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terça-feira, 22 de outubro de 2013

Novidades na mídia mundial



por Kiko Nogueira, no Diário do Centro do Mundo


A notícia recente mais importante do mundo da mídia foi a de um bilionário que resolveu investir milhões numa empresa jornalística. Não estou falando de Jeff Bezos e do Washington Post, mas de Pierre Omidyar e do site que está criando com Glenn Greenwald, o jornalista e advogado responsável pelos furos sobre o esquema de espionagem dos Estados Unidos.

Omidyar também foi abordado pela família proprietária do Post, mas a conversa não prosperou. “Esse processo me fez pensar sobre que tipo de impacto social pode ser criado se um investimento semelhante for feito em algo totalmente novo, construído a partir do zero. Algo em que eu estaria pessoalmente envolvido”, escreveu ele em seu blog.

Está pondo US$ 250 milhões no projeto. Greenwald deixa o jornal inglês The Guardian, no que definiu como oportunidade de uma vida. A equipe ainda terá Laura Poitras, a documentarista que trabalhou nas entrevistas com Edward Snowden, e Jeremy Scahill, correspondente da revista Nation, escritor e documentarista dedicado a contar histórias da política externa americana.

Ou seja, dá para ter uma ideia do que vem por aí. Diferentemente de muitos de seus colegas que enriqueceram com tecnologia e continuam na área, Omidyar tem interesses mais amplos. Criou, há anos, um site com a mulher Pam para divulgar informações sobre o vírus ebola. Acredita que as pessoas “são basicamente boas”.

Nascido na França numa família de iranianos exilados, Omidyar tem 46 anos. É filho único. Seu pai é médico e a mãe é uma acadêmica reconhecida. Em 1995, fundou o eBay, a gigante do e-commerce. A Forbes calcula sua fortuna em US$ 8,5 bilhões. Seu perfil no Twitter tem duas frases: “Seja você. Seja cool”. Ele vive com Pam no Havaí, onde financiou empreendimentos de jornalismo cidadão. Ali já havia uma tentativa de cobrar transparência das autoridades. “Eu desenvolvi um interesse em apoiar jornalistas independentes de maneira a fazer seu trabalho, tudo em prol do interesse público. E eu quero encontrar um modo de converter leitores do mainstream em cidadãos engajados. Acho que dá para fazer mais nesse espaço e estou animado em explorar as possibilidades”, disse no blog.

O site — que ainda não tem nome definitivo; por enquanto, NewCo — será para todos os tipos de consumidores de notícias. “Vai cobrir esportes, negócios, entretenimento, tecnologia: tudo o que o usuário quiser”, diz Jay Rosen, crítico de mídia e professor de jornalismo da Universidade de Nova York, que foi consultado sobre a NewCo.

Embora Omidyar seja um filantropo, seu objetivo, nesse caso, é fazer dinheiro. “Você precisa de editores, você precisa de outros olhares sobre as matérias, você precisa de advogados e de maneiras de suportar a pressão. Você precisa bilhetes de avião!”, disse a Rosen.

Sua aventura é um exemplo de que há formas de viabilizar o jornalismo independente. O modelo de negócios ainda está se desenhando, mas o homem que fez o eBay e que colocou um quarto de bilhão de dólares está trabalhando nisso. Para Omydiar, o sucesso editorial estará no ponto de equilíbrio entre os blogs, a participação fundamental de comentários em posts e o jornalismo tradicional. A aliança com Greenwald, que tem milhares de seguidores e é uma voz ativa per se, cai como uma luva.

Omidyar está preocupado com a liberdade de imprensa nos EUA. “Eu vi os problemas decorrentes do enxugamento das redações. Quis pôs a mão na massa para saber como é o dia a dia de jornalistas e editores e aprender como as salsichas são produzidas”, declarou ao New York Times. “Quando há uma ameaça desse tamanho, isso não é apenas um problema para nossa democracia como para que a democracia funcione em qualquer lugar. A NewCo servirá para combater essa ameaça”.

É uma aposta clara no conteúdo de qualidade. A ideia burra de que a Internet está matando o bom jornalismo e de que ele não é viável economicamente na web está sendo enterrada dia a dia. “Há limites no que a tecnologia pode alcançar. Entrar na produção de conteúdo e na comunicação ampla é muito atraente”, diz Omidyar.

Mais que tudo, o que a parceria entre Omidyar e Greenwald mostra é que, daqui por diante, os negócios mais interessantes na mídia, em todo o mundo, se darão no jornalismo digital.

Um comentário:

  1. Me lembrou a piada em que o Jeff Bezos acorda, toma café e diz pra esposa: "Querida, já volto, vou comprar um jornal".

    Fico chateado com esse emburrecimento mundial, do que os últimos acontecimentos nos EUA são protótipo. Isso nos afeta direta e indiretamente -- indiretamente também porque os governos daqui se julgam no direito de serem sempre mais burros, com base no argumento do não-ineditismo.

    Por ora esta burrice se restringe à execução, não a ataques à democracia. Veremos.

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