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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Nossa aldeia tupinambá é como o deserto dos Aiatolás?... (ou a ilha do comandante?...)


Texto de meu amigo Elvis Pfützenreuter, extraido do seu arquivo (notas minhas)


Como não sou nem o Luis Nassif (1) nem a Veja, tento observar as coisas de um ponto de vista mais abrangente. Nem sempre consigo, mas pelo menos eu tento, do contrário eu seria um simples blogueiro :) :(   (2)

Conto com a ajuda do Guilherme (gwm) do #d00dz, que consegue inspirar uma tese de doutorado a cada doze palavras, quando ele quer. Pena que ele quase sempre não quer. No meu caso, fui agraciado com apenas sete palavras: "O Brasil é um país culturalmente fechado".

Será mesmo? A esmagadora maioria das pessoas diria que não. Mas na verdade somos um país fechado, sim. O brasileiro típico está permanentemente com medo da "besta-fera" que viria do exterior. Mais que isso, nós consideramos que é "normal" o Brasil ser "diferente". Assim como há jabuticaba, há uma porção de absurdos, que simplesmente consideramos (ou nos conformamos) como parte da nossa univocidade no universo.

Basta ver o que acontece quando chegamos de avião do exterior. Controles, filas imensas, formulário cheio de perguntas bestas para preencher ainda no avião. Novamente emprestando as palavras do Guilherme, é a chegada ao país-prisão. Mas não é a Alfândega que torna o Brasil fechado, obviamente. Em última análise, a Alfândega faz o que a sociedade acha genericamente "certo". Repare que a fiscalização real atrás de produtos importados e não declarados é relativamente frouxa, quando poderia ser implacável. Porque é o que deseja a parcela da sociedade que viaja; virou um dos esportes modernos da classe média driblar esse controle. Vez por outra alguém é pego, mas esporte sem riscos não tem graça, não é mesmo?

De certa forma, essa atual contenda entre a imprensa chapa-branca e a fora-lula, reflete um conflito de visão. A imprensa chapa-branca exalta as melhorias RELATIVAS. A fora-lula aponta os problemas ABSOLUTOS. Noves fora o fato de ambas agirem assim a soldo, o fato é que ambas têm razão. E ambas têm audiência porque há pessoas que afinam-se mais com uma ou outra visão.

Para mim não tem grande peso o fato do Lula ter 80% de aprovação. Por "aprovação" entenda-se classificar o governo como ótimo ou bom. Até eu rotulo o governo Lula de "bom" ou "ótimo", dependendo do meu humor (mas nunca abaixo de bom). Porque foi bom mesmo. Nem eu que votei nele esperava que fosse tão bem (3). O que não quer dizer que foi perfeito, ou que o Brasil não esteja ainda a léguas de distância dos países desenvolvidos. O "problemão" continua exatamente do mesmo tamanho e no mesmo lugar: vivemos num país onde é preciso quebrar as regras, do contrário não é possível sobreviver.

A coisa começa a ficar engraçada quando os "relativistas" e defensores das jabuticabas tacham os "absolutistas" de vendilhões da Pátria. Aí passa do limite da diferença de visão e entra no outro problema cultural do brasileiro, que é a ojeriza ao debate e ao contraditório. A velha confusão entre democracia e ditadura da maioria, entre igualdade e homogeneidade.

É por isso que quem quer se informar, mesmo sendo neolulista ou anti-SP, acaba lendo a Folha, assinando a Veja (escondido) ou assistindo Jornal Nacional. Porque a imprensa fora-lula é parcial/limitada em apenas uma dimensão, enquanto a chapa-branca é parcial/limitada em duas dimensões. Ainda estou para ver um blog ou veículo chapa-branca que não misture relativismo com homogenismo. Se alguém souber de um, por favor me avise.

Voltando à história do país-prisão, esta prisão está mesmo é em nossas cabeças. Na maioria dos outros países, é comum o cara ir estudar e trabalhar noutro lugar. Normalmente associamos mais este comportamento aos europeus, até pela facilidade de vaguear pela União Europeia e pela facilidade de entrar nos EUA sem ser tratado como um terrorista; mas estadunidenses, chineses, paquistaneses, indianos, até colombianos a gente vê imigrando e emigrando aos montes.

Todo mundo reclama dos impostos no Brasil. Mas dificilmente você vê brasileiros "exilados tributários" -- gente que migra para fugir de impostos altos. No mundo eles são comuns, tanto que há até um termo na Wikipedia para eles (Tax exile) o ator Michael Caine foi um deles. O que eventualmente o brasileiro faz é abrir uma filial da empresa nas Ilhas Virgens ou no Uruguai, mas prefere morar aqui. Apego à terra? Medo do desconhecido?

Ou somos no fundo todos clientes desse Brasil-malandro?

Como o FHC disse uma vez, é curioso que o bandido da favela que enriquece, ainda assim permanece na favela: é lá que ele arruma mulher, amantes, é onde ele adquire propriedades e cria os filhos. Isso enquanto os grandes traficantes da Colômbia trataram de mandar os filhos estudar em Harvard e montaram negócios legais para eles se virarem, longe dos pais. Por quê? É uma charada onde provavelmente a "profissão" dos espécimes não tem muita importância. Substitua "bandido" por "ganhador na loteria".

Por tudo isso, apesar de achar uma bobagem esses afagos do Lula aos ditadores do terceiro mundo, na verdade é uma política perfeitamente consistente. Países como Irã e Cuba (4) são semelhantes a nós: mentalidade fechada e cheios de peculiaridades que apenas os alienados globalizados não compreendem (como pena de morte por apedrejamento para as adúlteras).

E como bom malandro, a pergunta é a seguinte: como é que a gente pode usar esse apego à terra em nosso favor, em vez de ser um fator de conformismo?

NOTAS DOS BOTOCUDOS

(1) removi o link por não estar mais ativo (seria tendencioso?)
(2):(  :(  :(  - Desnucou os blogueiros agora!...  :)
(3) :o  :o - Isto é um espanto!... Isto nón ecxiste!...  :)
(4) Li até o finalzinho e... Arrrah!... uma bordunada em Cuba, pra não perder o costume.  :)

FOTO: As adulteras do Irão - um rock mucho doudo :)


Um comentário:

  1. Legal, estou lisonjeado. Mais audiência pra discordar do meu velho texto :)

    Naturalmente o item (2) foi uma auto-ironia, já que eu tinha um blog na época. (A rigor o "logbook" atual, que substituiu os blogs, tem tudo que um blog tem, com a diferença que usa minha própria "tecnologia" tosca pra gerar feeds.)

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