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quarta-feira, 20 de junho de 2012

Rio+20 Mais uma abstração?...








Adaptação livre de análise de Saul Leblon, publicado na CartaMaior



A Rio+20 começou querendo parecer apenas uma versão atualizada do balanço do fim do mundo.

Mas precisaria ser mais que isso. Tinha que ser!... precisa ouvir as circunstâncias da história. Nas últimas décadas, a desregulação imposta a todos os níveis da atividade humana agravou os contornos da crise social e ambiental. Se os chamados 'fundos alfa' dos dominadores do mundo financeiro internacional – fundos estes altamente agressivos e especulativos – conseguem dobrar o rendimento dos detentores de riqueza em um par de meses, todos os demais setores da economia capitalista querem perseguir idêntica voracidade. Do contrário, acionistas insaciáveis fritarão o fígado de gestores empedernidos numa grande queima de ações em Bolsas. A dominância financeira impôs quase 40 anos de aceleração turbinada e predatória em todas as latitudes, do macro ao micro. 

Acelerar significa, antes de mais nada, desregular. Porteiras abertas!...

Mas desregular o quê?...

Tudo!... do mercado de trabalho à exploração das riquezas naturais. Privatizando e liberalizando o mercado da água, por exemplo. Ou permitindo o plantio e o desmatamento ensandecido nas beiras de rios, como querem os exportadores brasileiros de commodities.

Mesmo com essa jogatina financeira suicida, ainda hoje 1/3 da humanidade depende da queima de lenha ou carvão (leia-se, derrubada de florestas) para preparar uma simples refeição. Um bilhão de seres humanos vive no calabouço da fome crônica. Um bilhão no campo, sem acesso pleno a recursos e conquistas da civilização. Nem a estagnação, nem a devastação resolvem o desafio gêmeo do nosso tempo. Qualquer dissociação entre crescimento justo e equilíbrio ambiental ordena o futuro na rota do desastre – da humanidade e da natureza. 

Agora, engrenagem que triturou seres humanos e territórios com intensidade nunca vista nas últimas décadas está em agonia. Mas seus operadores e o poder político que os respalda continuam a dar as cartas da vida e da morte do planeta. O epicentro do jogo nesse momento consiste na brutal determinação desses interesses em validar títulos que lhes dão direitos de saque sobre a riqueza disponível, mas cujo montante reúne um valor de face da ordem de US$ 600 trilhões: 10 vezes a soma do PIB planetário. Fazer valer essa riqueza de títulos e/ou papéis podres que começa a se evaporar, requer de seus detentores uma disposição bélica para romper qualquer regra de bom senso, solidariedade e equilíbrio. Exemplos como o escalpo imposto à Grécia demonstram que eles não são amadores no ramo. Mas a Grécia é só a cabeça do alfinete de uma dança das cadeiras cuja regra é:   “mate nove se quer resgatar tudo o que nunca poderia ter sido seu”.

Os encontros da Rio+20 estão emparedados nessa matemática de saque contra direitos sociais, espaços e bens públicos, ademais de qualquer resquício da natureza capaz de emprestar valor efetivo ao papelório financeiro que se esfuma. 

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