Por Tiago Padilha ·
revista Darcy / UnB
Quando empregado na cozinha, para fritar uma coxa de galinha
ou uma posta de peixe, o óleo vegetal é um ingrediente que ajuda a preparar
comida e alegrar o paladar. Mas é o que se faz com o líquido depois de
usado. ao ser despejado no ralo da pia, que o óleo vira um problema. Escorre pelas
tubulações e galerias pluviais e, se chegar a ser lançado em rios e outros
sistemas hídricos, faz estrago.
O óleo de fritura é um problema enorme para as companhias de
saneamento também. Encarece os custos
com o tratamento do esgoto e dificulta a manutenção do
encanamento. Não é a toa, a própria Companhia de Saneamento ambiental do DF
(Caesb) toca projetos de coleta do resíduo e sua reutilização na fabricação de
biodiesel e sabão.
No laboratório de materiais e Combustíveis da Unb, dois
pesquisadores criaram uma tecnologia que faz o óleo se transformar num produto
muito mais rentável: a tinta de impressão.
Hoje, o item de mercado que associa mais valor ao óleo de
fritura, ou residual, é o biodiesel, cujo litro é vendido por pouco mais de r$
2. a mesma quantidade de tinta para impressão sai por cerca de r$ 40. “o
retorno financeiro compensa os custos da coleta do resíduo, que é cara,
principalmente se feita de casa em casa, em pequenos volumes.
A produção de sabão e biodiesel é uma atividade pouco
atraente”, explica Vinicius Moreira Mello, mestrando do instituto de Química
que desenvolveu a tecnologia sob a orientação do professor Paulo Anselmo Ziani
Suarez.
Os pesquisadores da Unb não encontraram registro de outra
tecnologia que, assim como a deles, utilize óleo residual para a produção de
tinta de impressão. Há patentes de tintas feitas à base de óleo vegetal
refinado, mas em estado virgem. No mercado, as tintas de óleo vegetal
correspondem a 15% do que é vendido da cor preta e 25% da paleta colorida. o
restante é ocupado pela tinta à base de petróleo. Porém,
o produto feito com óleo vegetal vem aumentando a clientela,
em virtude das constantes altas do preço do “ouro negro”, da escassez de suas
reservas e da consciência dos danos que seus derivados causam ao meio ambiente.
As vantagens
O produto à base de óleo vegetal é defendido pelos
ambientalistas e empresas que querem ostentar o rótulo de amigas da natureza.
além de ser renovável, ele se degrada mais facilmente e o papel branco impresso
com ele fica mais claro ao ser reciclado. a tecnologia desenvolvida na Unb
torna o processo de fabricação mais econômico. Para que ganhe viscosidade, o
óleo usado em frituras precisa ser aquecido por seis horas, metade do tempo
exigido pelo material puro. isso porque, além de a polimerização (processo que
forma a cadeia de moléculas) já ter começado ao calor do fogão, os
pesquisadores empregam um catalisador de fabricação própria, cuja fórmula
contém metais não tóxicos e moléculas orgânicas derivadas de biomassa.
As expectativas
O mestre Vinicius e o professor Paulo patentearam a
tecnologia, batizada com o nome
de Processo de Polimerização Técnico de Óleos e Gorduras.
agora, a idéia é passar a
fazer a tinta em escala semi-industrial, o que baratearia a
produção. Para isso, têm que adquirir um reator maior, que permita fabricar 50
litros. a máquina do laboratório de materiais e Combustíveis da Unb tem
capacidade para apenas um litro. Uma empresa que investe no desenvolvimento de
novas tecnologias, sediada em São Paulo, manifestou interesse por financiar a
empreitada.
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