hours concurs nessa categoria. O que me causa espanto é a agora avermelhada luladilmista GloboNews que sempre se serviu dos altos predicados de Álvaro Dias, que solenemente ignora nosso magnífico e botoximizado representante, omitindo de forma solene seu justo pleito. Onde vamos parar com essa mídia sustentada a ouro de Caracas e qunquilharias de Pequim, sem falar nas gordas subvenções albanesas e agora búlgaras que desvirtuam a nossa tenra e jovem democracia, ameaçando-nos a todos em nossos direitos de elite justa e complacente?