Você compra um híbrido (carro eletrico / gasolina) e pensa que está fazendo a diferença para o planeta. Até descobrir que sua fabricação é significativamente mais poluente que a média dos automóveis, graças aos processos industriais necessários para a construção dos motores elétricos, inversores de corrente e baterias. E o emprego de material reciclado em sua fabricação é comparável a qualquer carro a gasolina – não que seja ruim, mas não há absolutamente nada de novo.
Este é o tipo de coisa que me incomoda no discurso sustentável, sequestrado das mãos de pessoas engajadas por corporações moderninhas: fábricas, bancos, agências, etc. Na maioria das vezes, não passa de um placebo que envolve passionalmente alienados ingênuos dispostos a lutar por uma causa "comum", em uma sociedade extremamente segmentada e carente de ideais.
Vamos cair na real. Quando uma marca decide fabricar um automóvel elétrico, ela não está pensando no futuro do planeta. Bem, você pode continuar solfejando aquele idealismo de bicho universitário até entender que tudo se resume a dinheiro e valor de marca. Sustentabilidade corporativa é puro business. Garanto que as montadoras estão mais preocupadas em buscar fontes de energias alternativas ao petróleo (que não exatamente está se esgotando, mas é bom se garantir), que em salvar golfinhos, pinguins, enfim, a Terra.
Mas é chique tingir este interesse de verde. E isto é uma covardia imensa, porque pessoas entram de corpo e alma neste discurso, sem ter noção do grau de calculismo, frieza e interesse corporativo por trás de campanhas verdes milionárias.
O que me incomoda no carro híbrido ou elétrico é que o discurso verde oculta o fato dele resolver um problema criando outro semelhante ou pior: para o meio ambiente, não adianta nada poluir mais – e de uma vez – no processo de fabricação, e menos no uso diário do produto. Fora que eles não ajudam em nada a questão do transporte público, que é cada vez menos debatido. Mas é proibido colocar o dedo nesta ferida.
Não há escolha. Você é impelido a fazer parte do jogo sustentável, mesmo quando ele é falso. Negue-o e torne-se automaticamente um egoísta, imediatista, capitalista selvagem, destruidor do futuro das crianças, um monstro horrível. Ah, BINGO! Como você, as próprias empresas são impelidas ao joguete que criaram – elas também não possuem escolha: hoje, ser green é cool, e não fazer parte disso representa um peso negativo imenso para a imagem de qualquer marca – principalmente se a concorrência aderiu à bandeira sustentável.
Daí, mesmo que determinada fábrica polua mais para fazer um elétrico, o que importa é o discurso, a imagem. Nossa sociedade nunca dependeu tanto de imagem como hoje: já percebeu como todos são saudáveis, felizes, bem-resolvidos, engajados politicamente e culturalmente abundantes? Ao mesmo tempo, nunca vi tanto stress e frustração, tantos crimes hediondos acontecerem por motivos tão banais. Eu acho que nós vamos acabar com nós mesmos, antes de nós acabarmos com o mundo. É apocalíptico, eu sei. E há um fundo de verdade, você sabe.
E assim, vivemos sob a ditadura da sustentabilidade empresarial. A receita é simples. Basta manter todos os hábitos tipicamente individualistas da sociedade capitalista – a começar com o carro – e a bandeira sustentável surge como a purificadora de consciência destes hábitos egoístas. Quase uma confissão dominical. Ela é capaz de aliviar o remorso neo-burguês do consumo, de quem faz parte de uma fatia socioeconômica privilegiada. Já viram quantos famosos de hollywood andam de Prius?
O carro elétrico está aí. Pode mesmo ser o futuro. Mas tem pouco de verde. É apenas uma fonte de energia alternativa ao petróleo – mesmo o híbrido, que apesar de ainda precisar de gasolina, vejo como parte de um processo de desenvolvimento. A questão é, não fica tão apetitoso vendermos o peixe desta forma tão técnica e pouco emotiva, não? Baleias e ursos pandas são tão bonitinhos! Daí entra o discurso cor-de-Leprechaun.
Sei que quem realmente está engajado em lutar por condições melhores para o futuro do planeta, sequer anda de carro – mesmo elétrico. Porque sabe a quantidade de lixo e poluição que isso gera. Doa sangue, recicla lixo, evita usar produtos de plástico, instrui familiares a doar órgãos em caso de óbito, faz ações voluntárias, e principalmente, sabe conviver com a diferença de opinião – afinal, nós vivemos em sociedade. Estes caras têm o meu respeito mais profundo. A noção de sustentabilidade foi sequestrada deles.
Qual a nossa parte? Bem, a área cinza é recheada de alienados metidos a importantes. É fácil fingirmos que estamos fazendo a diferença dando esmolas.
Tirante a bobiça de botar a culpa "nas empresas", é isso mesmo. Todo mundo quer sentar a bunda dentro do carro, cujo consumo de energia é proporcional a
ResponderExcluira) Peso (os carros estão ficando 1% ao ano mais pesados)
b) Velocidade
c) Tráfego pára-e-anda
O fato de ser movido a gasolina ou eletricidade não muda nada.
A solução de mercado, a única que vai fazer as pessoas mudarem pra coisa certa (bicicletas elétricas, carrinhos minúsculos, transporte coletivo) é gasolina a R$ 10 o litro.