Num período de chuvas mais intensas como o que ocorre este ano, tem deixado a população alarmada cada vez que o céu escurecer, começam imediatamente a se preocupar com o que poderá ocorrer com seus bens ou com sua vida. Talvez um dos poucos benefícios disso tudo é o de sensibilizar os administradores públicos, os tomadores de decisão, sobre o uso do solo urbano e das obras de engenharia sanitária das cidades brasileiras.
O planejamento padrão das cidades brasileiras se baseia em ruas e avenidas mais ou menos paralelas aos rios. Mas como os rios teimam em não correr em linha reta, são então retificados para aumentar a vazão e chegar rapidamente às seções livres onde vão gerar inundações, em áreas que se ainda não estão ocupadas, o serão mais dia menos dia. Como as empresas de saneamento não fazem a sua parte, o esgoto também vai para esses canais. Durante o período seco estes canais ficam poluídos com mau cheiro, crescimento de vegetação e de mosquitos.
Para evitar isto, os planejadores urbanos e mesmo a população clama para que estes canais sejam cobertos, jogando para baixo do tapete todos os seus problemas, o que infelizmente é aprovado sem mais delongas por agencias ambientais licenciadoras de balcão. Com o passar do tempo muito lixo também vai para o pobre rio urbano, que agora se transforma num “canal lixão”. Este lixo passa a dificultar o fluxo e entupir canais, o que vai agravar o problema das inundações devido à aceleração do escoamento causado anteriormente pela impermeabilização. Como tudo agora está canalizado, desobstruir essas vias de escoamenteo torna-se praticamente impossível. A canalização dos rios urbanos também sempre é entusiasmadamente apoiado por exploradores imobiliários, pois aumentam em muito a área que podem comercializar e ocupar.
Este tipo de cenário você encontra sem distinção perto de sua casa, em qualquer lugar do Brasil, inclusive aqui em São Bento do Sul. Nesse momento você pode ter certeza: São Paulo é a sua cidade amanhã!...
O resultado deste cenário é a perda de todos os rios urbanos, sem contar os que já estão debaixo do centro das cidades e de que as pessoas nem se lembram mais. Será esta cidade que queremos? Viver num inferno de calor devido o efeito de absorção da radiação pelo concreto, sem áreas verdes e com os rios totalmente fechados e com inundação, não pode ser desejado por pessoas com o mínimo de inteligência.
No entanto, este processo é resultado de ganância imobiliária, incompetência técnica, políticos imediatistas e licenciadores que aprovam estes projetos-problema descuidadamente. As soluções urbanas de politiqueiros proivincianos são quase que invariavelmente direcionadas para escolhas inadequadas, que tratam os rios como lixeiras cobertas. Para buscar a sustentabibilidade e a melhoria dos rios urbanos não apenas deve se ter um foco na drenagem, mas de uma visão urbanística sistemica, sem deixar de considerar o esgotamento e tratamento sanitário, drenagem e resíduos sólidos. Estes serviços estão fragmentados aqui na nossa cidade com resultados invariavelmente ruins. É como quatro médicos tratando de um paciente na UTI sem conversarem entre si. O paciente é a cidade.
Os rios urbanos necessitam de manter seu curso, suas condições de conservação e obedecer a lei ambiental. Para recuperá-lo é necessário despoluir a bacia, amortecer o escoamento e manter protegido o leito do rio.
Os políticos estão acostumados a dizer que saneamento não dá voto, mas um ex-prefeito de Seul desenvolveu um projeto de recuperação do rio histórico da cidade, retirando viaduto e cobertura de concreto, despoluiu a bacia, tratou o esgoto e desenvolveu o urbanismo da área e seu tráfego. Virou notícia e citação em todo o mundo, sendo eleito presidente da Coréia do Sul (o atual), acho que isto mostra como a população estará cada vez mais atenta a este processo e sua maneira de viver.
Urbanismo e a infra-estrutura de engenharia não significa construir uma cidade de concreto, mas criar um ambiente de vida em todos os sentidos, o que infelizmente não acontece.
Você está fazendo algo para mudar isto? Eu estou tentando.
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