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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Dinheiro escondido na... Suíça, a lavanderia de luxo



Berna (Suiça) - Pouco adiantaram os livros de Jean Ziegler, denunciando o segredo bancário suíço, os conhecidos A Suíça Acima de Qualquer Suspeita ou A Suíça Lava Mais Branco. Os livros foram best-sellers vendidos em todo o mundo, mas não conseguiram derrubar o segredo suíço.


Entretanto bastaram dois CD com os nomes e números de contas bancárias de franceses e alemães, para o governo suíço ir a nocaute, com seu segredo bancário exposto em público. Quem sabe, com um pouco de sorte, aparece também no mercado negro um CD com os nomes dos brasileiros com conta secreta na Suíça...


O primeiro CD, vendido junto com o laptop, mostrava 1300 clientes franceses do banco HSBC, agência de Genebra, com seus capitais engordando nos cofres suíços, fugidos do fisco francês. O governo suíço estrilou, disse que não se devia comprar informações roubadas dos bancos, e o governo francês, matreiro como é, devolveu o original, mas ficou com a cópia.


Ao mesmo tempo, como ninguém sabia de quem eram os nomes constantes do CD, o governo francês fez aquela chantagem - « se você tem dinheiro escondido na Suíça, a melhor coisa a fazer é se autodenunciar, repatriar o capital e pegar uma pequena multa, do que seu nome ser descoberto dentro do CD, ter multa pesada e processo ». Deu certo, a França recuperou 700 milhões de euros só com os arrependidos.


O segundo CD tem 1500 nomes de alemães e já foi comprado pelo governo alemão. A Suíça, irritada, acusou a Alemanha de receptadora por comprar informações roubadas, mas o governo alemão, usando o linguajar diplomático, deixou claro que simplesmente recuperava informações sobre seus capitais roubados pelos bancos suíços e durante muitos anos.


Em outras palavras, simplesmente aplicava aquele velho ditado « ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão », tanto que o informante recebeu 2,5 milhões de euros, suficientes para aprimorar seu método de pesquisa de contas secretas para vender outros CDs, quem sabe, com um pouco de chance para o leão da nossa receita federal, com nomes e
contas de brasileiros que escondem, nos cofres suíços, uma soma estimada entre 150 a 200 bilhões de dólares (1), roubadas do dinheiro público, principalmente na época da ditadura, ou fugidas do leão.

Com essas e outras, o cofre suíço de capitais provenientes de ditadores africanos e sulamericanos, de mafiosos e de bandidos em geral, diminuiu nestas últimas semanas de 700 bilhões, mas o que é isso, se os balanços falavam em 3 trilhões de dólares vindos do Exterior ? Em todo caso, parece não ser mais possível para a Suíça continuar mantendo sua Caverna de Ali Baba.


Os resultados da reconversão da Suíça aos bons caminhos da transparência serão graves. Desde 1934, ano da criação do segredo bancário, o governo suíço contou com um lastro econômico que lhe permitiu ignorar as crises econômicas européias e dar à população um nível de vida bem acima de seus vizinhos.


O Brasil, neste momento de fragilização da Suíça, poderia exigir um novo tratado de dupla imposição, pelo qual os capitais de brasileiros na Suíça, mesmo continuando secretos, teriam de pagar impostos repatriados ao Brasil. Assim como a França, Alemanha, Japão, Estados Unidos e Canadá poderia também o Brasil ter acesso aos rendimentos dos capitais expatriados. Esse dinheiro está fazendo falta na construção de escolas, estradas, hospitais, dinheiro indiretamente roubado da nossa economia pelo país aparentamente mais honesto do planeta.


Fica aí a sugestão ao ministro Celso Amorim. Mas se houver resistências por parte de políticos com contas na Suíça, o jeito é contatar algum informático capaz de vender ao Brasil um CD com os nomes dos clientes de contas secretas suíças. Ou será que essa conversa não interessa aos políticos brasileiros, uma grande parte, quem sabe, com rabo curto nessa história de contas não declaradas ao fisco ?

Por Rui Martins - http://www.diretodaredacao.com/

NOTAS:

(1) - Só relacionado ao escândalo do Banestado estima-se que foram expatriados entre US$ 90 e 150 bilhões (com B) entre 1996 e 2002. Esse esquema se desenrolou a partir de meados da década de 1990, quando o BC aceitou a proliferação de contas CC5 (contas de não residentes, que poderiam remeter dólares para fora) abertas em qualquer agência do país. Depois, admitiu depósitos em dinheiro vivo nas agências da fronteira com o Paraguai.

Após o escândalo dos precatórios, proibiu-se o depósito em espécie, mas permitiu transferência de recursos através dos chamados “bancos correspondentes” –bancos brasileiros que trabalhavam com bancos paraguaios.

Um dos principais bancos brasileiros captando reais em plena São Paulo transferindo para contas externas criado especifica e aparentemente para essa finalidade era o Banco Araucária, cujo principal acionista era Luiz Alberto Dalcanale, cunhado de Paulo Konder Bornhausen, este também acionista no inicio das atividades dessa arapuca bancária, mas se retirou da sociedade em 1995, aparentemente antes de a farra começar. Paulo Konder Bornhausen é irmão mais velho do famoso político oligárquico-conservador do DEM-SC.

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