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sábado, 29 de janeiro de 2011

Não há brasões para as famílias de São Bento

texto de meu amigo Henrique Luiz Fendrich, em seu ótimo blog São Bento no passado

Muitas pessoas, no entusiasmo de descobrir informações sobre seus ancestrais, iniciam uma busca pelo brasão de sua família. Elas encontram, sem muita dificuldade, alguns sites picaretas que se dispõem a arrumar os brasões desejados. Eu mesmo, nos primeiros meses de pesquisa, cheguei a pagar R$ 20 para que um site me mandasse o brasão da família Fendrich – que depois eu descobri ser o mesmo da família Friedrich.

Antes de gastar um dinheiro desnecessário com pessoas não muito compromissadas com a exatidão dos fatos, é preciso ter algumas coisas em mente. A primeira delas é que brasão de família não existe. Um brasão não pode servir para todos os Fendrich na face da terra, assim como não pode servir para todos os Pscheidt, nem todos os Grossl, e nem mesmo a todos os Weiss – enfim, a todos os sobrenomes “estrangeiros” de São Bento.

Isso porque os brasões são símbolos de nobreza e, assim sendo, só podem ser ostentados pelos legítimos descendentes de quem o recebeu por primeiro. Se você é da família Schreiner e encontra um brasão da família Schreiner, isso não significa que ele serve pra você – servirá apenas se você conseguir provar, de forma genealógica, que é descendente do primeiro portador do brasão. Uma tarefa, convenhamos, que não é das mais fáceis.

Sem a comprovação genealógica, o brasão, quando verdadeiro, é apenas uma figura decorativa que mostra a coincidência que há entre você e a pessoa que foi agraciada com o título de nobreza – ambos com o mesmo sobrenome. É como se eu resolvesse colocar na parede do meu quarto um disco de platina do Rainhard Fendrich, aquele popular cantor austríaco. Você há de concordar que eu não tive mérito na conquista desse possível parente.

Mas vamos imaginar que alguém está disposto a encontrar uma ligação genealógica que justifique o uso do brasão em sua família. No caso dos imigrantes de São Bento do Sul, é quase impossível que venha a conseguir. Nossos ancestrais eram honrados plebeus que estavam acostumado com a pobreza, e geralmente eram explorados por seus patrões na Europa. Não são o tipo de pessoas de quem se esperaria ancestrais nobres – no máximo, um espírito nobre.

Assim sendo, é preciso abrir mão do desejo de arrumar um brasão para tornar a nossa família mais “especial”. Garanto que na história da sua família há coisas suficientes para deixar você orgulhoso. Talvez elas não sejam tão visíveis como um brasão, e provavelmente até mostrem que seus ancestrais não foram dos mais ilustres. Mas elas te oferecem o seu passado, com todas as suas virtudes e os seus defeitos, e esse legado, até agora, não depende de autorização do rei.

Dedico esse texto à memória do pedreiro Carlos Giese, do sapateiro Frederico Fendrich, do faz-tudo Anton Zipperer e de todos os nobres colonos lavradores da cidade.

Um comentário:

  1. É isso aí, beleza de artigo, assino embaixo.

    Até porque sobrenomes em quase todos os idiomas têm um prefixo que denota nobreza: von, van, de, etc. Quem não tem isso, ganhou o sobrenome da forma mais arbitrária possível no final da Idade Média, famílias especialmente azaradas ganharam sobrenomes como Schmutz :) e definitivamente deveria saber que, se alguém lhe diz que sua família tem brasão, é enganação.

    E quem tem tais prefixos, não deveria se preocupar com isso também.

    É que nem a modinha de passaportes europeus, dupla nacionalidade etc.

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