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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Kim Jong Il – o líder político engraçado




NOTA BOTOCUDA PRELIMINAR

Esses dias (ontem talvez) em conseqüência da morte do líder norte-coreano engraçado, vi um comentário de um amigo no FeiceBúc de que seus (dele missivista) amigos esquerdistas estariam de luto pelo fato... já antecipando alguma gracinha.

De minha parte confesso que nunca me detive realmente o que era e o que será da Coréia do Norte em face aos seus lideres engraçados. O sucessor-pirralho também me inspira alguma desconfiança, mas a analise do Flavio Gomes, publicada em seu blog, que reproduzo abaixo, merece reflexão. Exepcionalmente também reproduzo as ilustrações e o vídeo do post original do Flavio Gomes.

Vamos então a uma gracinha sobre o caso:

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Um dia depois do anúncio da morte do líder Kim Jong-Il, uma pequena homenagem sobre rodas a um dos últimos bastiões socialistas do planeta. Este álbum tem fotos de carros, ônibus, caminhões e tratores norte-coreanos, desconhecidos do resto do universo. Escolhi, para ilustrar, esse trólebus Pégasus do início dos anos 70 lindíssimo.



Sobre a Coreia do Norte, é sabido, para quem tem mais de dois neurônios funcionando, que é o país que mais sofreu e sofre com as mentiras da propaganda ocidental em todos os tempos. São 60 anos de ataques. Normal a retração, fechar-se como um caramujo. É incrível como a imprensa, inclusive a nossa, fala com propriedade sobre uma nação onde ninguém quase nunca põe os pés. Chamam Jong-Il de todos os nomes possíveis — porque era baixinho, usava sapatos altos e óculos escuros, um curioso senso de julgamento estético; Berlusconi, com seus ternos bem cortados, é tratado apenas como um rufião inofensivo— sem informação alguma, já que ninguém sequer entende o que ele fala para dizer alguma coisa.
Eu também não coloquei meus pés lá, por isso não digo muito. Mas vejo e leio o que posso e tenho algum senso crítico, ainda. O sofrimento do povo norte-coreano ao anúncio da morte de seu líder deveria indicar alguma coisa aos leitores de “Veja” e similares que vão aparecer aqui em 5, 4, 3…
Vão dizer que é propaganda oficial e tal. OK. Aí eu recebo dezenas de vídeos por dia, desde a Copa, com gente gracejando sobre a cobertura que a TV estatal deu ao Mundial da África do Sul, e que o governo disse ao povo que a Coreia tinha derrotado o Brasil. Legal, muito engraçado. Alguém entende coreano para fazer uma tradução fiel? Alguém viu esses vídeos de verdade ou se baseia nas coisas postadas no YouTube com legendas como aquelas brincadeiras que fazem com um vídeo do filme sobre Hitler? No quê essa disseminação de mentiras para milhões, bilhões, é diferente do que chamam de “propaganda oficial”? Por que acreditam nessas bobagens e não acreditam, por exemplo, no vídeo abaixo? Ah, porque é propaganda oficial. OK.


O que acontece, na verdade, é que as pessoas não aceitam as diferenças. A Coreia do Norte é diferente. As pessoas têm outros interesses, necessidades e ambições. Deste lado do mundo, todos ficam chocados com os desfiles militares nas ruas de Pyongyang, mas ninguém se assusta com os trilhões de dólares que os EUA gastaram nos últimos dez anos para invadir e subjugar o Iraque. Chocam-se com filas para comprar, sei lá, arroz, mas acham o máximo as filas para comprar o último modelo do iPhone. Espantam-se com o culto à personalidade do “ditador de cabelos espetados” retratado em estátuas e esculturas (era assim no Leste Europeu, também), mas não com o culto a, sei lá, Jesus Cristo — a imagem do Cristo Redentor não espanta ninguém, ao contrário, e quantas atrocidades já foram cometidas no mundo em nome deste e de outros deuses? Qual a diferença entre o culto a um líder político vivo e a um líder religioso morto? Não servem, ambos, aos mesmos propósitos?
Por essas e outras, talvez, as pessoas não entenderão nunca o choro de Jong Tae-Se quando tocou o hino de seu país antes do jogo com a seleção do Dunga em Jo’Burg. Algumas coisas, para os ocidentais, são aceitáveis. Outras, não. O povo norte-coreano vive do jeito que está habituado a viver por conta de algo que não criou, a divisão de seu país em dois. É preciso entender que não deve ser fácil um país pequeno optar por um sistema político sendo bombardeado dia e noite por aquilo que o Ocidente acha que é melhor.
Não nos esqueçamos que a divisão da Coreia foi consequência direta de uma guerra que os coreanos não causaram, bem longe dali, na Europa. Acabou a Segunda Guerra, americanos e soviéticos expulsaram de lá os inimigos japoneses, que haviam ocupado a península, e resolveram dividir o país em dois. Cada um, então, decidiu fazer de sua metade o que quis. E aquela terra distante virou palco de experiências e, aí sim, propaganda de lado a lado. Em 1950 explodiu a Guerra da Coreia e o mundo esteve perto de acabar — o conflito, em certa medida, foi bem pior que o do Vietnã, até pela proximidade com a Segunda Guerra e pela necessidade das duas potências de demonstrarem força. Mais de três milhões de coreanos morreram por causa da brincadeira da Guerra Fria. Centenas de milhares de famílias foram separadas por uma fronteira fictícia. Quando acabou, queriam o quê? Sorrisos? Os norte-coreanos se fecharam. Os sul-coreanos se abriram. A única coisa aceitável, do ponto de vista humanitário, seria hoje uma reunificação. Mas como fazer, como curar as feridas, como promover a paz depois de tanta crueldade?
E assim a Coreia do Norte tomou seu caminho, e ele diz respeito somente aos norte-coreanos. É bom? É ruim? Não cabe a nós, que não conhecemos nada, julgar. E, sinceramente, duvido que Pyongyang seja pior do que a Cracolândia, por exemplo. O fato de a economia da Coreia do Sul ser 36 vezes maior que a de seus vizinhos do norte não deveria ser motivo para júbilo, e sim de tristeza e vergonha. Como se chegou a esse ponto? É culpa exclusiva do baixinho de sapatos altos e óculos escuros?

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