Adaptação livre de análise de Saul Leblon, publicado na CartaMaior
A Rio+20 começou querendo parecer apenas uma versão
atualizada do balanço do fim do mundo.
Mas precisaria ser mais que isso. Tinha que ser!... precisa
ouvir as circunstâncias da história. Nas últimas décadas, a desregulação
imposta a todos os níveis da atividade humana agravou os contornos da crise
social e ambiental. Se os chamados 'fundos alfa' dos dominadores do mundo
financeiro internacional – fundos estes altamente agressivos e especulativos –
conseguem dobrar o rendimento dos detentores de riqueza em um par de meses,
todos os demais setores da economia capitalista querem perseguir idêntica
voracidade. Do contrário, acionistas insaciáveis fritarão o fígado de gestores
empedernidos numa grande queima de ações em Bolsas. A dominância financeira
impôs quase 40 anos de aceleração turbinada e predatória em todas as latitudes,
do macro ao micro.
Acelerar significa, antes de mais nada, desregular. Porteiras abertas!...
Acelerar significa, antes de mais nada, desregular. Porteiras abertas!...
Mas desregular o quê?...
Tudo!... do mercado de trabalho à exploração das riquezas
naturais. Privatizando e liberalizando o mercado da água, por exemplo. Ou
permitindo o plantio e o desmatamento ensandecido nas beiras de rios, como
querem os exportadores brasileiros de commodities.
Mesmo com essa jogatina financeira suicida, ainda hoje 1/3 da
humanidade depende da queima de lenha ou carvão (leia-se, derrubada de
florestas) para preparar uma simples refeição. Um bilhão de seres humanos vive
no calabouço da fome crônica. Um bilhão no campo, sem acesso pleno a recursos e
conquistas da civilização. Nem a estagnação, nem a devastação resolvem o
desafio gêmeo do nosso tempo. Qualquer dissociação entre crescimento justo e
equilíbrio ambiental ordena o futuro na rota do desastre – da humanidade e da
natureza.
Agora, engrenagem que triturou seres humanos e territórios
com intensidade nunca vista nas últimas décadas está em agonia. Mas seus
operadores e o poder político que os respalda continuam a dar as cartas da vida
e da morte do planeta. O epicentro do jogo nesse momento consiste na brutal
determinação desses interesses em validar títulos que lhes dão direitos de
saque sobre a riqueza disponível, mas cujo montante reúne um valor de face da
ordem de US$ 600 trilhões: 10 vezes a soma do PIB planetário. Fazer valer essa
riqueza de títulos e/ou papéis podres que começa a se evaporar, requer de seus
detentores uma disposição bélica para romper qualquer regra de bom senso,
solidariedade e equilíbrio. Exemplos como o escalpo imposto à Grécia demonstram
que eles não são amadores no ramo. Mas a Grécia é só a cabeça do alfinete de
uma dança das cadeiras cuja regra é:
“mate nove se quer resgatar tudo o que nunca poderia ter sido seu”.
Os encontros da Rio+20 estão emparedados nessa matemática de saque contra direitos sociais, espaços e bens públicos, ademais de qualquer resquício da natureza capaz de emprestar valor efetivo ao papelório financeiro que se esfuma.
Os encontros da Rio+20 estão emparedados nessa matemática de saque contra direitos sociais, espaços e bens públicos, ademais de qualquer resquício da natureza capaz de emprestar valor efetivo ao papelório financeiro que se esfuma.
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