texto de Gustavo Bonfiglioli, no Estado de São Paulo
Quanto maior a cidade, maiores os impactos. Seja no transporte, drenagem das águas ou na construção civil, megacidades como São Paulo pagam o preço da expansão não planejada. Segundo Miguel Bucalem, secretário de Desenvolvimento Urbano da capital, a dinâmica da cidade pode gerar deslocamentos entre a casa e o trabalho de até 4 horas. E é por conta justamente dessa demanda por transporte que muitas áreas de baixa densidade populacional puxam para cima as emissões de gases estufa. “Não é uma regra absoluta, mas, na maioria dos casos, baixas densidades significam altas emissões”, afirma Andrea Fernandez, pesquisadora da empresa de arquitetura e planejamento urbano internacional Arup, com sede em Londres.
Andrea esteve entre 31 de maio e 3 de junho no C40, cúpula internacional que reuniu 47 metrópoles para a troca de ideias sustentáveis. Ela apresentou um estudo que mostra a forte conexão entre emissões de gases estufa e densidade demográfica, baseado na realidade das cidades do C40.
O tema das cidades compactas, que diminuem a distância entre a casa e o trabalho, foi discutido amplamente entre prefeitos e representantes de cidades.
Uma das soluções citadas para mitigar as emissões que os deslocamentos causam é adensar áreas urbanas já consolidadas, por meio da verticalização de construções. Com a limitação da expansão territorial, surge também uma outra necessidade nas cidades: a de ter espaços eficientes e multiuso.
“Em Roterdã (Holanda), há alguns anos apenas 5% da população vivia na cidade. Tínhamos que mudar isso. Não podemos mais aumentar nossas cidades, e sim deixá-las mais densas e distribuir suas populações, com maior mobilidade e interação social”, defende Paula Verhoeven, diretora de sustentabilidade da prefeitura de Roterdã.
“Cidades sustentáveis são compactas”, defende Richard Rogers, arquiteto responsável pelo projeto do Centro Pompidou, em Paris. Nem sempre o excesso de densidade é benéfico, é claro. Mumbai, na Índia, tem 30 mil habitantes por quilômetro quadrados em algumas regiões – e é um exemplo da falta de planejamento sustentável.
O conceito de cidade compacta não pode ser resumido por fórmulas, e sim pensado de acordo com a realidade de cada metrópole. Confira seis medidas que São Paulo poderia adotar em seu planejamento urbano para ser mais compacta e eficiente.
1- ESPAÇOS MULTIUSO CRIATIVOS
Reduzir cidades e torná-las eficientes implica pensar espaços multifuncionais de modo criativo. O telhado verde nos edifícios, muito comum nas cidades de Nova York e Barcelona, ajuda a capturar gás carbônico e a aumentar a área verde da cidade. A tecnologia também contribui com a drenagem das águas. Em Roterdã, na Holanda, “praças de água” estão sendo construídas. Em épocas de seca, são espaços de convivência, lazer e esporte. Com as chuvas, viram piscinões que armazenam água e evitam enchentes.
2- TUDO NO MESMO BAIRRO
Ainda para evitar o maior vilão do aquecimento global, o deslocamento, é importante, ao planejar uma cidade compacta, ter bairros com múltiplas funções, como moradia, comércio, postos de saúde, creches e escolas. Segundo a vice-prefeita de Paris, Anne Hidalgo, a cidade deve fugir do urbanismo de zonas e da desigualdade de territórios - como em São Paulo, que segue a Lei de Zoneamento, de 1972. “Em Paris, também há bairros onde se trabalha e outros onde se mora. A cidade ecológica deve mesclar tudo em cada bairro.”
3- VOLTAR A HABITAR O CENTRO
Cidade sustentável deve ter políticas habitacionais no centro. Paris exigiu que metade das novas construções na região central fosse ocupada pela população de baixa renda. Em dez anos, a cidade, com 2 milhões de habitantes, levou 30 mil à região. Miguel Bucalem diz que a prefeitura de São Paulo quer fazer o mesmo com o projeto Nova Luz, no bairro Santa Ifigênia. Associações de moradores resistem: para elas, por ser da iniciativa privada, o projeto criaria especulação imobiliária e expulsaria moradores e comerciantes.
4- EMPREGO MAIS PERTO DE CASA
Apesar da importância de repovoar bairros centrais em que há muito emprego para poucos habitantes, o contrário também é igualmente relevante. A relação de emprego/habitante, em alguns bairros da zona leste, é de 0,2; em outros, centrais, chega a 10. A densidade demográfica de São Paulo já é grande, de 7,3 mil habitantes/km2. Para evitar o adensamento excessivo em regiões centrais, Bucalem defende a geração de empregos em bairros distantes do centro para evitar grandes deslocamentos de moradores.
5- INVESTIR EM CORREDORES VERDES
O aumento da cobertura verde da cidade deve ser feito de modo estrutural, não só pensando no aspecto decorativo. Barcelona, na Espanha, e Stuttgart, na Alemanha, são cidades que criaram corredores de vegetação que conectam parques e áreas verdes urbanas. Isso ajuda a homogeneizar a distribuição dos ventos na cidade e evita as ilhas de calor. Ao priorizar o pedestre e as bicicletas, os corredores verdes também incentivam que os cidadãos não saiam de carro, deixando as vias públicas livres de trânsito.
6- INCENTIVAR O TRANSPORTE ALTERNATIVO
Investir em carros elétricos e biocombustíveis é importante, já que ajudam no problema das emissões. Porém, não diminuir o número de carros e a demanda por transporte automotivo nas ruas significa mais trânsito. Copenhague investiu em ciclovias e no incentivo ao transporte via bicicleta. Lá, 55% dos seus moradores vão e voltam do trabalho de bike. O fomento ao meio de transporte, aliado a iniciativas como os corredores verdes e bairros planejados, pode ser uma boa solução para o excesso de carros nas ruas.
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