QUADRO DE TARSILA
extraido da Carta Maior
Entrevista com o professor e coordenador de Extensão do Centro Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Sidney Lianza, sobre Economia Verde, um dos principais conceitos discutidos na Rio+20, e a função da universidade no debate político e social do desenvolvimento sustentável.
O professor vê o espaço proposto pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ, mais conhecido como Coppe, para a Rio+20, como algo relevante, mas critica a setorialização do debate nas instituições, uma vez que ele deveria ser feito diretamente com a sociedade. Para Lianza, a economia é arena da política e, por isso, deve ser pública. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
Carta Maior - Como o senhor vê o debate sobre o tema da sustentabilidade na Coppe e na academia?
Sidney Lianza - A universidade não tem expressado pensamento crítico sobre a tragédia socioambiental. Ter esse espaço para se colocar desta forma é interessante. No entanto, o problema tem sido a divisão do debate, você tem unidades que prestam serviços, parcerias com o governo por licenças ambientais, com comunidades que tenham problemas com projetos públicos, mas não um pensamento crítico aberto e feito com a sociedade. A universidade tem esse papel que é fundamental e é uma de suas funções primordiais. Olhe aqui (apontando para o panfleto do evento, onde ficam os patrocinadores): General Eletronics, Braskem, Santander... Não podemos esquecer disto, não podemos esconder isto. Temos que pensar sobre isto.
CM - O que o senhor pensa sobre a Economia Verde?
SL - A economia verde é um oxímoro. A economia verde não é mais que o mesmo, só que pintado. Não tem como falar sobre sustentabilidade quando temos um capitalismo com modelo de crescente consumismo, com obsolescência de produtos de consumo e transporte centrado no automóvel individual. Não adianta pintar isso tudo de verde. Eu prefiro falar em economia solidária.
CM - O senhor acha que “economia” e “social” são conceitos paradoxais?
SL - Para quem pensa a economia como gestão de escassez, como dizia o sociólogo Karl Polanyi, sim.
CM - Como o senhor vê esse encontro de campos aparentemente distantes, da tecnologia e da justiça social?
SL - Acho que eu mudaria um pouco o tema desta conferência da Coppe, não chamaria de “Tecnologia e Inovação para uma economia verde e a erradicação da pobreza”, eu adicionaria a palavra social depois de “inovação”. A erradicação da pobreza demanda tecnologia e inovação social para uma economia solidária com justiça ambiental. A economia solidária é fazer com que a sociedade participe das decisões, é reabilitar a economia como política e não como mercado. Trazer capilaridade nas decisões sobre a economia, porque ela é uma coisa pública.
CM - Pode nos dizer mais sobre isto?
SL - A gente vive a privatização da natureza e dos bens comuns. Tem uma professora italiana, Giovanna Ricoveri, que escreveu um livro chamado “Bens Comuns vs. Mercadoria”, lá ela traz desde os romanos o conceito de bem público até hoje. Temos nós que conceituar este termo hoje. A tecnologia da informação, por exemplo, é importantíssima, todos deveriam ter o acesso a ela. Na segurança alimentar, o mercado influencia na produção direta de alimentos, e espaços que poderiam produzir muito mais são pagos para produzir em menor quantidade. Na energia, o programa Luz para Todos é um exemplo de que é crucial para o bem-estar da sociedade que ela tenha acesso como bem comum. O desafio a ser enfrentado é reconhecer estes bens comuns, conceituá-los e lutar por eles.
O professor vê o espaço proposto pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ, mais conhecido como Coppe, para a Rio+20, como algo relevante, mas critica a setorialização do debate nas instituições, uma vez que ele deveria ser feito diretamente com a sociedade. Para Lianza, a economia é arena da política e, por isso, deve ser pública. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
Carta Maior - Como o senhor vê o debate sobre o tema da sustentabilidade na Coppe e na academia?
Sidney Lianza - A universidade não tem expressado pensamento crítico sobre a tragédia socioambiental. Ter esse espaço para se colocar desta forma é interessante. No entanto, o problema tem sido a divisão do debate, você tem unidades que prestam serviços, parcerias com o governo por licenças ambientais, com comunidades que tenham problemas com projetos públicos, mas não um pensamento crítico aberto e feito com a sociedade. A universidade tem esse papel que é fundamental e é uma de suas funções primordiais. Olhe aqui (apontando para o panfleto do evento, onde ficam os patrocinadores): General Eletronics, Braskem, Santander... Não podemos esquecer disto, não podemos esconder isto. Temos que pensar sobre isto.
CM - O que o senhor pensa sobre a Economia Verde?
SL - A economia verde é um oxímoro. A economia verde não é mais que o mesmo, só que pintado. Não tem como falar sobre sustentabilidade quando temos um capitalismo com modelo de crescente consumismo, com obsolescência de produtos de consumo e transporte centrado no automóvel individual. Não adianta pintar isso tudo de verde. Eu prefiro falar em economia solidária.
CM - O senhor acha que “economia” e “social” são conceitos paradoxais?
SL - Para quem pensa a economia como gestão de escassez, como dizia o sociólogo Karl Polanyi, sim.
CM - Como o senhor vê esse encontro de campos aparentemente distantes, da tecnologia e da justiça social?
SL - Acho que eu mudaria um pouco o tema desta conferência da Coppe, não chamaria de “Tecnologia e Inovação para uma economia verde e a erradicação da pobreza”, eu adicionaria a palavra social depois de “inovação”. A erradicação da pobreza demanda tecnologia e inovação social para uma economia solidária com justiça ambiental. A economia solidária é fazer com que a sociedade participe das decisões, é reabilitar a economia como política e não como mercado. Trazer capilaridade nas decisões sobre a economia, porque ela é uma coisa pública.
CM - Pode nos dizer mais sobre isto?
SL - A gente vive a privatização da natureza e dos bens comuns. Tem uma professora italiana, Giovanna Ricoveri, que escreveu um livro chamado “Bens Comuns vs. Mercadoria”, lá ela traz desde os romanos o conceito de bem público até hoje. Temos nós que conceituar este termo hoje. A tecnologia da informação, por exemplo, é importantíssima, todos deveriam ter o acesso a ela. Na segurança alimentar, o mercado influencia na produção direta de alimentos, e espaços que poderiam produzir muito mais são pagos para produzir em menor quantidade. Na energia, o programa Luz para Todos é um exemplo de que é crucial para o bem-estar da sociedade que ela tenha acesso como bem comum. O desafio a ser enfrentado é reconhecer estes bens comuns, conceituá-los e lutar por eles.
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