Às vésperas do último Natal. O físico Rogério Cezar Cerqueira Leite denunciou uma grave malandragem da cervejaria brasileira: a substituição do tradicional malte, a cevada germinada, usado nas boas cervejarias mundiais, por outros cereais germinados mais baratos, matéria que reproduzi neste blog.
Uma semana depois o químico Silvio Luiz Reichert, diretor da Anheuser-Busch Inbev, proprietária da AmBev, afirma que “A indústria brasileira de cerveja zela pela qualidade de seu produto. Ela sabe que seu consumidor é exigente e tem muito bom gosto”. E que o emérito professor lançara mão “de argumentos ora incorretos, ora infundados, mas sempre injustos”. “Números errados e premissas levianas”, acusa Reichert. (Folha de S Paulo*, 30/12/2009).
Segundo o representante da Anheuser-Busch Inbev, a cervejaria brasileira usa a percentagem de malte (cevada submetida a processo controlado de germinação) e dos demais cereais nos limites da legislação brasileira. “Mais malte é igual a cerveja mais encorpada e mais pesada; menos malte (…) é igual a cerveja leve, refrescante, suave”, argumenta Reichert. Acrescenta que tanto o lúpulo quanto 65% ou mais da cevada que utiliza são importados de centros produtores de qualidade, dos EUA e da Europa. E que não usa conservantes, pela boa qualidade do lúpulo e por impedimento legal.
Quinta-feira ultima (14/01), o físico Cerqueira Leite volta ao assunto e à carga: Quer saber o emérito professor do “engodo de que foi vítima o governo e o povo brasileiro pela fusão Antártica-Brahma, quebrando princípios e a legislação contra a formação de cartéis. Com a desculpa de que, fundidas, poderiam enfrentar a competição com multinacionais – para ser o cartel, em seguida, absorvido por empresa estrangeira”. Também quer saber sobre a perversa prática de coação a cervejarias nascentes, para absorvê-las e aniquilá-las ou também banalizar a qualidade de seus produtos. (Folha de S Paulo*, 14/01/2010).
Cerqueira Leite acusa Reichert de usar de mentira, eufemismo e sofisma em suas argumentações para esconder o fato de que a AmBev usa mais o milho do que a cevada por causa do seu superior grau de conversão em álcool. E de usar de embuste para negar o uso de conservante em suas cervejas. Sobre o uso de lúpulo de boa qualidade, pergunta o professor da Unicamp: “Por que as cervejas belgas, inglesas e alemãs que usam lúpulo de boa qualidade não precisam de antioxidantes e estabilizantes?”
O que mais chama a atenção é o fato de que essa polêmica, que interessa a todos os brasileiros, mesmo aos que não bebem cerveja, não tem a menor repercussão na grande imprensa nacional. Como não tem repercussão a questão do uso dos transgênicos. E como não tem repercussão a questão progressiva do ganho de peso excessivo pela população brasileira pelo uso incorreto da alimentação. Do lado dos que defendem a “livre iniciativa empresarial” está um poderoso lobby do setor de comunicação, mídia e propaganda, que dá a linha do consumismo sem porteira.
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